A campainha tocou durante a tarde de sábado na casa de Raven. Ele encontrava-se no quarto, limpando seu braço mecânico. Parecia estar mais calmo depois de passar um tempo descansando em casa.

– Raven, temos visita! – gritou sua mãe.

– Já vou!

Bufou um pouco e foi se trocar, estava apenas de cueca e roupão. Enfim vestido, foi para a sala com o pano com o qual limpava a prótese. Encontrou apenas sua mãe por lá.

– Mãe, preciso mesmo cumprimentar a visita? – falou baixinho. – Estou limpando meu braço.

– Desculpe, meu amor, eu não teria te chamado se a visita não fosse para você!

– Para mim? – confuso, olhou para a cozinha.

À mesa, estavam sentados Add e Elesis, conversando com seu pai. Surpreso, Raven perguntou:

– O que eles estão fazendo aqui, mãe?

– Disseram que vieram trazer as anotações das aulas de sexta-feira, por isso eu os convidei para se sentaram e tomarem um lanche.

– Olá, Raven. – cumprimentou Elesis. – Como foi sua sexta-feira?

– Presidente! Foi boa, me sinto melhor agora.

– Não se preocupe com formalidades fora da escola. – sorriu.

– Boa tarde, Raven. Eu trouxe as anotações para você.

O albino entregou os papéis para o amigo, que agradeceu e sentou-se para comer. A visita foi inesperada, mas conseguiu colocar um sorriso nos lábios do moreno.

Enquanto conversavam, Raven terminava de limpar sua prótese, que apesar de não ter uma aparência assustadora, ainda causava arrepios em Add. Foi aquele braço mecânico que quase destruiu o banheiro. Além disso, Add sentia-se estranho na casa do moreno. Os pais deveriam saber a razão do surto do filho, e provavelmente, a Grand Master também sabia. Naquele meio, ele deveria ser o único que não sabia o que Raven havia passado para reagir de forma violenta.

– Obrigado pela visita. Foi inesperada, mas me deixou feliz! – disse Raven, sorridente.

– O Chung não pôde vir porque não consegue levantar da cama, mas queríamos ter trazido ele. – comentou a ruiva.

Literalmente não consegue levantar., riu Add em seus pensamentos. Observou o moreno e percebeu que ele estava mais calmo naquele dia. Não comentar sobre Rena e o ataque de insanidade seria essencial para manter essa tranquilidade.

– O que acha de sairmos um pouco, Raven? Vai ser bom para você.

– Agora, Add?

– Sim. Só você, a presidente e eu.

– Vocês são tão formais. – riu Elesis. – Não precisam me chamar assim fora da escola.

Os dois sorriram sem graça, encabulados.

– E então, o que nos diz, Raven?

– Eu aceito, Add! – exclamou, virando-se para seus pais. – Tudo bem por vocês?

– Mas é claro, filhão! – bradou o pai.

– Pode ir, meu amor! – a mãe apertou sua bochecha.

– Nah, mãe, na frente deles, não! – corou.

Todos riram da reação do moreno, e logo depois, ele saiu de casa com seus dois amigos. Não estavam com muito dinheiro, por isso resolveram apenas dar uma volta pelo shopping. Raven não estava só mais calmo naquela tarde, seu humor também havia melhorado. Fazia piadas das quais até mesmo Elesis ria, o que alegrava Add e a ruiva. Era assim que gostavam de ver o Blade Master.

Outra coisa que chamava a atenção dos amigos era que naquele dia, Raven não estava seu casaco branco, como de costume. A camiseta de mangas curtas que ele usava deixava seus músculos expostos, tal como sua prótese. Mesmo com os olhares das outras pessoas, o moreno parecia não ter problemas em mostrar seu braço mecânico. Ria e se divertia com seus amigos normalmente.

– Eu não sabia que você era musculoso, Raven. – riu o Mastermind. – Sempre te vi com aquele casaco, então não sabia se tinha músculos ou não.

– Hehe, é que eu não costumo sair sem meu casaco, Add.

– Não costuma mesmo, senhor casaco. – debochou Elesis. Os três riram.

