Separate Ways - Requiem escrita por WofWinchester


Capítulo 36
Você não é mais uma garotinha chorona


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo bem animado e cheio das tretas malignas para quebrar um pouco essa tristeza que anda ultimamente. Ele é bem grandinho, novamente, para a felicidade de vocês. E bem, eu acho que vocês vão atentar contra a minha vida (-q) numa certa parte, não sei ainda...
E para quem estava louca para ver o Cass levar uma "lição", peguem a pipoca e deliciem-se, pois a vingança é um prato que se come frio.
Vamos a ele.



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Abri os olhos com uma voz juvenil e irritante bem perto do meu ouvido, rolei de lado exasperada e presenciei Lúcifer dançando ao pé da cama com um copo de bebida em mãos. Fitei a cena por alguns segundos, descrente quanto à audácia daquele ser em me acordar de uma maneira tão patética.

— Nem amanheceu direito, por favor, eu quero dormir! — grunhi com a voz rouca devido ao sono, voltando a me deitar e jogar o travesseiro sob a cabeça.

— É a melhor hora do dia! — gritou o mesmo, arremessando o copo vazio contra a parede acima da cabeceira, me sobressaltando com o impacto vítreo e ruidoso, fazendo alguns cacos e restos de bebida respingar nos meus braços nus — Levanta o traseiro da cama e vai ver o nascer do sol, vai.

— Vá se ferrar! — exclamei num rosnado.

— Someone kill the DJ, shoot the fucking DJ! — continuou o anjo como se estivesse no meio de uma festa. Tentei ignorar o máximo que pude, mas a voz pertinente e desafinada que cantarolava Greenday entrava pelos meus ouvidos e parecia chacoalhar minha cabeça de um jeito irritante. Bufei dando um soco no colchão e me inclinei ainda de bruços na cama.

— Tá estragando a música. — disse num tom zombeteiro que fez Lúcifer dar um sorriso arrogante na minha direção.

— Não seja por isso... — ouvi um estalar de dedos e a canção original começou a tocar num volume absurdo, me fazendo cair da cama com o susto. Ele dançava pelo quarto enquanto eu apertava as mãos contra os ouvidos, a batida ressoava dentro dos meus tímpanos como um tambor.

— Só eu estou ouvindo isso?! — gritei por cima da música, incapaz de crer que somente eu estivesse presenciando aquela bizarrice. Eu via a casa estremecer com aquele volume, era impossível que ninguém em menos de cinco quarteirões não estivesse escutando. — Só pode ser brincadeira!

De repente o som parou e eu percebi que Lúcifer estava olhando com cara de poucos amigos para a porta aberta, me voltei para a entrada do quarto e fitei Dean, que estava me observando com um olhar analítico e preocupado.

— Chegou quem não devia — bufou o anjo.

— Ei, tá tudo bem? Você tava gritando. — pronunciou-se gesticulando para mim, abaixei as mãos e olhei ao redor. Visto pelo ângulo dele, a cena era bem idiota. Eu sentada ao lado da cama tampando os ouvidos no silêncio da madrugada.

— Sim, só tive um pesadelo. — dei um sorriso constrangido. Não era exatamente uma mentira, tudo relacionado a Lúcifer, para mim, era uma espécie de pesadelo surreal.

— Certo, volte a dormir. — o loiro assentiu, virando-se para a saída e começando a puxar a porta atrás de si. O anjo deve ter visto o gesto como um grito de largada para voltar às suas gracinhas, pois esfregou as mãos de uma forma maléfica e enfática.

— Perdi o sono. — falei alto, assim o fazendo voltar-se para me encarar. — Acho que vou procurar alguma coisa de útil para fazer. — qualquer coisa, desde que eu não precisasse olhar para a cara do Diabo pelo resto do dia. Dean continuou me observando, os olhos verdes tinham uma expressão curiosa.

— Quer me ajudar? Eu vou dar uma olhada no Impala depois. — sugeriu depois de uma pausa.

— Claro, só vou tomar um banho primeiro. — balancei a cabeça em afirmação. Seria bom me distrair com alguma coisa.

Depois do que aconteceu ontem, a última coisa que eu queria era topar com a Elisabeth ou o Castiel na minha frente, não era raiva nem nada, eu só me sentia... Humilhada.

Eu havia feito tudo ao meu alcance, ninguém podia me culpar por não tentar conquistar o homem que eu amava — ou o anjo, no caso. Tudo bem que as coisas não saíram exatamente do jeito que eu queria e nem no momento mais propício, mas pelo menos eu sabia que era hora de deixar para lá. Eu guardaria aqueles sentimentos e toda aquela dor numa caixinha e enterraria no fundo do meu peito, para nunca mais abrir. Eu tinha coisas mais urgentes para me preocupar no momento, como um apocalipse em mãos e o capeta no meu pé, e por mais mortificante que fosse a situação de agora em diante, eu tinha que ser forte e assumir as escolhas que fiz.

No momento em que eu abri a boca para dizer as palavras que mudariam a minha vida, eu sabia que era um risco a se correr. Afinal, isso não era um filme e nem um livro onde Castiel e eu seríamos os protagonistas, e então eu me declararia e ele pegaria em minhas mãos e diria que sempre sentiu o mesmo. Não. Isso era a simples e trágica vida real, onde as coisas não eram perfeitas e o amor, geralmente, não é recíproco.

Percebi que Dean continuava me fitando e eu o fitava de volta sem realmente ver, imersa no meu monólogo mental. Então ele marchou até mim e me puxou pelo braço.

— Levanta desse chão. — pronunciou num tom autoritário e descontraído, me erguendo para cima com força, o que me fez desequilibrar e quase cair sobre ele. Revirei os olhos e dei um soco em seu peito, o que não deve ter feito nem cócegas, partindo do principio que ele nem se moveu com o impacto.

— Ai, seu brutamonte. — brinquei passando as mãos pela minha roupa de dormir enquanto nós ríamos da situação e Lúcifer bocejava atrás do Winchester mais velho.

Peguei um jeans com detalhes rasgados e uma regata branca, descendo até o primeiro andar para tomar um banho relaxante. Deixei a água escorrer pelo corpo durante vários minutos, minha cabeça girava e girava, sem realmente pensar em nada. Peguei-me observando atentamente a tatuagem antipossessão demoníaca sob minha mão esquerda, e querendo ou não, aquilo fazia de mim, de certo modo, uma caçadora. Salvar pessoas de destinos terríveis, caçar coisas que nunca deveriam ter pisado nessa terra. Mais que um negócio de família, era um lema a se seguir.

Sabe aquele momento em que você tem uma crise existencial e começa a refazer os passos até chegar onde está? Você sente que finalmente consegue entender o significado de muitas coisas que antes não faziam tanto sentido, sente que algo dentro de você começa a crescer, como uma força invisível que te impulsiona para cima. Talvez isso seja o que todos chamam de amadurecer, afinal.

Eu não era mais uma garotinha chorona e desprotegida. A partir de hoje eu seria uma lutadora — de uma forma mais ou menos corajosa, mas que ninguém jamais ousaria chamar de fraca.

— Onde está o resto do pessoal? — questionei saindo do banheiro e secando o cabelo com a toalha felpuda. Observei a sala completamente vazia e estiquei a cabeça para verificar dentro da cozinha, também solitária.

— Sam e Bobby foram checar um caso numa cidade vizinha — começou Dean, montando pacientemente o que seria um sanduíche de seis andares de pão, com queijo, presunto, peito de peru, bife, tomate e alface — Jimmy e Maison, eu não faço ideia de onde se enfiaram, entram e saem aqui como se fosse a casa da vovozinha. E o Cass deve tá lá em cima com a Elisabeth.

