Separate Ways - Requiem escrita por WofWinchester


Capítulo 18
Fantasma, part II




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Fiquei ali sentada por vários minutos, frustrada e magoada, mas não com meu irmão, e sim comigo mesma por acreditar que ele faria por mim aquilo que eu faria por ele sem nem pestanejar.

– Como o Sam disse, ele é um idiota - reafirmou Bobby, quebrando o silêncio.

– Vocês não se viam há anos, ele deve se sentir meio estranho em relação a você. - falou o moreno vindo se sentar ao meu lado - Mas vai passar.

Assenti com a cabeça, eu realmente esperava que sim. Levantei e fui até a mesa, passando as mãos nas chaves do Impala.

– Onde pensa que vai? - indagou Dean, dando um passo para ficar no meu caminho e me fazendo dar um encontrão em seu peito.

– Comprar alguma coisa pra comer, detetive Winchester - disse desviando dele e indo em direção à porta. Percebi que o loiro já ia protestar, mas então Sam fez um grunhido baixo, do tipo "Deixa, ela precisa ficar sozinha". Agradeci ao Winchester caçula mentalmente por isso.

– Cuidado com meu bebê, e traga torta - gritou Dean quando eu já estava do lado de fora. Fiz a trilha até o carro, entrando no Impala e me acomodando no banco do motorista, ao mesmo tempo em que Castiel apareceu no banco do passageiro.

– Não tinha chance dele me deixar sair sozinha, não é? - perguntei com uma careta de contrariedade, enquanto deixava minhas mãos caírem no meu colo.

– Nenhuma – concordou o anjo.

– Você sabe que eu estou brava com você, não sabe?

– Sei - ele assentiu com a cabeça levemente.

– Só confirmando - suspirei enquanto ligava a chave no painel e saia da oficina Singer.

Liguei o rádio numa estação qualquer e dirigi pelas ruas de Sioux Falls sem realmente saber pra onde queria ir. A verdade era que eu tinha mentido sobre o fato de buscar algo para comer, eu só queria ficar longe pra esvaziar a cabeça. Devo dizer que meios de transporte me ajudavam muito nisso, quando eu morava em Elwood e estava completamente estressada, eu catava meus fones, saia e pegava qualquer ônibus para qualquer lugar até me sentir melhor. É claro que eu costumava fazer isso sozinha, e não com um anjo a tira colo. Mas por outro lado, Castiel era tão silencioso que isso não se tornava um incômodo, muito pelo contrário, eu tinha a sensação de que podia fugir e não importava para onde eu fosse eu estaria segura enquanto ele estivesse por perto.

Olhei de canto e percebi que o anjo encarava o rádio com curiosidade, como se fosse algum bicho de sete cabeças. Não pude deixar de sorrir ao ver aquela cena, embora ele fosse um homem feito (e com seus milhares de anos angelicais), às vezes Castiel parecia uma criança, no jeito mais fofo que a palavra pode ser. E isso mexia comigo de uma maneira que eu não compreendia muito bem, talvez tivesse algo a ver com aquela coisa materna que aflora quando você vê um bebê ou sei lá... Gatinhos peludos.

– O que é tão engraçado? - perguntou ele, se virando para mim.

– Ah? - murmurei sem entender ao que ele estava se referindo.

– Você está sorrindo faz cinco minutos - disse confuso. E foi aí que eu notei que já estava com a cara doendo de tanto sorrir, sacudi a cabeça tentando parar com aquilo imediatamente.

– Não é nada - falei enquanto me concentrava na rua, nos carros, no semáforo, na calçada, em qualquer coisa.

– Você é estranha - constatou o anjo. E eu já abrir a boca pra dizer quem era estranho aqui, mas ao me virar percebi que ele estava com a cabeça inclinada para o lado, me olhando com uma carinha fofa do tipo "corta qualquer sarcasmo". Desgraçado... Pensei comigo mesma, incapaz de desviar o olhar. Era como se ele tivesse um imã que me prendia, e novamente eu tive aquela sensação de deja vu.

