Os Olhos de Amber escrita por Vaalas


Capítulo 4
O Último Adeus


Notas iniciais do capítulo

UHUUUUU tem alguém lendo esse troço aqui, Garra Deus!
Obrigada Montibeller, por vir aqui dar uma passada na minha humilde shortfic grudenta de tanto açúcar o/
Penúltimo capítulo. Internet caiu, então não consegui postar tudo em um dia único. ENtão vou mandar os dois agora, de uma vez.



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Então um dia, acho que em novembro de 85’, eu decidi que era hora de te ver. Estávamos a quatro meses separados pela distância e eu já não aguentava mais tudo isso, apenas nossas conversas a noite pelo telefone não bastavam. Precisa de você, de sentir seu toque, seu calor, precisava ver seus olhos e beijar seus lábios.

As lembranças eram fortes e você estava em tudo. Minha geladeira estava cheia de geleia de uva. E você estava em tudo.

Então parti em direção a Nova York e peguei um táxi até o lugar onde você fazia seu curso para jornalismo. Acho que tentei muito apagar a imagem que vi naquele dia. Acho que tentei tanto, que cada vez que tentava apagar, mais nítida a imagem se tornava, mais viva, com mais cores e mais resolução.

Era você, Amber. Minha Amber. Minha Amber abraçada a outro cara. E você estava feliz, tão feliz quanto estava quando saíamos após as aulas. Minha Amber dos cabelos loiros escuros, minha Amber dos olhos cor de âmbar. Minha.

E então, percebi que o minha era uma palavra inexistente — e me lembrei que havia dito que nunca deixaria você se quebrar, pois você era minha bela boneca. No entanto, acabei por fazer ainda pior, não te quebrei, mas acabei te perdendo em algum lugar no passado.

Naquele dia eu sequer falei com você, a visão que tive de longe, com seu sorriso e o braço masculino sobre seus ombros foi tudo o que bastou. Eu apenas girei os calcanhares e voltei pelo mesmo percurso até achar um táxi e voltar para o mesmo lugar de antes — aquele velho apartamento que ainda tinha seu perfume e ainda tinha vestígios do que antes foi meu.

Me lembro que me joguei na cama e não me levantei até o amanhecer do outro dia, quando acordei tinha olhos vermelhos e marcas de choro sob os olhos — todo choro que suportei quando você partiu parecia ter sido acumulado em uma represa de esperança. No entanto, vê-la no dia anterior havia rachado todo muro da represa, pois a esperança de tê-la novamente se esvaiu como areia ao vento. Tudo ruiu, então as lágrimas acharam uma boa ideia se derramarem.

Não comi, não dormi, nem fui trabalhar. Me dei conta então, de que eu finalmente era um homem adulto. Por Deus! Tinha 25 anos, não podia me dar ao luxo de chorar como uma criança e ficar sem fazer nada até as coisas se ajeitarem. Eu havia perdido você, de fato havia, mas não podia permanecer daquele modo. Então, na manhã seguinte eu limpei o apartamento, juntei as caixas de pizza sob a cama e joguei fora, peguei as roupas sujas de baixo do tapete e levei à lavanderia.

Apenas não me desfiz das geleias, não, aquilo seria demais. E eu era fraco e tolo como um alguém apaixonado sempre era.

Toda noite o telefone na sala tocava, mas eu sabia que era você então não atendia. Fiz a coisa mais madura a se fazer: abracei uma almofada e me sentei ao lado do telefone, deixando lágrimas rolarem com a vontade enorme que tinha de atender, sentido as pontadas na pele sempre que o toque soava, e pedindo silenciosamente para que parasse de tocar.

Até que um dia, meu desejo se realizou: o telefone não tocou.

Depois disso eu superei. Digo, jamais poderia superar você, porém consegui superar sua perda. Acho que um ano depois disso eu me casei. Sara era o nome dela e eu a conheci em um dia qualquer quando andava pelo parque onde antes andava com você. Ela tinha tropeçado — Sara tropeçava muito, então estava para nascer alguém tão atrapalhado quanto ela — e acabando por pisar em uma poça de água que encharcou seu salto alto preto. Ela sorriu quando eu a ajudei a se secar e o resto é uma história longa demais para ser contada em poucas palavras.

Nunca mais havia tido notícias suas. Sempre imaginava por onde estaria, se estaria bem. Logo então as imagens daquele rapaz de cabelos escuros com os braços sobre você me vinham em mente e espantavam esses pensamentos.

Descobri, dois anos mais tarde, que aquele rapaz que havia “roubado” você de mim era, na verdade, seu irmão Mitch. Eu naturalmente deveria me sentir idiota por isso, e admito logo que minha vontade era de correr de volta para você e largar tudo que eu tinha — amava Sara, jamais me casaria com alguém que não amasse de verdade, ela era uma esposa muito melhor do que eu merecia. Mas você era Amber, minha Amber, e saber que durante todo aquele tempo você foi minha atiçou no meu peito a enorme vontade de tê-la novamente.

No entanto, mais uma vez o mundo complicou as coisas.

Amber, você estava morta.

Enterrada a sete palmos da superfície.

Foi por isso que parara de telefonar. Achei que houvesse desistido de mim, mas não, você havia morrido, morrido por mim, enquanto corria para uma rodoviária a fim de me visitar.

Um carro. Um baque. Sangue.

E enquanto isso, enquanto você morria em braços desconhecidos, eu estava abraçado a uma almofada esperando o telefone parar de tocar. Enquanto você ia ao hospital e te declaravam como morta, eu suspirava de alívio por notar que você não ligaria naquele dia e que eu não teria que sentir a dor da traição.


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Notas finais do capítulo

;-;