Separate Ways - Requiem escrita por WofWinchester


Capítulo 19
História pra dormir


Notas iniciais do capítulo

Olá bebês! Mais um capítulo com revelações, drama e momentos fofos. Quero novamente agradecer aos comentários lindos de vocês, suas divas, e aos favoritos, muito obrigada a todas!
Vocês vão perceber que eu troquei o traço pelo travessão no corpo de texto, e eu fiz isso por que finalmente consegui reinstalar meu office (eu escrevia pelo word e era uma droga colocar travessão), e assim que eu tiver tempo pretendo editar todos os capítulos pra ficar correto e bonitinho. (só achei que devia avisar)
Espero que gostem.



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Acordei de manhã cedo e a primeira coisa que percebi foi uma presença logo acima de mim. Eu me mexi na cama, os raios fortes do sol batendo contra o meu rosto. Senti algo cair por cima do meu corpo e abri os olhos imediatamente, tentando me sentar. Dean estava apoiado nos cotovelos enquanto me encarava com um sorriso travesso.

– Bom dia! Raio de sol! – falou ele.

– Mas que inferno, Dean! – grunhi tentando tirar seu peso de cima de mim – Desde quando você me acorda?

– Desde que você começou a dormir até quase meio dia – sibilou o loiro.

– Ah, te odeio – chiei empurrando-o de lado e me levantando – E o Impala?

– Por sorte nenhum assaltante fez nada com o meu bebê – o Winchester suspirou aliviado – E anda logo que nós temos algumas coisas pra fazer – disse batendo com o travesseiro nas minhas pernas.

– Tipo o quê? – perguntei puxando o objeto das mãos dele e acertando-o. Dean estreitou os olhos com o meu gesto e então me puxou pelos braços novamente pra cama, montando em cima de mim e me enchendo de travesseiradas de leve.

– Nós vamos ir numa médium – revelou enquanto eu tentava arrancar o objeto dele entre risadas.

– Pensei que você não acreditasse nisso.

– E não acredito, mas é isso ou aguentar o Sammy me enchendo a paciência – falou o loiro, prendendo minhas mãos para que eu parasse de me debater. Encarei-o por alguns instantes, ele tinha um sorriso divertido no rosto que me dava vontade de rir mais ainda.

– Estou interrompendo alguma coisa? – indagou Castiel, aparecendo de repente ao lado da cama. Olhei pra cima e ele tinha os olhos apertados na nossa direção.

– Ei, Cass – cumprimentou Dean, enquanto se levantava e parava próximo ao anjo – Como vão as coisas lá em cima?

– As coisas não vão, as coisas desandam – começou, e eu notei uma nota de sarcasmo e irritação na sua voz – Lá em cima – ele fez aspas com os dedos. O Winchester mais velho me lançou um olhar desconfortável e então inspirou com a boca.

– Alguém está de mau humor hoje – comentei arqueando as sobrancelhas. Castiel me fitou por um momento e então se voltou novamente para Dean.

– Eu volto quando puder – disse e desapareceu no ar. Olhei para o loiro com uma expressão interrogativa e ele me devolveu confuso.

– Que bicho mordeu ele?

Desci as escadas e fui rapidamente ao banheiro me trocar. Coloquei um jeans justo, uma camiseta meia estação azul marinho, uma bota e minutos depois eu já estava pronta. Sai pela porta e vi que Bobby e os Winchester estavam conversando próximos à mesa, enquanto deslizavam os dedos por um grande mapa.

– O que você acha? – perguntava Sam, sem tirar os olhos do papel plastificado.

– Não sei, é muito estranho – murmurava Bobby com uma careta de confusão - O cara estourou os miolos da família sem nenhum motivo e sem qualquer hesitação. E de quebra ainda tem essa grande variedade de monstros atacando no mesmo lugar, nessa mesma rodovia.

– É algo pra se investigar – concluiu Dean.

– Ei, o que estão fazendo? – perguntei me aproximando da mesa.

– Investigando alguns casos suspeitos – falou Sam, se voltando na minha direção - Você já está pronta?

– Sim – assenti com a cabeça.

– Então vamos – disse o Winchester mais velho, tirando as chaves do Impala do bolso e caminhando até a porta.

