Separate Ways - Requiem escrita por WofWinchester


Capítulo 46
Feliz Natal


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus amores! Atualizando o capítulo (talvez) mais "romântico" da fanfic (na minha opinião). Então, quem tem diabetes, por favor, maneirar -q.
Muito obrigada a todas que estão comentando, todos os favoritos e pelo carinho de vocês.



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Senti o colchão afundar para baixo com o peso extra e logo abri as pálpebras, a luz fraca do sol vindo diretamente de encontro ao meu rosto e me fazendo soltar um gemido em protesto. Fiz uma careta enquanto procurava o ser que me acordara e qual não foi minha surpresa — e susto — ao encontrar um par de olhos verdes logo acima de mim.

— Dean! — repreendi tentando rolar de lado, mas o mesmo mantinha os dois braços apoiados ao meu redor, impossibilitando minha fuga.

— Hora de acordar, bela adormecida. — cantarolou impulsionando o corpo para baixo diversas vezes a fim de me balançar de maneira impertinente.

— Eu devia chutar seu traseiro, isso sim. — devolvi de cara feia por ter sido acordada, então alcancei o celular, arrastando o aparelho pela cômoda com a ponta dos dedos até conseguir agarrá-lo e fitar o visor que marcava uma e meia da tarde. Arqueei as sobrancelhas em descrença, fazendo um cálculo mental rápido que dizia que eu havia dormido cerca de onze horas seguidas.

— Hoje é véspera de Natal, seja boazinha ou o papai Noel não vai te trazer presente. — brincou o loiro, puxando uma mecha do meu cabelo como uma criança pirracenta.

— Vá se danar. — revirei os olhos, empurrando-o pelo peito para que caísse de lado na cama, assim conseguindo me sentar. Esfreguei o rosto, bocejando enquanto o Winchester se ajeitava sob os cotovelos para me fitar.

— Garth ligou, parece que nós teremos um convidado extra para festejar conosco esse ano. — anunciou depois de alguns segundos.

— Quem é Garth? — questionei buscando algum rosto na memória, sem sucesso.

— Um caçador, amigo nosso. — respondeu displicente — Parece que ele irritou bastante os caçadores com quem convive e eles meio que o “expulsaram” do Arizona. — acrescentou com um assovio divertido. Franzi a testa, imaginando que tipo de coisas alguém tem que fazer para ser expulso por caçadores.

— Onde está o Cass? — perguntei após instantes.

— Seu namorado está lá embaixo, grudado na televisão desde ontem. Parece que você está perdendo espaço, garota. — Dean me cutucou sugestivamente na altura do ombro, puxando o tecido da blusa que insistia em cair de lado — Devia investir em uma lingerie provocante para competir a altura com os cinquenta canais pornô.

— Você tem cinquenta canais pornô? — indaguei com meu tom subindo ligeiramente devido à descrença, quem tem tempo para assistir tantas emissoras? E ainda mais desse estilo? — E ele não é meu... Namorado. Quer dizer... Não ainda. Eu não sei bem o que nós somos! — gaguejei apertando uma mecha de cabelo entre os dedos. Que eu me lembrasse, nenhum pedido de namoro tinha acontecido e como eu era à moda antiga, acreditava que não tinha nada “socialmente” sério rolando entre nós dois.

— Mas vocês dois têm um lance e qualquer um consegue ver que ficam bem juntos. — falou o loiro com a expressão curiosa e indecifrável, então eu lhe lancei um olhar surpreso.

— Isso é uma aprovação indireta, irmão mais velho? — brinquei cruzando os braços, o mesmo deslizou a mão pelas minhas costas para agarrar o travesseiro e jogá-lo contra a minha cabeça.

— Nada de povoar o mundo com nefilins antes do casamento, hein. — sorriu travesso, levantando da cama rapidamente quando eu retirei o objeto dele para revidar.

— Dean! — ralhei com as bochechas enrubescendo um pouco, atirando o que tinha em mãos em seguida. O Winchester abaixou-se, desviando despreocupadamente e em seguida mostrou a língua. Tinha vezes que eu não conseguia encontrar nenhuma diferença psicológica plausível entre ele e uma criança de dois anos.

— Vou ajudar o Sammy com o Impala. — anunciou jogando o travesseiro novamente em cima do colchão e indo em direção a porta, voltando-se rapidamente enquanto erguia um dedo no ar — E é provável que você não ache nada na cozinha, Bobby foi à cidade refazer o estoque de bebida. E comprar comida, se ele lembrar. — o mesmo deu de ombros e eu não pude deixar de dar uma risada.

— Tudo bem, eu já desço. — gesticulei ao levantar, caminhando até o guarda roupas. Ouvi Dean fechar a entrada e logo tratei de escolher algumas peças, optando por uma calça preta e um casaco de lã verde musgo. Mas ao puxar o tecido pesado, outro veio junto, não demorei mais do que dois segundos para reconhecer minha jaqueta preferida, toda amassada por ter ficado embolada daquele jeito. Deslizei os dedos por ela e imediatamente eles tatearam a saliência no bolso da mesma. Eu nunca mais havia mexido naquela peça desde que Brawian morreu e me devolveu o anel do cavaleiro do apocalipse, que estava guardado ali desde então. Eu acreditava que Dean ou Sam o haviam pegado para colocar junto aos outros, mas ao que parecia eles não haviam visto, ou se viram, não deram importância em deixá-lo ali.

Franzi a testa por um momento, os rapazes não costumavam ser descuidados dessa forma, principalmente quando estávamos praticamente de férias do trabalho de caçar monstros por aí. Mas apesar de ser estranho, não era algo grave ao ponto de dar tanta importância, o anel continuaria ali quando eles se lembrassem do objeto. Dei de ombros e guardei a jaqueta novamente no guarda-roupas, apanhando a toalha que estava dependurada no cabide e me dirigindo para a saída, a fim de tomar um banho quente.

Logo que saí do banheiro, depois de fazer minha higiene matinal, trocar de roupas e pentear os cabelos — que estavam crescidos até abaixo do meio das costas, precisando urgentemente de um corte —, percebi que Castiel ainda estava sentado no sofá em frente à televisão, exatamente como estava quando eu desci as escadas depois de acordar. Fui até a cozinha e roubei um pão de queijo solitário no cesto de verduras, conseguindo ouvir o barulho do motor de arranque do Impala que Sam e Dean estavam entretidos tentando fazer sabe-se-lá-o-quê. Dei uma mordida e me aproximei do anjo por trás, colocando os braços por cima dos seus ombros enquanto dava um beijo no seu rosto. Ele se virou com um sorriso lindo, beijando o canto da minha boca enquanto afagava o meu cabelo.

Como ele conseguia ficar mais bonito a cada dia?

— O que você está vendo aí? — questionei apertando um dos botões do controle para mostrar o nome do filme na tela. Arqueei as sobrancelhas imediatamente ao perceber que tínhamos TV por assinatura (sem mencionar todos os canais com “conteúdo adulto” presentes ali), devia ser “gateada” de algum vizinho, com certeza. Mas mesmo assim era uma surpresa a escolha do filme que a emissora tinha decidido passar na véspera de natal, ao invés de algum remetente à bíblia ou algum de cachorro que faz você chorar até desidratar, estava passando “X-men, o confronto final”. De repente imaginei Castiel como um garoto nerd viciado em quadrinhos, e por algum motivo a cena não me pareceu tão bizarra.