— Para variar. — sibilei pesadamente, imediatamente afastando qualquer pensamento relacionado a eles da minha cabeça. Coloquei a toalha nas costas e fui até a mesa preparar um lanche para mim, já que meu estômago havia sido despertado por aquele cheiro delicioso. Peguei duas fatias de pão e recheei com presunto, peito de peru e queijo rapidamente, terminando antes que o loiro pudesse fechar o seu e prensar com as mãos, como se isso fosse diminuir significativamente o tamanho.

— Quer conversar? — indagou virando o rosto para me olhar como quem não quer nada.

— Sobre o quê? — me fiz de desentendida, sentando na cadeira ao seu lado e abrindo o pote de azeitonas que estava ali de enfeite.

— A cena de ontem. — lembrou-me calmamente. Não pude deixar de soltar um suspiro, eu não queria tocar naquele assunto. Realmente deve ter sido bem confuso para Sam e Bobby o que se sucedeu, mas Dean já deveria ter uma ideia, sabendo ele que eu tinha sentimentos por aquele anjo tapado.

— Depois eu conto. — disse por fim, pegando um palito de dentes e fincando uma pequena azeitona verde em cima do meu sanduíche. O Winchester mais velho não disse nada, apenas voltou-se para seu lanche, dando uma mordida generosa.

— Me passa a corrente do Impala — pediu de boca cheia, gesticulando a mão para mim.

— O que é isso?

— Essa coisa que você tá sentada em cima. — esclareceu. Olhei para baixo e vi uma espécie de corrente de bicicleta envolta num plástico transparente pendendo para baixo do assento da minha cadeira.

— Ah, aqui. — estendi o objeto metálico e Dean o analisou com uma mão enquanto com a outra dava mais uma bocada no sanduíche gigantesco — Acho que eu nunca saberia consertar um carro, não sozinha.

— Não é tão difícil. — ele deu de ombros — Essa aqui vai substituir a outra que já está fazendo barulhos, pode arrebentar a qualquer momento e eu não quero a minha caranga encalhada numa estrada qualquer.

— Para que serve? — questionei, surpresa com o meu súbito interesse por peças de carro.

— A corrente é responsável pelo sincronismo entre o virabrequim e o comando de válvulas, controlando os quatro tempos do motor: Admissão, compressão, ignição e escape. Em cada cilindro na ordem certa, isto milhares de vezes por minuto. — elucidou observando a peça pacientemente, então virou o rosto para fitar a minha cara de paisagem e deu uma risada sonora — Não entendeu nada, né?

— Sinceramente? Não. — admiti envergonhada.

— Tudo que eu sei eu aprendi com o pai. — revelou o Winchester mais velho — Ele era apaixonado por esse carro.

— E você também. — observei apontando um dedo e ele pensou com um meio sorriso por um momento.

— Se esse Impala fosse uma mulher, pode apostar que eu estava casado com ela. — falou num tom divertido.

— E se fosse um homem? — perguntei casualmente, mordendo meu sanduíche.

— Que mané homem, minha baby não é homem. — bufou com um misto de irritação e pânico que me fez rir.

— Ok, não se exalte Winchester. — disse com sarcasmo e ele fez uma careta de deboche. Fui até a cozinha e peguei um copo de refrigerante, quando voltei, Dean estava analisando a corrente mais perto do rosto.

— Essa não... — murmurou com descontentamento.

— Que foi?

— Ela tem uma falha de fábrica bem no meio, no momento que eu colocar ela vai arrebentar. — explicou com uma expressão contrariada.

— Não dá para tipo... Emendar depois? — arrisquei e ele me encarou sério.

— É lógico que não, não se emenda coisas que se usam em carros. — ralhou como se fosse a verdade mais clara do universo e eu arqueei as sobrancelhas — Eu não entendo, era novinha. Vou ter que comprar outra. E você vem junto.

Terminei meu lanche a caminho do Impala, e assim que ligou o motor, Dean pressionou o dedo no botão do rádio, escancarando o volume como sempre fazia.

Nós fomos a quatro lojas nas redondezas e em nenhuma delas tinha a maldita peça, que estava fora do estoque. Então o jeito foi procurar em outra cidade, e depois de uma hora de viagem, achamos a tal corrente em Mitchell, um lugar bem pacato e com pizzarias praticamente em todas as esquinas.

Esperei do lado de fora, enquanto o Winchester ficou mais vinte minutos conversando com o homem negro e robusto com uniforme da loja. O sol estava alto e quente no céu, olhei o visor do celular e nele marcava dez horas da manhã. Apertei os olhos contra a luminosidade, sentindo o vento abafado e incomum em pleno meio do outono.

Percebi uma mulher alta e loira caminhar sofregamente, apoiando o corpo contra a parede do lado de fora de uma lanchonete chamada Burguers, logo ao lado da loja de peças automotivas. A primeira vista achei que ela estivesse apenas cansada de uma corrida ou algo do tipo, mas a mesma usava um uniforme de cor laranja com avental e respirava fundo de olhos fechados. Seu rosto branco tinha um ar mais debilitado ainda contra o sol. Pensei em me aproximar para perguntar se ela precisava de ajuda, mas parei no meio do primeiro passo quando ela ajeitou os cabelos para trás e eu vislumbrei uma marca estranha em seu pescoço, algo que me lembrou os filmes antigos de vampiros.

— Espero que essa seja boa, pelo menos o vendedor garantiu que era. — ouvi a voz de Dean aproximar-se pelas minhas costas, junto com ela um crepitar de plástico sendo balançado no ar.

— Você viu aquela garota ali? — indaguei, acompanhando a mesma com o olhar enquanto entrava novamente na lanchonete.

— Se ela for gostosa é bem provável que eu tenha visto. — comentou o loiro displicente, sem tirar os olhos da peça.

— Dean! É sério. — ralhei tirando o pacote das suas mãos e ele revirou os olhos.

— O que tem ela? — perguntou, finalmente mostrando interesse.

— Eu não sei direito, mas ela parecia estranha. — fiz uma careta, franzindo a testa em confusão. — Vem, eu quero ir ao banheiro — puxei o loiro pelo braço, andando em direção ao Burguers. Um pretexto para xeretar lá dentro.

— Estamos numa cidade que não conhecemos, todos parecem estranhos. — o Winchester mais velho deu de ombros enquanto aceitava ser praticamente arrastado.

— Não é isso, ela estava meio... — comecei enquanto entrávamos no ambiente, controlando meu tom de voz para não alardear meio mundo sobre o que estávamos falando — Não sei explicar. E quando ela levantou o cabelo eu juro que vi uma marca de mordida perto do pescoço.

— Tá insinuando o que eu acho que você tá insinuando? — ele arqueou uma sobrancelha e logo se mostrou mais arisco, dando um sorriso nervoso — Não tem caso aqui.

Mal terminou de falar e a garota, que estava passando por nós no exato instante, caiu ao seu lado com bandeja e tudo, sendo amparada por ele num reflexo rápido.

— Você está bem? — indagou ajoelhando-se para colocá-la sentada.

— Acho que é só a pressão que baixou. — desculpou-se rapidamente, tentando soltar-se para limpar a bagunça. Observei-a atentamente, correndo os olhos do crachá escrito Jane para seu rosto. E de perto a sua palidez parecia ainda mais assustadora, os lábios brancos e rachados. Como o gerente desse lugar deixava essa mulher trabalhar nesse estado?

— Só um pouquinho, moça, eu sou médico. — o loiro a segurou, deslizando os dedos para o pulso dela, de modo que pudesse sentir seus batimentos cardíacos — Está sentindo o quê?

— Tontura, mal estar. — revelou Jane, balançando a cabeça vagarosamente para os lados, como se estivesse cansada demais até para falar — É só a pressão.

— Desde quando se sente assim? — perguntei, fazendo-a me fitar por um instante.