Dean dirigiu por cerca de duas horas até uma cidade chamada Watertown, no condado de Codington. Segundo Sam, nós estávamos indo encontrar Theressa Harris, a médium mais poderosa do país. Eu não estava muito feliz com essa ideia, no fundo eu tinha medo de cutucar a origem dessas visões. Uma sensação de desconforto fazia com que meu estômago se embrulhasse conforme íamos nos aproximando da cidade.

O Impala passeou por várias ruas até finalmente encontrar o endereço, a casa dela ficava próxima ao zoológico Bramble, uma área repleta de árvores e com alguns pequenos animais arborícolas.

Era uma residência comum e até bem humilde, era branca com muros de tijolos e exibia um belo jardim muito bem cuidado. Dean estacionou o Impala e nós trilhamos o pequeno caminho até a porta, encarei o penduricalho de pássaros que tilintava com vento, sentindo meu desconforto aumentar a cada segundo. Sam estendeu a mão para bater na porta, mas a mesma foi aberta antes que ele a tocasse.

– Sam e Dean, eu estava esperando por vocês - recepcionou uma mulher com um sorriso escancarado. Ela tinha cabelos loiros e frisados, os olhos eram negros e ela aparentava estar na faixa de quarenta anos. – E você deve ser a Esther – ela se dirigiu para mim, e eu assenti com um sorriso educado. Pelo que eu saiba, nenhum deles havia avisado que nós viríamos então ela realmente deve ser uma médium muito boa.

Entrei na casa, observando o lugar que era decorado com estátuas de deuses pagãos e cortinas com tecido chinês. O lugar, principalmente a sala, tinha um forte aroma de incenso de canela.

– Bem, Theressa, nós... – ia começar Dean, mas foi interrompido.

– Eu sei o que vocês vieram fazer aqui - cortou ela, enquanto indicava para que nos sentássemos nas almofadas em volta da pequena mesa de vidro. – Querem chá?

– Não, obrigada – recusou o irmão caçula, mas a mulher serviu a xícara mesmo assim – Você pode nos ajudar?

– Infelizmente eu não posso – esclareceu Theressa, sentando-se a minha frente com uma expressão cabisbaixa.

– Você não pode ou não quer? – indagou Dean.

– Não quero – admitiu encarando-o seriamente – Médiuns podem fazer contato com os espíritos desencarnados, mas não podemos controlá-los. Desde o momento em que Esther colocou o pé nessa cidade eu pude sentir as energias das almas que a cercam.

– Que tipo de almas? – perguntei receosa, sentindo um arrepio involuntário ao pensar que havia espíritos a minha volta nesse exato momento.

– Esse amuleto... – ela apontou para o octeto em meu pescoço, segurei a pedra com os dedos instintivamente e Theressa fez uma careta como se tivesse levado um soco na barriga – Ele tem energias muito malignas, e essas energias atraem outras mais. Vejam bem, se eu abrir a sua aura com esse objeto aqui, só Deus sabe o que pode acontecer. Pode ser catastrófico.

– Podemos nos livrar dele por alguns minutos... – sugeriu Sam, recebendo o meu olhar de reprovação. Eu não arriscaria a me livrar do octeto nem por dois segundos.

– Não se trata do amuleto em si, além do mais eu sei que você o usa por uma razão específica. – explicou ela, gesticulando com as mãos. – Assim como eu, Esther é sensível às almas, só que num nível muito maior e mais real. Sem isso ela provavelmente já teria enlouquecido.

– Nós precisamos ter a confirmação de uma teoria, Theressa. – pediu Dean.

– Acredite filho, você não quer saber – garantiu a mulher, me fazendo engolir em seco.

– Por favor – insistiu o loiro. A médium comprimiu os lábios e então me lançou um olhar interrogativo, eu suspirei e assenti com a cabeça.

Fomos até a mesa redonda que ficava na outra sala e sentamos a sua volta de mãos dadas, enquanto Theressa pronunciava algumas palavras de evocação. Fechei os olhos, sentindo a mão gelada da mulher do meu lado direito e a mão de Dean do meu lado esquerdo. Tive aquela mesma sensação de desconforto que vinha me perseguindo desde que soube que viria para cá, só que ela aumentava de uma forma quase insuportável, e logo eu percebi que estava tremendo. Respirei fundo e tentei me acalmar enquanto a médium entoava algumas palavras desconexas.

