Unfinished Business escrita por Laís


Capítulo 4
It gave us a purpose, sometimes


Notas iniciais do capítulo

Postando agora porque já tinha o capítulo quase pronto, então...
Espero que gostem



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"Todos se queixam, uns dos males que padecem, outros da insuficiência, incerteza, ou limitação dos bens que gozam"
Marquês de Maricá

"Você não deveria estar aqui.”

Essas foram as exatas palavras de Morgan, as mesmas que me atordoaram e me fizeram ter mais vontade ainda de provar que ele estava errado.

Não deveria estar aqui.

A primeira coisa que senti foi uma lancinante pontada nas têmporas, como se eu estivesse de ressaca. Por um momento, pensei que estava acordando na minha cama, foram necessários alguns instantes até que minha memória, gradativamente, voltasse. Tentei falar algo, mas senti o pano em minha boca. Com a garganta seca, tentei fazer movimentos com a língua para empurrar o tecido que estava quase me sufocando. Tentei me mexer e respirar fundo, a dor foi imensa. Eu estava deitada e, ao me inclinar para levantar, percebi as amarras na cabeceira da cama, meus ombros doíam devido a posição.

Há um boato comum sobre como as pessoas são corajosas ao enfrentar seus demônios. Um herói de cinema sempre cospe em seus torturadores, nunca chora, sempre encara os adversários com pretensão. Como já disse, não passa de um boato. A verdade não possui glórias, ela é fria e patética. E não sendo nenhuma heroína, comecei a chorar. Fora algo quase involuntário, de repente eu estava em pânico e me encontrava, pela segunda vez, em uma situação de completa impotência. Não há nada pior no mundo do que ser subjugado, ter sua vida nas mãos de outra pessoa. Ouvi ruídos de chaves e tentei abafar os soluços, controlar a mente, inibir o medo. Não funcionou muito bem.

–Olá - um feixe de luz invadiu o quarto - está um pouco escuro aqui, não?

As luzes foram acesas subitamente e eu precisei de um tempo para acostumar meus olhos a claridade.

Vamos, venha para perto de mim, pensei. Eu precisava conhecê-la se quisesse ter qualquer chance de sair de lá viva. Fui treinada para isso, situações como essa exigiam que eu trouxesse o unsub para meu lado. Mostrasse que eu o compreendia e faria de tudo para ajudá-lo, mas não podia fazer nada disso sem que ela tirasse a amarra da minha boca.

Mas também havia outro problema.

Para convencer aquela mulher de que eu a entendia, precisava ao menos saber sua ligação ao caso. Eu estava esperando que Ryan Connor aparecesse, mas isso era completamente novo. Me pus a pensar, tentando encontrar um padrão nos fios. Mas o que eu posso dizer? Estava nervosa e sentia isso nas minhas mãos que suavam copiosamente e no meu estômago que embrulhava.

Você não deveria estar aqui.

Ryan Connor estava se divorciando, porém se recusava a sair de casa. Era um divórcio conturbado. Matou todas aquelas mulheres pensando em sua esposa. Elas representavam isso para ele. Mas a chacina em sua casa não correspondia ao Modus Operandi, era desorganizada e desesperada. Fora ela.

–Então… Agente Weston?

Ela estava com meu distintivo nas mãos. E com a minha arma.

Era jovem. Talvez uma universitária apaixonada pelo professor que quis remover as barreiras do caminho. Nunca matara antes, porém agora estava começando a gostar. Mas onde se encaixava Aidan nessa história toda?

–Ok, Weston. O que faremos com você?

Se Reid estivesse aqui, provavelmente já teria enxergado todos os fios invisíveis a mim.

–Vou tirar isso de você, mas se eu ouvir um pio… Bom, ninguém mais ouvir, porque esse é o lugar perfeito. - ela puxou o pano da minha boca e eu comecei a tossir, sacudindo meu corpo todo e sentindo cada pontada aguda. Uma ou duas costelas quebradas, pensei.

–Onde está o outro agente? - perguntei com a voz rouca - Onde está ele?

–Ahn sim, claro. Ele está no outro quarto, ainda desacordado, por isso vim aqui com você.

–A polícia já vai chegar, minha equipe sabia aonde estávamos indo e…

–Espera, você acha que ainda estamos naquele prédio? - ela gargalhou - Para uma agente do FBI você não é muito impressionante. Eu ouvi sobre a chegada de vocês, mas eu já sabia que tinha sido o professor quem matara aquelas garotas - sorriu mais uma vez. Ela falava rápido demais, suas mãos tremiam e não conseguia fixar o olhar em um único ponto. Instável, pode explodir a qualquer momento. Além disso, chamara Ryan de professor, era universitária e tinha um caso com ele. Sim, aí estava a conexão. Contudo faltava uma peça. Aidan não se encaixava em lugar nenhum.

