Juntos pelo acaso. escrita por Hermione Granger


Capítulo 19
O convite




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/509856/chapter/19

A neve estava começando a cair como chuva quando chegaram em casa. Hermione deu um banho quente em Hugo e empacotou o garoto de roupas para que não pegasse um resfriado. Ela fez chocolate quente com bolachas para comerem enquanto assistiam desenhos.

Já anoitecera e Hugo já caia adormecido no colo de Hermione quando ela, olhando pela janela da sala, notou que a neve já cobria toda a extensão da rua de branco. Olhou no seu relógio que já marcava 20h. Ron não chegara. Era fato que estava chegando tarde todos os dias e que mal jantava em casa, mas considerando o mal tempo ela não esperou que ele fosse chegar tarde outra vez. Ela levou Hugo no colo até o quarto e o colocou na cama. Ele resmungou, mas não acordou. Seu sono era tão pesado quanto o do pai. Ela respirou fundo enquanto admirava a criança dormir e logo voltou para a sala.

Conforme as horas avançavam, a preocupação de Hermione aumentava. Ela tentou se distrair com programas de televisão e nada parecia ajudar. Sua mente estava a mil por hora e seus pensamentos vagavam para todas as hipóteses possíveis como Ron sequestrado, Ron acidentado. Ron com outra mulher. Aquela ultima em particular lhe dava um nó na garganta. Ela pensou em fazer algo para comer, mas estava sem apetite. Até mesmo limpou a cozinha para enganar a ansiedade e nada. 

Já passavam das 23h. Hermione tentara inutilmente ligar no celular de Ron que parecia estar fora de área ou desligado. Pensou em ligar para Gina, mas assusta-la não ia ajudar. Ficou com medo de Hugo acordar e perguntar pelo pai. Ron não chegava tarde assim. Ele a avisaria.

Sentara-se no sofá pela milésima vez naquela noite e viu o casado de Ron pendurado no cabideiro próximo a entrada da casa. Ele havia esquecido o casaco, o que a fez pensar que ele não estava tão bem agasalhado, já que não estava tão frio quando ele saiu mais cedo. Ela se levantou subitamente, caminhou decidida até o cabideiro e vestiu o casaco de Ron. Queria sair e procura-lo, mas lembrou-se de Hugo, não podia deixar o garoto em casa sozinho. E aonde ela iria com esse tempo? Meia noite. A neve no chão já estava alta a ponto de seus pés afundarem. O coração dela já palpitava de preocupação. Ela caminhou ate a porta e antes de decidir o que deveria fazer ouviu um barulho do lado de fora. Ela abriu a porta antes que Ron pensasse em fazê-lo. As mãos dele quase alcançavam a maçaneta da porta e ele perdeu um pouco do equilíbrio quando Hermione a abriu.

— Ron! - exclamou Hermione se atirando sobre Ron.

— Ai! Oi. — O abraço parecia causar dor nele e ela se afastou.

Pode ver que os olhos de Ron estavam estreitos e seu nariz vermelho. Ele tinha os braços abraçando o próprio corpo e ele andava curvado de frio

— O que houve? Onde você estava? Você esta bem?

— Não consigo pensar com tantas perguntas. — Ele chacoalhava as mãos nas laterais dos braços como se tentasse se esquentar. Ele vestia apenas o terno.

— Me desculpa. — pediu Hermione. Ela deu passagem para que ele entrasse e fechou a porta atrás de Ron. — Se sente mal?

— Meu corpo dói. — ele falava pausadamente como se precisasse buscar ar a cada palavra que dizia. Seu maxilar tremia enquanto falava — Parece que meus ossos congelaram.

— Você esta ofegante.

— Não se preocupe... Vou me deitar e isso melhora.

— Ah nem pensar. Tome um banho quente. Vou preparar chá de camomila e erva-doce com mel e bolacha para você comer. E um antigripal de brinde.

— Eu estou cansado, Hermione.

— Não seja teimoso. Você vai melhorar.

Ron pareceu não querer discutir. Sabia que não venceria Hermione, então apenas obedeceu enquanto ela foi até a cozinha prepara algo para que Ron pudesse comer. Ela sentiu um grande alivio por ele estar de volta. Preparou chá de camomila e erva-doce e colocou algumas gotas de mel e limão como sua mãe fazia quando ela gripava, colocou o chá em uma bandeja junto com alguns biscoitos para levar para Ron. Quando foi até o quarto de Ron, o viu deitado debaixo de uns três cobertores dos pés a cabeça. Ela se aproximou deixando a bandeja com o chá e os biscoitos no criado-mudo e notou que Ron ainda estava trêmulo.

