Juntos pelo acaso. escrita por Hermione Granger


Capítulo 20
Fique




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(narrado por Ron)

Eu não me lembro de ter pegado no sono na noite passada. Me sentia como se tivesse sido esmagado por trinta caminhões e meu corpo estava todo dolorido, mas eu estava feliz. Eu abri os olhos aquela manhã e o rosto dela foi a primeira coisa que meus olhos encontraram. Ela realmente estava ali. Sua cabeça invadia meu travesseiro enquanto os cabelos castanhos ondulados preenchiam o travesseiro dela. Sim, era o travesseiro dela a partir daquele instante para mim. O meu relógio de pulso ainda marcava 5h da manhã e eu não ousaria acordá-la até porque eu sabia que ela não planejara adormecer ali, não Hermione. Eu respirei fundo tentando sentir o cheiro dela que já impregnara meu travesseiro. Eu me aproximei cautelosamente e uni a minha testa com a dela tomando todo cuidado para que ela não acordasse. Eu fiquei olhando para ela, dormindo com o rosto tranquilo e respiração calma e queria ficar ali só olhando ela dormir, mas em algum momento, enquanto eu mexia nos cabelos dela, eu dormi novamente. Quando acordei novamente às 9h da manhã ela já não estava mais lá e eu não tive tempo para lamentar, estava mais do que atrasado para o trabalho. Eu estava um pouco melhor em relação a noite passada, mas ainda não estava cem por cento. Ainda assim eu saltei da cama, direto para o banho.

Eu tomei um banho e me troquei o mais rápido que pude, considerando que eu ainda me sentia tonto pelo efeito do antigripal que Hermione me dera antes de dormir. Eu peguei a minha pasta largada em cima da poltrona do meu quarto que mais servia para empilhar roupas do que para sentar e desci as escadas.


— Hey, dorminhoco. Achei que estivesse morto. – disse Hermione ao pé da escada, pronta para subir.

— Ah, oi Mione. Bom dia – dei um beijo nela como comprimento – Estou atrasado.

— Não acha que vai trabalhar assim não é?

Ela deu uma ajeitada na gola torta da minha camisa e eu olhei para meu próprio corpo para ver se havia algo mais errado.

— Assim como? – perguntei confuso

— Doente.

— Eu estou bem, Mione. Tenho em casa uma doutora fantástica.

Eu estava dando outro beijo nela para me despedir e estava abrindo a porta para sair quando a senti segurar meu braço para me impedir.

— Você não vai a lugar algum com esse tempo e duvido que alguém vá com toda essa neve – ela apontou para a porta entreaberta e eu pude ver toda a rua forrada de branco. A neve havia cessado, mas o frio que agora invadia o hall de casa era cortante. – Hugo também não terá aula devido ao tempo, então trate de subir e tirar essa roupa.

— Você esta realmente pervertida.

— Ron.

— Estou brincando, mandona. – eu dei um abraço apertado nela, tinha vontade de nunca soltar. – Só não vou questionar porque ficar com você não será sacrifício nenhum. Podemos voltar lá pra cima e...

Ela soltou uma risada ainda abraçada a mim e tampou minha boca com uma das mãos para eu não continuar.

— Hugo está aqui, não vamos a lugar algum. Anda. Se troque e desça para comer algo.

— Sim senhora.

Eu não tinha muito trabalho a fazer na empresa, já que durante a semana eu adiantei o máximo de coisas que pude só para sair mais tarde e não ter que encarar Hermione por muito tempo em casa. Mas agora estava tudo bem. Tudo ótimo. O tempo me impossibilitava de sair e meu trabalho estava em dia. Não seria nada mal passar uma tarde fria com as minhas duas pessoas favoritas. Eu recoloquei a roupa que usei para dormir e desci as escadas novamente. Hugo já estava na mesa e Hermione estava começando a lhe dar seu café da manhã quando entrei na cozinha.

— Pijama? Sério? – perguntou Hermione a me ver.

— Isso não é um pijama.

— Não?

— Claro que não, eu não uso pijamas. – respondi ofendido como se o uso de pijamas tirasse toda minha masculinidade.

— E por que dormiu com isso? - ela apontava para o que eu vestia.

Eu a ajudava enquanto ela colocava a mesa para o café.

— Porque você não me disse que já estava pronta pra ver como eu durmo...

— Ron! – ela chamou minha atenção apontando a cabeça em direção a Hugo. Eu caminhei ate ele e lhe dei um beijo no topo da cabeça.

—Já estão de bem ou estão brigando outra vez? – ele parecia confuso e eu ri.

— Estamos muito de bem.

Hugo pareceu feliz com a noticia. Seu rosto estava preenchido com um sorriso banguela, ele havia perdido o primeiro dente alguns dias atrás, mas logo ele pôs-se sério novamente.

— E vocês prometem que não vão mais brigar?

— Quem tem que prometer é o rabugento do seu pai.

— Pois eu prometo desde que ela prometa que não vai ficar dando bola pro narigudo.

