As quase exatas três horas de viagem de San Diego até Santa Mônica nunca foram tão longas..

Talvez fosse pelo meu nervosismo, misturado com ansiedade, misturado com.. tudo. Sei lá o que tava acontecendo comigo.

Na verdade, eu sei, sim.

Desde que tomei a decisão de seguir em frente com o que tinha com o Steve, louca pra ele realmente ainda me querer, meus dias não são mais os mesmos.

Eu fico o dia todo conectada no facebook e com o celular na mão, esperando uma mensagem ou ligação dele. Também fico nervosa e praticamente, ensaiando minha reação quando encontrá-lo, na casa do Jason.

No Natal, depois de ter ficado com ele, eu nem falei mais nada.. tipo, eu já sabia que ele só queria ficar comigo e tal, e dei graças a Deus por isso, porque seria impossível ter um relacionamento com alguém com o coração todinho ocupado. Ele não veio atrás de mim, e nem eu dele.

Eu já estava preparada para o reencontro com o Steve: quando eu chegasse lá, não falaria com ele, mas ficaria com uma cara normal, sem estar fechada. Daria umas olhadas pra ele, deixaria nossos olhares se encontrarem e, quando - se - ele viesse falar comigo, eu seria eu mesma, sem ser forçada e nem chata. Depois de um tempo de conversa, eu ia me desculpar pelo gelo dado nas últimas semanas, e - se Deus quiser - daria tudo certo.

A Dyl e a Gabi já estão lá há horas, mas eu, estou indo só agora, às seis da tarde. Ou da noite, sei lá.

Precisei sair mais tarde para - FINALMENTE - pegar minha carteira de motorista!!!!! Agora, estou no carro da Dylan (que eu já conversei, e ela concordou em dívidir as parcelas comigo, assim o carro é nosso), indo o mais rápido que as placas de trânsito permitem!

O Cd do meu amorzinho Ed Sheeran toca, porque só as músicas dele pra me acalmarem.. de acordo com o gps, faltam menos de vinte minutos pra chegar. Tá, eu aguento.

O meu nervosismo é por causa do medo de dar tudo errado e aqueles meus planos serem puro fracasso. Apesar das meninas terem dito que ele COM CERTEZA ia falar comigo e a gente ia se acertar, eu ainda fico com o pé atrás, porque ultimamente, só tenho dado mancada com ele. Afastei os pensamentos e comecei a cantar Friends, com o gps me indicando os últimos minutos de viagem..

Liguei pro Peter avisando que já estava chegando e ele disse que ia ficar na porta me esperando.

Eu nunca tinha ido na casa do Jason. Já tinham me dito que era enorme, mas eu não imaginava que era tanto. Quando vi meu irmão de longe, pensei que seria um hotel atrás dele, de tão grande! Aí me dei conta: o Jason é muito rico. Não é riquinho. É rico pra caramba.

Quando fui chegando mais perto, ele gritou:

– Eu não acredito que tô vendo minha irmãzinha dirigindo!

Eu ri e mostrei a língua pra ele.

Parei o carro na frente da casa e desci.

– Tô muito orgulhoso de você, viu, branquela. - fala, me abraçando.

– Tava com saudade. - digo.

– Eu também. Quer ajuda com as malas?

– Sim, se puder levar tudo enquanto eu estaciono..

– Tá. - ele fala e eu abro o porta-malas. Na verdade, eu só levei uma mala grande, e uma pequenininha. Então, nem é tanto pra ele (já que tem feito academia e tá ficando bem fortinho, pra não falar outra coisa).

Fui estacionar e não tive como conter o meu pescoço, que se desconectou do cérebro e não recebeu mais meus comandos, só virou à procura do Steve..

Eu não o vi, o que de certa forma, me chateou. Seria bom colocar os planos em prática já agora.

Desci do carro e a Gabi e a Dylan correram atrás de mim.

– Oi!!! - disseram, como se não me vissem há séculos.

– Oi. - falei, desanimada.

– Isso tudo porque não encontrou o Steve? - Dylan perguntou.

– Cala a boca.. - falei. - Onde ele tá?

– Dentro do quarto. Amiga, eu já tinha visto fotos dele, e até vi um vulto dele lá na AMB, aquele dia.. mas, pessoalmente.. gente, ele é lindo! - Gabi fala.

– Eu sei. - falo, encolhendo os ombros.

– Não é pra você ficar assim! Hoje é 31 de dezembro! E se ele não te quiser, o Jason tá aqui! - continua.

– Ah, eu lá quero saber de Jason?

– Ele tá vindo. - Dyl avisa. Reviro os olhos e vejo o próprio.

– Oi, Rach! Achei que viria mais cedo. - fala, me cumprimentando.

– Tive que esperar, pra pegar minha carteira de motorista..

– Ah, que legal! Nossa, me senti muito velho agora. A menina que praticamente vi crescer, já dirige segundo as leis.

Nós três rimos.

– Espero que goste daqui.

– Ah, ela vai gostar, com certeza! - Gabi responde por mim.

– Esse lugar vai mudar a vida dela! - Dylan completa. Ele nos olha com uma cara meio sem entender, mas não questiona. Dá um aceno com a cabeça e se retira.

– Vocês são tão discretas! - falo, irônica.

– A Dylan, eu não falei nada demais!

Ela revira os olhos e nós entramos. O pessoal já estava começando a se arrumar pra festa e resolvemos fazer o mesmo. Já eram quase sete horas, e pelo que fiquei sabendo, a festa na praia começa às dez.

