Unfinished Business escrita por Laís


Capítulo 14
Death whispered a lullaby


Notas iniciais do capítulo

Aposto que não esperavam me ver tão cedo assim, né? Mas os reviews do último capítulo foram tão lindos/cheirosos/maravilhosos que eu simplesmente passei a semana inteira querendo aparecer logo aqui. Pra colaborar, hoje é feriado na minha cidade (eu poderia estar lendo e fazendo maratona de seriados, mas vim aqui com minhas baby girls, só pra constar). Queria dar boas-vindas para a Sam Potter e a Mrs. Bellamy. Vocês estão mais que convidadas p/ o chá da tarde na casa do Rossi. Aliás, percebi que no capítulo passado não cumprimentei a srta. Méav, que foi tão gentil comigo, e to me sentindo a pessoa mais rude do mundo. Seja bem-vinda, baby girl!
Antes de tudo, a música no título é do Opeth (inclusive toca no final da primeira temporada de CM) e eu escrevi metade do capítulo ouvindo Monsters - Band Of Horses (também toca em CM, não lembro qual episódio) e acho que vocês deveriam dar um play aqui enquanto estão lendo: https://www.youtube.com/watch?v=5uB0gQr3zSM
Esse capítulo foi muito difícil de escrever e, no final, eu já não tinha mais forças pra betar, então me perdoem se houver muitos erros, de verdade.
Até daqui a pouco!



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Fazemos amigos na batalha. Provocamos uns aos outros, zombamos uns dos outros e insultamos uns aos outros. Na batalha ficamos mais próximos que irmãos.

Bernard Cornwell.



Horas antes

Quantico - Virginia

–Ok, agora que já sabemos, o que vamos fazer? - Rossi franzia as sobrancelhas em sua maneira particular.

–Nós precisamos da Weston, por enquanto - afirmou Hotch.

–O que você quer dizer com “por enquanto”? - Reid estava de braços cruzados e uma expressão alarmada. Os cabelos, sempre peculiares, pareciam mais desgrenhados que o de costume concedendo-lhe uma aparência quase adolescente.

–Reid, você está fora desse caso. Vá para casa, tire uns dias de folga - repreendeu Hotchner.

Ainda estupefato, Spencer Reid olhou ao redor, procurando alguém que não concordasse com a ordem de Aaron Hotchner, entretanto, desvios de olhares foi tudo o que recebeu. Deu às costas ao grupo e foi até sua mesa, segundos depois, J.J estava lá.

–Sinto muito, Spence - disse em tom condescendente. Apesar de estar furioso e sentir a extrema necessidade de descontar em alguém, não era culpa de sua amiga, então limitou-se a assentir.

–Não sinta, isso não tem nada a ver com você.

–Mesmo assim. Você vai para casa agora?

–Não pareço ter muita escolha, não é mesmo?

–Preciso falar algo que você provavelmente não vai gostar.

–O que indica que esse algo é, certamente, a verdade. As pessoas odeiam a verdade e, ironicamente, vivem implorando por isso.

J.J suspirou e tentou amenizar as palavras da melhor forma possível, falando baixo e em um tom quase maternal.

–Agnes Weston é autodestrutiva e toda essa bagunça particular dela age, de uma forma que eu não sei explicar, como um magnetismo. As pessoas parecem sentir a necessidade de cuidar e protegê-la. Eu mesma já fiz isso, era quase como se eu tivesse a responsabilidade de cuidar das consequências de todas as coisas que ela fazia. Tudo que sempre quis foi que ela ficasse bem, até eu perceber que Weston é a última pessoa do mundo que precisa de alguém curando suas feridas. Ela é forte. Olha todo o caos que a segue por todos os lados e ela sempre acha um jeito de revidar, de ficar bem. Mas o mesmo não acontece com as pessoas que tentaram defendê-la. Essas pessoas nunca, Spencer, nunca acabam bem.

J.J pausou o discurso, esperando que o doutor o assimilasse.

–Não estou tentando consertar ninguém, J.J - retribuiu em um tom mais ríspido do que o programado. - Só acho que, quando nem mesmo nós acreditamos que merecemos uma segunda chance, alguém deveria nos dar uma.

Sorriu para a amiga, aliás, nada aquilo era de sua autoria e tudo que ela estava tentando fazer era ajudar. Saiu da sede pensando em quanto tempo o inferno pessoal de Agnes Weston levaria para agarrá-lo pelos tornozelos.





NYC - Nova York



–Sra. Weston…

Agente Weston - corrigi com a voz ríspida e autoritária - e, por favor, vamos pular a encenação de “bom e mau policial”, eu trabalho na BAU e há coisas mais urgentes com as quais vocês deveriam estar se preocupando.

