The Eight escrita por Novak


Capítulo 4
Encontro um desconhecido de cabeça pra baixo


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, ''Hyssa, quando vai começar a Seleção?'' Não se preocupem, quero deixar as preliminares bem interessantes para assim quando partir para o verdadeiro motivo de vocês, leitores, estarem nessa fanfic, estar maravilhoso e sem ter nada sem vocês entenderem. Dedico esse capítulo para Latoya Judite Malfoy (diva), por ter comentado no último capítulo! 'u'
Aproveitem!



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– Está pronta, querida? – pergunto à Megan.

Já está de noite, mamãe havia arranjado tudo no mesmo dia, primeiro teríamos que subir em uma caminhonete que carrega frutas para assim descermos próximo à casta Cinco, então teríamos que andar escondidas até a casa de Nº 175 para encontrar a família temporária. O barulho de motor do carro me deixa ansiosa, sair de casa para apenas tentar participar de um concurso, me deixa louca. Ainda tenho a sensação que tudo sairá errado. E pior, que fossemos descobertas e logo depois açoitadas ou presas ou... mortas.

Agacho-me e ajeito com cuidado o casaco de Megan, apesar de estar muito grande, não posso deixa-la passar desprotegida pelo frio de Carolina. Termino de colocar minhas luvas enquanto Megan se espreguiça lentamente, já se passa da meia-noite, muito além do horário normal de ela dormir.

– Estou sim, Des, não se preocupe – responde.

Ouço uma buzina vinda de fora da cabana, já está na hora de irmos, mas minha mãe (que me surpreendo por estar levantada, mas está se apoiando em um pedaço de pau), pai e Finn aparecem, me deixando atônita, não queria deixa-los aqui.

– Está levando a carta? Colocaram os gorros? Já sabem o que fazer caso sejam encontradas? – mamãe começa me lotando de perguntas, sem nem dá chance de responde-las – Vão mandar cartas? E principalmente, não vão se esquecer de nós, certo?

O último resquício de certeza com tudo aquilo se vai ao momento em que ela faz a última pergunta. Ela sabe o quanto eu acho família importante, mesmo eu nunca tendo falado. Ela é o tipo de pessoa que mesmo você não se apresentando ou sequer ter falado qualquer coisa, ela já sabe tudo sobre você. Também queria ser assim, evitaria conhecer pessoas com quem eu não tenho qualquer tipo de afinidade.

– Não, mãe, a senhora sabe muito bem que não vou esquecer nenhum de vocês! – eu a abraço e seguida Megan faz o mesmo – E sim, já tenho tudo aqui e, não se preocupe, vou mandar cartas quando puder.

Olho para meu pai e ele me devolve um sorriso paterno, mesmo eu não conseguindo imaginar ele com um sorriso tão maravilhoso quanto aquele. Ele abre os braços e sem demora o abraço também, mesmo eu não o vendo muito todos os dias, ele é o meu pai e eu nunca deixarei de ama-lo.

– Não se esqueço do seu velho, linda – ele zomba e rio com seu comentário – Eu sempre estarei torcendo por você – dou um novo sorriso como resposta.

Finn por sua vez não ousava olhar em meus olhos, muito menos nos de Megan. Senti a pressão em cima dele, em nenhum momento eu tinha pensado que se eu saísse quem ficaria com mais trabalho seria Finn, não Peter.

Nota mental: Fazer de tudo para entrar na Seleção e dar o dinheiro para minha família verdadeira.

Agacho-me de frente ao pequeno e com delicadeza giro seu rosto em direção ao meu, vejo o que parece ser lágrimas caindo de seus olhos. Aquilo é de partir o coração, me dá vontade de esquecer tudo e ficar com ele até tudo o que o afugenta sair.

– Não quero que vá – diz ele.

– Mas você mesmo disse para eu ir...?

– Isso é o que irmãos legais fazem caso não saiba – rio.

– Não se preocupe, voltarei em um piscar de olhos.

Ele assente e aperta minha mão com força.

– Não se lembre só de Megan, também quero saber tudo que fizer no palácio já que eu tenho certeza que você irá entrar. E não se esqueça, – ele olha no fundo de meus olhos – em um piscar de olhos.

Sorrio e concordo com a cabeça. Também não poderia esquecer isso, mais uma nota mental.

Depois de Megan ter se despedidos de todos, tento conversar com mamãe novamente, mas a caminhonete buzina de novo. Não podemos acordar a vizinhança, então retiro algumas caixas de fruta da caçamba do carro e coloco Megan lá, em seguida me junto a ela carregando nossas malas.

Dou um último tchau e olho os rostos de cada um pela última vez, não poderia esquecê-los.