— Ron? — ela chamou baixo entrando no quarto cautelosamente com medo de acorda-lo, mas ele não estava dormindo.

— Esta fr-frio.

— Vem, levanta um pouco. Precisa comer.

 Ele se levantou com dificuldade e se sentou encostando-se à cabeceira da cama. Hermione colocou a bandeja em seu colo e Ron teve dificuldade para pegar o cabo da xícara. Suas mãos tremiam com os calafrios e Hermione colocou uma de suas mãos sobre a mão que Ron segurava a xícara para mantê-la firme. Ron comia com um esforço que Hermione nunca vira. Para Ron, comer era sempre um prazer, nunca um sacrifício, e aquela falta de apetite só deixava Hermione ainda mais preocupada. Hermione tirou a bandeja do colo de Ron provisoriamente. Ele tinha a cabeça encostada na cabeceira e seus olhos estavam fechados.

 — Até meus olhos doem. — Hermione se aproximou de Ron e colocou a mão na testa dele. Ele abriu os olhos com dificuldade. Hermione então se aproximou ainda mais e colou seus lábios na testa de Ron como sua mãe costumava fazer para ver se ela estava febril.

— Você não pode ficar tão coberto assim, Ron. Está com febre.

— Me desculpe por te dar trabalho a essa hora.

 Ela deu o antigripal para Ron que o engoliu com dificuldade. Ele detestava remédios e só tomava em condições extremas. Ela tirou a xícara que Ron ainda segurava nas mãos e colocou na bandeja. Tirou duas camadas de edredom de cima de Ron sob os resmungos descontentes do rapaz. Ela o ajudou a se deitar e se sentou na beira da cama ao lado dele. Mexeu nas mechas de cabelo laranja de Ron como fazia com Hugo antes dele dormir.

 — O que aconteceu com você, Ron?

— Não foi nada Hermione. Fiquei até tarde no trabalho, não me dei conta do tempo. — ele explicava. Sua testa franzida com as dores no corpo. — Meu carro atolou na neve e com esse gelo todo eu não achei outro meio de voltar pra casa a não ser a pé. Esperei a neve baixar, mas só parecia piorar. Está com meu casaco?

 — Ah é... Eu... Eu estava preocupada. — Ela não havia notado que ainda vestia o casado de Ron.

— Vestiu meu casaco por que estava preocupada?

Ela respirou impaciente.

— Vesti porque quis ir procurar você. Foi a primeira coisa que encontrei.

— Ia atrás de mim?

— Você estava demorando e não atendia o celular. Mas eu não podia deixar o Hugo. Então...

— Desculpa... Por te preocupar.

 Ron olhava nos olhos dela fazendo-a sentir um calafrio por todo o corpo.

 — Eu sinto sua falta. — Ela confessou. Ele tentou ser indiferente, mas ela pode ver que sua testa não estava mais franzida e jurou ver um sorriso querer surgir no canto da boca de Ron. — Sinto falta de estar com você depois que Hugo ia dormir, de quando você me abraçava de surpresa quando estávamos só nós dois. Sinto falta até mesmo de quando me chamava de Mione.

 Não sabia muito que fazer além de dizer a ele o que sentia. Ron a olhava com atenção, mas ela não sabia dizer se suas palavras surtiam algum efeito nele então ela continuou.

— Olha, eu sei que está chateado comigo pelo que aconteceu com Vitor, mas... Eu nunca escolheria Vítor. Não se posso escolher você.

 A expressão no rosto de Ron suavizou. Ele se moveu um pouco mais para o meio do colchão e bateu no espaço vazio do colchão ao seu lado para que Hermione se aproximasse. Ela se arrastou até o lado de Ron sem questionar e ele a puxou para um abraço desajeitado fazendo Hermione inclinar o corpo sobre o dele.

 

— Esses dias sem você tem sido uma droga. — ele disse em seu ouvido. Hermione colocou seus braços ao redor do corpo de Ron e notou o quanto ele estava quente. — Mas eu não queria ser o primeiro a dar o braço a torcer. Eu queria sentir que você se importa comigo.

— Eu me importo Ron.  Eu sinto falta de estar com você. Sei que Vítor estragou tudo, mas...