Ficamos nos encarando por instantes e então eu ouvi o som de uma buzina, percebendo que eu havia largado o volante. Me virei para frente e vi um caminhão vindo diretamente de encontro a nós, Castiel segurou a direção e a girou, subindo a calçada onde algumas pessoas saíram correndo. O motorista passou buzinando e mostrando o dedo. Olhei para o anjo com o coração pulando freneticamente no peito, assim como eu, ele estava atordoado pelo quase acidente.

– A culpa é sua! - proferimos em uníssono.

– Você é um perigo pra si mesma! - acusou ele.

– Foi você quem me distraiu! - retruquei enquanto me ajeitava no banco e torcia a chave no painel do carro que não queria ligar.

– Foi você quem largou o volante! - devolveu Castiel.

– Mas foi você que... - ouvi o motor roncar e comecei a dar marcha ré, olhando pelo retrovisor - Ah, dane-se.

Dirigi em silêncio, me policiando para não me distrair por cerca de uma hora. Castiel ficou todo esse tempo encarando a janela, parecia perdido em pensamentos. Olhei para o horizonte e percebi que o sol estava quase no poente. Logo iria anoitecer então eu decidi que estava na hora de voltar, mas antes eu precisava comprar a torta que Dean havia me pedido.

Procurei em várias ruas, seguindo o fluxo de carros pelos locais mais movimentados até parar numa lanchonete. Sai do veículo indo em direção ao estabelecimento, eu já ia parar no meio do caminho para perguntar se Castiel queria alguma coisa, mas me lembrei que ele não comia.

Entrei no lugar e havia várias pessoas sentadas em mesas com cadeiras altas, tudo era decorado com cores laranja e vermelho, uma estratégia de marketing. Dizem que essas colorações deixam você com mais apetite, e realmente devia ser verdade, pois eu já estava cogitando a possibilidade de levar algo pra mim. Aproximei-me do balcão e uma garota loira com os cabelos presos num rabo de cavalo me atendeu, eu pedi uma torta de maçã e uma pizza de strogonoff pra viagem. Ela anotou o pedido e se dirigiu para a cozinha, enquanto eu esperava ali.

Alguns homens assistiam ao noticiário local, dois deles eram bem corpulentos e o outro era mais velho e de cabelos grisalhos. Fitei a televisão, suspensa na parede, a voz da jornalista estava um pouco chiada devido à interferência na antena: "O corpo de Steve Joddins continua desaparecido. O homem de 47 anos vivia em Sioux Falls, a família não desiste das buscas mesmo após um mês".

– Espero que esteja morto - disse o homem velho ao meu lado, palitando os dentes.

– Acho que não - duvidou o outro - Deve ter fugido pra fora do país. É lamentável um porco igual esse continuar entre nós - murmurou com raiva e balançando a cabeça negativamente. Encarei a televisão novamente, mas a notícia já tinha acabado então me voltei para o homem.

– O que ele fez? - questionei curiosa.

– Abusou da sobrinha, e quando ela contou pra mãe ele a espancou até matar – revelou.

– Isso não é um homem isso é um monstro - murmurei com desprezo.

– Há boatos de que o pessoal o linchou até a morte e esconderam o corpo, mas não sei se dá pra acreditar - comentou o mais velho.

– Pois eu espero que seja verdade, ele deixou um pai e uma mãe arrasados - disse o homem, fechando os punhos - Se eu pudesse, eu mesmo o matava.

– Seu pedido - anunciou a garçonete, enquanto me entregava a pizza e a torta. Realizei o pagamento, ainda chocada com a notícia e voltei para o carro, onde Castiel continuava encarando a janela. Aparentemente anjos e janelas se atraem.

Abri a porta e coloquei as compras cuidadosamente no banco de trás, dirigi por mais alguns minutos de volta à oficina Singer, quando senti que o veículo deu uma guinada e deslizou.

– Mas que droga... - sibilei, parando no acostamento e descendo para ver o que havia acontecido. Alguns metros atrás havia pregos colados no asfalto, possivelmente era obra de crianças levadas, encarei o pneu furado com uma cara feia.

– O que houve? - indagou Castiel enquanto batia a porta e contornava o veículo.