Inclinei-me para frente, repousando o queixo no seu ombro e fitando a tela. Tudo indicava que já estava quase no final, pois coisas voavam para todos os lados enquanto uma garota de cabelos ruivos — A Jean Grey, se minha memória não me falhava — parecia estar totalmente fora de si em uma pilha de destroços. Franzi a testa no momento em que Wolverine surgiu na cena, a garota lançava diversos ataques na sua direção, golpes que com certeza matariam um humano que não tivesse aquela capacidade de regeneração tão avançada, arrancando suas roupas e até mesmo partes dos músculos que eram rapidamente curados. Quando ele finalmente conseguiu chegar até ela, Jean pareceu recobrar sua sanidade por poucos instantes.

— Você precisa me matar. — pediu a ruiva com a expressão carregada de culpa, dor e lágrimas. O mutante a segurou pela cintura.

— Eu amo você, Jean. — disse dois segundos antes de enfiar as garras de adamantium na barriga da garota, que suspirou uma última vez antes de desfalecer em seus braços. Wolverine caiu de joelhos com um grito que ecoou pelo local, ele havia tirado a vida do seu amor, ou seja, sua própria vida. Não precisava ser um grande fã da franquia de filmes para saber disso. E agora eu entendia o motivo de Castiel estar tão interessado nele.

Segurei o controle e desliguei a televisão, contornando o sofá e sentando no seu colo, com as mãos ergui seu rosto para que me encarasse.

— Não somos Wolverine e Jean Grey. — garanti sentindo-o abraçar meus quadris.

— Eu tento me convencer disso todos os dias. — murmurou com um sorriso sem graça, porém seus olhos estavam em um azul intenso e obscurecido, exatamente o jeito como ficavam quando o anjo ficava imerso em pensamentos sobre coisas que eu preferia não saber.

— Meu Deus do céu! — exclamou Sam ao entrar pela porta, voltando meio caminho para trás e então retornando constrangido — Eu acho que nunca vou me acostumar com isso. — comentou gesticulando para nós e eu fiquei confusa, parando por um momento para fitar a cena. Eu estava por cima de Castiel, sentada de pernas abertas enquanto ele me segurava pela cintura, bem, não era uma pose muito comportada. Soltei um pigarro, sentindo minhas bochechas ficarem vermelhas, então escapuli para o sofá.

— Pode ir tirando as patas da minha irmã, sua mariposa voadora! — ouvi a voz de Jimmy ressoar e um segundo depois ele entrou com uma careta séria — É brincadeira, mas sem agarramento na minha frente, pelo amor de Deus — acrescentou, a expressão séria deixando seu rosto e transformando-se em um sorriso. Levantei, ainda surpresa por meu irmão ter aparecido de repente e corri até ele, pulando para abraçá-lo e o nefilim me girou no ar.

— Senti saudades! — falei logo que o mesmo me colocou no chão, dando um tapa na sua cabeça em seguida — Nunca mais faça isso comigo de novo, entendeu bem? Sumir desse jeito? Mal dar notícias? Não é coisa que se faça!

— Síndrome de irmã mais velha. — comentou Sam com um dedo erguido, andando até a mesa para abrir o notebook sobre ela, as mangas da camiseta flanela um pouco sujas de graxa.

— Como é? — quis saber Dean, aparecendo por trás e imitando o meu gesto, só que no Winchester caçula que deu uma risada e afastou-se.

— Não precisa partir para a agressão! — brincou Jimmy com a mão no lugar onde eu havia batido, o garoto tirou uma mochila aparentemente pesada e largou aos pés do sofá.

— Voltou de verdade? — questionei esperançosa e meu irmão meneou a cabeça, as feições negativas me dizendo o contrário. Suspirei. Havia tantas coisas que eu queria perguntar, principalmente o motivo dele estar praticamente fugindo de nós, porém enchê-lo de perguntas neste exato momento não me parecia propício. — Mas o importante é que você está aqui. — forcei um sorriso.

— E então... Cunhado, quais são suas intenções com a minha irmã? — começou virando-se para Castiel,que estava levantando para se aproximar de nós.

— Desde quando ele ficou tão super protetor? — questionei retórica.

— As melhores possíveis, Senhor Scheer — respondeu o anjo com um sorriso, entrando na brincadeira — Eu a amo de verdade e pretendo fazê-la feliz do jeito que ela merece, o que quer dizer, infinitamente. — garantiu passando um braço por cima dos meus ombros e me puxando para mais perto. Jimmy estreitou os olhos por um instante, nos avaliando.

— Tudo bem. Eu gosto de você, tem minha permissão. — assentiu prepotente, uma risadinha sarcástica formando-se em seus lábios. Então se virou para Dean, que já estava na cozinha com a boca cheia de torta que havia sobrado de ontem — Mas se fosse ele...

O que tem eu? — perguntou, alheio a conversa. Sam me lançou um olhar curioso e até mesmo Castiel franziu a testa diante da insinuação que fez um clima tenso pairar no ar.

— Você voltou muito engraçadinho, não é? — comecei agarrando uma almofada que estava no sofá e acertando-o na altura do peito — Quero uma guerra justa para abaixar essa sua marra toda! — Jimmy abriu a boca em descrença, mas logo tratou de catar outra para me combater a altura.

— Se eu fosse vocês dois, eu não destruiria a casa! Quando o Bobby voltar vai ficar uma fera! — gritou Sam, indo para perto da cozinha e longe dos objetos que começavam a voar pela sala. Castiel também se afastou, indo para trás da mesa enquanto assistia a cena com a expressão divertida. Agarrei uma almofada do chão e subi na poltrona para arremessar na direção do nefilim que corria de costas, porém outra pessoa entrou na frente, recebendo o impacto certeiro que fez o objeto largar algumas penugens no ar.

Observei a garota tirar as alças das duas mochilas dos ombros e colocar no canto da parede com a expressão entediada.

— Ei! Virou galinheiro agora? — protestou Maison tirando as penas brancas do cabelo loiro preso em um rabo de cavalo e soprando uma que descia na direção do seu nariz.

— Maison! — gritamos eu e Jimmy em uníssono. A última vez que eu a havia visto foi logo depois de matarmos aquela loba na minha antiga escola, e a maneira como tudo aconteceu (e também o que se sucedeu depois) tinha me deixado com um pé atrás. Eu preferia não parar para pensar sobre aquilo, mas eu definitivamente estava descontando todas as minhas frustrações em uma criatura viva na base da tortura física. E eu sabia que Maison havia percebido isso, só não teve tempo de perguntar antes que Castiel chegasse.

E eu tinha medo do que ela iria perguntar, pois tinha receio da minha resposta.

— Sem melação, por favor. — pediu sarcástica, movendo os braços no ar — Vem cá, pirralho! — falou abraçando Jimmy, que era alto o suficiente para tirá-la do chão, assim como havia feito comigo.

— Bem vinda, Aniel. — disse Castiel, assentindo em cumprimento. A garota revirou os olhos andando até onde eu estava. Embora não houvesse mais tanta tensão quando eles estavam no mesmo local, eu sabia que havia uma mágoa profunda entre os dois, pelo fato do anjo estar diretamente ligado a sua queda do céu. E Maison, ou Aniel, podia disfarçar isso o quanto quisesse, mas ainda deixava transparecer o suficiente para que pessoas observadoras como eu e Sam pudéssemos entender. Era o tipo de briga entre irmãos que só o tempo poderia dar jeito.