Eu tamborilava os dedos na mesa, sacudia a perna em um movimento incessante de impaciência, esfregava as mãos na testa e no cabelo, contorcia-me na cadeira e nada parecia acalmar o turbilhão de coisas que trovejavam em minha mente. Desesperada, resolvi tentar outra abordagem.

–Por favor… Vocês precisam me ouvir… - supliquei aos dois policiais sentados a minha frente.

–E iremos - respondeu um deles - conte sua história.

–Não há tempo para isso! - protestei.

–Então talvez você devesse contá-la rápido - rebateu o outro.

Suspirei profundamente e me sacudi mais ainda, todo o meu corpo pulsava. Vidas de pessoas queridas estavam em jogo e eu somente ali, sentada. Por fim, aquiesci.

–Eu e o agente Morgan estávamos ajudando a oficial Greenaway em um caso de um serial killer que tinha como vítimas prostitutas, drogados, sem-teto e todos eles de descendência, ou ao menos traços, estrangeiros.

–Não temos registros desse caso.

–Isso porque ninguém parece se importar com o tipo de pessoa que não possui família para ficar no pé da polícia - falei colocando o máximo de acidez no tom - Todas aquelas pessoas indefesas que a população considera como o lixo da humanidade. Quem se importaria se um maluco começasse a matar alguns deles? Quem ao menos notaria?

–Quanta eloquência. Admirável. Mas ainda sem nenhum registro.

–Você é tapado? - bufei - Estávamos fazendo isso sem o apoio da polícia e muito menos do FBI, claro que ninguém vai encontrar registro algum.

Arqueei as sobrancelhas e encarei ambos os oficiais, como se esperasse que algum deles ousasse me contradizer. Como recebi somente um silêncio taciturno em resposta, prossegui.

–Greenaway era nossa isca, eu a supervisionava e o agente Morgan nos dava cobertura.

Delatei da maneira mais breve possível sobre o intervalo de tempo em que saí para falar com Morgan e Elle desapareceu. Mencionei também a perseguição e a mensagem de texto com as coordenadas que eu recebera. E, no momento em que eu falava, me dei conta de algo. Isso não é raro. Perceber o óbvio que estava estampado em seu nariz somente ao explicar a situação para outra pessoa.

Talvez Elle não houvesse enviado aquele sms.

–Agente Weston? - havia escárnio na forma como pronunciara a palavra “agente”, porém ignorei. Resolvi manter minhas novas suspeitas somente para mim.

–Entramos na casa e… Morgan vasculhou o… Alçapão - as coisas começavam a ficar turvas nesta parte, minha voz embargou e as palavras seguintes saíram somente com muito esforço. - Eu entrei na casa, algo me acertou na parte de trás da cabeça.

Instintivamente levei a mão ao local empapado de sangue, que já estava ficando seco. Recusara atendimento médico, pois estava muito angustiada para notar a dor.

–Eu não sei quanto tempo fiquei inconsciente, talvez tenha sido somente 5 ou 10 minutos. Não pode ter sido mais que isso e quando eu recobrei os sentidos… Eu… Ouvi passos. Me escondi atrás de qualquer coisa e…

–x-

Meu ouvido chiava graças ao som estridente dos tiros, meu peito subia e descia em um resfolegar incontrolável. Minhas mãos estavam tremendo e eu não compreendia exatamente aquelas reações do meu corpo. Eu fora treinada para aquilo, então por que motivo meu sistema nervoso estava em fragalhos? Suava copiosamente enquanto levantava devagar. Ainda tinha a armas em punhos, segurando firmemente com ambas as mãos para que o tremor não fosse um empecilho, e dei um passo em frente. O lugar lúgubre não ajudava nenhum pouco meus sentidos de localização e eu enxergava somente contornos de móveis.

E uma silhueta jogada ao chão.

O desgraçado, pensei.

Um vento gélido fez com que a porta rangesse e abrisse mais um pouco, aumentando a fresta de luz noturna.

Então eu o vi.

Deitado ao chão com a respiração lépida.

Meu estômago parecia ter despencado, minhas pernas falharam e eu quase tombei para o lado.

Derek Morgan.

–x-

–Como o agente Morgan foi parar no hospital? - questionou sem nenhum indício de emoção na voz ao tempo em que eu necessitava do meu autocontrole mais do que nunca.

–Os passos que eu ouvi eram dele. Eu estava assustada e, ao que tudo indicava, o unsub era quem estava lá comigo. Entrei em pânico. Morgan também atirou, mas eu estava protegida.

–Você não foi treinada justamente para não fazer isso?

–Eu não preciso que você me diga como fazer meu trabalho - rebati.

–Evidentemente alguém precisa dizer.