O albino percebeu figuras familiares ao longe. Olhando melhor, percebeu que se tratavam de Eve e seu grupo. Engoliu seco. Se o moreno visse Rena ali, provavelmente ficaria fechado e sério outra vez. Arrumou o monóculo, nervoso e proferiu:

– Gente, podem me acompanhar até minha casa?

– Tão cedo, Add? – perguntou o Blade Master.

Elesis logo percebeu a presença do grupo no local, o que a fez compreender a desculpa do Mastermind.

– Ele deve ter algo importante para fazer, Raven.

– Ah, que pena. Então, vamos, para o Add não ir sozinho. – sorriu.

Os três foram caminhando para fora do shopping. A Grand Master, vez ou outra, olhava para trás discretamente, verificando se o grupo havia os notado ou não. Enquanto isso, Add distraía Raven com um assunto sobre as anotações do último dia de aula. Chegaram na saída, as meninas não haviam notado a presença deles, nem Raven a presença delas. A ruiva e o albino agradeceram mentalmente por eles não terem sido notados, mas não sabiam que naquele momento, a Yama Raja olhou direto para eles.

– Não é o Add e os amigos dele ali? – perguntou Ara, apontando para o grupo mais ao longe.

– Oh, são eles mesmos. – respondeu Eve. – Devem ter vindo dar uma volta pelo shopping também.

– O Raven não está usando o casaco... Ele não está escondendo a prótese. – surpreendeu-se Rena. – Eu queria tanto falar com ele...

– Por que, Rena?

– Ah, eu queria pedir desculpas, Ara...

– Mesmo sabendo que ele não vai aceitá-las? – a grisalha arqueou uma sobrancelha. A loira recuou.

– Ele não pode me odiar para sempre, pode? Eu quero pelo menos dizer que sinto muito! Não quero que ele pense que eu sou uma desalmada...

– Se é o que você quer, Rena, corra atrás dele agora e diga tudo o que deseja dizer. – sorriu a morena.

– Concordo com a Ara... Vá lá, Rena.

– Obrigada, meninas... Eu volto logo! – ela abriu um sorriso também e correu atrás dos demais.

Seus corações quase pularam para fora da garganta quando ouviram alguém gritar "Raven" ao longe. O moreno estava distraído com uma vitrine perto da saída, não havia notado. Elesis olhou para trás e viu que Rena os havia notado.

– Add, a Rena nos viu. Temos que sair daqui agora. – sussurrou ela.

– Tudo bem. – sussurrou de volta, pegando Raven pelo braço humano e correndo para fora do shopping, seguido por Elesis.

– E-Ei, Add, que pressa é essa?

– Eu lembrei que tenho mesmo que ir pra casa, Raven, é urgente. Vamos nos apressar!

– Oh, sem problemas! – respondeu, passando a correr ao lado dos amigos.

Os chamados da loira foram ficando mais baixos conforme se afastavam da construção, até que não pudessem mais ser ouvidos. O Mastermind não permitiu que seu amigo os escutasse por estar conversando com ele, enquanto a Grand Master ficava de olho para certificar-se de que não estavam sendo seguidos.

Engoliu seco ao ver que a Wind Sneaker corria pela rua, atrás deles. Tinha que dar um jeito de despistá-la, pois sabia que ela estava correndo atrás de Raven.

– Vamos pegar um atalho! – exclamou a ruiva, pegando os dois pelos braços e se perdendo entre os edifícios a frente.

– Wah! Eu não sabia que tinha um atalho pra casa do Add!

– Nem eu, haha! A presidente é incrível, ela sabe coisas que nem eu sei! – riu nervoso, arrumando o monóculo.

A presidente torceu para que Rena não os seguisse através do atalho, mas não olhou para trás e continuou correndo com os meninos. Contudo, Add logo começou a ofegar enquanto corria, e acabou tropeçando no meio do caminho. Ele não estava acostumado a correr como Elesis e Raven.

– Levanta, Add, rápido!

– Espera, deixa eu respirar... – pediu o nerd, abanando o próprio rosto.

– Raven! – gritou a loira, já os alcançando.