— Só porque é época natalina, não precisa ficar todo sentimental. — falou ao me abraçar, então apontou um dedo para ele — E se me chamar de Aniel de novo eu quebro o seu pescoço, irmãozinho. — ameaçou e ele deu uma risada, balançando a cabeça para os lados.

— Eu não ganho abraço? — sugeriu Dean, escorando-se na parede da cozinha. A loira voltou alguns passos e o fitou por vários segundos.

— Você ganha isso. — disse jogando uma almofada contra o rosto do caçador, que a segurou e abriu a boca em surpresa. Comecei a rir e Jimmy me acompanhou, quase se curvando para frente.

— Estou realmente ofendido. — começou, desfiando o tecido judiado do objeto — Sabe o que isso quer dizer, Sammy? É guerra! — anunciou terminando de rasgá-la e fazendo as penas voarem, jogando diretamente na cabeça do irmão e entranhando no cabelo dele. Nem preciso dizer que o Winchester caçula ficou estupefato e retribuiu a altura, distribuindo uma sequência de arremessos no irmão. Corri até a poltrona para pegar uma almofada, porém Castiel a pegou antes que eu pudesse fazê-lo, erguendo-a para cima em uma altura a qual eu não conseguia alcançar. Pulei algumas vezes, tentando descer seu braço enquanto o anjo ria das minhas tentativas falhas e, por fim, me tirou ao chão, me colocando em suas costas e girando para os lados rapidamente.

— Parem todos vocês! — exclamou Bobby, entrando pela porta e colocando a sacola em cima da mesa. Apertei os olhos, vendo sua silhueta se dividir em duas, enquanto tudo ao meu redor rodava devido a tontura. O velho Singer se voltou para nos encarar seriamente, passando pelo nefilim cheio de plumas no cabelo bagunçado e parando ao lado de Maison que batia com duas almofadas em Sam e Dean ao mesmo tempo — Como ousam destruir a casa sem a minha presença? — Então catou o objeto da mão de Jimmy e jogou em Sam, que se abaixou para que ela viesse diretamente contra mim, explodindo uma nuvem de penugens no meu rosto. Abri a boca em surpresa, começando a rir enquanto todos voltavam a guerrear como se estivéssemos de volta à segunda série.

Castiel me atacou com cócegas, fazendo com que eu me dobrasse para frente até cair no chão, me retorcendo para longe de suas mãos até perder o fôlego para dar risada. Então ele parou, sentado no piso com a respiração ofegante, deslizando uma das mãos para tirar o cabelo do meu rosto. O anjo passou os dedos pela minha bochecha, causando um arrepio crescente, em seguida apertando suavemente a ponta do meu nariz. Segurei seu pulso com uma careta infantil e ele sorriu, se inclinando para me beijar.

— Cheguei para a festa! — anunciou uma voz desconhecida, nos interrompendo e fazendo os gladiadores da arena das almofadas pararem suas atividades para fitá-lo. Arqueei a cabeça para trás, vendo tudo invertido enquanto a figura franzina e simpática atravessava a porta com duas mochilas enormes nos ombros, os cabelos desgrenhados e a camisa xadrez lembravam o jeito de vestir de Bobby. O mesmo largou as coisas no sofá e abraçou os irmãos.

— Ah, eu esqueci que ele abraçava... — comentou Dean com uma careta desconfortável ao ser levantado do chão pelo pequeno rapaz. Rolei de lado, segurando a mão de Castiel para me erguer.

— Você deve ser a Esther. — cumprimentou ao parar na minha frente e olhar bem para o anjo antes de pensar em fazer o mesmo comigo, optando por me dar um aceno tímido. Por algum motivo eu achei a atitude dele hilária.

— E você deve ser o Garth. — assenti com um sorriso educado, retribuindo o gesto.

— Em pessoa. — afirmou alegremente, correndo para sua mochila a fim de tirar pequenos embrulhos e colocar em nossas mãos. Mexi nos mesmos, logo desfazendo o papel de seda e revelando um mimoso Papai Noel em miniatura vestindo uma sunga e camiseta de praia — Trouxe lembranças para todos, são bonequinhos de Papai Noel versão Arizona.

— Vai ficar lindo ao lado das facas e do sangue batizado — disse Bobby com sarcasmo.

— Que meigo. — comentou Maison com um sorriso divertido para o rapaz que pareceu ficar corado. Então passou os olhos para meu irmão, que estava mais entretido tentando tirar as penas do cabelo.

— De onde eu conheço você? — perguntou gesticulando para Jimmy.

— De lugar nenhum, nunca nos vimos antes. — devolveu o nefilim, dando de ombros rapidamente. Garth franziu a testa, aproximando-se para fitá-lo de perto.

— Mas eu tenho certeza que eu já vi seu rosto... — continuou, acariciando o queixo — Já sei! Acho que foi em um daqueles panfletos...

— Em que boate vamos nos esbaldar hoje à noite? — cortou Dean, vindo por trás do rapaz e dando um tapa em suas costas, em seguida puxando-o para mais perto como se o estivesse abraçando. Estreitei os olhos e cruzei os braços, instigada pela atitude suspeita. Por que o rosto do meu irmão estaria em um panfleto?

— Podemos decidir na hora. — opcionou Jimmy, dando corda ao assunto paralelo rápido demais.

— Vocês querem passar o Natal em uma boate? Achei que seria algo mais familiar. — grunhiu Sam, visivelmente insatisfeito.

— Podemos fazer isso também. — apontou o loiro — E depois nos esbaldar. — emendou com um sorriso.

— Acho que você quebrou uma costela... — murmurou Garth com uma careta de dor. — Só por que eu ia dizer que o garoto...

— Que tal começarmos a nos arrumar? — interrompeu Maison, passando propositalmente por cima do pé dele, o mesmo dando um gemido ao pular para segurar a bota de inverno. A garota me pegou pela mão e guiou em direção ao segundo andar, mas antes de alcançar os degraus, eu encarei Castiel com uma pergunta implícita, o anjo dissimuladamente desviando o olhar e entregando o que eu já sabia, ou melhor, o que eu não sabia. Mas eu iria descobrir em breve.

Desci as escadas com cuidado para não tropeçar por causa do salto alto. Mais uma vez Maison havia me feito de “bonequinha”, me fazendo usar um vestido branco com detalhes vermelhos e um laço na altura da cintura — e como estava frio, um sobretudo feminino por cima. A maquiagem destacava muito bem os olhos e meus cabelos estavam com cachos nas pontas, descendo até bem abaixo dos ombros. Havia ficado decidido, em algum momento que eu não estava presente, que nós iríamos comemorar o natal fora, como Dean tinha sugerido.

Castiel estava no final da escada, usando um smoking preto com uma flor vermelha no bolso. Os olhos azuis se destacando como nunca. Prendi a respiração por um instante ao vê-lo, não conseguindo encontrar ângulos suficientes para apreciar o quão lindo ele estava.

— Você está magnífica. — elogiou me estendendo a mão e eu sorri levemente constrangida ao pegá-la.

— Digo o mesmo. — devolvi passando os olhos pela primeira vez ao redor, já que Castiel havia roubado minha atenção inicialmente. Bobby e Sam também usavam smokings, o último com a roupa em detalhes prateados que contrastavam com os olhos que hoje estavam azulados. Jimmy vestia um terno simples com gravata borboleta e o cabelo bagunçado como sempre. Dean estava mais informal, ao invés da parte de cima do smoking, ele usava uma jaqueta de couro. Ouvi passos nos degraus e me virei para trás, abrindo um pouco a boca ao ver Maison.

