A noite parecia estar em perfeito estado para quem queria um sono confortável e agradável. Um vento soprava forte por entre as ruas, e trazia consigo, um frio cortante. Aquele tempo estava forçando as pessoas a ficarem dentro de suas casas, debaixo de um cobertor e com uma caneca de chocolate quente em mãos.

Ele também encontrava-se dentro de casa. Enrolado com os cobertores, lia um livro dentro de seu quarto com uma lanterna nas mãos. Havia jantado a algumas horas, já tinha banhado-se e já se encontrava de pijama.

Usava uma lanterna para ler por faltar luz em seu quarto. Não queria estudar na sala naquela hora da noite, e ainda mais com aquele frio, por isso mantinha-se encolhido na cama.

Seu livro era de matemática, estava estudando para sua prova final daquele ano. Já tinha quinze anos, perto de fazer dezesseis, e estava no último ano do ginasial. Não precisava de nota no fim daquele ano, já havia passado para o primeiro colegial, mas boas notas sempre o tornaram um aluno exemplar e respeitado. Não iria decair naquele momento.

Seu celular vibrou no colo. O rapaz olhou-o, havia recebido uma nova mensagem. Cegou-se por um momento com a luz da tela, mas logo pôde ler.

"Quer vir aqui?

– SK"

Não havia nada mais escrito. Ele sorriu e digitou a resposta rapidamente, logo enviando-a.

"Hoje não posso, linda. Meus pais vão estar em casa logo logo. Entre no messenger e me espere lá. Vamos nos ver.

– VC"

Fechou o livro e o colocou no criado-mudo ao lado da cama, e então pegou seu notebook, o plugando na tomada mais próxima. Acomodou-se na cama, apoiando as costas num travesseiro contra a parede e enfim ligou a máquina. Entrou logo no messenger. Assim que viu seu contato favorito online, abriu a janela de conversação e clicou num botão que continha uma câmera. Duas telas abriram-se na conversa, logo revelando uma menina de cabelos ruivos em uma, e um moreno de longos cabelos negros, apenas iluminado pela luz do notebook, na outra. Ele pôs headphones e sorriu para a garota.

– Boa noite, minha ruivinha.

– Boa noite, meu cabeludo! – ela sorriu também. – Por que não pôde vir aqui em casa hoje?

– Meus pais estão voltando muito tarde para casa. Se chegam e não me encontram, mandam até a marinha me procurar. – riu.

– Hehe, isso é verdade. É que o Elsword foi dormir na casa de um amigo e meus pais foram resolver um assunto no trabalho, só vão voltar amanhã. Vou ficar sozinha hoje.

– Aaah, eu odeio ter pais corujas!

– Calma, Raven, vamos ter outras oportunidades!

– Mesmo assim! – ele sentiu o rosto esquentar. – Mas Elesis, você realmente quer?

– Hã... Sim, eu quero... – ela corou também. – Nós já namoramos a um ano, e eu quero, Raven.

– Eu também quero, linda... Até já comprei umas camisinhas para o momento, hehe.

– Ainda bem que você lembrou de comprar!

O moreno sentia-se feliz por ter a ruiva consigo. A cada dia, seus pais tinham menos tempo para ele, assim como os pais dela. Eram duas almas solitárias que haviam encontrado conforto uma com a outra. Namoravam a um ano, e se conheciam por tempo suficiente para confiarem suas vidas um ao outro.

– Mas então... – disse Raven, encabulado. – Está pronta para enfrentar o último ano do ginasial ano que vem?

– Sim, cabeludo! E você, preparado para o primeiro colegial?

– Se estou! Que pena que não vamos mais estudar na mesma área do colégio, e nossos intervalos não serão mais no mesmo horário.

– Não sabe preocupe, vamos poder ir embora juntos como sempre!

– E podemos ir juntos para o colégio também?

– Mas é claro!

Raven e Elesis riam e se divertiam juntos, mesmo que não estivessem juntos pessoalmente naquela noite.

– Ah, Raven, sabia que estou quase dominando a esgrima com maestria?

– Isso é incrível, amor! Então, logo você vai deixar de ser uma Saber Knight para se tornar uma Grand Master!

– Isso mesmo! Enfim vou me tornar uma mestra da esgrima, assim como meu pai!

O moreno ouviu o barulho da porta sendo destrancada, o que fez seu coração bater mais forte.

– Ah, meus pais chegaram.

– Poxa... – suspirou a ruiva. – Não falte amanhã, tudo bem, amor?

– Tudo bem! – sorriu. – Boa noite, minha futura Grand Master!

– Boa noite, meu Veteran Commander!

Após se despedir, Raven desligou o notebook e foi para a sala, cumprimentar seus pais.

– Oi, mãe. Oi, pai. – acenou, sorridente.

– Fala, filhão. – bocejou o homem, se espreguiçando.

– Podemos conversar amanhã, meu amor? – perguntou a mulher, coçando os olhos. – O dia foi cansativo, queremos dormir.

– Ah. – seu sorriso enfraqueceu. – Claro, mãe. Eu estava indo dormir agora mesmo.

– Você jantou? Tomou banho?

– Sim, mãe, não se preocupe.

– Então, eu posso dormir tranquila. Boa noite, filho.

– Durma bem, filhão.

– Boa noite, mãe, pai.

Os dois adultos foram cambaleando para o quarto, enquanto o Veteran Commander ia para seu próprio. Deitou-se na cama, um pouco entristecido. Acariciou os cabelos e cobriu-se até o queixo, tentando dormir.

Ao cair no sono profundo, Raven pôde ver a si mesmo numa paisagem abstrata, sem chão, só com neblina a sua volta. Ele podia ouvir risos ecoando pelo local. Olhou aflito para os lados, sem conseguir enxergar, mas conseguia ouvir a palavra "sozinho" ecoando junto aos risos.

Acordou suado, ofegante e de coração acelerado no colchão, então. Olhou no relógio, era hora de ir ao colégio. Era seu último dia de provas, mas isso não o preocupava. Só queria saber o que aquele sonho que tivera significava. Tomou café sozinho e foi para o colégio sem falar com ninguém, pois seus pais já haviam saído de casa.

Apesar do estranho sonho ter deixado Raven com a cabeça nas nuvens, conseguiu fazer a prova sem grandes dificuldades.

Na saída, ele esperou por Elesis para poder ir embora. Acompanhou-a até sua casa, mas a ruiva surpreendeu-lhe com um beijo demorado.

– Aqui não, amor, podem nos ver... – sussurrou o rapaz.

– Só mais um pouco... – pediu ela, aprofundando o beijo.

Ele foi levado pelo desejo e cedeu aos lábios de sua querida. As línguas se entrelaçaram com vontade e certa urgência. Se não fosse pelo olhar penetrante e ameaçador do pai de Elesis, que acabara de chegar, eles teriam ficado mais tempo entre carícias.

Após se despedir da amada, Raven seguiu caminho para sua casa, as vezes acariciando os próprios cabelos e puxando a camiseta para esconder o volume que se formara em suas calças.

Passando por um beco, foi puxado para dentro de repente, o deixando atento. Sua boca fora tampada por uma mão, que era grande demais para ser de uma mulher. Não se moveu, só deixou-se ser levado para dentro.

– Há quanto tempo, Raven.