Unfinished Business escrita por Laís


Capítulo 2
My only shot


Notas iniciais do capítulo

E aí, suas fãs frustradas que assim como eu gostariam de ser teletransportadas p casa do Matthew Gray Gubler.
O capítulo não tem ação nem nada porque essa parte era realmente necessária e eu não queria deixar o capítulo muito grande.
Me desculpem por qualquer erro, to carente de beta.



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“Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você.”

Friedrich Nietzsche

“... Somente os braços das vítimas foram esfolados e…”

Conseguia ouvir a voz de Garcia através da porta e pude imaginá-la dando sua “palestra” sobre os crimes cometidos por um assassino que a equipe deveria compreender e encontrar. Essa é a parte mais pertinente em trabalhos como esse. Compreender alguém que chega ao ponto de tirar a vida de outra pessoa é como tentar navegar em um rio desconhecido repleto de bancos de areia, porque você tem certeza da sua rota, contudo no meio do caminho algo não previsto pode alterar toda sua concepção. A loucura pode se manisfestar através de crimes e por esses tipos de assassinos, no fundo do meu coração, sinto pena. Sim, pena. A mente é argilosa, prega peças. Mas há aqueles que fazem o que fazem conscientes dos seus atos. Será isso algo que faz parte da natureza delas? Algo geneticamente predestinado? Nunca consegui entender o sangue frio, o júbilo e o sadismo em assistir alguém morrendo.

Uma ideia mórbida passou por minha mente um instante, porém sua sombra permaneceu um bom tempo. Quem sou eu para julgar os assassinos? Fui treinada para proteger os inocentes, era essa a minha meta: salvar vidas. As mesmas vidas que eu mesma tirei graças a minha petulância e persistência em não aceitar minha falha. Talvez Hotch tivesse razão ao afirmar que eu não pertencia àquele lugar. Eu passara muito tempo combatendo monstros, encarando o abismo da humanidade e, em determinado momento, ele me encarou de volta. O único problema foi que ele também destruiu todos ao meu redor. E mesmo depois disso, quis continuar na BAU. Mentalmente instável, lidando com perdas e apesar de todos os protestos de que eu deveria tirar um tempo, permaneci em campo. Implorei para Matt Cruz convencer Hotchner a manter meu cargo e essa irresponsabilidade levou 10 vidas comigo. Cruz também se culpava, aliás, seu trabalho era dizer “não” para decisões como aquela, mas eu sabia a verdade. A culpa era toda minha.

Fechei os olhos, meio para tomar coragem, meio para espantar antigos fantasmas, tomei fôlego e entrei na sala, Penelope interrompeu a explicação abruptamente e fixou o os olhos arregalados em mim. Sorri, não por cordialidade, mas sim porque era muito bom vê-la. J.J, Derek e Spencer me encararam com a mesma surpresa, somente Rossi e Hotchner estavam esperando a minha presença. Me forcei a olhar na direção de cada um, apesar do desconforto.

–Pelo visto vocês lembram de mim - fora uma tentativa de quebrar o gelo com alguma piada, mas ninguém riu. Sabia que não seria recebida com felicitações e estava preparada para aquilo. Afinal, eu precisava provar para todos eles que era capaz de fazer aquilo, se me aprovavam ou preferiam que eu estivesse bem longe, não era minha preocupação. - Ok, eu to ficando um pouco desconfortável - prossegui - então vocês poderiam parar de me olhar como se eu fosse uma aparição, por favor?

Depois de um curto instante, Aaron quebrou o silêncio.

–Agente Weston vai voltar a trabalhar na equipe - ele percebeu a permanência dos olhares consternados - E isso é tudo que precisam saber por enquanto. Continue, Garcia.

–Ahn… Tudo bem. Voltando… Onde eu estava…? Ah, sim. Os olhos foram removidos, mas não com precisão cirúrgica - e passou para a foto de uma das vítimas - Sim, com certeza sem nenhuma precisão cirúrgica.

–O que já descarta qualquer médico ou profissional de área semelhante - observou Morgan.

–As vítimas são bem semelhantes fisicamente - disse Reid - todas eram brancas, com cabelos pretos e…

–Os olhos -concluí.

–Mas eles não são da mesma cor. Hannah Wolfe tinha os olhos castanhos, Amber, azuis e Lea, verdes - J.J argumentou e eu percebi que ela não olhava para mim enquanto falava.