Assim que tudo ficou em silêncio, eu comecei a perceber flashes de luz se alternando na minha mente, meu corpo começou a entrar em total estado de torpor. E de repente tudo ficou escuro, meus pés estavam descalços num piso frio, mas eu não enxergava nada. Estava congelante, e uma sensação agonizante me dizia para sair daquele lugar. Pisquei várias vezes e consegui encontrar um pontinho pequeno de luz muito longe. Como se minha vida dependesse disso eu me pus a correr, com dificuldade e muito esforço, tropeçando em meus pés. Algo me puxava pra trás, mas eu sabia que tinha que alcançar aquela luz. Quando cheguei até ela, me joguei para frente e minhas mãos agarraram um metal frio que identifiquei como uma maçaneta, girei e puxei para trás com força e uma luz branca e morna tomou conta do meu corpo.

Abri os olhos.

O relógio marcava 00h01min da manhã.

A garotinha colocou os pés cuidadosamente pra fora da cama, sentindo o piso gelado de mármore. A porta, como sempre estava bem fechada, pois várias vezes ela fora surpreendida andando pela casa a noite.

Ao lado da janela tinha um pequeno banco de madeira, que a menina levou até a porta para alcançar a maçaneta. Silenciosamente ela se esgueirou pelo corredor escuro e desceu as escadas até o primeiro andar. O pijama fino de algodão não esquentava muito, e o barulho do vento raivoso no telhado só assustava mais. Ela apertou os olhinhos cor de chocolate, e constatou que não havia nada fora do comum no saguão. Mas porque não havia? Perguntava-se.

Pequena – ela se virou pra trás num pulo.

– Anjo! – falou, curvando os lábios rosados num sorriso. Ele estava logo atrás dela, encostado no corrimão da escada. Os olhos azuis profundos em contraste com a pele levemente bronzeada. O anjo se aproximou, pegando delicadamente na mão da menina.

– Pensei que não viesse – disse ela.

– E porque pensou isso? – perguntou ele, com um sorriso doce.

– Você disse que não podia vir me ver, era proibido – a menina continuou fitando-o com os olhos úmidos, quando o anjo deu um suspiro e sentou em um dos degraus.

– Você não entenderia – murmurou deslizando o dedo suavemente pela bochecha dela. A garota piscou para segurar as lágrimas e se atirou em cima dele, apertando os frágeis bracinhos a sua volta.

– Eu não quero que você vá embora. Você é o meu melhor amigo, não pode me deixar. Você prometeu que sempre estaríamos juntos! – soluçava.

– Sempre estaremos juntos, pequena – afirmou o anjo com o tom calmo, fazendo cachinhos no cabelo preto dela.

– Como se você está me deixando? – perguntou passando os dedos pelos olhos, na tentativa de livrar-se das lágrimas.

– Quantos anos você fará amanhã? – ele a fitou, mas ela não respondeu – Me diga.

– Seis – ela mostrou seis dedinhos.

– Você já é uma mocinha. Eu cuidei de você desde bebê, tem que aprender a se cuidar sozinha de agora em diante. Não vai querer um anjo chato no seu pé quando tiver suas amigas, seus namorados, quando envelhecer.

– Eu não quero envelhecer se isso significa perder você – falou choramingando.

– Não vai me perder – prometeu ele, balançando a cabeça – Nunca vai me perder.

– Então não vá, por favor – pediu a menina, colocando as mãos no rosto dele. O anjo fechou os olhos por um momento, e quando os abriu, eles queimavam em dor.

– Eu ficaria com você se pudesse – ele tirou as mãos dela e as colocou entre as dele – mas não é uma escolha que eu tenha o luxo de fazer.

– Então eu vou com você – falou ela, mostrando-se imponente em sua decisão. Ele riu por um momento.

– Não pode ir comigo.

– Não vou mudar de opinião – a garota tirou as mãos dentre as dele, e cruzou os braços, intransponível. O anjo riu novamente.

– Lembra daquela história que eu te contei? – perguntou ele – sobre a lua?

Kuekutshaushhh – ela vibrou, tentando pronunciar um nome.

Kuekuatsheu – corrigiu ele com um sorriso – Lembra?

– Não muito bem, conta de novo? – pediu. O anjo ajeitou a menina em seus braços, confortavelmente.

– Pois bem – começou – Sabe por que a Lua é tão solitária? É porque ela tinha um namorado. Seu nome era Kuekuatsheu, e eles viviam como espíritos no mundo. E todas as noites eles caminhavam juntos pelo céu. Mas um dos espíritos era ciumento, Trickster queria a Lua só para ele, e então disse a Kuekuatsheu que ela havia pedido flores. Disse para ele ir ao mundo humano para colher algumas rosas. Ele veio, mas não sabia que um espírito que viesse pra terra nunca mais poderia retornar ao mundo espiritual. Agora, todas as noites ele olha para o céu, vê a Lua e grita seu nome. Sem nunca mais poder tocá-la novamente.

