Uma viagem sem igual escrita por Any the Fox


Capítulo 24
Quando os caminhos se separam...


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal! Ok, chorei mil trezentas vezes e meia a pensar neste capítulo, e mais mil e trezentas vezes e meia a escreve-lo, não sei se é por eu seu um coração fraco ou se está mesmo emotivo. Aproveito para dizer que admirei como Ash encarou esta situação sempre sorrindo, como se não fosse nada que o impedisse de continuar...
Enjoy!



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Haviam passado muitos anos desde o Verão em que deixamos os nossos filhos na “Pokécity”, já nossos netos haviam ido para lá no entanto… Agora eu e Ash estávamos velhos, acabados… Nosso grupo de amigos também já começara a desaparecer… Gary morreu de uma doença rara, deixando a pobre Misty desolada, Drew e May sofreram um acidente de avião em uma de suas viagens, May sobrevivera, porem, ficou numa cadeira de rodas, Drew morrera de morte cerebral, do trio de N, Paul e Serena, apenas Paul se mantinha vivo, N morrera por causas não apuradas aos setenta anos e Serena morreu de depressão poucos tempos depois. De Black e White não se sabe muito, perdemos completamente o contacto com eles… ainda estariam vivos? Yasmin, a mais nova, era a que estava melhor.

Foi num desses dias de velhice, em que eu encarava o meu cabelo que já não era azul, mas sim branco, que aconteceu a maior desgraça de sempre…

– Bom-dia, Ash. – Sorri quando acordei, olhando para o lado, mas não obtive resposta, estranhei.

– Ash? – Sacudi-o, ele não reagia.

Assustei-me, fui ver a sua pulsação… ELE NÃO ESTAVA RESPIRANDO! Corri para o telefone e chamei uma ambulância, como também a minha filha Hikari, pois Red devia estar ocupado na Liga… agora ele era campeão.

……

Pouco tempo depois, até que foi bem rápido, ambos haviam chegado.

– Doutor, ele vai ficar bem? - Perguntei super preocupada e quase a chorar.

– Ele está num estado crítico, mas vamos fazer os possíveis. – Ele sossegara.

– Azulada? – Ouvi meu marido chamar num tom muito fraco.

– ASH! – Gritei indo ao seu encontro.

– Porque estou numa ambulância? – Perguntou confuso, olhando em seu redor.

– Você passou mal… - Menti um pouco. – Doutor, posso ir com ele?

– Desculpe, mas ele vai ter de ir sozinho. – O médico explicara.

– Mas eu sou a mulher dele!

– São as ordens que tenho. Vai ter de ficar na sala de espera. – Disse fechando a porta e seguindo para o hospital.

– Venha, mãe, eu levo-a. – Minha filha Hikari declarara.

……

Algum tempo depois encontrávamo-nos no hospital, não só eu e meus filhos, Misty, Paul, Yasmin e May (empurrada por Max) também lá estavam.

– Ficámos mesmo muito reduzidos. – Paul analisou.

– Só restamos nós daquele grupo, não é? – Misty sorriu nostálgica, o que me doera um pouco… como ela podia sorrir quando todo o mundo estava desaparecendo?

Senti uma mão segurar-me o ombro, apanhei um susto quando vi o médico chegar do nosso lado com uma cara séria.

– Então? Meu marido vai ficar bem? – Perguntei com o coração nas mãos.

– Seu marido estava muito fragilizado, só um milagre podia tê-lo salvo. Eu lamento dizer isto mas… o senhor Ketchum não vai sair vitorioso desta batalha… - Anunciou com uma cara de quem tivera visto o mundo desabar.

– Isso quer dizer… que Ash vai… - May encheu os olhos de lágrimas.

– Sim… Lamento… - O médico respondeu.

– Ele… ainda está vivo? – Perguntei encarando o chão.

– Está, mas se o quiserem ver, vai ter um ambiente muito pesado. – O médico preveniu.

– Não faz mal. Nós queremos despedir-nos de nosso amigo… - Paul assentiu.

……

Entrámos todos na sala, Ash estava deitado na cama como se tudo estivesse normal.