–Sim, mas você não percebe o formato? -peguei a ficha com as fotos das vítimas quando ainda estavam vivas - as pálpebras um pouco caídas, mas mesmo assim, são olhos grandes. Elas representam alguém.

–Ele levou parte do couro cabeludo também, é uma forma de humilhação. Ele quer mostrar que tem o controle da situação - apontou Rossi.

–Garcia, você tem algum registro das vítimas terem ido ao cabeleireiro antes de serem atacadas? - perguntou J.J.

–Não, por que? - Penelope respondeu depois de verificar em seus arquivos.

–Por que as fotos das fichas são recentes e todas eram loiras, exceto Hannah…

–Ele pintou o cabelo delas - concluí.

–Talvez ele as esteja idealizando. Fazendo com que fiquem mais parecidas com a única pessoa que ele realmente deseja matar. Não pintou o cabelo de Hannah, porque ela já era morena. - Reid disse -Já foram 3 mortes em uma semana, ele age rápido e não é provável que vá parar…

–Partimos em 30 minutos - Interrompeu Hotch e eu quase sorri, ou talvez o tenha feito sem perceber. Todo o meu corpo sentira falta daquele tipo de vida. Sim, eu estava errada antes. Muitas pessoas não aguentariam aquele trabalho, mas eu fora feita para aquilo. Ali era o meu lugar.

–x-

–Desculpa por não ter falado com você antes, eu realmente não esperava…

–Ta tudo bem, Morgan - o abracei e, seguindo a deixa dele, os outros vieram me cumprimentar. Derek fora o mais caloroso, os outros somente apertaram minhas mãos. Já estávamos a bordo, rumo a Ann Arbor. Antes de abrir espaço para os outros, ele murmurou algo que fora audível somente para mim. Suas palavras me pegaram de guarda baixa, giraram em espirais na minha cabeça e me atordoaram de tal forma que não consegui responder antes que ele se afastasse.

–Weston - não respondi de imediato - Agnes?

–E aí, Spencer. Você ainda tem aversão ao toque humano ou eu posso te dar um abraço? -sorri, mas não estava realmente entusiasmada para parecer amigável e agradeci por Reid ser… Bem, o Reid.

–Nunca tive aversão ao toque humano, só acho que, na maioria das vezes, ele seja desnecessário e, ainda por cima, um risco muito alto de…

–Ok, já entendi, você continua esquisito - o dispensei fazendo um meneio com a cabeça indicando que ele podia largar as cordialidades e sentar-se.

Rossi e Hotchner também foram falar comigo e dar as boas-vindas, apesar de já estarem cientes da incerteza da minha estadia.

Quando Matt Cruz me contara sobre a vaga na equipe, agarrei a ideia com unhas e dentes, mas, dessa vez, ele estava inseguro quanto a minha escolha. E tinha motivos para isso, claro. Passei quase um mês perseguindo-o para que ele finalmente me escutasse.

–Olha, Agnes. Se você quer tanto isso, vá em frente, não posso te impedir, mas você sabe como as coisas terminaram da última vez. Se entrar para aquela equipe de novo, estará sozinha. Estará em um lugar onde sua presença não é desejada e não espere minha ajuda, porque quando você destruiu sua carreira, quase levou a minha junto. Convença Aaron, se ele aceitar, não farei objeções. Se ele declinar, continue dando suas aulas de psicologia, saia ou fique na Narcóticos, eu não ligo.

Hotch não aceitara meu pedido, mas eu não estava pronta para desistir, então, no dia anterior, quando ligara para Rossi, pedi que ele tentasse convencê-lo a me aceitar de volta, pois sabia que se Aaron Hotchner fosse escutar alguém, seria o David. Em seguida, fora combinado que eu teria o período de um caso para provar que estava apta a trabalhar na BAU novamente.

Nos acomodamos e voltamos a analisar as fichas das vítimas. J.J estava sentada à minha frente e até agora não tinha me dado mais que um leve aceno com a cabeça, contudo não me incomodei, aliás, ela tinha todo o direito do mundo de estar chateada comigo.

–Os olhos… Você falou dos olhos naquela hora… Deve ter alguma coisa sobre o unsub neles.

–São fundos e muito parecidos com os meus quando estou de ressaca - Rossi disse.

Ressaca. Olhos de ressaca.

Reid começou a falar ininterruptamente algo sobre os efeitos do álcool no organismo, mas eu não estava ouvindo.