A garota tinha os cabelos presos em mechas com acessórios brilhantes, o vestido azul claro ia até abaixo dos joelhos, combinando com seus olhos destacados por delineador. Ela parecia uma princesa de verdade. Percebi que Jimmy e até mesmo Dean ficaram embasbacados, ambos aproximando-se inconscientemente da escada com expressões surpresas. Sorri e fitei Castiel de soslaio, imaginando se havia algum ciúme entre os anjos — pelo fato de serem todos irmãos. Se houvesse, ter um cunhado como o Dean seria uma dor de cabeça.

— Vamos abrir os presentes? — vibrou a loira, descendo mais rapidamente e abrindo espaço entre nós para tirar várias embalagens iguais debaixo da nossa árvore artificial decorada com sal de cozinha que imitava neve — Eu começo! — disse colocando os envelopes envolvidos por papel de seda em nossas mãos.

— O que será que eu ganhei? — questionou Sam em um tom de mistério, rasgando a embalagem.

— São passagens de avião para todos. Vocês precisam conhecer o Brasil. — revelou a garota com uma animação resplandecente enquanto eu sacudia o meu no ar.

— Eu sou um anjo, não preciso de avião. — comentou Castiel, fitando-a.

— Faz bem para a saúde e não pode reclamar, pois é presente. — apontou a garota, dando de ombros.

— Ótimo, minha vez. — disse o Winchester caçula, pegando pequenas caixinhas de diversas cores e estendendo-as para nós. Abri a minha, que era um rosa fosforescente, e me deparei com um cordão preto com uma pedra artesanal — São colares chineses.

— Eu não falo chinês. — protestou Dean.

— É simbólico. — o moreno revirou os olhos — Cada um representa a melhor qualidade que eu vejo em cada um de vocês. Força, Coragem, Liderança, Amizade, Bondade e Amor. — contou enquanto apontava para o irmão, Bobby, Castiel, Jimmy, Maison e eu.

— É lindo, Sam. Obrigada. — agradeci, colocando-o no pescoço e ajeitando sob o tecido do vestido.

— Agora sou eu. — anunciou o velho Singer, pegando sacolas de presente e colocando em nossas mãos — Uma garrafa de uísque para cada um, assim vocês não bebem o meu. — explicou antes mesmo de nós abrirmos.

— Já podemos começar a encher a cara. — cantarolou Maison enquanto nós ríamos, colocando todas elas em cima da mesa, em fileiras de duas.

— Minha vez. São presentes comuns, acho que só o da Esther tem significado especial. — dizia Jimmy ao entregar embalagens de diversos tamanhos para todos. Alguns revelando peças de roupa, CDs e até mesmo dinheiro. Abri a minha e franzi a testa ao dar de cara com um porta retrato virado para baixo, imaginando que o mesmo estava vazio eu o ajeitei e qual não foi minha surpresa ao constatar que havia uma foto.

A mulher de cabelos escuros e pele bronzeada sorria de maneira terna enquanto uma garotinha vestida de bailarina tinha a expressão assustada na frente da escola de balé, ela segurava a mão da moça e a mesma ainda tinha um bebê no colo. De início eu fiquei confusa ao encarar a imagem, mas então sons de música, crianças e instruções de uma professora com sotaque francês faiscaram na minha memória como flashes.

Éramos nós ali.

— Essa é... — comecei sentindo minha voz sair trancada devido à emoção crescente.

— Meu pai tinha essa foto guardada, eu achei vasculhando as coisas dele. Não importa o que digam, Marina é a nossa mãe e nós somos uma família. — esclareceu enquanto eu o abraçava. Eu mal me recordava do seu rosto, muito menos da sua voz ou momentos que passamos juntas e uma foto era mais do que eu me lembrava dela.

— Obrigada. — murmurei, lutando contra a vontade de cair no choro.

— E eu não ganho presente? — questionou Dean, o único que havia ficado de mãos vazias.

— Na verdade, eu comprei uma torta para você, a melhor de todo o continente. — contou o nefilim, fazendo o Winchester abrir um sorriso de orelha a orelha — Só que eu comi. — acrescentou e o loiro fechou a cara.

— Agora sou eu. Os presentes de vocês estão no quintal. — anunciou Castiel, gesticulando para fora.

— No quintal? — repetiu Bobby em dúvida.

— É que não ia caber embaixo da árvore. — justificou-se e nós nos aproximamos da janela. Devo dizer que eu quase caí para trás ao ver o movimento quadrúpede na oficina.

— Aquilo é um pônei? — questionou Sam — Um pônei cor-de-rosa? — enfatizou descrente, se voltando para o anjo.

— São seis pôneis! — corrigi contando rapidamente por cima, então encarei Castiel com a expressão incrédula e aturdida.

— Você disse que era o melhor presente. — o anjo se virou para mim, confuso.

— Eu estava sendo sarcástica, Cass. — deu uma risada, em seguida o abracei para dar um beijo em seu rosto, apesar de tudo fora um gesto lindo. Acho que já posso dizer que fui a única garota a ganhar um pônei cor-de-rosa de Natal, um de verdade.

— Como você achou animais dessa cor? — quis saber Bobby.

— Pedi para pintarem. — revelou despreocupadamente.

— Só espero que nenhum deles resolva fazer caquinha nas rodas da baby... — lamentou-se Dean, estreitando os lábios — Minha vez. — falou enquanto puxava as embalagens debaixo da árvore para colocá-las em nossas mãos.

— Uma revista pornô? Sério? — Jimmy rolou os olhos, balançando as páginas impróprias no ar.

— Ele tem quinze anos! — protestei arrancando o objeto dele e olhando feio para o Winchester.

— Você me deu asas de brinquedo? É bom me dar uma boa razão para eu não te bater com isso! — devolveu Maison, estupefata.

— Vire. — instruiu o loiro e a mesma logo o fez, a expressão raivosa se amenizando instantaneamente ao ler a frase escrita atrás.

— “Você não precisa disso para ser o anjo que é”. Obrigada... Eu acho.

— Não vai abrir? — apontou para mim. Larguei a revista bem longe de Jimmy e rasguei a embalagem pequenina de papel colorido, retirando uma identidade plastificada. A mesma tinha a minha foto, mas na parte em que ficava o nome, dizia “Esther Campbell Winchester”. Comprimi os lábios, uma onda de emoção correndo pelas minhas veias — É simbólico. Bem vinda à família, oficialmente.

— Obrigada, Dean! — agradeci pulando para abraçá-lo apertado, logo pegando os últimos presentes que havia e distribuindo para seus respectivos donos — Os meus não são os mais convencionais, mas eles têm um significado especial.

Observei-os rasgarem as embalagens, Bobby tirando um boné bege escrito “O melhor pai do mundo” e Sam descobriu um pôster do filme Lua Nova. Jimmy pegou um álbum de fotografias, Maison uma pulseira com diversos pingentes — entre eles uma miniatura de anjo — e Dean um vinil do Lynyrd Skynyrd

— Eu acho que sei o que significa esse presente. — o loiro balançou o disco em mãos — A primeira música que nós ouvimos juntos, logo depois de sairmos do esconderijo do Crowley meses atrás, foi Simple Man.

— Como o primeiro filme que eu vi com o Sammy foi Lua Nova. — gesticulei para o moreno, mordendo o lábio ao perceber que era a primeira vez que eu usava o apelido que ele, particularmente, não gostava.