— Desde a semana passada.

— E ainda não procurou um hospital? — duvidei com descrença. Não que eu fosse fã número um de hospitais, mas quando os sintomas persistem por tanto tempo, é necessário procurar um.

— Eu não tive tempo. — deu de ombros, tentando desvencilhar-se novamente e dessa vez o Winchester a ajudou a levantar, mas não antes dela passar a mão pelos cabelos despretensiosamente e revelar a marca em seu pescoço. Dois pares de furos bem dispostos e vermelhos.

Dean e eu nos entreolhamos com uma expressão que indicava somente uma coisa.

— Qual o último lugar que você frequentou? — perguntou ele, recebendo um olhar de dúvida e logo acrescentou — É só uma pergunta de rotina, talvez seja alguma epidemia.

— Um bar perto do shopping, chamado Três. — Jane respondeu relutante, limpando as mãos no avental e pegando a bandeja do chão. — Eu preciso voltar ao trabalho. — disparou rapidamente, caminhando para trás do balcão e entrando numa porta que deveria ser a cozinha.

— E então? — indaguei ansiosa, me voltando para o loiro, que suspirou passando as mãos pelo rosto.

— Nós temos um caso aqui. — revelou contragosto.

Nós esperamos anoitecer enquanto íamos a diversos locais próximos ao tal bar para interrogar pessoas sob uma possível anemia nas redondezas e Dean aproveitava para se deleitar em cheesburguers de bacon e tortas pelo caminho. Acabamos descobrindo que mais cinco garotas estavam internadas no hospital com esses mesmos sintomas, e outras duas haviam morrido semana passada. Nem os pais e nem policiais sabiam explicar a estranha epidemia de falta de glóbulos vermelhos, o carmesim do sangue.

Assim que o sol se escondeu no horizonte, nós pegamos uma artilharia pesada no porta-malas do Impala e partimos para a ação. Armas, uma seringa com sangue de homem morto, um facão que Dean escondeu muito bem nas costas e um vidro e sal grosso, só por precaução caso apareça algum amiguinho de olhos pretos. Hoje nós íamos caçar vampiros.

— Só para constar, eu não estou nada à vontade com isso. — murmurou tamborilando os dedos sob a superfície vítrea da mesa.

O bar estava relativamente lotado, públicos de idades entre dezesseis e trinta e cinco anos eram a maioria ali presente. O espaço era um tanto pequeno, com algumas mesas espalhadas, o balcão com cadeiras altas, um palco com grandes caixas de som e um corredor para os banheiros. A iluminação era basicamente uma luz azul fluorescente que deixava as roupas claras mais evidentes que sinais de neon.

— Você não devia estar caçando vampiros, nem eu. — ralhou baixinho, percebendo que eu estava mais interessada em me familiarizar com o ambiente.

— Claro, como se você fosse ignorar um caso, Dean. — revirei os olhos, lançando-lhe um olhar furtivo no escuro.

— Eu não ia ignorar, mas você deveria. — apontou um dedo, percorrendo o ambiente como eu fazia. Percebi duas garçonetes, uma ruiva e outra morena de cabelos curtos e desfiados, ambas com shorts curtíssimos e camisetas brancas idênticas. Elas desfilavam por entre as mesas e as pessoas, que agora começavam a se dirigir para a pista de dança atrás de nós.

— Cale a boca. — chiei, recebendo uma expressão incrédula.

— Cale a boca você. — revidou o loiro no mesmo tom que eu.

— Cale a boca você — devolvi mais alto.

— Você. — continuou ele, como uma criança do fundamental. Instantaneamente prendi a minha atenção num homem que entrara pela porta. Ele era absurdamente grande, quase um armário, e usava um casaco negro de veludo e anéis com pedras reluzentes nos dedos.

— Você. — repeti pertinente, mudando de assunto antes que ele pudesse me rebater novamente — Olha lá, aquele cara parece suspeito.

— Só porque ele é grande e usa uma roupa tipo Drácula? — questionou o Winchester mais velho, me olhando com uma sobrancelha arqueada. Analisei melhor o homem e ele não estava fazendo tecnicamente nada de errado, por enquanto, mas algo formigava as minhas mãos quando eu olhava para o mesmo. Se bem que para um vampiro, ele estava óbvio demais. Segui seus movimentos com os olhos até que o mesmo sentou-se numa das cadeiras altas e se aproximou sorrateiramente do bar-men que servia as bebidas.

— E porque ele tá cochichando com o garçom. — murmurei dando um cutucão no braço de Dean.

— Talvez estejam marcando um encontro. — brincou com um sorriso zombeteiro.

— Espera aqui. — ordenei, levantando imediatamente e ajeitando minha jaqueta de couro que escondia perfeitamente a pistola nas minhas costas. Comecei a caminhar até o balcão, desviando de alguns adolescentes que seguiam até a pista de dança alegremente.

— Como assim esp... Esther! — começou Dean exasperado, e ao longe eu o ouvi acrescentar baixinho — Merda!

A música começou a tocar, finalmente, dando início a festa. Empoleirei-me no alto de uma das cadeiras altas, estrategicamente perto do estranho homem que lembrava o Drácula, e fiz sinal para o garçom me trazer uma bebida. Talvez não fosse a tática mais inteligente, porém assim eu poderia saber se ele era ou não uma ameaça sem ter que ficar vigiando a noite toda.

Peguei o copo com o garçom e logo tratei de manter a mão com a tatuagem longe das vistas do possível vampiro, se caso ele reconhecesse aquele símbolo, iria tudo por água abaixo. Tomei um gole de vodka com energético, me virando o mais sorridente possível.

— Olá — cumprimentei alto o suficiente para ele ouvir, apesar da música. O homem pousou os olhos em mim por alguns segundos, me analisando da cabeça aos pés com os lábios num quase sorriso. Os cabelos negros e brilhantes formavam um topete alto e elegante.

— Desculpe-me, fiquei encantado com a sua beleza que até perdi as palavras por um momento — falou depois de uma longa pausa, segurando delicadamente minha mão com a luva branca e sedosa e a beijando — Sou Lucius.

— Ah... — parei com a boca aberta, sem realmente saber o que dizer. A educação galante dele era digna dos mais belos romances vampirescos, isso eu não podia negar — Eu me chamo Esther.

— É uma honra conhecer tamanha formosura — disse inclinando-se até o meu ouvido para sussurrar as palavras. Senti meu rosto ruborizar violentamente, ninguém nunca havia me tratado daquela forma, pelo menos não que eu me lembrasse. Levei o copo até a boca, engolindo mais da metade da bebida para amenizar meu constrangimento, senti até uma onda de calor percorrer o meu corpo de repente.

— Você é bem peculiar — comentei apontando sugestivamente para o casaco longo de veludo que o mesmo usava. Lucius deu um sorriso tímido.

— Eu sou ator — revelou calmamente, alisando minha mão gentilmente com o polegar por baixo da luva. Senti — Não tive tempo de trocar de roupa quando me chamaram para vir aqui.

— Quem chamou você aqui? — questionei tentando conter meu alarde. Senti outra onda de calor, dessa vez veio acompanhada de uma forte tontura que fez o bar inteiro rodar. Lucius era uma distração, quem quer que fosse por trás da morte dessas garotas, sabia que teria caçadores aqui hoje e bolou uma armadilha. E eu caí direitinho.

— Você está bem? — questionou preocupado, então eu percebi que ele estava me segurando pela cintura e que eu estava de pé. Minha mente estava paralisada, tudo acontecia em câmera lenta. As luzes piscando, a música barulhenta e infernal. Tentei procurar por Dean, que parecia ter sido engolido pela escuridão, eu não o vi em lugar nenhum.