Ela apoiou a arma em uma cômoda e tirou uma faca de uma das gavetas, o que indicava que estávamos em sua casa. Estava sorrindo quando sentou-se ao meu lado e encostou a fria lâmina em minha bochecha.

–Achei a ideia do professor Ryan tão original, sabe? Me deu vontade de fazer o mesmo e eu tentei. Deu certo da primeira vez, mas na segunda, aquelas crianças atrapalharam. Fiquei nervosa, não sabia se ia conseguir controlar três pessoas - chegou mais perto e eu pude sentir sua respiração em minha pele - mas somos só você e eu.

Aidan, o garoto prodígio, fora a primeira vítima.

Arrisquei um palpite que poderia, ou não, me ajudar a sair dali com vida e procurar por Reid.

–Ele era o primeiro da turma, não é mesmo? Sempre conseguindo tudo, as bolsas, a glória… Mas quem pode competir com a natureza? É tão injusto que essas pessoas nasçam com um dom que não merecem, não é? Não precisam se esforçar, simplesmente conseguem tudo.

Era mentira, claro. Aidan se esforçava, vivia em um lugar decrépito para conseguir se formar, mas eu precisava entrar no jogo. E eu sabia que a equipe estaria lá em poucos minutos, simplesmente porque ela se desesperara e metera os pés pelas mãos. Não era complexa, somente instável.

–Você não acha que eu entendo? Sabe aquele outro agente? Tem um QI de 187 - dei uma risada amarga - É assim com você também, não é? Você se mata pela atenção do professor, mas Aidan estava sempre lá, então consegue um outro tipo de atenção, mas lá estava a esposa e mesmo depois de tudo, ele não queria assinar os papéis do divórcio, porque você não era suficiente. Nunca é. Se você vai me matar, tudo bem, não to nem aí. Mas deixa o outro comigo, por favor.

Ela precisava me soltar e eu me agarrei àquela chance, talvez tivesse dado certo, porém Ryan Connor entrou no quarto.

–Sua vadiazinha estúpida.

Ele a segurou pelo braço e deu um tapa em sua têmpora derrubando a garota no chão.

–Você matou a minha família, sua vadia! Quem te deu esse direito? - ele a chutava de forma quase ritmada enquanto falava - Deixei você brincar com aquele garoto, mas a minha família? Você perdeu a cabeça?

Ryan estava chorando quando pegou a arma.

–Não! - meu grito foi abafado pelo tiro.

Ouvi as sirenes. Eles estavam aqui. Consegui relaxar um pouco, mas ainda estava amarrada e não podia fazer nada. Ryan saiu do quarto e quando voltou, tinha Reid consigo e uma arma apontada para cabeça do doutor. Foi até a janela e começou a barganhar.

–Tenho dois agentes federais aqui e se vocês quiserem que eles fiquem vivos, vão me deixar sair daqui e ir embora.

–Tudo bem, tudo bem. Mas você diz ter dois agentes e eu só vejo um, só vou lhe ajudar se você me mostrar a agente Weston - era Morgan quem falava.

Ryan largou Reid e, com a arma ainda apontada para ele, mandou que me soltasse. Meus pulsos estavam livres quando Ryan agarrou o pescoço de Spencer novamente, mas com a arma apontada para mim.

–Venha até aqui - ordenou.

Levantei lentamente e mantive meus olhos fixos nos seus para que ele não percebesse o que eu realmente queria. Andei lentamente, me desviando para a cômoda.

–Eu disse para você vir até aqui!

–Calma, só estou me sentindo um pouco tonta. Calma.

Consegui pegar a arma e Reid, aproveitando a distração, deu uma cotovelada para desequilibrar o professor, que atirou a esmo, não acertando em Spencer por pouco. Foi nessa hora que eu atirei, abaixei a arma enquanto o professor se contorcia e finalmente, soltei o fôlego.

Nesse meio tempo, Hotch e Rossi chegaram.

Reid e eu fomos atendidos pelos paramédicos, assim como Ryan Connor. Aidan fora encontrado no porão da família da falecida Elizabeth Matthews e assim, o caso estava encerrado. Oito mortos e ninguém salvo.

Tentei convencer a mim mesma que não fora um caso tão ruim assim.

–x-

–Hotch? - sentei-me a sua frente. Já estávamos no avião, voltando para casa.

Aaron me encarou por um momento e eu me forcei a não desviar o olhar.

–Ainda tenho minha vaga?

–Por enquanto.


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Notas finais do capítulo

Até a próxima, andem pela sombra!