The Eight escrita por Novak


Capítulo 2
Peter, seu idiota!


Notas iniciais do capítulo

Desculpe-me a demora, como recompensa, tentei fazer um capítulo melhor e maior. Agradeço à Latoya Judite Malfoy por comentar no capítulo anterior.
Então, é só isso.
Espero que gostem.



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– Ainda acho injusto, Des! Qual seria o problema de enviar a carta preenchida? – Megan cruza os braços e fecha a cara, ficando parada naquele Sol quente.

– Vamos, Megan! – recolho do chão um boné desgastado – E coloque isso na cabeça – ela vem em minha direção e pega o boné.

Mesmo com Megan não cooperando, ainda sentia preocupação passando por mim. Peter e Finn ainda não haviam aparecido. Eu sabia que Peter podia se virar afinal ele tem 21 anos e já fez o percurso pra casa diversas vezes, mas Finn ainda tinha 11 e, claro, ele já havia feito o caminho para casa algumas vezes, mas normalmente era comigo ou com Peter.

– Por favor, Megan – implorei, será que existe pessoa mais persistente do que ela? – Você sabe muito bem que Oitos não participam da Seleção – ela já estava pronta pra contestar – Além de que eu não posso abandonar mamãe na situação que ela está para participar de um concurso tão idiota quanto A Seleção. Desejos vêm antes do dever – completo.

Ela realmente parecia que ia chorar, e eu não suporto ver gente chorando, principalmente pessoas próximas. Mesmo assim, me contive, tinha que manter uma figura autoritária como exemplo à Megan.

– Vamos, - puxo o braço dela sem muita força, ela é muito delicada – Aposto que teremos um almoço divino.

***

Caminhamos por minutos, que pareceram horas. Megan segurava minha mão com firmeza, mesmo suadas, elas não se desvencilhavam. Não entendia se aquilo era porque ela realmente não queria separar de mim ou se era uma forma de demonstrar sua frustração.

Nunca entendi muito bem as crianças, afinal, nunca tive tempo para isso. Minha infância foi sempre baseada no trabalho. Brinquedos? Tinha quase nenhum, grande parte veio de minha mãe, que era colecionadora. Nunca tive amigos, minha mãe não deixava brincar com outras crianças, pois achavam que eram maus exemplos e só trariam prejuízos para nós, uma vez que já trouxeram para Peter.

Vi Megan sorri por um momento, mas logo depois desaparece. Ela tinha dificuldade em expressar sentimentos (igualmente a mim), mas quando realmente estava chateada, cortava o coração de todos. Com sua mão dura, andamos mais alguns metros e logo chegamos à saída do aterro – mesmo sendo igual a todo o resto do local. De longe, avisto uma cabana pobre e desengonçada, que eu chamo carinhosamente de casa.

Minha irmã puxa meu braço.

– Eles ainda não chegaram.

Senti o peso das palavras dela sobre mim. Se acontecesse alguma coisa com Peter, principalmente com Finn, não suportaria continuar minha rotina, também não conseguiria nem sustentar a família.

– Não se preocupe querida – respondo. – Tudo vai ficar bem, você verá, daqui a pouco eles aparecerão em casa com uma grande surpresa. – minha voz sai sem nenhuma segurança, nem eu mesmo mais acredito em coisas boas.

Aquilo a distrai o suficiente para ela concordar em continuar. Chegamos próximo à entrada de casa, a porta range e tenho que empurra-la com o ombro para abri-la. Quando adentramos, o mofo sobe e espirro. Megan somente ri.

– Ei, isso não é engraçado! – procuro um lenço pelo criado mudo próximo a porta.

– Eu sei – responde – Engraçado mesmo foi sua cara! – ela faz uma careta bem estranha – Viu? – volta a rir.

– O que é isso? – papai chega pela a cozinha e nos olha, confuso.

Papai parecia um homem que, apesar da idade, continua sempre com postura. Barba rala, calça marrom com furos próximos ao joelho, camisa sem detalhes e preta, olheiras bem destacadas e um enorme sorriso no rosto, ele nem parecia um Oito, e sim, um guarda do palácio de Illéa (que no caso ele já foi).

– Papai! – Megan corre e o abraça.

Ele responde com algo que não entendo, mas em questão de segundos, volta à atenção para a cesta que carrego em mãos.

– O que trouxeram hoje? – ele pergunta, com brilho nos olhos.

Reconheço esse olhar como se fosse algo importante, e realmente é. Faz uns dois dias que papai se alimenta mal, trabalha sem parar e ajuda mamãe. Ele é o exemplo que eu sempre quis ser e sempre vou seguir. Claro, não da forma de passar fome pra tentar ajudar a todos, e sim do jeito que apesar de tudo, ainda pensa na família em primeiro lugar.