– Oi, amigos! Vieram visitar-me? – Perguntou com o seu tom brincalhão de sempre e com seu sorriso bobão a brotar nos seus lábios, nem parecia que estava às portas da morte…

– Pai… - Hikari foi a primeira a chegar perto dele e de o abraçar. – Não nos deixe… Eu não vou aguentar isso…

– Hikari… Você sabe como sua mãe me contou que estava grávida de si e seu irmão? – Afagou o cabelo da menor.

– Claro, pai… - Ela o abraçara com mais força.

– Quero que saiba que fiquei muito feliz nesse dia, vocês se tornaram pessoas maravilhosas. Você e seu irmão são o meu maior tesouro. – Assentiu puxando a mão dos dois filhos. – Hikari, sei que isto pode não ajudar muito, mas fique longe dos pervertidos! Não quero que façam mal à menina de meus olhos! E Satoshi, arranje uma boazona para si seu pervertido do pai! – Ash brincou.

Todos sorriram, apesar da situação, Ash não deixara de ser ele próprio, o brincalhão que diz piadas nas horas mais inoportunas, o pervertido do costume, o meu pervertido que iria ser retirado de mim dentro de pouco tempo, essa ideia provocava-me água nos olhos.

– Filhos, eu amo-vos, mas peço que saiam, não quero que vejam isto. – Ash pediu acariciando as faces dos dois.

– Sim, pai.- Hikari respondeu ao mesmo tempo que Satoshi, abraçaram o pai e beijaram-lhe a face. – Adeus. – Acenaram prendendo as lágrimas, seria a última vez que se despediriam de seu pai.

– Sorriam, vamos voltar a vernos, eu prometo. – Ash sorriu antes dos menores saírem. – May… - Chamou quando os filhos deixaram a sala.

– Sim, capitão? – Lacrimejou ao usar aquela expressão tão nossa e íntima, um hábito de adolescentes que nunca deixamos.

– Você sempre foi uma garota apaixonada, sei que Drew foi muito feliz do seu lado. – Ash sorriu. – Já agora, eu sei muito bem que ele gostava de flores.

– Então você sempre soube… - May corou ao lembrar o dia em que Drew lhe confiara esse segredo tão íntimo, que Ash devia desconhecer.

– Como não saber? Ele era um de meus melhores amigos, para além disso, ele era muito transparente. – Ash voltou a sorrir.

– Desculpe, Ash, mas eu não posso ficar aqui… não aguentaria ver você desaparecer. – May desculpou-se.

– Não tem mal. Apenas me dê um abraço. – Pediu.

– Promete que nos vamos voltar a ver? – May perguntou abraçando-o.

– Prometo. – Ash respondeu ao abraço.

May saiu da sala, logo depois de Max também se despedir de Ash.

– Yasmin, sabe que você sempre foi uma terceira filha para mim, certo? – Ash quis ter a certeza que a mais nova sabia.

– Sim, pai. - Respondeu lembrando-se de quando saíra em jornada com a gente. Desculpe, mas… eu não aguento isto! – Yasmin saiu da sala a correr enquanto deixava um rasto de lágrimas.

– Paul, meu camarada! Pronto para ser o último rapaz do nosso grupo na Terra? – Ash brincou, como se fosse uma coisa monótona.

– Eu sempre me queixei que era posto de parte dos vossos planos. – Paul brincou também.

– Não se preocupe, amigo, eu e os outros vamos preparar uma festa para quando for ter com a gente ao “outro lado”, uma festa como nos velhos tempos, aquelas que dávamos lá na suite Obsidiana, lembra? – Fez o amigo lembrar-se daquelas memórias tão preciosas e felizes.

– Com direito a garotas e tudo? – Paul provocou.

– Serena conta? – Ash provocou de volta.

Ambos riram e chocaram as mãos, como se fossem se encontrar de novo muito em breve.

– Vejo-te logo? Paul perguntou andando para a porta.

Ash acenou que sim. Paul olhou uma última vez para o amigo que sorria bobamente, como sempre fazia, e saiu pela porta.

– Misty… - Ash chamara.

– Ash… chegou a hora de nos separarmos, né? – Misty forçou um sorriso.

– É só um tempinho, depois você vai fartar-se e vir ter comigo, como fazia em criança! – Ash piscou o olho.

Misty riu, depois aproximou-se e abraçou-o.

– Adorei ser sua prima nesta vida, Ash. – Ela lacrimejou no ombro do primo.