Entrei no banho primeiro, alegando estar muito cansada. Tomei um longo banho de trinta minutos (lavei o cabelo) e saí, me sentindo outra pessoa. No banheiro, ainda, coloquei o meu roupão pra arrumar as roupas, e a toalha no cabelo. O Liam estava lá, nos amassos com a Gabi.

– A água do mundo acabando e você aí fazendo hora no chuveiro. - ele brinca.

– Dá pra encher uma caixa de água com o tanto de saliva que vocês trocaram. - retruco.

– E você doida pra trocar saliva com uma certa pessoa que tá por aqui.... - ela fala, fazendo Liam rir.

– Vou sair pra você se trocar. - avisa.

– Que bom que não precisei ser ignorante. - brinco.

– Como se você conseguisse ser comigo. - ele dá um selinho na Gabi e um beijo na minha testa.

Sai do quarto e vou separar minha roupa.

Eu comprei um conjuntinho de cropped e saia longa, brancos, de uma renda mais grossa. A saia tem um forro até a metade da coxa e o resto é transparente, e é toda justinha, menos no final, então é confortável. Tem uma fenda do lado esquerdo, que começa um pouco abaixo do joelho, e a blusa é de manguinha. É a coisa mais maravilhosa do mundo.

A festa, fiquei sabendo, era temática do Brasil, por isso todo mundo vai usar branco, não preto, como usamos aqui. Estranho isso, lá, no Réveillon, eles usam branco! Aqui nos Estados Unidos, costumamos usar preto, e lá é uma cor completamente oposta..

Me troquei, enquanto a Gabi tomava banho, e a Dylan entrou no quarto.

– Nossa, essa roupa fica mais linda ainda no corpo. No seu corpo, principalmente. Nunca vou me conformar com o tanto que você come e não engorda.

Eu ri.

– Nossa, você lembra do dia que a gente foi fazer comprar pra formatura do colégio?

– Lembro. Saudades daquele vestido..

– Então, você me disse isso, sobre eu comer e não engordar, aquele dia. - falei, ligando o secador.

– Ah, nem lembrava disso. Viu só, certas coisas nunca mudam.

Sorri.

Comecei a secar o cabelo, e pouco depois a Gabi saiu do banheiro, de calcinha e sutiã.

– Vou lá. - Dyl avisou.

– Calma. - pedi, desligando o secador. - Você pode me maquiar?

As duas se olharam por uns segundos.

– O que é? - perguntei, me virando pra elas.

– Você bem que podia querer conquistar o Steve mais vezes. - Gabi diz, pegando o seu vestidinho na mala.

– É.. Ray, vou tomar banho primeiro, aí a gente fica pronta mais ou menos juntas.. - Dyl desvia o assunto e agradeço mentalmente.

Concordo com a cabeça e volto a secar o cabelo.

Uns dez minutos depois, com o cabelo já seco, me viro de lado no espelho.

– Nossa, amiga, seu cabelo tá enorme. Tá lindo! - Gabi comenta.

– Tava pensando nisso agora. - falo, ainda olhando o cabelo loiro, liso, batendo na cintura. - Preciso cortar.

– Não faça isso! Tá tão lindo.

– Mas precisa tirar as pontas. - viro pra ela.

– Cheguei! - Dylan anuncia.

Dou risada e volto pra cama.

– Vou me trocar e já começo sua produção..

Ela, então, coloca sua saia rosinha e blusa de cetim de alcinha. Ela simplesmente não consegue não usar rosa..

Quando termina de se trocar, me pede para sentar na cadeira.

Depois de vários minutos, ela me libera para olhar no espelho.

Vi que ela tinha feito uma maquiagem simples nos olhos, clarinha, com um fundinho dourado, e um delineado de gatinho. Passou um blush meio pêssego e um batom rosa mais fechado, mas não muito escuro. Eu até gostei, bastante.

Agradeci e elas terminaram de se arrumar.

Dez e cinco estávamos prontas. Coloquei uma rasteira nos pés e fomos.

Mais uma vez, meus olhos rodaram o lugar atrás dele.. e nada.

Já estava começando a ficar meio desesperada.

Os meninos já estavam na festa, a casa estava praticamente vazia. Quando chegamos na praia, percebemos que nunca iríamos encontrá-los naquela multidão! Seria quase impossível.

Fiquei brava e nem vi as quase duas horas passarem. Quando começou a contagem regressiva, fiz um coque alto e, ao longe, avistei Dylan e Peter, no esperado pedido de casamento.

5..

4..

3..

2..

1..

Olhei pro céu e fechei os olhos.

– Que esse ano seja melhor. - desejei, bem baixinho.

Olhei pro lado, e em meio a tantos abraços, sorrisos, beijos e barulho, foi como se tudo tivesse sumido... por causa de um par de olhos azuis.

Foi a minha vez de sorrir.

Continuei encarando, com o sorriso bobo no rosto, e quando vi, ele já estava na minha frente.

Sem dizer uma palavra, ele me beijou.

Foi como se o tempo nem tivesse passado, como se esse beijo fosse emendado no último. E eu só queria que ele durasse pra sempre.

– Tá tudo bem com a gente? Tipo, eu..

– Shhh. - interrompi, colocando um dedo na frente da boca dele. Beijei de novo. - Agora que você voltou, não vou deixar você sair da minha vida nunca mais.

Fiquei na ponta do pé e o abracei. Ele retribuiu, me abraçando forte. Enterrei minha cabeça na curva entre seu pescoço e seu ombro e ele sussurrou bem baixinho, no meu ouvido.

– Eu ainda te amo.

Sorri sozinha e o apertei mais, como resposta.

Realmente, meus planos deram todos errados.

Mas, se tudo desse errado desse jeito daqui pra frente, quero continuar errando por um bom tempo..