– Ao menos que você tenha dotes mecânicos, a gente está bem frito - apontei para o problema e observei-o comprimir os lábios, é óbvio que anjos não sabem trocar pneus. Nós estávamos em frente ao que parecia uma casa de festas para crianças. Vários carros estavam estacionados, e algumas pessoas saiam do lugar levando embora balões, doces e seus filhos pelas mãos. A julgar pelos palhaços do lado de fora, se tratava de uma festa infantil.

Eu já estava cogitando a possibilidade de ligar pro Dean, mas o receio dele comer meu rim não me deixava discar o número.

– Problemas com o carro? - perguntou uma mulher ruiva com um sorriso prestativo ao se aproximar de nós, ela trazia uma garotinha morena pela mão.

– É, furou o pneu - sibilei para o Impala.

– Meu marido, Rick, é um ótimo mecânico, nós podemos ajudar. Eu sou Verônica - sugeriu a ruiva solícita enquanto apontava para o homem com barba do outro lado da rua. Eu poderia pular de alegria agora, mas não queria ser inconveniente. Talvez ela tivesse oferecido ajuda apenas por educação, igual quando você oferece a sua comida pra alguém, mas na verdade não quer dar.

– Eu sou Esther, e esse aqui é o Castiel - apresentei apontando para o anjo ao meu lado - E isso seria ótimo, mas não gostaria de atrapalhar a festa.

– Não se preocupe Esther, nós já estávamos indo embora. Não é mesmo, Carly? - ela olhou para a garotinha que estava agarrada ao seu quadril, a mesma assentiu com a cabeça.

– Por que o homem mau quer me pegar - murmurou Carly seriamente.

– Que homem mau? - perguntou Castiel, fazendo Verônica dar um sorriso sem graça.

– Carly acha que viu um homem lá dentro, mas eu disse que foi só sua imaginação.

– Ele disse que ia me matar - disse ela, escondendo o rosto nas roupas da mãe. Encarei o anjo com dúvida, e ele tinha a mesma expressão que eu.

– Filha, não existe homem mau. Ok? - Verônica acariciou os cabelos de Carly delicadamente.

Rick trocou o pneu enquanto contava várias piadas sem graça e eu ria por educação, já Castiel fazia perguntas por que não entendia a lógica dele. Logo depois eles foram embora num Peugeot branco, acenando alegremente, com certeza uma família feliz. Fiquei observando a casa de festas enquanto me lembrava sobre o que Carly havia dito, então mordi a boca.

– Não acha que devíamos olhar? - perguntei e Castiel me encarou.

– Você não vai caçar - advertiu seriamente.

– Não falei nada sobre caçar e sim sobre olhar– dei de ombros, destacando os termos - Ela me parecia bem assustada e tem crianças lá dentro.

– Podemos chamar Sam e Dean - sugeriu.

– Mas eu não quero ligar se não tiver nada. - revirei os olhos - Confirmamos e então ligamos?

– Nada que eu diga vai te impedir de entrar lá, não é? - o anjo deu um suspiro cansado.

– Mais ou menos isso - afirmei com um sorriso triunfante.

– Vamos. - disse Castiel num tom meio birrento.

Ao nos aproximarmos da porta, um mágico com roupas de palhaço ficou na minha frente, impedindo a passagem.

– Olá moça bonita, gostaria de ver uma magia? - perguntou ele alegremente, numa voz forçada. Eu já ia recusar e então o homem colocou a mão atrás da minha orelha e retirou uma pequena flor amarela, me estendendo.

– Obrigado - murmurei com uma careta de surpresa.

– Isso não foi mágica, estava escondido na manga dele o tempo todo - entregou Castiel.

– Não seja idiota - cantarolou o palhaço se aproximando do anjo e colocando a mão próxima à sua orelha, mas o mesmo segurou-o antes que fizesse e tirou várias flores pequenas de dentro da manga dele. Vendo que seu truque foi descoberto, o homem apertou os olhos por um instante, em seguida tirando uma flor grande do bolso. - Sério, agora é mágica mesmo - falou gesticulando para que Castiel se aproximasse. Comecei a rir assim que desconfiei as reais intenções dele, e logo que o anjo ficou próximo o bastante do palhaço, ele apertou a flor e ela esguichou água. Castiel apertou os olhos, fuzilando-o.