O carro dá uma guinada para frente e começa a andar, Megan aperta minha mão, mas não fala nada.

Em pouco tempo ela encosta em meu ombro e dorme, mesmo não conseguindo pregar no sono, fecho os olhos também. Tento imaginar cenas bonitas, o sorriso de meu pai, até mesmo no príncipe que nunca vi, mas somente uma coisa se sobressai às outras: eu não voltaria em um piscar de olhos.

***

Acordo com um solavanco e Megan me chamando:

– Levante Destiny! O moço já disse para sairmos!

Balanço minha cabeça para os lados, ficando tonta, mas em questão de segundos já estou de pé e fora da caminhonete. Minha irmã agarra meu braço e me puxa para um canto escuro. Ainda estou sonolenta e fico desatenta quando ela pede para fazer silêncio.

– O homem disse que a casa fica em quatro quarteirões, se fomos rápidas chegamos antes do amanhecer – sua voz sai decidida.

Olho para o céu, ainda está escuro, porém as nuvens se mostram vermelhas e as estrelas quase não aparecem, a Lua dá espaço ao Sol como numa dança, mas ambos estão muito longe do outro. Sigo Megan por trás das casas, ela me mostra duas maçãs em mãos, por um instante não acredito que ela roubou, mas ela se mostra indiferente então ignoro.

Andamos agachadas e evitando qualquer tipo de luz, a vegetação rasteira prende diversas vezes no meu pé, as casas pareciam vazias, já passara o horário de recolher, não sabia muito sobre isso, nunca houve esse tipo de alarme na casta Oito, o máximo era crianças gritando enquanto brincavam.

Tentamos fazer o mínimo de barulho possível mesmo com alguns insetos não colaborando, todas as vezes que Megan parava me assustava, pensava que alguém tinha nos descoberto, mas era sempre algum guarda passando. Por incrível que pareça, os ratos que passavam por nós lembravam minha casta. Vejo de relance uma sombra, mas passa muito rápido e não consigo identificar o que seja. Sinto um pouco de medo, é sempre assim quando me assaltam. Andar ao esmo, na calada da noite em um lugar desconhecido é a melhor opção para ser pega de surpresa.

Continuamos nesse ritmo por quinze minutos, atravessamos três quadras e então minha irmã para de súbito, vejo se há algum outro guarda passando ou alguém quebrando as regras, mas não há ninguém, na verdade nem sinto o vento. Uma moita próxima a nós se mexe violentamente. Vejo-me rezando para ser um animal ou algo inofensivo, mas quando o movimento para, meu coração desacelera junto.

Andamos mais alguns metros e uma telha acima de nós cai ao meu lado, Megan recua para frente. Antes de seguirmos peço a ela para esperarmos um pouco, estou ansiosa demais e meu estomago revira. Ela me entrega uma maçã e mordo um pedaço sem nem olhar sua situação. Ouço passos silenciosos ao meu redor, Megan segura meu braço, ela sente medo também. De repente os passos cessam e agora ouço somente nossa respiração saindo descompassada. Sinto a sensação que alguém ruim vai acontecer. Olho para o lado, visando achar algo ou alguém no escuro, mas rapidamente volto meu rosto para frente, então uma figura surge.

– Olá, moças – não vejo quem é, mas parece um rapaz, apenas com um sorriso branco aparecendo no meio da escuridão, ele está pendurado de cabeça para baixo se segurando no telhado. – O que tão belas garotas estão fazendo a essa hora da noite?

A única reação que tenho é gritar, mas sou impedida por Megan, que coloca sua mão por cima da minha boca.

– O que você quer? – ela pergunta, determinada.

Não entendo porque ela aceita iniciar uma conversa nessas circunstâncias. Ele pode ser um ladrão ou apenas uma pessoa qualquer. Ah, ela está tentando negociar para não nos denunciar aos guardas.

Balanço a cabeça e ela tira sua mão do meu rosto.

– Nada, é que já passou da hora de recolher faz muito tempo e ainda falta algumas horas para as pessoas poderem andar livremente na rua. Eu fiz uma pergunta, será que as donzelas não poderiam satisfazer minha curiosidade? – ele sorri de novo e sinto seu olhar sobre mim.

– É... – começo ao mesmo tempo em que tento lembrar no que mamãe disse para falarmos se houvesse uma situação dessas – Estamos perdidas!

Ouço alguém bater a mão na testa, do modo como observo o rapaz, tenho certeza que não foi ele (apesar de não estar enxergando praticamente nada), Megan só poderia estar dizendo da maneira dela que não é essa a resposta correta.