— Eu me lembro desse dia, foi logo depois que eu recuperei a minha alma. — comentou com um sorriso.

— E Bobby é como um pai para nós. E eu achei que um boné a mais não faria mal. — sorri ao vê-lo experimentar o acessório — Esse álbum de fotografias simboliza que os anos que nós perdemos não vão significar nada quando preenchermos todo ele com fotos hilárias juntos, a pulseira com pingentes é mais uma forma de dizer que você é um anjo completo ao meu ver, Maison, e o mais próximo de uma amiga que eu já tive. O Dean roubou a minha ideia, na verdade. — expliquei apontando de maneira acusadora para o caçador, que fez um biquinho de indignação.

— Você é o mais próximo que eu já tive de uma amiga também. — comentou a loira, franzindo os lábios e olhando para cima, a tentativa de dar de ombros e não parecer sentimental saindo totalmente errada.

— E esse é para você. — estendi a caixinha de veludo para Castiel, observando-o abrir e puxar a gravata azul marinho — Eu pensei em comprar de uma cor diferente, mas então me lembrei que não há nada em você que eu gostaria de mudar, nem isso. E se você olhar atrás... — indiquei para que ele virasse o tecido da mesma, a parte mais fina e que fica junto ao peito.

O anjo me encarou com o olhar terno após ler.

— “Estarei para sempre com você” — repetiu em palavras os bordados feitos por mim mesma.

— Mesmo quando achar que está sozinho ou perdido, quando tudo estiver desmoronando. Eu vou estar com você sempre que fechar os olhos. — completei o sentido daquilo que eu queria dizer.

— Isso é sentimentalismo demais, eu acho que vou explodir — comentou a voz de Balthazar, nos sobressaltando.

— Feliz Natal para você também. — me virei para o mais recente convidado.

— Hoje o espírito humanitário me invadiu e eu vim dar o meu presente.

— Comprou presente para nós? — duvidou Dean.

— O que eu perdi? — pronunciou-se Garth, entrando esbaforido pela porta. O terno com gravata borboleta ligeiramente desajeitado.

— Onde você estava? — questionou Bobby. Pisquei algumas vezes, me sentindo um pouco mal por ter esquecido completamente da presença do caçador antes de começarmos a abrir os presentes.

— Eu vi pôneis no quintal. — justificou-se com um brilho infantil no olhar.

— Acho que você pode ficar com eles — olhei de soslaio para Castiel, que assentiu com um sorriso — É nosso presente. Mas não deixe que eles peguem chuva, se não vão desbotar — acrescentei gesticulando.

— Sério? — repetiu o mesmo — Eu sempre quis ter um pônei.

— Agora tem seis, eba! — enfatizou Dean com sarcasmo.

— Mas voltando ao assunto... — continuou Balthazar, ignorando o rapaz e estalando os dedos no ar, o som preenchendo o ambiente e de repente tudo ao nosso redor tremeluziu. O vento mais abafado acariciou meu rosto e quando eu pude focar de novo, me deparei com uma placa enorme escrito “Feliz Natal”.

— Onde nós estamos? — questionei ao perceber dezenas de pessoas a nossa volta, música alta e decorações luminosas por todos os lados. Era uma espécie de feira no centro da cidade.

— Eu conheço esse lugar. Estamos no Kansas! — vibrou o Winchester mais velho.

— É a festa da cidade do Kansas! — completou Sam, animado, ambos correndo para dentro dos limites cercados.

Não demorou mais do que quinze minutos para os rapazes se soltarem e rapidamente se enturmarem com o pessoal, e quando dei por mim, já estava presa e conversando animada em uma roda de moradores alegres.

— Eu me sinto na Tomorrowland! — exclamou Dean, aparecendo por trás de mim enquanto virava duas doses seguidas uísque, colocando um dos braços por cima dos meus ombros. Ouvi um homem bater algumas vezes no microfone que havia em cima de um palco improvisado, chamando a atenção das pessoas que se dirigiam para mais perto com curiosidade. Pensei em fazer o mesmo, porém havia um peso extra escorado em mim que era praticamente o dobro do meu, me deixando incapaz de me mover.

— Só para avisar, esponja, você tá fedendo a álcool — brinquei e ele deu um sorriso travesso, arqueando uma sobrancelha de modo desafiador enquanto segurava meu queixo entre o polegar e o indicador.

— Você é uma graça, sabia? — murmurou se inclinando em direção ao meu rosto e eu logo desviei para o lado, aturdida por ele estar tentando me beijar descaradamente.

— E você é um tarado quando fica bêbado — devolvi revirando os olhos. Eu podia realmente ter ficado ofendida pela atitude dele, porém eu o conhecia o suficiente para saber que Dean é o tipo de homem que dá em cima de qualquer coisa que use saia, então apenas ignorava.

Tequila mama! — cantarolou Balthazar, passando um dos braços por nós de maneira animada, mexendo os ombros em uma dancinha ao dizer o nome da bebida. O anjo trouxe uma bandeja com vários copos pequenos e imediatamente colocou um em minhas mãos.

— O que é isso? — perguntei passando Dean para Balthazar, os dois cambaleando em zigue zague por alguns instantes até se afirmarem.

— Vodca, canela, limão, uísque, leite condensado e absinto. — falou empurrando meu braço para mais perto do rosto. Respirei fundo e virei goela abaixo, sentindo ferver enquanto descia meio azedo, meio doce.

— Deus do céu, isso é forte! — fiz uma careta, um arrepio percorrendo o corpo. E antes que eu pudesse me recompor da primeira rodada, uma bartender vestida de Mamãe Noel já trazia a segunda. Abri espaço entre eles, optando por não beber até cair e desmaiar no chão de algum banheiro público. Subi alguns degraus que davam para a segunda pista, onde Jimmy estava escorado na grade, observando as pessoas dançando e conversando.

Arrumei um lugar ao seu lado e imitei sua posição, procurando o foco do seu olhar e imediatamente abri a boca em descrença, engasgando.

— Aquela é a Maison? — apontei para a garota loira sentada no colo de um certo Winchester enquanto se amassavam sem o menor pudor — A Maison com o Dean? Não acredito no que os meus olhos estão vendo! — comecei a rir. Ninguém podia dizer que ele não estava atirando para todo o lado hoje.

— Eles fazem um par bonito. — comentou o nefilim casualmente.

— E você está bem com isso?

— Esther, quantas vezes eu vou ter que te dizer que Maison e eu não temos nada a ver? — ralhou com ar de tédio.

— Até me convencer. — provoquei remexendo a manga do meu sobretudo com os dedos. Talvez fosse até paranoia minha, porém eu achava que Jimmy gostava mais daquela anjo-caído do que deixava transparecer.

— Como estão as coisas? — perguntou mudando de assunto dissimuladamente.

— Estupidamente normais, para variar.

— Sinto por não ter estado com você. Para te apoiar, essas coisas. — sibilou o moreno, suas feições ficando tensas por um momento.

— Às vezes você parece ser mais velho do que realmente é, sabia? Toda essa maturidade. Fico pensando se a genética nefilim não afeta só o corpo, mas também a mente. — comentei observando que embora o mesmo tivesse apenas quinze anos, era bem mais alto que eu, os músculos definidos, o rosto com maxilar marcado e barba por fazer. Era como se ele tivesse a idade de Sam ou Dean, muito diferente de meses atrás quando nos encontramos pela primeira vez.