Idiota!– entoou o homem enquanto me estendia um pequeno espelho envolto em papel celofane, uma espécie de brinde da festa e saia saltitando.

– Não mate o palhaço, ok? - falei entre risadas enquanto puxava o anjo para dentro da casa de festas.

Lá dentro crianças corriam e pulavam pra todos os lados ao som de músicas infantis, as mesas estavam todas revestidas com toalhas cor de rosa e balões em formato de coração. Havia brinquedos enormes, como cama elástica, piscina de bolinhas, e até alguns eletrônicos, como motos com tela de vídeo game, todos completamente lotados. Isso sim que é festa, pensei comigo mesma.

– Por onde começamos? - perguntou o anjo, se inclinando na minha direção para falar no meu ouvido.

– Tentando coletar informações - respondi, e aquilo não seria nada fácil - Não é como se nós tivéssemos sido convidados, então não podemos chamar atenção.

Andamos entre as mesas e eu notei que a parte de "não chamar atenção" não sairia como planejado, como não ver um cara de sobretudo andando numa festa de crianças parecendo o Constantine? De repente um menino veio correndo segurando um prato de bolo e esbarrou em mim.

– Ei! - protestei, levantando as mãos pra cima, então ele voltou e mostrou a língua.

Pestinha– revirei os olhos e Castiel deu uma risada.

– Olá! - cumprimentou uma senhora vindo animada em nossa direção, e então nos puxou para um abraço apertado. E devo dizer que apesar de ser velha ela tinha bastante força - Quem são vocês? - perguntou em seguida, ainda com um sorriso no rosto.

– Eu sou um anjo do senhor... - disse Castiel e eu o olhei alarmada. Dei um beliscão nele por trás, fazendo-o se sobressaltar e me lançar uma olhar reprovador.

– Ele é uma graça, né? - falei com um sorriso falso na cara - Nós trabalhamos aqui, como... Palhaços! Mas estamos de folga hoje - desconversei - Viemos por que... O tio Phill nos convidou.

– Mas ele não morreu há semanas? - questionou a idosa, confusa.

– Sim, mas nos convidou antes. - respondi rapidamente e logo fingi tristeza - Pobre tio Phill...

– Foi trágico, o setor B ainda está interditado, eu suponho.

– É claro, com certeza - afirmei balançando a cabeça.

– Setor B? - indagou Castiel, não tendo o mínimo de preocupação em tentar esconder que estávamos mentindo.

– Onde o corpo foi achado, enforcado - disse ela e então outra mulher a puxou pelo braço enquanto falava alguma coisa sobre tirar fotos antes que as crianças ficassem cobertas de bolo. Nos entreolhamos novamente, com certeza havia alguma coisa aqui.

– Vamos olhar o Setor? - perguntou o anjo.

– Estava esperando que você dissesse isso - afirmei e o puxei por entre os convidados.

Empurrei a porta onde estava escrito "Só para funcionários", me deparando com uma sala escura e totalmente vazia. Havia várias faixas de “keep out”, nas portas e na frente da escada que dava para o segundo andar. Caminhei um pouco por lá, observando o cômodo. Na parede havia um quadro de funcionários.

– Acho que sei quem é o nosso tio Phill chute de ouro– disse apontando para a foto do homem negro com barba, e em cima dela estava escrito "Phill Joddins, gerente".

– O gerente se matou e ele está atrás das crianças - supôs Castiel - Mas por quê?

– Isso que não faz sentido, ele era o dono dessa joça - refleti confusa - Mas por via das dúvidas, é melhor queimar o corpo.

– Eu faço isso, espere aqui - falou o anjo desaparecendo.

Eu já ia voltar pela porta, pois não queria ficar nessa sala sozinha, quando a mesma foi empurrada contra mim, me fazendo cair sentada.

– Me desculpe - disse uma voz masculina, enquanto estendia a mão para me ajudar a levantar.

– Eu que peço desculpas, não vi que você estava entrando - falei para o garoto a minha frente, ele era loiro, usava aparelho e vestia o uniforme do local.