– Essa história é triste – constatou a menina, franzindo a testa.

– Como poderíamos dar valor à felicidade se não soubéssemos o que é tristeza? – perguntou o anjo. Ela ficou sem resposta, e se distraiu brincando com as mangas da camisa dele.

Ele a encarava com um sorriso. Tão pequena, tão frágil, tão pura. Era um erro condená-la a esse mundo tão sujo, esse mundo tão cruel e tão mórbido.

– Acho que já passou da hora de você dormir.

– Não quero – retrucou a garota, displicente.

– Mas precisa.

– Me obrigue – ela o fitou com um sorriso. O anjo apertou os olhos.

– Me sinto desafiado – e pegando a menina no colo, foi com ela até o quarto. Depois de colocá-la na cama, cobriu-a, se curvando ao lado dela.

– Nunca me abandone – pediu, lutando para manter os olhinhos abertos.

– Me guarde no seu coração que eu irei aparecer. Você só tem que fechar os olhos e chamar meu nome – murmurou ele, segurando sua mão.

– Eu te amo, Castiel – falou tão baixo quanto um sussurro.

– Eu te amo mais, minha pequena Elisabeth – o anjo se curvou até encostar os lábios delicadamente na testa da menina. Quando a fitou novamente, estava dormindo. Imersa em sonhos profundos. Ele se dirigiu até a porta, dando uma última olhada para ela antes de desaparecer no corredor. Desaparecer pra sempre.

O reflexo daqueles olhos mostrava a condenação, uma alma aprisionada. Fogo queimava no fundo daquele azul escarlate que transbordava em dor, mas eu sabia que ele era incapaz de chorar.

Como se uma corrente de ar me levasse, eu fui completamente sugada daquele lugar. Senti que tinha novamente o controle do meu corpo, mas algo estava acontecendo com ele. Eu me debatia, mas mãos fortes mantinham meus braços colados ao redor do corpo e minha cabeça erguida. Eu não conseguia respirar, tinha algo trancado na minha garganta, uma espécie de água gelatinosa que me fazia engasgar. Meu ritmo cardíaco estava acelerado, a adrenalina corria pelas minhas veias juntamente com o pânico de não saber o que estava acontecendo.

– Abra os olhos, Esther! – gritava Dean, perto do meu rosto e então eu percebi que era ele quem estava segurando o meu queixo. Puxei o ar o mais forte que pude, e então me joguei contra a mesa, tossindo e deixando toda aquela coisa nojenta escorrer pela minha boca diretamente para a superfície.

– Mas que inferno... Foi isso? – indaguei sem fôlego e com os olhos queimando.

– Você entrou em transe! - explicou Theressa com a expressão apavorada, e então começou a olhar para todos os lados como se estivéssemos rodeados de pessoas. – E agora ela está muito brava! Você não deveria ter visto! Você não deveria...!

– Theressa, calma – pediu Sam, mas a mulher estava em choque. Ela colocou as mãos nos ouvidos, como se estivesse em meio a um barulho absurdo enquanto se debatia.

– Eles estão furiosos! Eles estão furiosos comigo! Vocês precisam ir embora! – berrou ela.

– Você vem com a gente, vamos a um hospital, você precisa se acalmar! – o Winchester caçula tentou intervir, segurando seus braços, mas Theressa afastou suas mãos aos tapas.

– Não! Vão embora! Vão embora! – ela correu pelo pequeno corredor e se trancou em uma porta. Dean foi atrás da mulher, forçando a maçaneta e em seguida dando alguns murros na entrada do cômodo. Mas ela continuava gritando como um disco arranhado. – Vão embora!

Saímos de lá e eu ainda estava em estado de choque, aquilo que eu havia visto era realmente verdade? Aquilo havia realmente acontecido? Minha cabeça dava voltas e voltas, eu não queria pensar sobre aquelas cenas. Como se já não fosse aterrorizante o bastante o fato de eu ter uma ligação com Elisabeth Bathory, agora eu acabava de descobrir que Castiel também tivera, e eu ainda tentava conter as lágrimas que queriam desabar por causa daquelas cenas. Algo me dizia que alguma coisa muito ruim tinha acontecido depois daquilo.