— Nossa genética se acentua na puberdade e fica mais acelerada quando usamos mais nossos poderes. — explicou o mesmo — Mas é uma coisa boa, posso pegar mulher mais velha. — disse sarcástico, mostrando a língua — E pare de distorcer a conversa, eu quero saber de você.

— O que você quer saber? — me inclinei para ele, cutucando-o seu braço com o meu de maneira impertinente.

— Como você acabou namorando um anjo, por exemplo. — apontou o mesmo com demasiada curiosidade.

— Nós não estamos... — comecei, prestes a dizer que não estávamos, mas desisti. Aquela situação era confusa demais para explicar. — Apenas aconteceu. Acho que não era novidade para ninguém o que eu sentia pelo Castiel, já que eu sou sempre tão óbvia. Mas foi realmente uma surpresa quando ele se declarou para mim.

— Você está feliz? — indagou Jimmy, as mãos juntas enquanto ele encarava algum ponto acima de nós.

— É tudo que eu sempre quis. — dei de ombros com um sorrisinho besta se formando em meus lábios. Então percebi que o nefilim bufou baixinho, a mandíbula ficando tensa — Por que essa cara?

— Você tem essa coisa de querer ser normal, então se envolve com um celestial que ainda por cima está ligado a você por uma profecia de morte? — duvidou com um tom irônico que eu não gostei — Eu achei que você acabaria com alguém mais normal, cheguei a pensar que seria o Dean. — acrescentou com certa descrença. Eu até entendia o porquê dele não gostar de anjos ou anjos caídos (com exceção de Maison), devido aos fatores da possessão que aconteciam entre eles e os nefilins, mas isso não lhe dava o direito de contestar minhas decisões.

— Eu não escolhi isso. Se eu pudesse... — cortei rapidamente o que eu ia dizer — Não. Nem se eu pudesse desfazer esse sentimento e não sentir mais nada, eu ainda escolheria o que eu tenho agora. — garanti um tanto quanto ríspida.

— Estou sendo cruel demais com você? — perguntou tocando de leve meu pulso, um meio sorriso constrangido pedindo desculpas silenciosas.

— Você só está sendo realista. Alguém precisa ser. — sibilei fechando os olhos por dois segundos — E por falar em coisas estranhas... Por que esse sumiço?

— Do que está falando?

— Você pode achar que me engana. Você, Dean, Maison, Sam, todo mundo! — controlei o impulso de jogar as mãos para o alto — Mas eu sei que há algo muito errado acontecendo e eu sou a única que ainda não sabe. Pode ir abrindo o bico.

— Quando que a festa de Natal se transformou em discussão familiar? — rebateu tentando dissimular novamente.

— Não interessa e não muda de assunto. — gesticulei e ele suspirou.

— São os Caçadores de Sombras, eles estão atrás de mim para que eu jure fidelidade ao clã. — contou e eu lhe lancei um olhar atônito.

— E você me escondeu isso? — ralhei, meu tom de voz subindo várias oitavas. Então percorri os olhos pelo mesmo, minhas mãos rapidamente puxando sua camiseta para cima, revelando um dragão alado, coberto de chamas negras, na lateral do seu abdômen. Imediatamente a história que Brawian havia me contato sobre seu clã me vinha a mente, a imagem da grande criatura mitológica assolando o planeta.

— Não há nada que você possa fazer para me ajudar, por isso eu tenho fugido. Assim eles não conseguem me pegar. Mas parece que eles estão sempre um passo a frente e espalharam rumores de uma recompensa aos caçadores, para que me capturem vivo. — revelou com um suspiro e eu logo entendi o porquê de Garth o ter reconhecido. Se estavam espalhando o rosto dele por aí, muitos caçadores deveriam querê-lo por causa do dinheiro.

— O que eles querem com você?

— O líder deles falou comigo, é um vampiro chamado Dimitri, ele disse que o círculo dos quatro só pode invocar Shadow se estiver completo. — contou me olhando de soslaio.

— Mesmo assim ainda falta um bruxo para ocupar o lugar de Brawian e... — comecei tentando achar alguma falha, qualquer coisa, porém Jimmy me cortou.

— Outro bruxo já foi eleito e eles vão acabar conseguindo me obrigar. — sussurrou pesadamente — Castiel colocou anjos ao redor da oficina para neutralizarem qualquer ameaça, assim não podem chegar até você, mas é só questão de tempo até acharem outra coisa. — disse eu dei um grunhido. Como eu pude ser tão burra? Nós não estávamos tendo um período de calmaria, mas os rapazes estavam me mantendo em cárcere privado para me proteger.

— Que outra coisa?

— Se estiverem muito desesperados podem colocar um anjo dentro de mim para que ele jure em meu nome. — murmurou com as feições demonstrando um pânico crescente. O maior medo de todo descendente nefilim era ser escravizado por um caído. — E então...

— Então? — incentivei no momento em que ele hesitou, imaginando se haveria algo ainda pior.

— Dimitri considera você a responsável pela morte do membro do clã. Seu caso foi votado e decidido. — continuou, virando-se para me fitar seriamente — Depois que tiverem a mim, eles vão agir para matar você.

Um arrepio estremeceu meu corpo e por um momento tão pequeno quanto um pestanejar, eu consegui sentir o fogo negro me envolvendo. E a sensação era aterradora.

— Shadow virá atrás de mim. — sussurrei em um fio de voz. E qualquer um que ficasse no caminho daquela criatura iria cair comigo, pois nem mesmo um anjo teria força suficiente para lutar contra um dragão. Senti Jimmy segurar minhas mãos, notando que elas estavam visivelmente mais frias em contato com as dele.

— Mas só vão conseguir isso se me pegarem. — começou forçando um sorriso descontraído — E adivinha só? Eu fui campeão de corrida na escola por três anos consecutivos. — ele depositou um beijo na minha bochecha, saindo dali e desaparecendo em meio às pessoas.

Desci novamente, os olhos procurando os traços conhecidos dos meus amigos por entre os rostos dos estranhos felizes. Uma tontura repentina me fazia ver tudo com maior contraste de cor, provavelmente devido à dose misturada de diversas bebidas fortes. Percebi que Balthazar estava abraçado com Sam, ambos cantando uma música de uma maneira tão grogue que parecia que estavam falando em árabe. Cheguei mais perto, ficando na ponta dos pés e logo reconheci Castiel em frente ao balcão com dezenas de pessoas a sua volta, enquanto uma moça sacudia duas garrafas de uma maneira sensual e derrubava sobre a blusa quase transparente. O sentimento de medo pelo clã estar atrás de Jimmy e também por uma possibilidade de um dragão mitológico vir atrás de mim, dizimando todos em seu caminho cedia espaço para o ciúme borbulhante em minhas veias conforme eu percebia que a garota se inclinava deliberadamente por cima do anjo com a desculpa de colocar os copos sob a superfície.

— O que temos aqui? — cheguei por trás dele, escorando as mãos no recosto da cadeira. Lançando um olhar educado para a bartender abusada, que apenas fingiu que não era com ela.

— Garth acha que consegue desafiar o Cass em uma competição de bebida. — contou Bobby enquanto o rapaz franzino se ajeitava no outro assento, esfregando as palmas.

— Você pode ser um anjo, mas eu tenho muita experiência nisso. — gabou-se piscando para Castiel.