Senti dois pares de mãos pequenas me guiarem enquanto eu estava alucinada demais para prestar atenção aonde ia. De longe ouvi a voz de Lucius gritar algo como “Me dá seu telefone!”, mas não posso afirmar com plena convicção. Depois de andar quase que carregada, ouvi o rangido de uma porta abrir e fechar, abafando bastante o som da música. Senti meu corpo ser largado contra o chão de maneira rude e quando consegui me virar para ver quem estava ali, dei de cara com um rosto feminino. De imediato reconheci uma das garçonetes, a morena de cabelos curtos e desfiados, agachada logo a minha frente e atrás dela estava a ruiva.

— Achou mesmo que uma caçadora iria enganar a gente? — latiu a mais afastada. Inclinei-me para o lado, numa tentativa de levantar e correr, mas cai pateticamente no chão.

— Fica calminha, o loirinho bonito que estava com você já está com nossos amigos e logo você vai se juntar a ele. — garantiu a morena, me puxando pelos pulsos para que eu me sentasse novamente — No mundo dos mortos, é claro.

— Não nos leve a mal, querida. Nós bem que gostaríamos de te deixar naquele estado de hipnose, igual fizemos com as outras garotas, porém não queremos caçadores enfiados por aqui. — acrescentou a ruiva, passando os dedos gelados para afastar os cabelos do meu pescoço e inclinando-se na direção dele — Dá azar. — sussurrou por fim, então eu vi duas presas brotarem no seu maxilar superior e seus olhos ficarem da mesma cor do cabelo, um vermelho escuro. Movida pelo instinto de sobrevivência, eu consegui soltar uma das mãos para dar um soco no rosto da vampira, que caiu para o lado atordoada.

— Você vai pagar por isso! — falou exasperada, pulando em cima de mim para me imobilizar. Tentei me debater, porém era inútil tamanha a força que ela empregava nos meus membros. Senti a pele do meu braço se rasgar num determinado ponto, causando uma dor lancinante e em seguida se repetiu no outro, mais para perto do ombro. Percebi que as duas vampiras estavam com as bocas famintas sugando meu sangue avidamente.

Dei um grito de raiva com a incapacidade de sair daquela posição e notei que a luz acima de nossas cabeças piscou rapidamente. Antes que eu pudesse em qualquer outra coisa, a porta se abriu e as duas garçonetes deram um pulo para trás, parando dois metros longe de mim, perto de um vaso sanitário. Foi só aí que eu percebi que estava em um banheiro.

Rapidamente Dean entrou no meu campo de visão com um facão em mãos. Uma das garotas, a ruiva, avançou na direção dele e imediatamente teve sua cabeça arrancada com um movimento rápido e preciso da arma. Já a morena tentou correr para a porta, mas o caçador a puxou pelo braço de encontro à parede, prensando-a com o próprio corpo e colocando a lâmina em seu pescoço, afundando o objeto com ímpeto.

Observei com um misto de receio e alívio o Winchester limpar o facão numa toalha e guardá-lo novamente, enquanto grandes poças cor de carmesim enlameavam o piso espelhado juntamente com duas cabeças com expressões apavoradas.

— Pode me agradecer depois, vem. — falou o Winchester mais velho, me erguendo e segurando contra ele. A tontura forte havia passado, talvez pelo fato das vampiras terem sugado uma parte do meu sangue, e com ele o que quer que tenham me dado para me dopar — Consegue caminhar?

— Ai meu Deus, eu vou virar um Crepúsculo! — exclamei de repente, me dando conta do fato assustador e passando a mão pelas mordidas no braço.

— Relaxa, você só se transforma se beber o sangue deles. — confortou tranquilamente, me lançando um olhar alarmado em seguida — Você não bebeu o sangue deles, não é?

— Não! — falei rapidamente, dando um suspiro de alívio em seguida — Ao que parece elas estavam dopando as garotas para se alimentar delas depois sem que percebessem. Uma das nojentas falou algo sobre hipnose também.

— Sanguessugas espertinhos. — murmurou Dean com desgosto — Eles estão evoluindo, talvez seja uma raça nova. Agora eles conseguem hipnotizar as pessoas. Mas eu já limpei todos os amiguinhos com presas pontudas, acho que podemos ir antes que alguém veja aquele mar de sangue no banheiro ou no porão. — finalizou enquanto me guiava para a porta dos fundos, saindo numa ruela escura e repleta de lixo onde o Impala estava camuflado nos esperando.

O caçador me colocou sentada no banco do carona, tirando o facão e colocando abaixo do banco, sob meus pés. Com os sentidos ainda bagunçados, eu o vi cair para trás de repente e ser arremessado contra o chão, deslizando até a parede com violência.

— Dean! — gritei e logo reconheci o bar-men que me serviu a bebida no balcão, a ficha caindo completamente. As garçonetes estavam longe o tempo todo, apenas ele e Lucius estavam por perto. Sem contar que eu escondi a tatuagem perfeitamente, mas da pessoa errada, ele me via de frente e podia claramente ver o símbolo na minha mão esquerda estendida de lado sob o balcão. Como eu não pensei nisso antes?

— Hoje teremos caçador para o jantar! — exclamou com divertimento, segurando o loiro pelo ombro e imediatamente prensando no capô do Impala. Vislumbrei seus olhos se tornarem vermelhos e sua boca se abrir, mostrando as presas ameaçadoras.

— Foge! — ordenou Dean, virando o rosto para me encarar através do vidro enquanto tentava afastar o garçom de seu objetivo principal: Seu pescoço.

Eu estava assustada, mas em nenhum momento a possibilidade de fugir havia me passado pela cabeça. Ainda atordoada eu peguei o facão aos meus pés e tentei sair de dentro do carro, mas o vampiro liberou uma das mãos para bater a porta contra mim e me jogar novamente para dentro. Com o impacto o vidro da janela se espatifou sob as minhas costas e o porta-luvas se abrira, deixando cair várias fitas, algumas ferramentas e uma possível arma, até então, impensada.

Segurei o pacote, retirando a corrente de dentro rapidamente e me inclinando para fora da janela. O vampiro estava tão concentrado em vencer o cabo de guerra com Dean que nem me percebeu fazer isso, e me aproveitando da distração do mesmo, eu o enlacei com a peça, pulando por trás e jogando todo meu peso contra o chão, derrubando-o por cima de mim.

Ele se retorcia, tentando livrar-se da corrente firmemente presa ao redor do seu pescoço pelas minhas mãos, chegando ao desespero de bater com as próprias costas contra mim, o que era esmagador e doloroso. Vi o caçador inclinar-se sob mim com o facão em mãos, e imediatamente eu soltei a peça e virei o rosto para o lado, me encolhendo no chão o máximo possível. Ouvi um som da lâmina cortando o ar e depois um obstáculo, senti respingos espessos caírem como chuva no meu rosto e sob minhas roupas, e em seguida o corpo do vampiro caiu por terra, decapitado.

Dean encarava o vampiro, seu peito subindo e descendo rapidamente.

— Minha corrente, droga. — murmurou pegando o objeto que jazia no chão ensanguentado. Largando-a e limpando os dedos melecados na camiseta, varrendo os olhos verdes na minha direção e estendendo a mão para me ajudar a levantar.

— Me agradeça depois. — pisquei triunfante, me apoiando nele que deu um sorriso que parecia... Orgulhoso?

— Vamos embora. — sentenciou ajeitando uma mecha do meu cabelo ao seu devido lugar e indicando o Impala atrás de nós.

Deixamos a cidade de Mitchell aproximadamente às dez horas da noite, nos aventurando pelos atalhos desertos que nos levariam à Sioux Falls mais rápido. Ambos os celulares pareciam ter feito um acordo de entrar em greve e decidiram esvaziar suas baterias, o que nos deixava incomunicáveis. Provavelmente Sam já devia estar louco atrás do irmão e Castiel procurando em cada canto escuro, pensando que eu estava prestes a morrer e levar o traseiro dele comigo.