– Misty, nós fomos muito mais que primos, e vamos continuar a ser! Aqui entre nós, eu tive um fraquinho por você em criança… - Ash confessou.

– Engraçado… Eu tive o mesmo por você. – Misty esclareceu.

– Eu te amo, Misty, minha priminha. – Ash abraçou-a com força.

– Também te amo, Ash, meu priminho. – Ela respondeu abraçando-o ainda mais forte.

Ela separou-se dele a custo, quase a chorar, o facto de nunca mais poder ver o primo a sorrir e a ser ele mesmo, arrasava-a. Caminhou em direção à porta, olhando o primo mais uma vez.

– Diz “olá” ao Gary por mim? – Pediu.

– Com certeza. Ele vai adorar receber notícias suas. – Ele tranquilizou-a, ela saiu.

Agora, eu e ele estávamos sós na sala.

– Dawn… - Ele chamou, sentando-se um pouco a custo.

– Ash! – Corri a abraça-lo, coloquei a minha face no seu peito e chorei, ouvindo os fracos batimentos do seu coração, que em breve pararia.

Depois de algum tempo, senti a sua mão puxar-me para sima, colocando a minha face frente à dele, secando as minhas lágrimas.

– Não chore… Não quero que as minhas últimas memórias deste mundo sejam de você chorando, mas sim sorrindo. – Ele pediu.

Sequei as lágrimas e coloquei o sorriso mais doce que conseguia.

– Essa sim é a minha azulada… - Ele sorriu, começando a acariciar meu rosto e com a mão livre segurando uma de minhas mãos.

– Por favor, Ash… Não me deixe… - Pedi agarrando a sua mão com força.

– Eu não a vou deixar… fisicamente sim, mas em seu coração, suas memórias, sua mente… eu vou estar bem vivo e do seu lado… - Ele explicara.

– Mas eu quero-o aqui! Acariciando-me, dizendo palavras doces e sendo pervertido! Como sempre foi! Eu vou sentir a sua falta… - Segurei o choro, mas a minha face representava tristeza.

– Eu vou continuar a ser desse jeito, eu não vou mudar… Só o vou ser de outra forma… - Ele explicou.

– Como consegue? Como consegue estar tão feliz e descontraído numa situação destas? – Eu estava realmente intrigada.

– Estou feliz porque vivi a minha vida inteirinha feliz do seu lado, tive amigos fantásticos, conheci pessoas estupendas e criei dois filhos maravilhosos com a mulher que eu amei toda a minha vida e vou continuar a amar depois da morte. Como não estar feliz? – Ele sorriu de novo.

Eu voltei a abraça-lo, um pouco triste e contendo as lágrimas.

– Não fique triste, não tem razões para isso… lembre-se pelo que passamos. Como nos conhecemos, quando dançamos juntos pela primeira vez, do nosso primeiro selinho, do nosso primeiro encontro no Poképarque, quando assumimos o namoro no aquário, quando fomos todos à praia, na despedida e no reencontro, quando conheci os seus pais, quando fizemos amor pela primeira vez, quando saímos em jornada, quando os outros partiram, quando casámos, quando disseste que estavas grávida, quando passeávamos ao luar no campo, quando nossos filhos nasceram, quando os mandámos para a Pokécity… Não são memórias felizes? – Ash lembrara-me de TUDO aquilo que passáramos juntos.

Contado assim, dei conta que tinha conhecido o Ash há muito tempo, mas pareceu-me ontem, toda a minha vida tivera passado e não notei…

– Sim, são memórias muito felizes… - Sorri.

– Então não chore… - Pediu – Dawn, satisfaz o meu último desejo?

– Claro, amor. O que é? – Perguntei docemente.

– Me beija uma última vez? – Pediu docemente.

– Claro que sim.

Beijei-o docemente, aproveitando cada momento daquele beijo, seria a última vez que sentia o toque suave dos seus lábios, o movimento atrevido da sua língua a roçar a minha e o sabor doce de seu hálito em minha garganta…

– Obrigado, azulada. – Agradeceu deitando-se abatido, acariciando o meu rosto e segurando a minha mão com força.

– Ash, explica-me uma coisa… Porque sempre me chamou de “azulada” e não de Dawn? É só para implicar? – Isso era uma coisa que me intrigava desde que era uma ingénua adolescente.

