Capítulo 4

Elza's POV

Eu fugi correndo dos jardins, e comecei a andar a esmo pelos corredores. Será que eu havia machucado aquela Lauren Jordan? Essa nunca fora a minha intenção. Eu simplesmente fiquei com raiva e perdi o controle por um momento. Aquelas garotas me provocaram, me chamaram de esquisita, excluída, e outras coisas cruéis. Tentei ignorar, mas elas continuavam a me perseguir. Quando puxaram meu cabelo, ainda mais com tamanha força, e me empurraram, não aguentei mais. Agi apenas em minha defesa, mas agora estava preocupada. Se alguém tivesse se machucado, provavelmente me expulsariam de Hogwarts. Tremi só de pensar nessa possibilidade.

Eu teria que arcar com as consequências de meu ato impensado, isso era certo.

Mas qual seriam elas?

Era disso que tinha medo quando vim para cá. Era disso que eu sempre tinha medo, não só aqui, mas em casa também, apesar de isso nunca ter acontecido.

Já estava feito, eu agora nada podia fazer, a não ser torcer para não ser expulsa.

~setembro~

Eu estava de volta à estação de trem King's Cross, novamente no dia 1º de setembro. Havia se passado exatamente um ano desde que fui para Hogwarts pela primeira vez, e mais ou menos nove meses desde o incidente nos jardins da escola. Após aquilo houveram alguns problemas: fiquei um bom tempo na sala do diretor explicando o quê e como eu havia feito no jardim; saí no Profeta Diário por ser o primeiro caso relatado; quase fui expulsa de Hogwarts, mas concluíram que aquele foi um momento raríssimo, e que eu seria capaz de me controlar dali para frente, e uma porção de outros problemas. Mas, afinal, eu estava de volta e ia poder voltar. Então, quando chegamos na plataforma, eu, Sam, Ana e Anna, todos olharam para nós e começaram a cochichar, e abriram caminho para nós. Baixei minha cabeça, envergonhada.

Novamente, me despedi de minha família e embarquei em um compartimento vazio do trem, exatamente como eu fizera no ano passado. Mas esse ano foi diferente.

No meu compartimento, fechei as portas e, certa de quem as pessoas ficariam em pé, mas não sentariam comigo, deixei a janela e a parte de vidro da porta levemente congeladas, fiz nevar um pouco e deixei tudo o mais frio que podia nessas condições. Me enrosquei no banco exatamente como fizera ano passado. Tudo parecia normal, até alguém abrir a porta.

Eu olhei e vi um garoto da Lufa-Lufa do meu ano, Kristoff Brown, adentrar o compartimento. Ele olhou para mim e disse, de modo hesitante:

– Oi.

Após analisa-lo surpresa, respondi baixinho:

– Oi.

– Posso sentar? - ele perguntou acanhado.

Fiquei realmente surpresa com isso. Arqueei as sobrancelhas, mas assenti.

Kristoff se sentou no banco a minha frente, e eu continuei encolhida. O trem começou a andar, iniciando nossa longa viagem.

– Como é... - Kristoff começou a falar, meio constrangido e hesitante, depois franziu o cenho e disse: - Esquece, deixa para lá.

– Pode falar - eu disse, já cheia de curiosidade.

Ele ficou em silêncio por um tempo.

– Como é... - começou - fazer... isso... o que você faz?

A pergunta me surpreendeu, como se eu tivesse levado um tapa. Mas respondi mesmo assim.

– Ah, - estava sendo difícil encontrar as palavras certas, que pudessem explicar sem constrangê-lo. - é estranho de vez em quando, dá um pouco que medo de não se controlar, mas... eu até gosto de frio, e é bom poder ter neve o ano inteiro.

Ele pareceu pensativo, então sorriu levemente, parecendo satisfeito com a resposta. De repente reparei em algo importante.

– Se importa? - eu disse, apontando para o teto, indicando o frio de modo geral.

– Não, nenhum pouco - respondeu.

Bom, pelo menos aquela viagem parecia que seria tranquila, mesmo comigo tendo uma companhia que jamais imaginei que teria.