Podia sentir a antipatia que os policiais, cujos nomes eu nem me dei o trabalho de aprender, nutriam pelo FBI. Isso não era algo incomum e estávamos acostumados a lidar com isso. Nos fuzilamos com o olhar por um tempo até que o silêncio fosse interrompido.

–Prossiga, por favor.

–Eu peguei o celular do Morgan e liguei para a ambulância, nesse meio tempo não tive como procurar por Elle e nem perceber que a caminhonete vermelha não estava mais lá.

Várias imagens atravessaram minha mente, anuviando meus pensamentos e eu, mais uma vez, precisei me conter para não desabar na frente de dois estranhos que fariam de tudo para me destruir sem nenhum motivo válido além de antipatia.

–A ambulância chegou e, como para a emergência eu havia dito que a causa do ferimento fora causado por uma bala, a polícia a acompanhava e aqui estamos.

Eu não sabia mais quanto tempo aguentaria aquilo. Seria possível seu coração simplesmente parar de tanta angústia e preocupação?

Morgan estava no hospital. Elle desaparecida e nas mãos de um sádico desgraçado.

–Você já ligou para meu superior?

–Aaron Hotchner está vindo, não se preocupe. Por enquanto é só - disse enquanto levantava e deixava a sala em meio aos meus protestos.

–E como a fica a situação da agente Greenaway? Vocês estão procurando por ela? Eu posso ajudar! E Derek, vocês receberam notícias do hospital? Ei! Estou falando com vocês! Ei! Volta aqui, seu desgraçado!

Levantei, andei de um lado para o outro, soquei paredes, bati furiosamente na tela que permitia com que outras pessoas assistissem ao interrogatório, contudo tudo foi vão.

Aaron Hotchner estava a caminho, me disseram. As horas limites que poderiam me manter na delegacia passaram e, ao acabarem, eu fui conduzida ao presídio feminino e, algumas horas depois, estava na solitária por ter agredido uma funcionário que se recusara a me dar informações sobre Elle e Morgan. Somente no silêncio, chorei por tudo que tinha acontecido.

Eu não dormia há, basicamente, quatro dias. Se conseguia fechar o olho, era um sono agitado do qual eu logo despertava, suando e assustada. As refeições iam e viam, mas eu não comia nada. Ao sair da solitária, mais uma vez ninguém me deu informações sobre meus amigos e, pela segunda vez, fui conduzida ao “buraco”, como chamavam.

Não fazia a mínima ideia de como ainda estava sobrevivendo com toda aquela angústia.

E Aaron Hotchner ainda não tinha aparecido.

–x-

Ajoelhei-me ao lado de Morgan e apertei sua mão com força, simultaneamente, pressionando o ferimento com meu sobretudo. Tentei não chorar para acalmá-lo. Inclinei meu corpo mais ainda e quando estava com o rosto quase colado no dele tentei manter minha voz calma enquanto o animava.

–Ei, ei, ei bonitão. Eu já chamei a ambulância, viu? O socorro já está a caminho, questão de segundos. Aguenta firme aí, ok? Você vai fazer isso por mim? Não, Morgan, não feche os olhos. Isso, isso, muito bem. Olha pra mim. Assim está bom. Nem está tão ruim assim, é preciso mais que isso para abater o herói da história, em alguns dias você já vai estar brigando com Hotch tentando convencê-lo a deixar que você volte para o trabalho mais cedo. Tenho certeza disso. Não, não tente falar nada, guarde suas energias.

Seus olhos abertos vagavam aleatoriamente e eu sabia que ele estava perdendo a consciência, respirei fundo e apertei mais ainda o ferimento que eu tentava estancar, mas havia muito sangue e eu já não conseguia mais manter o tom tranquilo.

–Me desculpa, Derek. Eu sinto tanto, tanto, tanto - falei em meio a soluços violentos e, simples assim, eu estava em desespero.

Morgan tentava balbuciar algo, apesar dos meus conselhos.

–Não, não fala nada agora, por favor. Guarda essa energia, por favor. Os médicos estão chegando. Derek, por favor, fica com os olhos abertos. Por favor. - havia urgência e desespero na minha voz e eu simplesmente não conseguia evitar isso.

Seus olhos fechavam e tornavam a abrir, em intervalos gradativamente maiores. Uma lágrima escorreu pelo canto de seu rosto e eu a enxuguei em forma de afago com a ponta do polegar.

–Você é o herói dessas história, Morgan. De todas as pessoas que eu já conheci, você é a que eu mais respeito e admiro. Além de ser o homem mais forte que eu já tive a honra de conviver. Por anos, foi o mais próximo de um amigo que eu tive, então, por favor, não se atreva a morrer no meu turno, está entendendo? - dei uma risada amarga e sem humor.

Morgan continuava suas tentativas de dizer algo, mas eu sempre o interrompia.