– Sabe, aqui é proibido - ele apontou para a placa com um sorriso constrangido.

– Desculpe, eu só queria ver...

– O lugar onde ele morreu? - arriscou o garoto.

– É. Sabe, foi trágico. Estava curiosa, só isso. - me desculpei enquanto nós saíamos da sala, caminhando entre as crianças esbaforidas.

– Eu sou Erick - apresentou-se ele.

– Esther.

– Você teve sorte de ter sido eu a te encontrar. O pessoal ainda não conseguiu superar direito isso, o meu supervisor, por exemplo, iria te dar uma bronca daquelas - Erick deu uma risada sem graça, e então adquiriu um tom meio triste - Phill era um bom gerente, uma boa pessoa, feliz. Nunca imaginamos que cometeria suicídio.

– Ele deve ter tido seus motivos – comentei comprimindo os lábios. Muitas pessoas cometem suicídio hoje em dia, o percentual é bem alto, mas para não influenciar a mídia nunca mostra isso.

– Com certeza ele teve, a filha morreu. - afirmou o garoto – Foi espancada por aquele maluco da TV.

– Quem? - franzi a testa.

– Steve Joddins, e o pior de tudo era que eles eram irmãos - revelou, me fazendo ficar boquiaberta, e foi aí que a ficha caiu. Como eu não havia me ligado que os sobrenomes deles eram iguais?

Vi Erick se afastar enquanto sibilava para seu supervisor, e então olhei para o grande escorregador. Uma figura fantasmagórica apareceu, e logo atrás dele estava o espírito de Phill. Steve estava tentando matar as crianças, mas Phill o impedia. Tudo fazia sentido agora. Eu precisava chamar Castiel de volta e impedir que ele queimasse o morto errado. Quando abri a boca para chamá-lo, vi o espírito do ex-gerente pegar fogo e sumir. Steve deu um sorriso malicioso, e as luzes piscaram, deixando várias pessoas com caras confusas. Droga!

– Está feito - anunciou Castiel, aparecendo atrás de mim. Me virei num pulo, esperando que todos estivessem ocupados demais para terem visto isso.

– Nós deduzimos errado! - disse o mais baixo possível, para que apenas ele ouvisse - Phill só estava tentando conter o fantasma de Steve.

– Quem é Steve?

– Um pedófilo que mata crianças. - revelei com desprezo - Aparentemente ele matou a filha de Phill, que também era sobrinha dele. E eu posso deduzir com 90% de certeza que o gerente o trouxe aqui e o executou, por isso os dois estão presos no lugar onde morreram. Agora que Phill se foi, Steve está à solta e pode fazer o que quiser.

– Isso não é bom - constatou o anjo olhando a sua volta.

– Exato - concordei enquanto fazia o mesmo para tentar encontrar o fantasma ou algum indício dele.

As luzes começaram a piscar novamente, a música parou então eu ouvi um ruído alto, e em seguida um choro infantil. Segui o som e uma menina de aproximadamente quatro anos estava caída no chão, com um garfo enfiado na mão esquerda, desviei os olhos enquanto várias pessoas corriam até lá para socorrê-la. Quando as luzes piscaram mais uma vez, eu me lancei até o alarme de incêndio, puxando a alavanca para baixo. Um som frenético começou a tocar, e então todos começaram a sair correndo pela porta da frente. Todos precisavam sair o mais rápido possível antes que fossem mortos por aquele psicopata metido a Gasparzinho nada camarada.

– Vamos dar o fora daqui e ligar pra Sam e Dean - falei e então vi uma figurinha agachada no segundo andar da casa, assim que percebeu meu olhar o menino correu para os fundos. Mas que droga! - Tem um garoto aqui! Ok, mudança de planos: Você queima o cara, eu vou atrás do pirralho!

– Esther, não– pediu o anjo me puxando pelo braço quando eu começava a caminhar em direção a porta de funcionários.

– Você vai achar ele mais rápido que uma piscada. Vai!– afirmei olhando-o fixamente, enquanto segurava sua mãe e fazia com que ele me soltasse devagar. Castiel olhou para os lados e então trincou os dentes, desaparecendo no ar.