– Isso? Isso é só porque eu não tinha coragem de falar o seu nome… - Ficou sem jeito. – Depois acabou por pegar…

Ambos sorrimos, olhando nos olhos um do outro.

– Sabe, assim até parece que está fazendo uma de suas brincadeiras… - Lembrei-me do facto de ele ser brincalhão.

– É… é tudo uma brincadeira… - Amenizou a situação.

– Eu amo-te, Ash, meu garoto de cabelos negros. – Disse sinceramente.

– E eu amo-te, Dawn, minha azulada… - Declarou docemente olhando-me nos olhos, com a voz a fraquejar, essas foram suas últimas palavras…

Ele recostou-se na almofada, sempre a acariciar-me o rosto e a agarrar-me a mão. Fechou os olhos lentamente, como se fosse dormir, tinha um sorriso angelical em seus lábios, senti-o a dar o seu último suspiro, seu corpo ficou imóvel, a mão que me segurava perdeu a força e a mão que me acariciava o rosto caiu sobre o seu corpo totalmente desamparado e sem vida.

– Vamos, Ash, acorde logo. – Pedi segurando seu braço inanimado e o esfregando em meu rosto, esperando uma resposta…

… Nada …

– Vá lá, Ash, pare com a brincadeira e acorde… Eu sei que está brincando… - Chamei novamente em busca de sinais de vida…

… Nada…

Aquela esperança que ele fosse acordar e disse-se “Apanhei-te, azulada!” sumira completamente, fazendo desfazer-me em lágrimas sobre o corpo morto e inanimado do meu amado, que começara a ficar gelado.

– ASH! ASH! ASH! – Gritava o seu nome, abraçando-o, na esperança que ele pudesse ouvir e voltar para mim…

… Mas nada …

– ASH! – Berrei a plenos pulmões chorando baba e ranho.

– Vamos, senhora Ketchum, tem de ir… - O médico tentara sossegar-me, mas em vão…

– NÃO! Eu não saio daqui! ASH! Volta! Volta para mim! Não me deixes! – Pedi os gritos, mas em vão, enquanto era arrastada para fora da sala e via o corpo do meu amado ser coberto com uma manta, tapando-lhe o lindo rosto calmo e sereno… como se estivesse apenas a dormir…

……

Senti uma enorme angústia ao perceber que não o tinha ali quando cheguei a casa. Entrei no quarto, onde ele estivera ainda naquela manhã, encarei o seu lugar na cama vazio, encontrei o seu inseparável boné ali esquecido, agarrei-o e abracei-o contra o meu corpo, aquilo ainda tinha seu cheiro, seu perfume…

– Oh, Ash… Porque tinhas de me deixar logo agora? Sinto a tua falta… - Choraminguei agarrada aquele boné que presenciara todos os nossos momentos como casal… mas também como grupo… fazendo-me assim lembrar de tudo.

De repente, senti uma sensação quente a envolver-me carinhosamente e pareceu-me ouvir dizer. “Eu disse que ficaria sempre com você…”, podem dizer que eu sou doida, mas eu sei que era ele, ele voltara em forma de anjo da guarda, para me proteger, tal e qual o que fizera em vida…

Nota do narrador:

Sim, Ash voltara mesmo, através das memórias e do amor da amada, conseguiu quebrar as barreiras do espaço e do tempo para estar com ela, o seu inseparável boné que tivera ficado para trás… Infelizmente, Ash nunca mais pode tocar-lhe ou dizer-lhe algo, seu papel limitava-se a ouvir Dawn enquanto ela falava com ele, sem o ver, limitava-se a vê-la chorar sem poder secar suas lágrimas, nem poder dizer nada para a consular, ele estava triste e feliz ao mesmo tempo, pois estava com ela e tivera-lhe dito tudo em vida… mas sentia falta de um beijo, um toque, uma palavra, uma caricia, que pudesse receber ou dar à sua tão amada azulada…


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Notas finais do capítulo

Oi de novo! Ok, espero que tenham gostado deste "final", mas como acho que está demasiado triste, vou fazer mais um capítulo para ter um final "mais feliz". Espero que tenham gostado tanto de o ler como eu de escrever. COMENTEM!
Até mais!



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