–É uma referência literária - falei, cortando a explicação do Dr.

–Sim, eu considerei a referência a Edgar Allan Poe, mas nem os braços ou os cabelos se encaixam.

–Não, Reid. Não estou falando de Poe. Isso aqui é alguma representação de Dom Casmurro, um clássico brasileiro extremamente famoso. Capitu, uma das personagens da obra, tinha “olhos de ressaca”, o livro faz referência a essa característica diversas vezes.

–Ainda não há nada que ligue isso...

–Se você parar de me interromper, talvez entenda - as palavras saíram antes que eu recuperasse o controle. Reid franziu o semblante, mas não disse nada e eu prossegui.

–Em um dos capítulos, Bentinho, que é quem conta a história, vai ao teatro com Capitu, sua esposa, e fala de seus braços. Diz que nunca sentira tanto ciúmes de algo e…

–Como você sabe disso? -Foi Morgan quem perguntou.

–A família da minha mãe é brasileira e minha avó me obrigava a ler os grandes clássicos do país.

–Então, nós procuramos por alguém com linhagem brasileira?

–Não necessariamente - foi Reid quem respondeu - pode ser um professor ou estudante de literatura.

–Os crimes são planejados e foram feitos em uma semana só, o unsub tem que ter tempo livre, talvez seja um aluno - J.J argumentou.

–Mas para conhecer essa obra teria que ser um professor, não é muito popular nos Estados Unidos, somente para os estudiosos da área - respondi - Hannah era uma universitária, Lea uma bartender e Amber, stripper. São alvos fáceis.

–Ele está se vingando de alguém, um divórcio ou término de um namoro pode ter sido o estopim. Vou mandar a Garcia verificar alguém que se encaixe.

No final do voo tínhamos o nome de um professor de literatura da Universidade de Michigan e Hotchner mandou que eu e J.J fôssemos falar ele, enquanto Rossi e Morgan interrogavam os alunos, amigos de Hannah e possíveis suspeitos. Hotch e Reid iriam analisar a cena do crime.

–x-

J.J dirigia em silêncio e eu estava muito ocupada encarando minhas mãos para tentar falar algo.

–O que te fez voltar? -ela rompeu o silêncio incômodo.

–Destino? -dei de ombros mesmo sabendo que ela não estava olhando para mim.

–Você não acredita nessa porcaria e nem eu.

–Com “destino” eu quero dizer Matt Cruz.

–Espera - J.J tirou os olhos da pista um instante e me encarou, pasma. - Cruz mandou você de volta?

–Não, ele só…

–Você só pode estar brincando! Eu não acredito nisso! Qual é o seu problema? Não tem nenhum auto-respeito? Isso é inacreditável, simplesmente a sua cara de pau é inacreditável.

–Jennifer, você tem todo o direito de estar com raiva…

–Raiva? Você acha que estou com raiva? Você quase me tirou a coisa mais importante da minha vida, Agnes. Raiva nem começa a descrever o que eu sinto quanto a todas as drogas que você aprontou para cima de mim.

Não tinha o que responder ou argumentar, eu simplesmente não tinha defesa. Eu fizera todas aquelas coisas.

–Se você quer se achar invencível, por mim tanto faz, destrua a sua vida, Agnes. Mas não me leve junto.

–Você sabe que…

–O que? Que você não poderia adivinhar que aquilo ia acontecer? Sim, sei disso - J.J deu uma risada amarga - Você é sempre a vítima, não é mesmo? Só quero uma coisa de você. Se você prejudicar alguém nessa equipe, eu juro que vou atrás de você, Agnes.

J.J parou de falar e eu estava quase retrucando a ameaça quando percebi para onde ela estava olhando.

Na frente da casa do professor Ryan Connor um “X” pintando em vermelho era visível.

–Aquilo é… - comecei a perguntar.

–Vamos descobrir.

Saímos correndo do carro e J.J bateu na porta.

–Ryan Connor, é o FBI - não recebeu resposta - Professor Connor?

Trocamos um único olhar e sacamos as armas. J.J girou a maçaneta que, para nossa surpresa, abriu a porta. Ninguém em sã consciência deixa as portas de casa destrancadas. O que encontramos na sala arruinava toda a minha teoria. E sim, o “X” fora escrito com sangue.


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Notas finais do capítulo

Sugestões? Críticas? Alguém p/ chorar junto porque assistiu, sem querer, a versão dublada de CM no AXN?
Beijo.