Nós estávamos numa rua de terra alta, com algumas árvores sacudindo suas meias dúzias de folhas secas com o vento da noite, quando o Impala começou a fazer barulhos mais altos e por fim um som metálico e seco, o motor desligando completamente. Dean encarou o painel por um momento, estarrecido.

— Ótimo, a baby surtou! — anunciou batendo as mãos na direção — Se você não tivesse usado a corrente para segurar o bicho feio isso não estaria acontecendo.

— Da próxima vez deixo ele te fazer de papinha então. — fiz uma careta, me virando para a janela estilhaçada ao meu lado e observando as formas escuras da noite. Mais ao longe tinha uma cerca de arame alta com uma placa ilegível, mas de qualquer modo parecia não ter nada além de campo depois dela.

— Parece que vamos ter que dormir aqui. — suspirou o Winchester, a paisagem um tanto soturna através do vidro.

— Que legal, dormir no meio do mato. — revirei os olhos num tom sarcástico, pegando a meia garrafa de uísque que estava no banco traseiro e vendo Dean me lançar um olhar desaprovador.

— Ei, isso é meu! — falou tentando pegar de mim, mas eu desviei para mais longe — E você é uma criança, eu não devia estar compactuando com isso.

— E você não devia beber dirigindo — revidei abrindo o uísque e tomando um gole que desceu queimando pela garganta.

— Eu não bebo dirigindo — corrigiu ele imediatamente, fazendo uma pausa com uma careta confusa — E tecnicamente eu também não deveria caçar monstros, fraudar cartões e me passar por agente do FBI, então que se dane o moralmente correto. — terminou com um tom de motejo, me fazendo rir.

Ficamos alguns minutos em silêncio, apenas o som das árvores e nossas respirações dentro do Impala. Eu sabia que se puxasse muito assunto, uma determinada pergunta viria à tona, e eu queria evitá-la a todo custo.

— Bom, agora a gente tem uma longa noite pela frente, que tal me contar o que aconteceu ontem? — disparou o loiro calmamente. E lá veio a maldita pergunta. Tomei mais um gole de uísque, torcendo o nariz com o gosto que agora não parecia tão ruim quanto antes.

— Eu fiz papel de otária. Isso resume tudo. — sibilei olhando para o nada através da janela.

— Explique — pediu o Winchester, puxando a garrafa das minhas mãos e recostando-se no banco para tomar uma boa quantidade. Suspirei pausadamente. Talvez fosse melhor contar tudo de uma vez, assim poderia enterrar aquele assunto logo.

— Eu disse que o amava — declarei.

— E ele?

— Disse que sentia muito. — apertei os olhos numa careta sarcástica, não conseguindo esconder a acidez no meu tom. Dean ficou em silêncio por um longo momento, inspirando profundamente antes de abrir a boca.

— Eu sinto...

— Não diga que sente muito! — cortei imediatamente, um tanto quanto ríspida, pegando a garrafa de volta para acalmar a minha raiva crescente.

— Sabe o que eu acho? — Dean começou retórico, me puxando para encará-lo — O Castiel não sabe o que sente. Faz bastante sentido, anjos não são acostumados a ter sentimentos.

— Mas ele sabe bem o que sente pela... Elisabeth — observei, enfatizando o nome dela com ironia.

— Talvez não saiba — falou o Winchester, segurando as minhas mãos entre as dele — Talvez sinta remorso por tudo que aconteceu, compaixão, pena, arrependimento. Nós vimos, graças à televisão gateada do mundo das mágicas de Balthazar, e não foi nada legal.

— Não importa, Dean — disse com um suspiro — Eu decidi superar isso, ok? Além do mais, ele é tudo que ela tem agora.

Meu tom amargurado tornou-se um pouco mais limpo no final. Uma parte de mim, a que sempre me coloca em muitas enrascadas, dizia que não era certo competir o amor com uma mulher de barro. Eu me coloquei no lugar de Elisabeth por alguns instantes, acordando daqui a um século com pessoas estranhas, num mundo estranho, uma garota idêntica a mim me odiando e tentando me tirar a minha única razão para continuar respirando. Quem garante que isso não vá acontecer comigo algum dia?

Eu não confiava nela, de jeito nenhum. Mas naquela parte, naquela minúscula parte que se engrandecia tanto dentro de nós, éramos iguais. Ambas amávamos o mesmo homem, tanto que morreríamos por ele. Isso era irrefutável.

— Nada me tira da cabeça que ele está equivocado — reiterou Dean, depois de um momento. Então percebi que em algum instante da conversa nós acabamos ficando de frente um para o outro.

— E por que infernos ele estaria?

— Você e Elisabeth podem ser iguais por fora, confundíveis até, mas cada um tem sua essência — começou colocando a minha mão com a tatuagem por cima da outra e fitando-a por um longo segundo antes de levantar os olhos verdes para mim — E você é incrível. — murmurou fixamente, e o modo como ele falava demonstrava que estava sendo plenamente sincero no que dizia.

Fiquei entorpecida por alguns segundos, não sei se pela bebida, se por ainda estar com a substância que me dopou no sangue ou por ter o tal caçador tão perto. Eu apenas fiquei imóvel e isso deve ter soado como um sinal verde para ele se inclinar na minha direção e encostar os lábios delicadamente nos meus.

— Você me beijou? — questionei incrédula, recuando alguns centímetros para fitá-lo com os olhos arregalados.

— Não, eu não faria isso... — sussurrou com uma careta — Impressão sua. — finalizou repetindo o gesto, dessa vez um rápido selinho roubado.

— Não, você me beijou e agora me beijou de novo! — exclamei afastando-o com uma mão em seu peito. Lancei-lhe um olhar de reprovação que não pareceu intimidá-lo nenhum pouco, pois o caçador deu um sorriso de lado — Dean!

— Que foi? — perguntou diminuindo novamente a distância entre nós.

— Para. — pedi seriamente, piscando algumas vezes, ainda estupefata com aquela situação.

— Você disse que quer esquecer. Quer uma maneira melhor que isso? — ponderou o Winchester.

— Mesmo assim! — exclamei — A gente é tipo irmão, tipo... Eca. — finalizei franzindo a testa para enfatizar.

— Eca? — repetiu descrente, olhando pelo vidro por um momento com um sorriso sem graça — Nossa, isso foi quase um chute no meio das pernas... — então se voltou para mim de novo — Vamos fazer assim: Apenas tente.

— Mas... — comecei, não sabendo exatamente como explicar que aquilo não me parecia nenhum pouco certo.

— Me diz que você já pegou um cara. — disse com uma expressão surpresa e divertida ao mesmo tempo.

— É claro que eu já peguei um cara! — exasperei, fazendo as contas mentais e tirando os dois melhores beijos da minha vida com Castiel, sobrava... — Já beijei um no baile da escola. — admiti, fazendo o loiro dar uma risada descrente.

— Você é virgem. — deduziu com um sorriso presunçoso na cara, algo que me deixou extremamente irritada e com a cara vermelha de vergonha. Não sei se por ele achar que eu não era ou por acertar que eu era.

— Cale a boca, eu vou embora a pé! — exclamei me virando e já colocando os pés para fora.

— Não! Volta aqui. — Dean me segurou pelo braço, fazendo com que eu voltasse para a posição que estava antes e batendo a porta que eu havia aberto — Onde a gente tava mesmo?

— Na parte que você tava tentando me agarrar? — indaguei com sarcasmo.

— Ah, é verdade. — lembrou-se, colocando a mão sob meus joelhos e se inclinando novamente para me beijar.