Hermione jogou o pano de prato que tinha nas mãos em minha direção acertando meu rosto em cheio e riu. Eu ouvi Hugo rir também e joguei o pano de volta para ela.

— Tudo bem, eu prometo. – ela disse. – Sem narigudo.

— Sem Cormac também, mesmo ele entrando nos eixos é bom garantir.

—Está bem. Sem ninguém. – ela levantava uma das mãos como se estivesse fazendo um juramento em um tribunal.

— Espera, não é “sem ninguém”.

— Você entendeu Ronald.

Hugo ainda nos fez unir o dedo mindinho para provar a ele que realmente estava tudo bem, antes de tomarmos o café. Ela se sentou a mesa de frente para mim e eu não evitava olhar e sorrir pra ela quando tinha oportunidade, o que a deixava constrangida por estarmos na presença do meu filho. Hugo não se importava com isso e suspeito que ele nem notava, mas se notou eu sabia que observava contente porque nós dois a queríamos ali.

— Parece que ficaremos presos aqui.

— Está achando ruim? Eu acho ótimo. – eu disse antes que ela pudesse me responder. – Preso com as minhas duas pessoas favoritas.

— Nunca acharei a companhia de vocês ruim, mas o que faremos? – ela me perguntou.

Eu pensei por alguns instantes. Não havia mesmo muitas opções do que se fazer dentro de casa. Eu poderia passar a tarde comendo besteiras na frente da TV e isso já me deixaria contente.

— Nós podemos... – antes que eu pudesse dar qualquer sugestão, as luzes se apagaram. Agora estávamos trancados e sem energia elétrica. – Mas que beleza.

— Temos menos opções ainda agora.

— Podemos jogar alguma coisa. – sugeri. – Cartas? Xadrez? Particularmente eu sou ótimo em xadrez. O melhor jogador do colégio em 50 anos, palavras do diretor.

— Eu sou péssima em xadrez. – ela respondeu desanimada por assumir que não era boa em algo. Eu duvidei.

— Você é ótima em qualquer coisa que faça. Isso deve ser blefe.

— Não. Sou realmente um desastre. Hugo com certeza ganharia de mim.

— Ótimo. – disse me levantando – Começaremos com o xadrez então. Hugo decidirá o próximo jogo e depois você.

Eles não pareciam empolgados no inicio, mas eu os convenci que seria uma boa idéia até a energia voltar e preparei o tabuleiro de xadrez para jogarmos. Hermione tinha razão, ela não era das melhores jogadoras. Algumas vezes eu movimentava peças sem pensar para dar alguma chance a ela ou a deixava jogar em dupla com Hugo, mas não era seu forte. Existia algo em que eu era melhor que Hermione.

 

(narrado por Hermione)

 

O próximo jogo seria do Hugo. Eu estava aliviada pelo termino da rodada de Ron porque ele realmente era bom no xadrez como havia dito sem nenhuma modéstia. Enquanto jogávamos, ele me contava que a família Weasley tinha um legado no Xadrez. Seu avô paterno, Bilius, era campeão de Xadrez de Londres. Era quase lei os Weasley saberem jogar Xadrez, mas em Ron isso era mais um dom.

Já estávamos a uma hora sem energia elétrica quando Hugo sugeriu sua brincadeira.

— Pega-varetas. – ele disse depois de refletir um pouco. A geração de Hugo nasceu nos braços da tecnologia, era difícil ele decidir algum tipo de jogo que não necessitasse de energia elétrica.

— Nisso eu sou realmente boa. – eu disse empolgada. – Vou me vingar de você, Ronald.

— Quer sua revanche do xadrez em um jogo de pegar varetas do chão?

Eu apenas fiz uma careta para a arrogância dele e não respondi. Hugo ajeitava as varetas coloridas nas pequenas mãos, se preparando para solta-las no chão. A regra era simples: cada um tiraria uma vareta sem poder mover nenhuma outra. Eu era bom nesse jogo e Hugo tambem, mas Ron era uma decepção. Suas mãos eram grandes e desajeitadas, sempre que tentavam tirar sua vareta, suas mãos tremiam e todas as varetas se moviam. Eu venci o jogo, para minha felicidade, e antes de chegar a minha rodada de jogo, a luz voltou.

— Mais rápido do que eu imaginava. – disse Ron. – Essa jogatina me deu até fome.

— Qualquer coisa te da fome. – retruquei rindo.

— Eu ainda estou doente, sabe? Preciso de cuidados.

— Pois bem, vamos lanchar então. – Eu disse me sentindo um pouco aliviada por não ter que sugerir nenhum jogo para minha rodada. A verdade é que eu sempre fui dos livros, nunca dos jogos. Eu era péssima em qualquer jogo.

Ron me ajudou a preparar algo para comermos. Ele era assim, fugia de qualquer tarefa domestica que alguém o encarregasse de fazer sozinho, mas nunca deixava de me ajudar ainda que eu não precisasse. Até mesmo Hugo nos ajudou se encarregando de mexer o açúcar do suco.