Estendo a cesta com orgulho de mim mesmo e de Megan, que abria um grande sorriso de satisfação. Quando ele retira o saco, abre um sorriso de uma orelha a outra.

– Finalmente, Deus! Teremos, enfim, um jantar bom para servir.

***

Nunca pensei que Lasanha fosse algo tão prático e fácil de fazer. Das várias vezes em que assisti Tv (apesar de ter somente uma, em uma praça próxima ao lixão), posso dizer com absoluta certeza que os chefs passavam horas preparando uma. Mas o que macarrão, queijo, carnes e temperos têm de tão complicado? Bom, mas até aí é fácil, quando chega na hora de cozinhar, complica um pouco. Nós não temos fogão de gás, muito menos um fogão, aqui é tudo na lenha, que ainda piora, pois é difícil de encontrar madeira boa.

Mamãe sempre tentou sofisticar os móveis de casa, mas não havia jeito, não tem nenhuma loja por perto, as primeiras que aparecem é só na casta seis. Não podemos ir lá, pois nós somos humilhados. Sempre que íamos, as pessoas nos vigiavam de longe; quando passávamos perto de alguém, ela já se escondia. Já li uma vez em um livro de história, que antigamente as pessoas tratavam desta mesma maneira os negros, mas hoje eles convivem em paz, será que isso acontecerá conosco, os oitos?

Normalmente, quando éramos pegos fazendo alguma traquinagem, faziam castigos severos. Uma vez já chicotearam Peter em praça pública por tentar roubar uma laranja que estava no chão há horas! Pareceu que estavam realmente querendo nos pegar.

Já chegava a hora do almoço, pus a lasanha (mesmo com uma dificuldade medonha de fazer) sobre a mesa e ajeitei os pratos. Chamei Megan para terminar de arrumar tudo e fui conversar com mamãe.

Bato gentilmente a porta, então recebo uma tosse como resposta:

– Pode entrar – ela fala.

Ponho meu rosto na fissura da porta, não quero causar nenhuma incomodo à mamãe. Percebo que um pedaço de tinta branca seca cai do meu lado, o cheiro de mofo está mais presente aqui do que na entrada. Encaro minha mãe na cama improvisada: um colchão velho, papelão como colcha e lençóis pequenos demais a cobrindo. Ela puxava o lençol mais para cima do rosto enquanto deixava os pés à mostra. As mechas castanhas dela caiam junto com a touca vermelha que usava na cabeça, as mãos repousaram sobre o lençol.

– Desculpe a demora, - começo – estava preparando um almoço especial. Espero que aprecie lasanha. Já trago!

Já estava fechando a porta quando minha mãe me interrompe:

– Megan me contou, – ela suspira – você encontrou uma carta da Seleção.

Aquilo é o sinal de que preciso entrar. Não quero falar isso com ela agora, vou ter que explicar os motivos de não participar, que demorará horas, enquanto eu poderia estar almoçando lasanha.

– Ela também me contou – continua – que você não quer participar – sento-me ao lado dela na cama. – Quando você iria cogitar a ideia de tentar, Destiny? Quando eu morrer? – reavaliando meus conceitos, ela está certa, boa parte de meus argumentos contra envolve ela. – Destiny, você possui uma vida, eu sei que nunca a deixei aproveita-la, mas não significa que você precisa prendê-la dentro de si.

– Não, mãe, não é só por causa disso. – tento encarar o castanho dos olhos dela, mas acabo virando o rosto. – Eu só não me consigo ver entrando nessa Seleção. Além de que sou uma Oito, não sou bonita e esse concursa é machista! Quem haveria de querer entrar em um concurso para se tornar rainha, mas que na verdade não ajuda em nada, só cria filhos para a próxima Seleção?

Percebo o quanto rude fui logo depois das palavras saírem de minha boca. Minha mãe foi da Seleção e pelas histórias que me conta, ela entrou com ânsia de vencer. E depois, foi lá que ela conheceu meu pai.

Mamãe demora um pouco para responder:

– De qualquer forma, você não julga um livro pela capa, porque há de julgar um príncipe por um concurso?

Aquilo fez me calar por um tempo, ela estava certa, ao mesmo tempo em que me passou uma ideia estranha.

– Interessante, agora se eu resolvesse entrar, você acha mesmo que deixariam uma Oito ficar entre as Selecionadas? Eles deixariam uma garota nascida da casta mais pobre e suja ter a possibilidade de ocupar um cargo tão alto e fabuloso como a de uma rainha?

– Como se você não conhecesse sua mãe! Se isso fosse o menor dos problemas, essa Seleção seria um paraíso. Agora vá almoçar, não quero ver filha minha passando tentação.

Nunca vi minha mãe tão confiante, tudo bem que eu já sabia que ela é arteira, mas conseguir enganar uma nação inteira não é tão fácil. Ou é?