Estávamos prestes a entrar no Impala, quando Sam lançou um olhar horrorizado para algo atrás de mim, me virei e vi uma grande nuvem negra trovejando rapidamente em direção à cidade. De repente começou a ventar forte, papéis e lixos urbanos voavam contra nós com velocidade. Senti meu peito se apertar, era como se o vácuo estivesse me espremendo de fora pra dentro.

– O que vocês fizeram?! – indagou a voz alarmada de Castiel, se materializando ao lado de Dean.

– O que está acontecendo, Cass?! – bradou o loiro – O que é aquilo?!

Um poltergeist – revelou o anjo – O maior que eu já vi em dois mil anos!

– E agora? – indaguei atônita enquanto olhava para a nuvem negra e aterrorizante.

– Nós precisamos sair daqui, aquilo vai assolar essa cidade!

– Então nós temos que salvar quantas pessoas pudermos! – gritou Sam.

– Não temos tempo! – exclamou o anjo, puxando os Winchester na minha direção e então passou o braço pelo meu ombro. Vi um carro ser lançado na nossa direção e então nós estávamos de volta à casa de Bobby.

– Droga, Cass! – vociferou o loiro.

– O que aconteceu? – perguntou o velho Singer vindo até nós.

– Eu sabia! Eu sabia que isso não era uma boa ideia! Eu sabia! Sam eu te avisei! – continuava Dean, caminhando pela sala, totalmente alterado.

– Calma! – pediu Sam, colocando os braços na frente dele.

– Calma? – ele se esquivou, tomando distância do irmão – Uma cidade acaba de ir pro espaço e você me pede calma?!

– O que diabos houve aqui, pelo amor de Deus?! – indagou Bobby novamente.

– Nós encontramos Theressa, ela fez uma sessão e a Esther entrou em transe. Começou a se contorcer e expeliu ectoplasma, então a Theressa surtou dizendo que "eles estavam bravos com ela" e se trancou no quarto. – começou Sam rapidamente e sem fôlego. Ele gesticulava com as mãos e estava tão incrédulo quanto o resto de nós. – Quando a gente saiu da casa tinha uma nuvem negra enorme vindo em direção à cidade – explicou o moreno para os olhares incrédulos de todos na sala.

– Um poltergeist furioso – corrigiu Dean, um pouco mais calmo.

– Esther, o que de tão importante você viu pra atrair um poltergeist? – questionou Castiel, dando alguns passos na minha direção.

– Foi uma alucinação, eu não sei, ou talvez uma memória – expliquei confusa – Era uma garotinha pequena, ela conversava com um anjo e ele dizia que precisava ir embora.

– E por que isso deixaria tantos espíritos com raiva? – perguntou Bobby, totalmente cético.

– Eu não sei, mas...

– Mas? – incentivou o velho Singer.

– A garota no sonho, o nome dela era Elisabeth – revelei.

– A Bathory de novo! – Dean jogou as mãos para cima, trincando os dentes.

– Mas o mais estranho era que o anjo... – me virei para Castiel, deixando meu tom de voz diminuir gradativamente – Era você.

– É impossível, eu me lembraria se isso tivesse acontecido – discordou ele atônito enquanto balançava a cabeça negativamente.

– Foi o que eu vi – disse enquanto todos tinham expressões incrédulas e apreensivas em seus rostos, provavelmente tentando entender o que realmente havia acontecido. Eu não fazia ideia do que pensar, eu só sabia que estava com medo de algo que eu não queria saber, ou me lembrar.

Ficamos o dia inteiro assistindo aos noticiários para ver o que havia acontecido em Watertown, segundo os jornais, um furacão tinha destruído toda a zona próxima ao zoológico, e principalmente o quarteirão onde ficava a casa de Theressa. Graças ao talento de Bobby e Sam para conseguir informações com o FBI, eles descobriram que médium já estava morta quando a residência caiu, os pulsos cortados. Com a velocidade do vento, árvores haviam sido arrancadas, casas destelhadas, postes tinham caído e alguns carros e outros veículos menores foram arrastados. Dean estava perplexo ao descobrir que seu Impala tinha sofrido uma série de danos ao colidir com um Audi vermelho, por sorte o pobre Chevy ainda estava inteiro e sendo guinchado até a oficina.

