A Dama da Névoa escrita por Karina Saori


Capítulo 9
Elizabeth




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Acordei com as pálpebras ainda mais cansadas do que quando fui dormir. O relógio marcava 17:02. Espreguicei-me, sentei na cama e em um estalo, relembrei o sonho que eu havia acabado de ter. Suspirei ao lembrar claramente que a risada que saiu da minha boca era a mesma que daquela mulher...

Olhei para minhas mãos e não tive como reagir. Em meu sonho, elas estavam ensanguentadas, mas essa visão havia me dado satisfação, prazer. Eu não sei como encarar tudo isso. Então... realmente fui eu. Coloquei as mãos no rosto e chorei de desespero.

— Que sonho foi esse? Que sentimentos foram aqueles? Eu fiz tudo isso sentindo... Prazer? O que está acontecendo?

Fiquei um tempo pensando. Será que não foi apenas um pesadelo? Eu preciso saber da verdade. Vesti-me e desci as escadas quase que correndo.

— Ah, Lina, você acordou! Está com fome? Não te acordei para almoçar porque achei melhor deixar você dormindo...

Saí correndo de casa vendo com o canto dos olhos minha tia me acompanhar com uma expressão confusa. Eu precisava ir naquela floresta a qualquer custo. Quando cheguei, as faixas amarelas da polícia fechavam uma área entre as árvores. Era exatamente o lugar onde eu havia sonhado. Mas para minha surpresa e alívio, não achei nada no local... Nem as agulhas.

— Então isso significa que tudo não passou de um sonho... Graças a Deus...

Cedo demais para falar alguma coisa. Olhei ao redor para me certificar de que não havia olhos curiosos voltados à mim e ultrapassei as faixas. Analisando o local com mais cuidado, encontrei sangue. Realmente foi aqui. Exatamente no lugar onde eu sonhei. Como eu poderia sonhar com um lugar onde eu nunca estive? Isso era impossível, a não ser que fosse verdade...

Ao lado, havia uma pegada fraca de um pé descalço. Tirei meu tênis e, com medo, coloquei meu pé sobre a pegada. Para o meu desespero, ele se encaixava perfeitamente.

— Não foi apenas um sonho... Foi realmente uma lembrança da noite passada...

Não crendo, caí de joelhos na terra úmida. Coloquei as mãos na cabeça e puxei levemente os cabelos, em uma tentativa inútil de tirar aquelas imagens da minha mente, que se repetiam ininterruptamente desde a hora que acordei. Tentando me recompor, pus as mãos juntas em meu peito e rezei pela alma de dona Mercedes, para que ela me perdoasse e descansasse em paz. Ao fechar os olhos, as imagens continuavam... Não consegui evitar que as lágrimas rolassem descontroladamente em minha face.

Ao sentir um vento que pareceu acariciar a minha pele, senti uma paz repentina. Senti-me perdoada, assim do nada. Levantei e olhei para cima, quando alguns pingos de chuva tocaram o meu rosto; o céu estava chorando. Sorri. Não tinha motivos, mas eu apenas senti vontade de sorrir. E aquelas imagens horripilantes finalmente desgrudaram de minha cabeça. Obrigada, dona Mercedes, por me perdoar.

Saindo da atmosfera tensa da floresta, corri para o primeiro lugar que me veio à mente; a única pessoa que me acalmava, não importando quais eram as circunstâncias: Rafael. Chegando em sua casa, tentei me recompor. Quando fui tocar a campainha, algo me impediu; senti um frio na barriga, um desespero percorrendo pela minha espinha. A rua começou a ficar enevoada e eu a vi novamente.

Ela.

Caminhou em minha direção com os passos tão leves que parecia flutuar. Meu corpo não se movia e, como sempre, me faltava ar. Ela se aproximou cada vez mais, expressando aquele sorriso medonho. Grudou seu rosto ao meu, penetrando seus olhos negros nos meus. Ergueu-me seus dedos finos e gelados para acariciar meu queixo com a ponta deles. Paralisada, só consegui fechar os olhos com força e esperar que esta fosse embora logo. Senti sua unha pressionando a minha pálpebra, deslizando-a até o pescoço, marcando um rastro vermelho pigmentado de sangue. Nesse mesmo instante, ouvi sua voz enferrujada e senti seu hálito de enxofre¹.

— Lina... Minha pequena Lina. Eu lhe mostrei em forma de sonho, já que você não se lembra da noite passada. Espero que você tenha entendido que foi você quem matou aquela mulher. E tudo o que você sentiu, principalmente as suas mãos sujas de sangue, foi real. Tudo bem que eu te fiz fazer e sentir isso, mas a sua culpa não diminuirá. Foi em suas mãos que o sangue daquela mulher derramou — soltou uma risada baixa e sarcástica — Espero que tenha bons sonhos, pequena Lina.

Depois de falar isso, não lhe ouvi mais. Abri os olhos vagarosamente e a rua voltou a ser completamente vazia. Apesar de não vê-la mais, eu ainda ouvia sua voz que pairava no ar gélido:

— Lina, eu vou lhe contar uma coisa e quero que se lembre desse nome. Você deve saber e nunca esquecer o nome de quem lhe amaldiçoará pelo resto de sua vida. Este nome é Elizabeth. Carregue-o até a sua morte.