— Dean! — ralhei incrédula com a ousadia dele. Será que era algum surto de testosterona que esse desgraçado pegou no caminho?

— Olha para mim e me diz que você não sente nem um pouco de atração física e eu paro. — desafiou sem se afastar. Tentei virar o rosto, mas o caçador deslizou a mão para puxar meu queixo de volta, assim podendo fixar os olhos nos meus.

— Não sinto. — falei sinceramente. Na verdade se eu não parasse para olhar muito tempo, isso era verdade. Ele fez uma careta e então puxou a camiseta, jogando-a no banco de trás. Abri a boca, embasbacada com a situação. Eu não podia negar que ele era, de fato, um cara atraente. Porém eu tinha meus limites e amava outro, então me sentia completamente errada só de me encontrar ali.

Observei-o por alguns segundos, a pele bronzeada e os músculos perfeitamente delineados em contraste com os olhos verdes e os lábios formando um sorriso sacana no rosto. Segurei a respiração, começando a sentir que faltava ar suficiente dentro daquele carro, que a propósito, eu precisava sair imediatamente.

— Que golpe baixo do inferno, eu vou embora! — anunciei escapulindo pela porta, mas logo senti uma mão quente me puxar parar dentro novamente.

— Ok! Você venceu. Parei! — exclamou levantando os braços em forma de rendição. Fitei o caçador ajeitar-se no banco do motorista, recostando-se e olhando para o teto por um longo tempo — Eu me sentia exatamente assim depois de deixar a Lisa, eu não conseguia nem chegar perto de garota nenhuma. Eu me sentia errado.

— Mas pelo menos você superou. — girei os dedos, gesticulando para a situação que se antecedeu com certo sarcasmo. Eu não estava brava nem nada, sempre soube da fama que Dean possuía e já estava até estranhando que ele nunca tivesse dado em cima de mim para valer. Só não achava que ia ser uma maratona dessas.

— Mais ou menos. — sibilou franzindo a testa — Eu preciso te dizer uma coisa. Não me leve a mal, não é como se eu estivesse perdidamente apaixonado por você e nem nada, não é isso. Mas... Se existir uma garota que me fizesse sentir tudo aquilo que eu sinto pela Lisa, ou mais, essa garota teria que ser você. — disse tudo calmamente, terminando e virando o rosto de lado para me encarar.

— Que droga, Dean. — foi a única coisa que eu consegui expressar em palavras. Com certeza o fato de ele ter deixado claro que não estava apaixonado me fazia sentir melhor, mas aquelas palavras me deixaram tão atordoada quanto se tivesse levado uma pancada na cabeça.

— Que droga, Dean? — repetiu com um sorriso divertido, se fazendo de ofendido — Eu me esforço para falar uma coisa legal e você só diz isso?

— É complicado. — suspirei com uma risada fraca. Naquele momento eu soube o quão presa eu estava a um sentimento não correspondido. Eu nunca fui de aprovar romances levianos, achava que isso era uma perda de tempo. Mas era exatamente isso que eu teria pelo resto da minha vida, porque nenhum cara, humano ou não, seria capaz de preencher aquele espaço ocupado a força no meu coração. Eu poderia beijar quantos caras quisesse, era fato, mas nenhum substituiria e isso era tão injusto que me deixava melancólica. — Querendo ou não eu amo o Castiel, mas se eu não tivesse o conhecido, com certeza você seria aquele que me faria sentir tudo aquilo que eu sinto por ele.

— Às vezes as coisas simplesmente não são para ser, isso é um fato. — murmurou o caçador — Eu não quero que você se sinta mal com isso, eu não estou apaixonado. Você é uma irmãzinha para mim — ele sorriu dando uma piscada maliciosa — Uma irmãzinha gostosa, diga-se de passagem.

— Dá para parar de tentar transar comigo? — rolei os olhos e nós começamos a rir.

— Desculpe, mania de homem. — justificou-se tamborilando os dedos pela direção do Impala. Senti meu estômago se retorcer de repente e a bebida queimar as paredes do meu esôfago, me fazendo levar a mão até a boca. — Você tá bem?

— Sim, só um enjoo por causa do uísque. — tranquilizei com uma careta.

— Não vomite no meu carro, pelo amor de Deus, eu lavei hoje de manhã.

— Vou vomitar em você, se não calar a boca. — chiei passando a mão pela testa e colocando os cabelos para trás. Dean deu uma risada e se enfiou para o banco de trás, deitando e gesticulando para que eu fizesse o mesmo. — Tá brincando, né? — perguntei com uma sobrancelha arqueada.

— Eu não vou fazer nada, promessa de escoteiro — garantiu levantando as palmas das mãos. Encarei a cena por um tempo, ponderando se iria ou não. Não fazia sentido ficar acordada a noite toda, e pior do que já aconteceu, não aconteceria (tinha uma coisa pior, mas Dean não é do tipo que força a barra, não aos extremos, pelo menos).

Escorreguei para o banco de trás, me ajeitando no espaço disponível e recostando a cabeça sob seu braço. Coloquei o meu por cima do corpo, para que não caísse para os lados, e furtivamente acabei deixando minha mão repousar próxima ao meu rosto. Encarei nossas tatuagens, ambas idênticas e tão próximas, por um longo período, deixando minha mente vagar para longe.

— Você realmente acha que se não tivesse conhecido o Cass, nós poderíamos... — começou percebendo o que eu estava olhando.

— Talvez em outra vida, Dean. — interrompi-o, mas não como um corte e sim como a mais pura verdade. Precisaria de uma existência, ou até mais, para que eu pudesse esquecer Castiel. E mesmo assim eu não tinha plena convicção disso.

— Tem razão, talvez em outra vida. — concordou o caçador deslizando a mão para bagunçar o meu cabelo e eu dei um soco em seu peito em forma de um protesto sorridente.

Logo após isso nós acabamos dormindo, estávamos exaustos por estar na rua desde cedo e por ter participado de uma festinha vip com os vampiros.

Eu estava em algum lugar da inconsciência quando meu corpo começou a sentir calafrios seguidos por ondas de um tênue choque magnético. Então a escuridão começou a tomar forma e eu estava novamente em Sioux Falls, mais especificamente no quarto de Sam. E no meu sonho, ao invés do Winchester caçula, quem estava lá dentro era Raphael, andando pacientemente de um lado para o outro na penumbra do cômodo. Ele me encarava e falava coisas breves, raramente demonstrando alguma expressão ou gesticulando. Não havia vozes, era como um filme mudo. Por fim o arcanjo abriu um largo e cruel sorriso, lançando a mão em direção ao meu rosto, meu corpo estremeceu e foi como se outro choque tivesse me atingido, dessa vez uma dor mais lancinante.

Abri os olhos e logo me coloquei sentada no banco. Dean estava sentado no capô do Impala e já havia amanhecido. Coloquei a mão em frente ao peito, respirando fundo. Eu nunca havia sonhado com Raphael, o que diabos foi aquilo? Uma sensação angustiante parecia me corroer por dentro, como se algo estivesse prestes a acontecer.

Enfiei-me por entre os bancos, queria dizer para o Winchester que nós precisávamos voltar imediatamente, nem que fosse a pé.

— Dean... — chamei abrindo a porta para sair, o mesmo tirou a garrafa de cerveja da boca e estava prestes a dizer algo quando seus olhos verdes se expandiram na luminosidade da manhã, ficando tão intensos quanto duas esmeraldas. Senti meus pés crepitarem na grama e logo captei um barulho parecido como o de um chocalho.

— Não se mexa. — ordenou o loiro pausadamente e eu imediatamente fiquei imóvel, mas para meu azar, consegui fitar algo se mexendo veloz rente ao mato em direção as minhas pernas. Observei por um milésimo de segundo quando a minha mente deu o sinal vermelho, trazendo pavor à tona.