— Valendo! — exclamou a garota, levantando um braço para cima logo que terminou de encher os dez copos com uísque, ignorando completamente a minha presença e flertando descaradamente com Castiel, o que me deu mais raiva. Os dois viraram as doses em aproximadamente um minuto sem muito esforço.

— Acho que eu estou começando a sentir alguma coisa. — constatou o anjo com uma careta. Garth, por outro lado, não conseguiu proferir uma palavra antes de sair correndo com a mão na boca.

— Meus parabéns, campeão! — anunciou a bartender, contornando o balcão para cumprimentá-lo enquanto as pessoas ao redor vibravam. De repente uma ruiva sardenta teve a ideia mirabolante de bater palmas e gritar “beijo”, logo incitando a plateia alcoolizada a fazer o mesmo. E essa foi a gota d’água, mordi a boca em descrença, meu sangue fervendo ao ponto de esquentar as extremidades do meu corpo. E antes que eu pudesse controlar, senti uma onda fraca escapulir do meu controle e ir em direção a garota, explodindo a garrafa que ela tinha em mãos e fazendo voar cacos de vidro para todos os lados. Não esperei que Bobby, Castiel ou qualquer um se virasse para mim para que eu desse as costas e saísse dali acotovelando todo mundo pela minha frente.

— Esther! — chamou o anjo logo atrás de mim. Alcancei a saída iluminada ao mesmo tempo em que as luzes decorativas piscavam freneticamente, apagando-se por completo logo após emitir um chiado.

— Me deixa! — vociferei sem me virar.

— O que houve? — questionou confuso.

— Por que você não pergunta para a bartender peituda que tem cinco garrafas de alegria e diversão esperando por você? — gritei ao encontrar a calçada, ignorando as poucas pessoas que se amontoavam em aglomerados de amigos para fumar ou conversar sem a música absurdamente alta em seus ouvidos.

— Ela só estava sendo gentil.

— Gentil? — repeti inconformada, parando de caminhar e me voltando para ele — Acho que eu vou seguir o exemplo dela e ser gentil com aquele cara — apontei para um pobre bêbado que saia cambaleando para o outro lado da rua, onde havia alguns veículos estacionados. E sem esperar qualquer resposta, eu fui até ele, tirando o sobretudo e jogando-o no chão — Boa noite, o senhor gostaria de ver peitos hoje? — questionei descaradamente, o ciúme me fazendo ser mais impulsiva do que de costume.

— Opa, gatinha... — o mesmo logo abriu um sorriso escancarado e malicioso, colocando as mãos próximas ao meu busto, logo sendo interceptado por Castiel, que tocou com os dedos em sua testa, fazendo o homem desfalecer ao chão desmaiado. Então o anjo se virou com a expressão entediada.

— Você está sendo infantil. Qual é o problema?

— Você não pode deixar que elas façam esse tipo de coisa porque você é meu... — esbravejei quase pulando de raiva, imediatamente trancando o final da frase antes que saísse. O que eu estava fazendo, afinal? Eu não podia exigir compromisso dele, não existia esse tipo de coisa com anjos. — Quer saber? Você não é nada meu.

— Esther! — chamou quando eu trilhei um caminho aleatório por uma rua vazia. As lâmpadas dos postes estourando à medida que eu passava e escurecendo mais a estrada solitária. Eu tinha plena consciência de que estava agindo dessa forma por estar descontrolada e esse desequilíbrio afetava meus poderes de maneira que eles ricocheteavam na primeira coisa que encontravam pela frente.

— Esther, você está acabando com a iluminação pública. — ralhou de maneira calma e persuasiva.

— Para de me seguir! — me virei estupefata, um carro estacionado contra a calçada sendo arrastado no asfalto em direção a Castiel, que desviou arqueando as sobrancelhas. Encarei a minha mão erguida, ouvindo o som do alarme ecoar, assustada com o meu próprio descontrole emocional.

— Vamos conversar em outro lugar. — falou andando até mim e segurando meu braço antes que eu pudesse me desvencilhar, imediatamente nos tirando dali. O ar quente encheu meus pulmões assim que meus pés guincharam em uma superfície fofa. O barulho das ondas quebrando e a luz alaranjada no horizonte me fazendo estreitar os olhos enquanto o sol dava lugar para a noite estrelada.

— Estamos no Brasil de novo? — olhei ao redor, para as dunas de areia familiares. Então me equilibrei em uma perna para tirar o salto, em seguida fazendo o mesmo com o outro. Eu tinha que parar em algum lugar e me acalmar antes de pensar em qualquer coisa.

— Para onde você vai? — questionou quando eu tracei uma direção qualquer em sentido contrário a ele, e quando viu que não obteria mais resposta alguma, continuou — Criança.

— Estúpido! — devolvi o insulto mais rápido do que pretendia, mandando para o brejo minha tentativa de fazer silêncio.

— Insuportável. — rebateu a altura, me fazendo dar um grunhido de escárnio.

— Insuportável? É isso que eu sou para você? — me virei, andando de costas para abrir os braços. E quando andei para frente novamente, o anjo se materializou ali, me segurando pelos ombros.

— E o que tem de maravilhosa, tem de ciumenta também. — acrescentou seriamente — Para mim, aquela garota estava sendo apenas gentil. Eu não entendo como funcionam os relacionamentos entre humanos, e eu estou tentando aprender se você me ensinar, mas não destruindo a cidade e estourando garrafas na cara de outras mulheres.

Fechei os olhos, escondendo o rosto entre as mãos por alguns instantes. Realmente, não havia sido uma atitude que eu me orgulhava.

— Talvez eu tenha exagerado um pouco. — inspirei fundo, o barulho das ondas enchendo meus ouvidos e me acalmando instantaneamente.

— Talvez? — Castiel arqueou uma sobrancelha — Bom, já é um começo. Ainda está brava? — perguntou inclinando a cabeça de lado, parte de mim considerando o fato de que ele já havia se dado conta de que quando fazia isso poderia conseguir qualquer coisa que quisesse de mim. Gesticulei em negação. — Eu tenho outro presente para você. — anunciou puxando o meu queixo para frente gentilmente.

— Outro pônei? — fiz uma careta, dando uma rápida olhada ao redor para me certificar de que não havia nenhum animal saído direto do mundo da Barbie ali.

— Acho que agora entendi o significado de simbolismo. — disse com uma risada constrangida.

— Tenho que fechar os olhos?

O anjo não respondeu, apenas se afastou alguns passos em direção ao mar. Então tirou a parte de cima do smoking, deixando-a cair na areia, em seguida fazendo o mesmo com a camisa e a gravata, expondo a pele sob o brilho fraco de poucos raios de sol. Encontrei seus olhos me fitando breve por cima do ombro, então suas pálpebras se fecharam e pequenas faíscas de luz prateada começaram a pairar no ar, dançando sinuosamente como um enxame de vagalumes. Os pontos se interligaram vagarosamente, moldando-se as suas costas e emitindo uma onda brilhante e morna que me fez apertar os olhos dolorosamente por alguns segundos, piscando várias vezes para adaptar a visão conforme a luz ia sumindo. Não pude deixar de abrir a boca em surpresa quando percebi o que estava diante de mim.

No lugar dos pontos agora havia um grande par de asas negras que se estendia imponente até abaixo dos joelhos.

— São suas... asas... — sussurrei sem fôlego — Cass, elas são lindas.

— Eu me sinto constrangido. — ele deu um sorriso torto, virando-se de frente para mim — Mostrá-las para alguém, nos termos humanos, seria a mesma coisa que ficar totalmente nu.