Saio do quarto silenciosamente e fecho a porta com dificuldade. De repente, vejo uma figura loira passando correndo por trás de mim, por mais incrível que pareça, ela está sorrindo muito. Finn!

Meu coração relaxa por um segundo e vou de encontro a Peter, que diferentemente de Finn, estava corado. Bagunçava o cabelo castanho sem piedade enquanto carregava em sua cesta dois pacotes de arroz com uma mensagem em cima: Com amor, Tiffany.

Quando ele percebe minha presença e vê meu olhar fixado no arroz, rapidamente tira a mensagem de cima e dá um sorriso sacana. Megan estava logo na frente de Peter, mas não viu o que tinha na cesta devido à altura, papai não estava ali e ninguém cogitava a ideia de mamãe sair da cama, ou seja, somente eu vi a mensagem. Com a cautela excepcional dele, acabou deixando seu segredinho amostra (que não sei como deixou compartilhar com Finn), não sei o que, mas envolve uma garota, resumindo, não é nada bom.

Puxo Peter pela orelha até um canto mais reservado da cozinha (levando em consideração ao tamanho da casa, pouco menos de quatro passos de distância de Megan), ela me xinga, massageia a parte afetada e solta um grito baixo:

– Ai, garota! Qual é o seu problema?

– O que significa esta mensagem?!

É incrível como algumas vezes eu tenho que ser a filha mais velha entre todos.

– Ah, aquilo? Eu estava sem nada pra fazer, peguei um papel e a caneta de papai e escrevi uma cartinha para mim mesmo! Problema? Estava muito solitário, apesar de Finn está comigo, então eu inventei uma garota dos meus sonhos.

Peter mente muito mal.

– Tá, digamos que eu acredite. Mas como você conseguiu fazer uma caligrafia tão feminina?

– Treino?

Aquilo foi a informação final, quando uma pergunta é pra ser clara, mas sai como outra pergunta é sempre uma confirmação. Sem nenhuma dúvida, vou de encontro à única pessoa que sabe me contar a história direitinha: Finn.

Entro sorrateiramente no meu quarto (que eu divido com todos os meus irmãos) para tentar dá um susto em Finn, assim, o fazendo falar rapidamente. Sempre dá certo. Fico por destras da cama dele, pronta para dar o bote, mas no final, Finn continuava sorrindo, olhando pro teto, ignorando minha presença.

Se eu o assustasse naquele momento seria bem idiota, resolvi fazer contato direto:

– Finn, meu amor o que aconteceu hoje de manhã, com Peter? – tentei deixar minha voz amável, deixando invisível minha verdadeira raiva.

– Ah, Des – ele fala meloso – você não entenderia, ele estava com uma garota.

Isso não é uma novidade, Peter é o que chamamos de ‘’pegador’’, mas eu nunca me acostumo com isso. Tento retirar informações mais detalhadas:

– Por acaso aqueles pacotes de arroz é dele?

– Não, nós não conseguimos achar nada – ele abafa o sorriso malicioso no travesseiro, estava chegando perto do que eu queria. – É de uma garota, a Tifanny.

– E como ele conseguiu pegar isso dela?

– Não! Eu não posso contar, ele me prometeu manter segredo.

– Eu te dou dois pedaços de lasanha, que eu mesma fiz.

Consegui convencê-lo, iria ter menos para o jantar, mas esse é o menor dos problemas.

– Está bom então. Eu não vi muita coisa, – ele começa – só os vi apoiados em um muro, se beijando com vontade e ele tocando no seio dela, pelo jeito, ela estava gostando muito. Peter me viu, ela entregou o arroz e eu corri para casa.

Não sei qual foi minha reação, mas Finn voltou à cara novamente para o travesseiro, já dá pra perceber que estou chocada e com puro ódio correndo por minhas veias. Como ele pode mostrar a Finn uma coisa tão obscena quanto essa? Ele só uma criança! E por que ele mexeu com uma garota só para entregar-lhe dois pacotes de arroz?

Meu Deus, qual é o problema de Peter?

Arrumo meu vestido e prometo entregar lasanha a Finn na cama. Tento ajeitar minha expressão de ódio para minha cara do dia-a-dia. Sento-me à mesa da cozinha, enquanto todos se sentavam a minha volta. Mesmo tentando, não consigo me segurar e lanço à Peter um olhar de ódio, mas sou interrompida por Megan ao meu lado.

– Mamãe pediu para lhe entregar isto.

Ela me dá um guardanapo com uma mensagem escrita.

Depois do almoço, encontre-me no meu quarto. Vamos resolver logo esse ‘’problema’’ da Seleção.

Ótimo, meu dia estava apenas começando.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Peter merece algo? Hehe'
Até a próxima!



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