— Chega de Vítor. Vem aqui — ele puxou Hermione pelo braço fazendo ela se deitar ao seu lado. Ela ficou deitada de frente para ele e ele jogou o edredom sobre ela. Ela sorriu. — Não estava nos meus planos ceder tão fácil assim.

Hermione sorriu fazendo carinho no rosto de Ron. E ele sorriu com o toque. Parecia ter se esquecido da dor. Ele a puxou para mais perto dele.

— O frio congelou seus miolos? Por que ainda não tentou fugir? Aproveita que eu estou sem forças.

Hermione riu dando um tapinha fraco no braço de Ron.

— Não vou a lugar nenhum, Weasley. Estou onde eu gostaria de estar.

— Vou passar gripe para você desse jeito.

— Então ficaremos de cama por mais tempo.

— Uau! — Ron exclamou. — Não conhecia esse seu lado pervertida.

— Eu estou brincando, não podemos ficar doentes ao mesmo tempo, ainda temos uma criança para cuidar.

— Hugo. Isso acabou de me lembrar de algo. — Ron teve a intenção de se levantar, mas Hermione o impediu. — Preciso pegar algo.

— Deixe que eu pego. — Ela disse já se levantando. — O que precisa?

— Na primeira gaveta. — disse ele apontando para o criado-mudo. — Há um envelope na primeira gaveta.

 Hermione se virou em direção ao criado-mudo que Ron apontava e abriu a primeira gaveta. O envelope que Ron dissera era a primeira coisa que se via. Tinha um toque um pouco infantil naquilo. Hermione o pegou e entregou a Ron. Ele fez um esforço para se sentar novamente.

Ele admirou o envelope por um tempo antes de estica-lo de volta para Hermione.

— Toma. — Ele notou a cara de confusa que ela fazia. — Abre.

— O que é isso? — ela perguntou pegando o envelope das mãos de Ron e abrindo-o com cautela.

— Um convite. Todos os anos a escola do Hugo faz uma festa para pais antes do natal. Uma espécie de comemoração de fim de ano. — Ele explicava enquanto a olhava. Hermione abriu o envelope e retirou um papel dobrado que havia ali dentro. Ela desdobrou o papel. — Em todos os anos as crianças fazem os convites para os próprios pais. Gina ou mamãe me acompanhavam às vezes, mas sempre fui só eu quem aparecia ai.

Ele apontava para o desenho do papel. Havia um homem de cabelos laranja desenhado ao lado esquerdo do papel feito com traços infantis. No centro da folha havia um garotinho idêntico ao homem. Era nitidamente Hugo segurando a mão de Ron. E ao lado direito de Hugo havia mais alguém.

— Essa daqui por acaso...

— Sim, é você. — respondeu Ron sem deixa-la concluir a pergunta.

— Mas...

— Encontrei isso na agenda dele. Acho que estava com receio de entregar já que estávamos brigados. Deve ter pensado que eu ficaria... Bravo. Está bem claro que ele quer que você esteja lá também.

— Caramba isso é... — Hermione não sabia o que dizer. Era como se a sensação de pertencer àquela família não fosse só dela. E não era.

— Vá com a gente, Mione. Mas sem isso de “babá”

— Ah, Ron. — Ela o abraçou. — Obrigada.

Ron sorriu abraçando-a e inalando o cheiro de coco e jasmim dos cabelos dela. Ele sentiu tanta falta disso.

— Você amarrou o pai e o filho. Acho que não vai conseguir escapar disso tão fácil.

— Eu espero que não me deixe escapar.

— Isso é fácil.

Ron puxou-a de volta para se deitar ao lado dele. Os sintomas de febre já pareciam abaixar e ele começava a se sentir calorento. Hermione ficou deitada ao lado dele acariciando os cabelos que ela tanto gostava. Ron estava ficando sonolento.

— Vou querer ficar doente assim todos os dias. — disse ele com os olhos fechados quase se rendendo ao sono. Ela sorriu.

— Eu te amo, Ron. — ela disse. Sentia seu coração batendo contra o peito e chegou a pensar que Ron pudesse senti-lo também. Estava forte e rápido. Ela viu o sorriso nascer no rosto dele e Ron puxou o corpo dela até colar no seu, fazendo com que a cabeça dela encostasse em seu peito. O coração dele também parecia acelerado e ela torcia que fosse por ela.

— Então fica comigo. — ele pediu. Não era um pedido momentâneo. Era algo à longo prazo. Ele a queria com ele todos os dias.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Juntos pelo acaso." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.