– Então certamente vocês não são dessa casta? O que vocês estão fazendo fora de suas castas? – ele solta um riso baixinho, nos caçoando.

Fica um silêncio em nossa volta. Não sei quais as palavras certas, dependendo do que seja poderá ser a decisão entre nós sermos reveladas ou não.

– Olha, nos não queremos papo, vai nos dedurar ou não? – sussurra Megan, irritada.

– Óbvio que não! Gosto de vocês – coro com o comentário – E vejo que estão passando por uma pequena aventura e eu gosto de coisas insanas também!

Megan suspira com ódio e, eu, boba, apenas olho para o sorriso do desconhecido.

– Conversa bem interessante que nós tivemos, mas tenho que ir, moças, espero que tenham gostado da minha surpresa – sinto um dedo tocar em meu nariz em seguida na minha boca – Principalmente você.

Ele sobe e desaparece na escuridão. Novamente um silêncio tremendo se forma e fico sem orientação, seu sorriso já não iluminava mais. Megan bate o cotovelo em mim e seguimos em frente. Antes de ele sair eu tinha tentado toca-lo também, aquilo que ele fez foi um atrevimento, não tinha lhe dado permissão! Mas parece que meu corpo não entendeu essa parte já que eu estou sorrindo feito uma idiota.

***

Quando finalmente encontramos uma casa amarela, simples, com uma plantação de tomates no fundo e uma casa na árvore se destacando ao lado do muro, imediatamente pergunto:

– É a casa certa?

– Sim, o número está certo, não se preocupe – depois de um longo tempo, Megan dá um sorriso fraco.

Bato fracamente na porta ainda me perguntando se essa é a casa correta. Em questão de segundos uma mulher abre a porta, sua boca volumosa mostra um riso amarelo descontraído, o cabelo loiro esconde os olhos verdes, ela ergue uma mão e nos puxa com força para dentro.

– Alguém viu vocês? – balanço a cabeça negativamente – Ótimo! Sejam bem vindas à casta Cinco, meu nome é Alice Weston e esse é o novo lar de vocês.

***

Acordo com a luz do Sol no meu rosto, faço movimentos circulares com a mão procurando o chão onde eu dormia no Oito, mas no final me lembro de que estou deitado em uma cama exclusivamente minha.

Vejo Megan do meu lado dormindo feito um anjo,ela tem um sorriso no rosto que nunca tinha visto antes. Levanto da cama sem pestanejar para não acorda-la, calço os chinelos que Alice me deu e sigo para cozinha.

Encontro Alice sentada no sofá lendo uma revista com café em mãos ao mesmo tempo em que a televisão está ligada. Tendo em mente que preciso agir como uma Cinco vou até a pia e tiro um xícara, depois ando até uma máquina que faz café (acho que o nome é cafeteira) e coloco um pouco do mesmo. Pego um pedaço de pão do balcão e sento-me do lado Alice. Seguro uma revista que encontro na mesinha de centro e finjo ler.

Ela percebe minha presença.

– Não, Des! – estranho ela me chamando pelo meu apelido – Não precisa me copiar, nem todos os Cinco agem como eu!

Fico envergonhada, mas depois Alice levanta meu rosto.

– Não precisa ficar assim – ela sorri – eu vou ensinar lhe ensinar tudo, esqueceu? Sou sua mãe temporária.

Sinto-me ultrajada de ela se chamar de minha mãe, mas não reclamo, senão considera-la dessa forma, nunca irei aprender nada. Olho ao redor.

– Você não tem marido ou filhos, não? – pergunto.

Ela fica cabisbaixa e me arrependo no mesmo segundo por ter perguntado.

– Não – responde – já fui casada, mas meu marido me deixou. Nunca ousamos ter filhos. Ele achava que era desnecessário.

Calo-me, não preciso de mais nada, é um assunto delicado, fico impressionada por ela ter respondido. Pouso meu pão na mesa e tomo o resto do café, seguro a mão de Alice para lhe dar forças enquanto nós assistimos Tv.

Passa um tempo até dar intervalo do programa culinário e Megan aparece sonolenta e esfregando os olhos.

– Que horas são? – pergunta.

– Nove horas, querida – falo.

Ela arregala os olhos, mas depois eles voltam ao normal. Provavelmente deve ter se lembrado de que não precisa trabalhar.

É verdade, não estamos trabalhando agora, é tão diferente, é uma rotina fixa que consegui esquecer facilmente. Me pego pensando como Finn e Peter devem estar se virando agora. É mesmo! Peter! Depois de nossa discussão de ontem eu nem consigo mais me lembrar dele! Que espécie de irmã eu sou?! Mas, espera, ele também não apareceu para se despedir de mim, muito menos de Megan que não havia lhe causado nada. Idiota!