Corri em direção à porta que dava para as escadas, pulando as faixas e subindo dois degraus por vez. O segundo andar estava mal iluminado e com quedas de luz, olhei por todo canto e procurei qualquer coisa que pudesse servir de arma, mas não tive sucesso. Ouvi um som de passos correndo e o segui, entrando numa porta escura.

– Oi? Tem alguém aqui que não seja um fantasma? - perguntei me sentindo ridícula, mas eu precisava achar o garoto. Percebi um arrastar e segui o ruído, vendo o menino encolhido atrás de uma máquina grande que eu não sabia pra que era. Ele se assustou quando me viu e tentou correr, mas eu segurei seu braço.

– Calma, ok. Eu vou te tirar daqui - disse tentando acalmá-lo. Me agachei para ficar na sua altura, notando que ele tinha as mãos geladas e trêmulas - Qual seu nome?

– Jeremy - falou com a voz infantil.

– O meu é Esther. Nós vamos achar seus pais, ok? - prometi e ele assentiu. Olhei para os lados e percebi que tinha uma barra de ferro atrás dele, e ela estava coberta com um líquido vermelho escuro na ponta. Segurei o objeto, constatando que era sangue seco. Talvez fora essa a arma que Phill usou para matar Steve, afinal. As luzes vacilaram e eu soube que o fantasma estava por perto. Me encostei na parede, mantendo Jeremy estrategicamente atrás de mim. A temperatura caiu bruscamente, fazendo minha respiração se condensar no ar. Ouvi uma gargalhada e então Steve se materializou na minha frente, a figura fantasmagórica tinha uma ferida exposta enorme na lateral direita da cabeça. Sem pensar duas vezes eu apertei as mãos na barra de ferro e golpeei o ar, fazendo o espírito sumir.

Segurei Jeremy pela mão e corri com ele pelo corredor, a fim de descer as escadas, mas Steve apareceu à minha frente, me fazendo mudar de direção. O fantasma vinha rápido, e eu precisava distraí-lo para que Jeremy pudesse escapar.

– Eu vou chamar a atenção dele - sussurrei enquanto segurava seus ombros e o fazia se agachar atrás de uma coluna - Quando eu der o sinal, você corre, desce as escadas e sai pela porta o mais rápido que puder. Certo?

– Certo - concordou o garoto.

Fiquei de pé no corredor, olhando para os lados. Droga, Castiel, você nunca demorou na vida, não faz isso comigo agora.

Senti a temperatura cair novamente, ele estava por perto. Minhas mãos suavam e eu respirava com dificuldade, sentindo o ar trancar na garganta. O espírito de Steve apareceu no meio do corredor, sorrindo.

– Pode vir, coisa feia - intimei, segurando a barra de ferro como se fosse um bastão de beisebol. O fantasma então gargalhou e o objeto foi arrancado das minhas mãos e jogado contra a parede oposta. Ok, isso não estava nos planos. Ele caminhou lentamente até mim, me fazendo recuar até a beirada do segundo andar onde havia um muro baixo, na altura da minha cintura.

– Jeremy, agora! - gritei, e então o garoto se lançou pelo corredor como um raio. Steve apenas o acompanhou com os olhos e então se voltou para mim novamente. Eu não podia mais recuar nenhum passo, então nós ficamos cara a cara.

– Morrer pra salvar o garoto, não é nada esperto da sua parte - disse o espírito com uma voz rouca.

Castiel se materializou atrás dele com uma expressão alarmada.

– Anjo, não é querer falar nada, mas o cara ainda tá aqui! - gritei e Steve gargalhou novamente.

– O corpo foi queimado numa vala! Deve ter alguma coisa que... - seus olhos se fixaram na parede onde a barra de ferro estava, e então o fantasma fez uma cara de espanto na mesma hora em que Castiel girou a mão na direção do objeto, fazendo-o queimar. O espírito entrou em combustão, urrando de raiva. O calor das chamas era tão real, que me fez colocar as mãos em frente ao rosto e me impulsionar para trás, me fazendo cair do segundo andar.