— Uma cobra! — gritei dando um pulo para cima e me agarrando a lateral do veículo enquanto o animal rastejava até mim, prestes a dar o bote.

Ouvi latidos e rosnados, e antes que eu pudesse focar de onde vinham, dois cachorros saltaram do matagal e vieram correndo como um raio, um deles pulando em mim e me derrubando ao lado do pneu traseiro do Impala. Protegi o rosto, sentindo a boca do animal no meu abdômen puxar o tecido da minha camiseta com feracidade.

— Esther! — ouvi a voz desesperada do Winchester e em seguida um tiro. Senti que os cachorros haviam recuado e que o loiro estava me levantando do chão. Pisquei algumas vezes e logo um carro de polícia veio seguindo devagar uma mulher de cabelos curtos e vestes de policial.

— Dean? — exclamou ela, ainda de longe, colocando a mão em frente aos olhos para ver contra a luz.

— Xerife Mills? — indagou ao meu lado enquanto a mesma se aproximava com um semblante autoritário, a estrela no peito reluzindo sua patente.

— Não tinha um lugar melhor para levar a namorada? — falou seriamente, me encarando da cabeça aos pés.

— A gente não é... — começamos em uníssono, fazendo-a dar uma risada. Então a Xerife moveu a mão e os cães que estavam acuados vieram se prostrar perto dela, um de cada lado. Dois pastores alemães.

— Desculpem os meus cachorros, eles ainda estão sendo treinados. — lamentou-se a policial, gesticulando para os mesmos — Eles vieram seguindo uma cobra, mas acho que o cheiro de sangue na camiseta da moça os distraiu. — apontou para a minha roupa manchada e agora totalmente rasgada. Olhei para a lateral do Impala e vi que o animal peçonhento que viera rastejando apavorado e atentara contra a minha vida agora jazia em pedaços.

— Essa é a Esther — Dean apontou para mim e imediatamente eu estendi a mão para a Xerife — E essa é Joddy Mills, uma amiga nossa. — apresentou, e o modo como ele disse “amiga nossa”, me dizia que ela tinha pleno conhecimento das atividades peculiares dos Winchester.

— Algum problema com o carro? — questionou solícita.

— Sim, a corrente arrebentou e a gente acabou ficando na estrada. — respondeu o loiro.

— Querem uma carona?

— Nós ficaríamos muito agradecidos. — falei com um sorriso educado.

— É o mínimo que eu posso fazer, já que os meus cachorros acabaram com a sua roupa — Joddy sorriu de volta, dessa vez com certo constrangimento.

Combinamos que dois policiais iam guinchar o Impala até a oficina e nós íamos à frente com a Xerife, mas antes disso Dean tirou uma camiseta social, que usava nos seus disfarces de agente, e me emprestou, já que a minha estava em frangalhos.

No caminho nós conversamos um pouco, e logo fiquei sabendo que Joddy é uma amiga de Bobby, que teve a vida salva pelos caçadores e agora os livra de alguns problemas com a polícia sempre que pode. Assim que chegamos na oficina Singer, eu logo vi as motos de Jimmy e Maison estacionadas próximas à casa.

— Muito obrigada pela carona, Xerife Mills. — agradeci acenando.

— Não tem de quê. — falou a mesma com a expressão divertida — Agora se me dão licença, eu tenho uma cidade para patrulhar e uns caras maus para prender — ela piscou, saindo com o carro. Observei o veículo se afastar e logo dei um suspiro. Seria um tanto vergonhoso chegar nesse estado, suja de sangue e com a camiseta do Dean. Sem contar que ele ficou tão empolgado com a carona que até esqueceu de colocar uma camisa, ou gostava de se exibir.

— Você acordou assustada, antes da cobra e dos cachorros — apontou o Winchester antes que eu pudesse dar um passo em direção a casa.

— Eu tive um sonho estranho, com Raphael. — confidenciei com uma careta.

— Isso não é bom. — murmurou preocupado — E para falar a verdade ele anda muito quieto.

— Era como se eu estivesse falando com ele. — continuei alarmada.

— Falando o quê?

— Ele estava me dando alguma coisa, não faço ideia — disse, lembrando da parte em que o arcanjo levantava a mão para mim e eu sentia um choque no corpo. Dean me encarou perplexo por alguns segundos.

— O Cass precisa saber disso.

— Não quero que conte nada, ele não se importa de qualquer maneira. — dei de ombros. Aquela atitude era um tanto infantil, eu concordo. Mas queria lidar com meus problemas, ou pelo menos tentar, antes de sair correndo para pedir ajuda. O Winchester arqueou uma sobrancelha e de repente seus olhos faiscaram, formando um sorriso travesso no rosto.

— Esther, vem cá. — chamou me puxando pela cintura e imediatamente abrindo os botões da camiseta para deixar parte do sutiã à mostra.

— O que você está fazendo? — questionei apavorada, puxando o tecido para cobrir o que não deveria aparecer. O loiro deu um tapinha de leve em minhas mãos e ajeitou novamente a peça.

— Um teste de homem. — ele sorriu piscando maliciosamente para mim — Apenas finja.

Apertei os olhos por um momento, entendendo o que exatamente ele queria fazer. E embora fosse errado, algo dentro de mim formigava para ver a cara de um certo alguém. Respirei fundo na soleira da porta, encarando o Winchester que parecia se divertir muito com tudo aquilo, então eu coloquei a cara mais deslavada que tinha e entramos.

Sam estava discando no celular com os dedos nervosos enquanto Bobby tinha outro aparelho idêntico em mãos. Jimmy mantinha-se escorado na parede com um semblante preocupado e Maison enchia-se de batatas fritas na poltrona ao lado da mesa. Logo que cruzamos a sala, todos pararam o que estavam fazendo para nos fitar, primeiramente aliviados e depois surpresos.

— Onde diabos vocês estav... — começou o velho Singer, andando em nossa direção e então parando bruscamente — Que pouca vergonha é essa na minha sala?

— Desculpa Bobby, a gente ficou meio preso. — Dean coçou a nuca de maneira constrangida.

— Na cidade dos pelados? — indagou retórico, me fazendo corar imediatamente.

— Isso, é... — começou o Winchester mais velho, olhando para mim e para si mesmo — Na verdade a gente não faz ideia de onde foram parar as roupas.

— Alguém me segura que eu to caindo. — comentou Maison, incrédula e divertida, a boca aberta e uma batata presa entre os dedos. Sam compartilhava da mesma expressão, só que continuava mudo e perplexo. E Jimmy tinha a cara fechada, um tanto irritado. De repente eu ouvi um farfalhar de asas, me fazendo ficar mais nervosa do que já estava.

— Eu procurei vocês por todo o lugar, onde... — começou Castiel num tom repreensivo, então parou com uma expressão confusa diante de nós.

— Oi, Cass. Como vai a Beth? — cumprimentou Dean alegremente, com a cara mais cínica possível.

— Por que vocês dois estão desse jeito? — questionou varrendo os olhos por nós dois, demorando-se mais que o necessário em mim, gesto que me fez desviar o olhar para longe.

— Você não vai querer saber. — garantiu o Winchester mais velho.

— Por quê? — repetiu o anjo, dessa vez de uma forma autoritária.

— Eu realmente vou ter que explicar isso? — indagou retórico entre risadas, abrindo os braços — Ok. Sabe aqueles filmes que você assistiu no meu notebook? Com o cara da pizza batendo na babá? Então...

— Você... — Vi Jimmy dar um passo na direção de Dean e imediatamente me virei para ele, piscando e gesticulando dissimuladamente para os que estavam mais atrás. O nefilim então deu um suspiro e revirou os olhos no mesmo instante que Maison e Sam começaram a rir, abafando as risadas com a mão. Bobby resmungou alguma coisa e sentou-se na mesa.