–Você ainda não me contou da sua nova namorada, não conversamos sobre isso, mas eu sei que dessa você realmente gosta, hein? Mais tarde, sem falta, você vai me contar tudo sobre ela. Sabe do que eu sinto muita falta também? Das tortas da mamãe Morgan - ri mais uma vez. Agora eu segurava o rosto de Derek com uma das mãos e apertava as suas com a outra. Pressionava o ferimento em seu peito com o sobretudo e meu próprio corpo, quase deitada sobre ele.

–Nós vamos sair dessa, não vamos? Por favor, Derek. Por favor.



–x-

Não fazia a mínima ideia de quanto tempo se passara. Toda a angústia, impaciência, ferimentos mal cuidados, noites em claro e refeições negligenciadas transformaram-se em febre, desnutrição e dores em todo o corpo. Pela primeira vez meu corpo estava refletindo o estado de espírito. Na enfermaria do presídio, passava grande parte do tempo sedada e recebendo soro na veia. Ainda perguntava por Morgan, Elle e Hotchner, mas todos pareciam repudiar a permanência ao meu redor. Não os culpava. Eu também me odiava.

Garcia e Hotchner foram visitá-la, finalmente.

–Como está Morgan? E Elle? - despejei as palavras assim que entraram. Apesar da dor e dos tubos, ergui-me e sentei. - Por que demoraram tanto?

–Elle foi encontrada, passou um tempo no hospital, mas está se recuperando - a voz de Aaron era seca e a expressão impassiva. Aquilo era comum e não teria suspeitado de nada caso não houvesse notado seus olhos fundos e avermelhados. Pela primeira vez, olhei na direção de Penélope.

–E Derek? - perguntei sentindo um abismo pesando em meu peito. - Cadê o Morgan, Penelope? Porra, alguém pode me responder?! Como ele está?

Penelope Garcia começou a chorar e sua expressão torturada nunca partiu de minha mente. A imagem daquele sofrimento nunca me abandonou por completo. Os olhos de Aaron Hotchner, o homem severo e de aço, estavam marejados e sua mandíbula contraída, furiosamente.

E naquele momento eu soube. Minha respiração falhou e o coração ardia, se é que isso era possível, mas queimava. Meu estômago parecia ter despencado e eu não percebi que estava gritando até as enfermeiras entrarem na ala.

Derek Morgan estava morto.

Eu o matara.

–x-

–Mantenha os olhos nos meus, ok? Isso, muito bem. Você é forte, Derek. Eu já disse isso, não? A pessoa mais forte que eu já conheci. Não há ninguém em quem eu confie mais do que você. Colocaria minha vida nas suas mãos sem titubear e, daqui uns dias, você vai estar jogando todo esse discurso sentimental na minha cara e perguntando em que período do mês eu estava. Eu sei disso. Não, não tente falar nada, por favor. Por favor. Fique quieto, só respire e mantenha os olhos abertos. Abra os olhos. Abra os olhos.

Ao longe, ouvi as sirenes.

–Eles chegaram - quase pulei de alívio - eles estão aqui. Eu disse que você ia aguentar. Viu só? Ah, Morgan, você é um cara durão - sorri abertamente apesar de continuar chorando, mas dessa vez era, em parte, felicidade por acreditar que tudo ficaria bem.

–Você vai ficar bem, eu prometo. Eu prometo.

Mesmo com todos os meus protestos, Derek ainda gaguejou uma frase antes de ser colocado na maca.

–Eu preciso acompanhá-lo - berrei.

–Não, a senhora vai para a delegacia agora.

–Você vai ficar bem, Derek. Eu prometo - disse antes que fechassem o compartimento para socorros imediatos da ambulância. Um policial agarrou meu braço e me conduziu até a viatura.

Ele vai ficar bem, disse a mim mesma. Tudo ia ficar bem.

A última coisa que ele me dissera ainda ecoava em meus ouvidos.

“Eu não sou outro erro seu. Isso não é sua culpa.”





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Notas finais do capítulo

Por favor, não me odeiem. Por favor, não me abandonem. Por favor, não me ignorem até o final da fanfic. Eu também to com vontade de me arrastar no asfalto quente, mas eu juro que foi necessário. Esse capítulo também doeu na minha alma, mas ele é necessário, eu juro.
Dizer "muito obrigada" nem começa a expressar minha gratidão por todos os elogios (eca, to parecendo aquele namorado grudento), mas de todas as formas, MUITO OBRIGADA! Por todos os elogios e tudo o mais. Podem apontar erros também, eu agradeceria.
Sei que vocês não querem nem olhar na minha cara agora, mas eu to sempre disponível e podem me xingar UHEUHE
Vejo vocês no próximo?
Milhões de beijos!