Senti meu corpo despencar no ar junto com um grito e dar um baque surdo dentro da piscina de bolinhas, meu coração batia forte, espalhando a adrenalina por todo o corpo. Quando percebi que tudo tinha acabado, eu pude respirar aliviada, enquanto tentava ficar de pé mexendo os braços e atirando as bolas coloridas pros lados. Senti pingos de água no meu rosto, olhei pra cima e o sistema anti-incêndio do teto jorrava por todo o local, obviamente ativado pelo fogo. Castiel apareceu ao meu lado, de pé em meio à piscina.

– Foi inteligente da sua parte ao perceber que havia restos mortais de Steve na barra - elogiei.

– Obrigada - notei que ele tinha um sorriso de lado.

– O que é engraçado?

Você– respondeu o anjo, e então eu notei o quão idiota deveria ser a cena de uma garota de dezessete anos mergulhada até a cintura numa piscina de bolinhas para crianças de cinco. Apertei os olhos, dando uma risada sarcástica. Estendi a mão para ele me ajudar a levantar, e quando ele a pegou eu o puxei. O anjo caiu deitado ao meu lado, afogado na imensidão colorida.

– Golpe baixo – constatou.

– É pra você aprender a não rir mais de mim, besta - falei, jogando uma bolinha amarela. Ele fez uma expressão séria, mas logo deixou-a divertida e jogou uma bola azul em mim. Abri a boca, surpresa, e então a guerra foi declarada. Ficamos arremessando os brinquedos um no outro com as mãos, os pés, e aos chutes. Ele desviava de todos os meus arremessos com uma agilidade injusta, e então num momento de descuido, o anjo se jogou na minha direção, me pegando pelos braços e me afundando na piscina. Eu me debatia entre gargalhadas, mas ele me prendia com força ao fundo.

Quando Castiel me soltou, eu emergi, me apoiando nos cotovelos até a crise de risos passar. Ele estava deitado ao meu lado, com o braço caído sobre a minha barriga. Nos encaramos por longos segundos, toda a birra e toda a raiva por ele ter mentido pra mim haviam simplesmente desaparecido agora. Era como se nunca tivesse acontecido, na verdade. O anjo sorria, mas o sorriso logo foi desaparecendo de seus lábios e ele se inclinou devagar na minha direção.

Minha pulsação acelerou, e as borboletas não estavam voando no meu estômago, elas estavam sambando como num desfile de carnaval. Instintivamente eu também me aproximei, ele estava tão perto a ponto de eu conseguir sentir sua respiração sob meus lábios. Seus olhos passavam dos meus para minha boca várias vezes, deixando suas intenções obviamente claras. Ele ia me beijar. Ele realmente ia me beijar? Fechei os olhos, totalmente entregue. Eu não queria me afastar, eu só queria que Castiel eliminasse aqueles poucos centímetros de distância que nos mantinham separados naquele momento.

Percebi que ele havia se mexido, mas não pude saber se o anjo enfim tinha voltado do momento de insanidade ou se realmente havia prosseguido com as intenções, pois a porta foi escancarada de repente. Ouvi uma voz masculina gritar "Polícia" e então Castiel segurou meu pulso e nós desaparecemos.

Quando dei por mim, eu estava sentada no sofá da casa de Bobby. Olhei para os lados, mas o anjo havia sumido. Dean veio da cozinha secando as mãos com um pano de prato, arqueando as sobrancelhas e também procurando por Castiel.

– Cadê a minha torta?

– No carro - falei ainda atônita e com uma raiva sanguinária de policiais.

– E cadê meu carro? - indagou o loiro indo até a janela e vendo que o Impala não estava lá. Arregalei os olhos ao lembrar que o veículo havia ficado na frente da casa de festas.

– Ops...

Filha da mãe!


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Notas finais do capítulo

O que será que o Cass ia fazer, hein? Será que ele ia recuar ou ia partir pro abraço? -q. Dean soltando fogo pelas ventas, pois ficou sem carro e sem torta, e a Esther com raiva sanguinária de policiais. Hmm... No próximo capítulo iremos começar a desvendar (finalmente) a verdadeira história da Esther. Postarei entre três ou cinco dias. Um beijão na bochecha!



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