Emergindo novamente no silêncio monótono da cidade, eu ainda sentia sua presença, fazendo com que minha angustia transbordasse em forma de lágrimas.

A minha vontade de falar com Rafael simplesmente desapareceu. Quando me virei para voltar para casa, ele estava no final da rua. Ao me ver, correu em minha direção.

— Lina? O que faz aqui? Acabei de voltar do mercado e...

Olhou para meu rosto e viu o rastro vermelho do meu olho até o pescoço. Ele não falou nada, só passou a ponta do dedo indicador. Não precisava me perguntar o que havia acontecido... Ele já sabia.

— Queria falar com você, mas... agora me sinto um pouco cansada. Nos vemos na aula amanhã, tá? Ah, é sábado... Passe em casa, então...

Eu me sentia fraca e sem vontade de conversar. Quando me despedi forçando um sorriso, ele segurou o meu braço e me puxou para abraçá-lo. Fiquei surpresa com essa reação repentina.

— Você está passando por tanta coisa e eu nem posso te ajudar... Me desculpe, queria poder fazer mais por você. A única coisa que posso lhe oferecer é a minha companhia.

Retribui o abraço — Não se desculpe, não tem o porquê disso. Já agradeço pelo simples fato de você estar aqui... Obrigada.

Ele se desgrudou, segurou meu rosto com as duas mãos e encostou sua testa na minha, me fitando com os olhos.

— Não se force demais, idiota.

Concordei com um sorriso de canto de boca e fui para casa.

Não pude evitar de pensar sobre o que aquela mulher havia dito... Realmente fui eu. Mas por quê? Por que ela quer tanto me atormentar? Não entendo... Elizabeth, quem é você?

Já estou cansada de me fazer tantas perguntas que eu ao menos imagino as respostas. Só quero dormir de novo...

Ao chegar em casa, minha tia e seu Lorenzo me encararam, curiosos.

— Lina? Onde você foi? Você está pálida...

— Não é nada, tia... Só fui dar uma volta e não fui bem agasalhada, então me sinto um pouco mal. Vou deitar, tá?

Negando gentilmente quando me ofereceu uma xícara de chá quente, a encarei seriamente.

— O que foi, Lina? Quer alguma coisa para comer?

— Tia... Preciso te perguntar algo importante e quero que me responda com sinceridade. Você conheceu alguma Elizabeth?

Ao ouvir esse nome, ela paralisou, arregalando os olhos. Olhou-me espantada e depois tentou disfarçar, olhando para o chão.

— Elizabeth? Não que eu me lembre... Por quê? Onde você ouviu esse nome?

— Ah, então você não conhece... Não sei, só sonhei com esse nome — menti — Então tudo bem, vou deitar, tá? Estou um pouco resfriada, então só preciso dormir mais um pouco.

Enquanto eu subia as escadas vagarosamente, senti seus olhos preocupados me acompanhando. Eu sabia... Tem algo de errado nessa história e ela não quer me contar. Mas eu vou descobrir, uma hora ou outra.

Entrei em meu quarto e tive a mesma sensação sufocante de estar sendo observada. Infelizmente, eu já estava começando a me acostumar com isso. Deitei na cama e pensei na situação toda, tentando entender ao menos um pouco de todo esse mistério que me envolve. Mas... como eu irei descobrir? Não sei nem por onde começar.

Em meio aos meus pensamentos, avistei o coelho de pelúcia na estante. Peguei-o e o analisei novamente, percebendo que em algumas partes, o seu pêlo sintético estava queimado. Agora que eu estava mais calma, tentei ler o que estava escrito na etiqueta. Estava muito desgastada e falhada, então forcei a vista e li algo que parecia um nome.

"Beatriz".

.

Por causa desses dias mal dormidos, acabei pegando no sono de novo, depois de tentar conectar esses nomes comigo. Olhei para o relógio e este marcava como sempre 3:06.

— Dormi tanto assim?! E eu ainda estou com sono...

Preparada para dormir novamente, ouvi a voz da minha tia. Saí do quarto, fiquei na ponta da escada e vi a luz da cozinha acesa — Tia?! O que foi?

— Lina! Venha aqui só um instante... Preciso da sua ajuda.

Achei estranho o seu chamado repentino e à essa hora da madrugada, então desci as escadas para saber o que ela queria. Segui em direção à cozinha, no qual eu precisava atravessar a sala.

Quando eu já estava na metade da sala, ouvi a minha tia na ponta da escada no andar de cima.

— Lina, não vá para cozinha! Não fui eu que te chamei!

Nesse exato momento, todas as luzes se apagaram. Vinda da cozinha, ouvi uma risada.


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Notas finais do capítulo

¹ hálito de enxofre porque, na Igreja Católica, acredita ou acreditava-se que o inferno cheira a enxofre. Então, diz a lenda que, em aparições sobrenaturais, o cheiro de enxofre é iminente.