— Você não pode levá-la para longe desse jeito sem que eu saiba onde ela está. — observou asperamente, desviando os olhos e depois lançando um olhar mortal para o caçador.

— Eu caço desde os meus oito anos de idade, Castiel, sei cuidar muito bem da Esther — o loiro deu de ombros com a expressão séria. Ouvi Maison dar mais uma risada e então sua voz ecoou na minha mente:

Isso vai dar uma treta maligna, falou e eu a encarei confusa. Mas era inegável que os ânimos não estavam se encaminhando para algo bom.

— Não importa. — revidou o anjo pausadamente, mas seu tom era baixo e grave, quase uma ameaça implícita. Dean revirou os olhos, ignorando totalmente e virou-se para deslizar os dedos para uma parte da camiseta que caia pelo ombro, por ser grande demais, mas antes que pudesse me tocar, Castiel moveu a mão no ar e o braço do Winchester mais velho foi lançado para trás.

— Qual o seu problema? — questionou irritado — Ah, já sei. Tá com ciuminho porque ela parou de correr atrás de você, que pena. Só que é meio tarde para se arrepender.

— Dean... — comecei, mas parei logo que vi as luzes começarem a piscar freneticamente. Imediatamente toquei seu braço, fazendo-o me encarar enquanto eu movia os lábios num silencioso “Pare”.

— Acho que vocês dois deviam... — murmurou Sam, olhando para as paredes e o teto que começavam a tremer levemente, alguns quadros despencando para o chão — Se acalmar...

— Eu não quero ter que atirar em vocês, mas se vocês acabarem se atracando, eu vou. — garantiu Bobby, segurando a espingarda e caça antes que a mesma atingisse o piso.

— Como ousam começar a festa sem mim? — pronunciou-se Lúcifer ao pé da escada, lançando um sorriso cruel na minha direção.

— Vai redecorar a casa? Isso é o máximo que você consegue fazer? — provocou Dean em tom de zombaria. Castiel continuava imóvel no mesmo lugar, os olhos fixados em nós. Ele mantinha-se totalmente inexpressivo, a não ser pelos acontecimentos na casa.

— Eu ouvi a voz do Dean e da Esther... — começou Elisabeth, descendo as escadas e parando no meio dela, passando os olhos por nós totalmente surpresa — Uau! Alguém teve uma noite boa, hein.

— Concordo com você, Elisabeth. Foi incrível. Essa morena debaixo do lençol... — antes que ele pudesse terminar a frase, foi lançado contra a porta da cozinha. O estrondo imediatamente me sobressaltou e eu não pensei duas vezes antes de correr até onde o Winchester mais velho estava caído, em frente a pia com uma careta de dor.

— Pode apostar que ele se importa — murmurou somente para mim, com um sorriso sem graça. Todos vieram correndo até onde estávamos, Sam sendo o primeiro a se colocar ao lado do irmão. Percebi com certo pavor que Castiel marchava com uma expressão furiosa pelo mesmo caminho e imediatamente me coloquei entre ele e Dean.

— Qual o seu problema, seu grande imbecil?! — exclamei empurrando seu ombro para que ele parasse. O anjo rolou os olhos para mim, e neles eu via um misto de coisas refletidas, mas entre eles principalmente raiva.

— Alguém tá com ciúmes. — comentou Lúcifer, aparecendo sentado em cima da mesa com uma maçã entre as mãos.

— Meu problema é você, enquanto eu tiver que ficar de babá sempre foi e sempre vai ser você! — vociferou e o vidro da cozinha estilhaçou de repente. Castiel havia vociferado comigo? Recuei alguns passos, receosa quanto ao comportamento hostil e violento.

— Eu nunca te pedi nada! — devolvi trincando os dentes.

— Você está com raiva, que tal exteriorizar isso mais um pouco? — incentivou o Diabo no meu ombro, literalmente.

— Acalmem-se! Os dois, agora! — ordenou Bobby, sendo totalmente ignorado pelo anjo que parecia não ver mais ninguém ali, seus olhos azuis quase soltavam faíscas.

— Mas isso não ameniza o peso do fardo que você é. — disse com a voz baixa e arrogante, me fazendo cerrar os punhos com força.

— Sinta as ondas fluírem do seu corpo como se fossem ondas sendo atiradas contra os objetos. — instruiu Lúcifer, tocando meu braço com o dedo e trilhando um caminho imaginário até a mesa.

— Quem você pensa que é para falar comigo desse jeito? — questionei com raiva e mágoa.

— Quem ele pensa que é? — disse novamente, lançando um olhar desaprovador para Castiel.

— Quem você pensa que é? Não passa de uma humana como qualquer... — começou e numa onda de raiva eu impulsionei o braço parar acertar um soco, ele merecia. Mas meu pulso foi preso com força entre suas mãos antes que eu pudesse tocar seu rosto — Acho que dessa vez não.

— Castiel, solta ela. — interveio Maison, segurando o ombro do anjo e colocando-se indiretamente entre nós, Jimmy fez o mesmo em seguida.

— Me solta, eu não vou mandar duas vezes. — ordenei com a voz rouca de raiva, as luzes piscando duas vezes antes de explodirem as lâmpadas e raios de energia começarem a faiscar no teto. Eu sentia plenamente as ondas magnéticas fluindo do meu corpo em direção ao cômodo, e a cada descarga, aquilo aliviava a tensão nos meus músculos.

— Mostre do que nós somos capazes, Esther. — falou Lúcifer num misto de alegria e admiração.

— O que você vai fazer, graça de Lúcifer? — desafiou Castiel, fitando o teto por alguns instantes antes de voltar-se para mim novamente — Pular as preliminares e ir direto para o final?

— Ninguém vai matar e ninguém vai ser morto, os dois parem agora! — gritou Bobby desesperado. O anjo soltou meu pulso, usando os poderes para me empurrar sem força contra a parede mais afastada dele e desviando o olhar de repente. Sua expressão demonstrava algo beirando a... Pena?

— Você não é mais uma garotinha chorona. — murmurou o Diabo no meu ouvido, então eu senti meu sangue ferver, mas não era apenas raiva, algo dentro de mim realmente começou a queimar. Labaredas escaldantes se debatiam dentro das minhas veias, espalhando-se por todo o meu corpo e lutando para passar por um portão fraco dentro da minha mente que eu relutava a abrir.

— Eu vou amar ver você tentar. — disse por fim, com um sorriso tão sádico quanto o mais disposto assassino com sua faca. Abaixei todas as barreiras, deixando uma luz vermelha escapulir por entre meus dedos em direção ao anjo que pareceu surpreso, os olhos azuis se iluminando com as faíscas a sua frente.

Mas antes que aquela bola de energia maciça pudesse atingi-lo, eu vi algo ser jogado a sua frente. E no instante seguinte, Elisabeth estava no chão com um buraco enorme em meio ao peito enlameado, ofegando em agonia.

Todos os olhos voltaram-se dela para mim, perplexos. Mas o que mais me cortou foi o olhar de Castiel, que não me deixou durante nenhum momento. Não tinha mais raiva ou qualquer coisa parecida, era uma pura e trágica... Decepção.


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Notas finais do capítulo

Dean safadinho. Mas bom, o Dean é o Dean, né.
Mas então, a lição foi bem merecida ou vocês acham que eu peguei muito pesado com nosso anjinho maravilha? E o tio Lú aparecendo só pra botar lenha na fogueira...
Será que a Beth morreu? (cruza os dedos -q)
Em breve o próximo.
Quero desejar a todas um Feliz ano novo, cheio de criatividade, amor e tudo mais! E também quero agradecer aos comentários lindos! Um beijão e vejo vocês em 2015! ♥



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