– Essa não, ela nos seguiu pelo atalho... – sussurrou Elesis.

– Hã? – o moreno olhou mais além e ao ver Rena se aproximando, começou a suar frio. – ... Rena...

Rena enfim ficou de frente com Raven, enquanto Elesis acudia o cansado Add. O moreno começou a recuar, puxando a manga do casaco para esconder a prótese, como de costume, até lembrar que não estava usando-o. Começou a ofegar, seus olhos arregalaram.

– Raven... – aproximou-se do maior. – Você saiu de casa sem seu casaco pela primeira vez... Estou muito feliz com isso...

– Não... Não se aproxime de mim! – gritou ele, abraçando o próprio corpo.

– Mas eu só vim aqui pedir desculpas! Por favor, escute o que eu tenho a dizer!

– Desculpas...?

– Sim, Raven! Eu só queria pedir desculpas por tudo o que aconteceu entre nós... Me perdoe, por favor!

Ao longe, o Mastermind estava confuso, vendo seu amigo ficar com uma estranha palidez no rosto. Sua prótese tremia, enquanto ele insistia em tentar escondê-la. A loira também tremia, parecia aflita. A Grand Master apenas fechou os olhos, se recusando a ver aquela cena.

– Hehe... – riu o Blade Master, sorrindo nervoso. – Depois de anos, você resolve voltar a pedir meu perdão?

– Eu... Eu nunca deixei de querer seu perdão, Raven...

– Quantas vezes eu tenho que dizer para você entender? Minha resposta é não. Sempre foi e sempre será.

– Você não pode me dar uma chance de me redimir?! Só uma!

– Não, porque nada vai ser o suficiente para pagar pelo que você me fez, Rena! Eu odeio você!

As lágrimas surgiram nos olhos de Rena, e seu corpo começou a tremer ainda mais. Tentou se aproximar de Raven mais uma vez, mas ele apontou o braço mecânico para o pescoço dela. As garras do braço tocavam-lhe a pele.

– Raven, não a machuque! – gritou Add.

– Entenda, Rena... A dívida que você tem comigo é grande demais, e você não vai conseguir se redimir comigo apenas pedindo meu perdão.

– Mas eu estou disposta a fazer qualquer coisa... – soluçou, sentindo as lágrimas caírem.

– Se quer me deixar feliz, então fique longe de mim. Eu não quero você na minha vida.

Raven recuou sua prótese, vendo que as marcas das garras ficaram no pescoço da menina. Sorriu insano enquanto ela limpava as lágrimas dos olhos e massageava o pescoço.

– Por que não posso me redimir com você, Raven? Eu farei qualquer coisa!

– Por quê? – repetiu. – Porque algumas coisas, uma vez perdidas, jamais retornarão. E não há o que possa substitui-las.

– ... Eu...

– Eu estou me segurando para não te matar agora, então é melhor você correr antes que eu faça isso.

– Mas!

– Rena, vá. – proferiu Elesis. – Será melhor assim...

– Não, eu quero o perdão do Raven! É tudo que eu mais quero!

– Vai logo, antes que ele te mate! Eu sei que você vai hesitar em machucá-lo, então você não pode contra ele! – dessa vez, a ruiva gritou. – Anda, Rena!

– É melhor você ouvir a presidente, Rena... – suspirou Add.

Depois de chorar um pouco mais e fitar uma última vez os olhos furiosos de seu amado Raven, Rena deu as costas e correu para longe. O moreno riu insanamente, socando uma parede ali perto com a força de seus dois braços. A Grand Master, entristecida, deitou Add no chão e levantou-se, caminhando até o maior. E o acertou com um soco no crânio, numa região onde sabia que iria nocauteá-lo. O Blade Master logo estava ao chão, desacordado.

– Presidente Elesis... – disse o albino, com receio. – Depois do que aconteceu aqui, acho que você não pode mais esconder o que sabe.

– É... Não posso, Add. – ela pôs Raven em suas costas. – Vamos deixar o Raven em casa e vamos para a casa do Chung, certo? Eu vou contar para os dois o passado do Raven.