Megan se senta do nosso lado depois de ter pegado as mesmas coisas do que eu na cozinha.

– Vamos fazer o que hoje?

– Não sei – digo.

– Destiny, posso ver a carta da Seleção? – pergunta Alice

Retiro do bolso a carta e entrego para minha mãe temporária. Ela abre com cuidado, também deve valorizar algo tão bonito, e retira a ficha de inscrição. De repente, cobre a boca para não gritar, me assusto, Megan também.

– Destiny, as inscrições são hoje!

***

– Aí! – manco com o salto que uso, como eu vou me acostumar com essa aberração caso eu entre na Seleção?

– Não reclame! Precisa agir como uma dama para deixar as outras com inveja! – sussurra Alice – Além de que é só por um tempinho!

– Tempinho? Olha o tamanho da fila!

Ajeito meu vestido florido no estilo tomara que caia que vai até o joelho, bem simples, mas adequado para uma foto (no caso era o único de Alice que cabe em mim). Pressiono meus lábios, de acordo com Alice isso deixa o batom mais destacado, e prendo meus cabelos com uma redinha.

Estou nervosa, não me sinto bem com esses sapatos; a roupa me sufoca; não gosto da sensação desse batom; resumindo, não me sinto eu mesma. Alice fica me chamando o tempo todo para ajeitar alguma coisa que está ‘’imperfeita’’, o Sol está quente demais, me deixando suada. Parece que os problemas estão todos em mim enquanto as outras garotas da fila se divertem e conversam animadamente sobre o príncipe Willian. Megan apenas brincava com outras crianças, extremamente feliz.

Treino sorrisos para a foto por obrigação de Alice, não estou tão animada com isso, ainda considero A Seleção um concurso machista, mas isso irá ajudar a mim, minha família e alegrará Megan.

Minha irmã vem conversar comigo:

– Não se preocupe, Des, você sairá perfeita como todo dia está! – as palavras dela me alegram – Eu tenho uma surpresa para você!

– Posso saber o que é?

– Não, aí não seria surpresa! – ela pisca o olho – Basta olhar para mim no momento da foto.

Imagino o que seria a surpresa... Uma pegadinha? Uma travessura dela? Um brinquedo? Não, sei, uma foto do príncipe? Eu queria que Finn estivesse aqui, ele aceitaria na hora partir em um desafio em uma busca comigo para descobrir o que Megan esconde.

Olho para as outras candidatas, todas animadas, lindas, ansiosas para esse concurso, sendo que apenas trinta e cinco participarão. Tenho medo de não estar entre as Selecionadas, de decepcionar minha mãe e voltar do mesmo jeito que parti.

Não, Destiny, penso, se ficar se remoendo nunca irá para frente, nunca enfrentará o futuro se sempre espia o passado.

É uma decisão difícil que tomo mentalmente e em cinco segundos.

Fico com esse pensamento na cabeça, a fila anda lentamente, Alice resolve ficar calada, Megan nos segue ainda brincando. Fico presa pensando nisso por horas, parece um pesadelo que não consigo acordar, mas no meio de tudo, surge o sorriso do desconhecido de cabeça pra baixo, que logo associo com o gato que aparece em Alice nos País das Maravilhas. Ambos só aparecem o sorriso no começo, mas depois o gato se mostra por completo para Alice, fico imaginando se futuramente irei vê-lo totalmente.

Quando uma bola de papel atinge meu rosto, acordo de meus pensamentos. Em nada concluo, mas minha mão pega o envelope com a inscrição, se fosse para entrar naquilo, seria como eu mesma. Pressiono meus lábios contra o envelope deixando a marca bem forte, passo língua pela minha boca; retiro a rede de meus cabelos, ajeitando com um movimento leve. Antes que Alice começasse a reclamar, o fotografo chama e eu sento no banco. Coro com o olhar de Megan sobre mim, que por sua vez, tira por detrás do vestido azul uma coroa de plástico, põem na cabeça e dança sobre o espaço com alguém imaginário. Sem escolha, dou meu melhor sorriso do tipo ‘’eu tenho orgulho da minha irmã’’. E nesse exato momento o fotografo tira a foto.

Quando me levanto do banco, me lembro de limpar a marca de batom do envelope, mas Alice já tinha entregado.

Por um momento, me preocupo, mas quando Megan corre para me abraçar, nada mais importa.


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Notas finais do capítulo

Ainda estou decidindo se esse cara estranho que age como o Homem Aranha vai aparecer novamente...Estou com sinceras dúvidas.
Até logo! :D



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