— Eu posso tocar? — pedi e o mesmo assenti uma vez. Movi a mão devagar, como se o fato de ser brusca demais pudesse fazer com que ele desaparecesse de repente, subindo os dedos pelo seu abdômen e fazendo uma trilha pelo seu peito até os ombros, onde toquei suas asas pela primeira vez. As penas negras eram tão macias e delicadas que eu inconscientemente segurei a respiração, completamente deslumbrada. Senti as mesmas farfalharem sob meus dedos, remexendo-se nervosamente, como um pássaro.

— Faz cócegas — desculpou-se Castiel com os lábios curvados para cima de maneira envergonhada. — Elas são extremamente sensíveis. É a única parte do meu corpo humano em que eu realmente sinto você, mas pelo menos isso serve para gravar o seu toque.

Alcancei seu braço esquerdo, o qual tinha a Marca do Guardião, e encostei os dedos sobre a pele e subindo até acariciar seu rosto.

— Você é meu anjo da guarda.

— Ainda falta uma coisa. — sussurrou contra os meus lábios, calando qualquer pergunta seguinte com um beijo gentil. E no mesmo instante uma sequência de imagens passaram pela minha mente.

— Deve ser realmente muito importante para você me tirar do meu quarto de madrugada e me trazer para um lugar que eu não faço ideia de onde seja, deve ser tipo o fim do mundo! — exclamei com raiva ao me encontrar no meio de uma praia estranha.

— Eu cansei de tentar fugir de você. — começou o anjo, elevando o tom grave de voz até o mesmo ecoar pelo lugar, e o modo como ele falava fez com que eu ficasse perplexa — Eu cansei de ficar me policiando todos os minutos de todos os dias para não pensar em você! Eu quero gritar porque eu não aguento mais! — Castiel abriu os braços de maneira explosiva.

— Do que você está falando? — perguntei em total confusão. Então ele se aproximou até me encarar a centímetros de distância, o vento noturno e úmido fazia meus cabelos serem jogados contra o seu rosto.

— Que eu não quero mais controlar essa vontade absurda que eu tenho de sentir você nos meus braços. — murmurou inclinando-se na minha direção, o azul poderoso do seu olhar me enfeitiçando totalmente, como uma cobra faz com a sua presa. Logo senti que suas mãos me puxavam de encontro a ele e no segundo seguinte nossos lábios se tocaram. E aquele momento foi como se um palito de fósforo incendiasse um rastro de pólvora, explodindo tudo pelo caminho. Eu apertei os braços em volta do seu pescoço como se estivesse me agarrando a um sonho do qual não queria acordar, e quanto mais perto dele eu ficava, mais perto queria estar. Quando finalmente nos afastamos em busca de ar, eu o fitava sem palavras ou fôlego para pronunciá-las.

— Eu amo você, Esther. — falou Castiel, segurando meu rosto próximo ao dele, de modo que eu sentia a sua respiração descompassada fundir-se a minha — E eu sou um covarde, louco, masoquista e tudo que você quiser por tentar ir contra isso.

— Isso está realmente acontecendo? — indaguei incrédula e com um sorriso idiota no rosto. E por algum motivo, lágrimas ainda escorriam pelas minhas bochechas, só que dessa vez eram de pura felicidade — Isso é real? Porque num minuto você diz uma coisa e no outro...

— Todas as vezes que eu disse uma verdade que não fosse essa, eu menti. — cortou o anjo — Até para mim mesmo. — acrescentou me beijando novamente, dessa vez de uma maneira tão intensa que eu pensei que pudesse me desfazer ali mesmo.

— Você é um idiota, sabia? — disse retórica assim que precisei buscar ar mais uma vez — Podia ter me dito isso antes.

— Eu sei, me desculpe. — suspirou ele, acariciando meu rosto com os polegares em movimentos suaves e circulares — Estava tentando te proteger, eu já te arrastei para o precipício uma vez e eu não quero te arrastar de novo. Que eu saiba, todas as suas outras vidas terrenas que não tiveram meu envolvimento, você viveu longos e felizes anos antes de cometer algum homicídio que fez com que...

— Shh, não fale disso agora. — pediu ficando na ponta dos pés para envolver os braços no pescoço do anjo, abraçando-o apertado. — Pode ser?

— Quero que entenda que me ter na sua vida só vai encurtá-la ainda mais. — sussurrou, fechando os olhos e deslizando a boca pela linha do meu queixo até depositar um beijo em meu ombro, gesto que me fez estremecer.

— E eu só quero que você entenda que eu iria para o precipício mil vezes, por que estar com você faz tudo isso valer a pena. Você não encurta a minha vida, dá um sentido a ela. — falei com a voz um tanto embargada — Não é a duração que a torna feliz e sim momentos como esse, Cass.

— Você é a minha paz em meio à guerra. — murmurou o anjo, afastando-se o suficiente para me encarar, fixando os olhos azuis nos meus e permanecendo assim por segundos, um contato visual que falava mais do que qualquer palavra já dita.

— Eu não posso ter certeza se ainda vou respirar amanhã, mas tenho certeza que mesmo se eu não o fizer, ainda vou amar você. Até depois disso. — sussurrei de maneira divertida e emocionada.

— Eu garanto que você ainda vai respirar amanhã de manhã.

Agora eu lembrava perfeitamente da primeira vez que havíamos vindo aqui, do nosso primeiro beijo, quando ele se declarou tão confuso para mim e em seguida retirou todas as minhas lembranças por achar ser a coisa certa a se fazer.

— Você apagou a minha memória de novo? — questionei descrente, afastando-me apenas poucos centímetros para que pudesse falar.

— Me desculpe. — Castiel fez uma careta.

— Eu devia te dar um soco, mas não tenho vontade de fazer nada além disso. — fiquei nas pontas dos pés para colocar os braços em volta do seu pescoço e puxá-lo para mim, aprofundando o beijo com intensidade, assim como havíamos feito naquela noite. Era apenas fogo, queimando a pele de uma maneira prazerosa e sem deixar vestígios.

Em seguida o anjo me lançou um sorriso travesso e antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa, senti a areia abaixo dos meus pés desaparecer e no lugar dela restar apenas o nada. Pisquei algumas vezes e então cometi o maior erro, olhar para baixo. O mar se movimentava calmamente, algumas gotas respingando nos meus calcanhares que estavam milímetros acima da água. Castiel tinha as asas abertas e os braços ao meu redor, bem no meio do oceano que agora tinha apenas um vago brilho iluminado pelo sol que já morria no horizonte.

— Isso é... Incrível. — sussurrei sem fôlego.

— Feliz Natal, Esther. — murmurou encostando a testa na minha, a voz grave e suave.

— Feliz Natal, Castiel. — devolvi com um sorriso, me afogando no azul dos olhos dele pela milésima vez em um ano.


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Notas finais do capítulo

Jimmy sendo perseguido pelos Caçadores de Sombras? Mds! Será que eles vão conseguir libertar o Shadow? Espero que não, pois a primeira que vai ser perseguida por esse dragão é a Esther.
O Dean todo atiradinho... O Dean com a Maison! Quem diria?
Sobre o Castiel nesse capítulo: Eu quero um pônei cor-de-rosa e também quero dançar no meio do oceano, Cass, me leva -q.

Espero que vocês tenham curtido essa sequência de "melação", pois no próximo capítulo a coisa já vai voltar aos eixos. Um beijão, babies!



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