Eles não se lembraram de retornaram ao jogo ou já estavam cansados de brincar, pois quando terminamos de lanchar nenhum dos dois pareciam ter intenção de retornar aos jogos.

— Acho que os efeitos do remédio estão passando ou esse frio está congelando minha cabeça. – disse Ron se sentando no sofá mais tarde. – Parece que tenho uma pedra no lugar do cérebro fazendo minha cabeça pesar.

— Tome o remédio outra vez e descanse. – eu aconselhei. – E se agasalhe.  Esse pijama só vai fazer você congelar...

— Não é pijama, Mione.

— Que seja.

Eu não discuti. Ele parecia realmente melhor comparado a noite passada e as dores deveriam ser realmente por conta do frio e pouco agasalho que ele usava então apenas tomou um analgésico para a dor. Ele não quis ouvir os meus conselhos sobre ir se deitar e descansar o resto do dia e ao invés disso inventou de ficarmos os três deitados na sala... Juntos. Eu não tinha entendido como Ron pretendia confortar os três naquele sofá que era demasiado pequeno, mas ele apareceu com a resposta. Ele surgiu na sala segurando uma caixa na mão e algo que mais parecia uma bóia gigante e que eu descobri ser um colchão inflável e tirou da caixa uma bomba de ar que serviria para encher o colchão.

— Pode me ajudar? – ele pediu. Hugo já estava esticando o colchão murcho no chão com tanta facilidade que me fez pensar que eles costumavam fazer isso com frequência.

— Claro.

— Consegue encher isso para mim? Vou buscas travesseiros. – ele não me esperou responder para sumir novamente.

Eu conectei a bomba no buraco do colchão e comecei a enchê-lo, mas considerando minha força demoraria uma eternidade. O colchão não levantara nem um milímetro do chão quando Ron voltou com seus dois travesseiros, o travesseiro de Hugo e cobertores.

— Deus! Deixe isso comigo. – ele disse colocando as coisas no sofá e pegando a bomba de mim. – Nesse ritmo acabará no próximo natal.

Eu dei de ombros e decidi ir até a cozinha estourar alguns milhos para pipoca.

Quando voltei com o pote de pipocas tudo já estava pronto. Ron afastara a mesa de centro para colocar o colchão no tapete e já o havia forrado com cobertores. Hugo já estava deitado no centro do colchão que era maior do que aparentava e Ron procurava algo na TV para assistir.

— Uau! – exclamei como se fosse um elogio. – Você tem um talento natural pra zonear a casa.

O Rosto de Ron murchou e eu não evitei rir.

— Você é muito piadista. Vem, trás essa pipoca para cá.

Eu me deitei ao lado direito de Hugo enquanto Ron teve que se ajeitar no lado esquerdo.

Quando se tinha uma criança em casa você aprende que nem todos os tipos de filmes são possíveis de se assistir. Terror, suspense, romance... Até mesmo as comédias tinham contra indicação. Só nos sobrava os infantis.

— A fantástica fabrica de chocolates. Não consigo assistir esse filme sem ficar com uma vontade louca de comer doces. – disse Ron.

A verdade é que realmente dava vontade de se entupir de guloseimas com o filme. Foi a pipoca que fiz que nos salvou por algum tempo. Conforme íamos assistindo, nosso corpo se acostumava com as camadas de cobertores em cima de nós e o calor nos aconchegou fazendo Hugo adormecer rapidamente.

— Ele dorme bem rápido. Mas não se pode esperar menos de um filho seu. – Eu disse admirando o garotinho dormir.

— Não fui eu quem dormiu antes da primeira metade de O rei leão.  – ele retrucou me fazendo lembrar a ultima vez que nos três assistimos filme juntos. Eu sorri com a lembrança.

— Gosto de como ele se parece com você. — eu disse fazendo com que Ron olhasse o próprio filho com orgulho. — Em tudo.

— É bom ouvir isso. Tive medo de não conseguir cria-lo sozinho e do que ele poderia se tornar por minha causa. – Ron agora fazia carinho no cabelo de Hugo.

— Você tem feito um ótimo trabalho. Você é um cara incrível, Ron. Hugo não poderia ser diferente.

Eu sorri e segurei a mão dele por cima da barriga de Hugo. Senti a outra mão de Ron, que antes acarinhavam o cabelo do filho, agora de perderem entre meus fios de cabelo. Eu senti o calafrio que sentia sempre que ele me tocava e me deitei e me aconcheguei mais para perto de Hugo para assim ficar também mais perto de Ron, com as nossas mãos ainda entrelaçadas sobre Hugo como uma corrente de proteção.

— Mione?

— Hum?! – respondi meio sonolenta enquanto Ron enrolava os dedos nos meus cabelos.

— Eu quero que fique com a gente.

— Eu estou aqui, Ron. – respondi quase como um sussurro.

— Sem lance de trabalho. Sem historia louca de babá ou de morar aqui pelo meu filho. – ele dizia determinado. Meu estomago deu um solavanco. – Quero que fique por nós agora. Quero que fique por mim.


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