Fiquei pensando em tudo que aconteceu e no quanto eu me sentia culpada, mais uma pessoa acabara de morrer por minha causa. E com esse pensamento, eu chorei até finalmente adormecer. O meu sonho, ou melhor, pesadelo, era apenas uma sequência de imagens aleatórias de todas as pessoas importantes pra mim, e de como elas morreram. Por último eu via o rosto de Daniel, no momento de sua morte, e sua voz ressoava na minha cabeça com uma frase não dita, mas que no fundo eu sabia que era verdade: É tudo sua culpa.

Acordei no meio da madrugada com o choro trancado, me sentei na cama, colocando as mãos em frente ao rosto. Minha vontade era de gritar até ficar muda.

– Sonho ruim? – perguntou Castiel. Virei a cabeça para fitá-lo, e o anjo estava parado em frente à janela com as mãos nos bolsos do sobretudo.

– Ruim é apelido – admiti.

– Volte a dormir.

– Não consigo – murmurei baixinho. Ficamos em silêncio por um breve momento e logo eu me peguei observando-o. Castiel não era do tipo extrovertido, ele mal fazia qualquer expressão corporal, mas com algum esforço eu conseguia detectar pequenos sinais em seu comportamento. E agora ele me parecia preocupado. – O que está fazendo aqui?

– Protegendo você – falou calmamente.

– Dos mosquitos? – indaguei olhando ao redor. O anjo deu de ombros e vendo que eu não teria uma resposta, eu levantei da cama e desci as escadas. O relógio marcava duas horas da manhã e não havia ninguém na sala, então eu me joguei no sofá e liguei a televisão num volume baixo. Estava passando um filme de drama qualquer.

– Você devia dormir – insistiu Castiel, se projetando em frente ao aparelho de TV e tampando minha visão. Dei um grunhido de insatisfação, e me sentei.

– Já disse que não consigo – dei de ombros, então bati com a mão no lugar ao meu lado. – Senta aqui.

Um pouco relutante de início, o anjo se sentou no sofá, e logo tratei de catar uma almofada e colocar no seu colo.

– Se importa? – perguntei enquanto deitava a cabeça virada para a televisão, ele levantou as mãos, deixando elas suspensas no ar por instantes até abaixá-las devagar.

– Não. – respondeu um pouco sem jeito. Devo dizer que aquele filme realmente me ajudou à esquecer um pouco tudo a minha volta, o modo como um câncer terminal pode ser retratado de um jeito tão leve e ao mesmo tempo triste te dava aquela sensação mista de dor e felicidade. O jeito como a mãe se prendia a filha, lutando por ela sem querer enxergar que não havia mais pelo quê lutar era melancólico, e a maneira como a garota se desprendia da vida com um sorriso era comovente. Afinal, a morte era ruim ou o medo de deixar tudo pra trás que te amedronta?

Assim que o filme acabou, eu percebi que estava chorando. Também notei que a sensação de conforto e sono que eu estava sentindo devia-se ao fato de Castiel ficar passando os dedos despreocupadamente por algumas mechas do meu cabelo, concentrado na televisão enquanto os créditos rolavam na tela.

– Por que eles fazem filmes assim? – questionou o anjo. Olhei para cima e encontrei seus olhos azuis agora curvados sobre mim, me fitando confusos.

– Assim como? Tristes? – perguntei, a voz saindo rouca por causa do choro.

– Eu pensei que filmes servissem para as pessoas se distraírem – refletiu.

– Nem tudo é um mar de rosas – dei de ombros enquanto passava as mãos pelos olhos. – Tem vezes que você simplesmente precisa de um toque de realidade trágico, afinal, como daríamos valor à felicidade se não soubéssemos o que é tristeza? – perguntei deixando meu tom de voz cair para quase um sussurro quando percebi que aquilo era incrivelmente nostálgico.

– Então sofrer pode ser bom? – indagou franzindo a testa.

– Sofrer é a única forma de você colocar pra fora tudo aquilo que te machuca por dentro.

– O que tanto te machuca? – murmurou o anjo se aproximando mais do meu rosto, os olhos confusos.

– Eu não sei, Castiel. – admiti num sussurro. – E tenho medo de descobrir. – disse olhando-o fixamente por vários instantes, até que ele balançou a cabeça levemente para os lados e se recostou para trás.

– Você realmente deveria dormir agora.

– Você tá parecendo um pai, anjo, sério. – comentei irônica e ele deu um sorriso.

– Ajudaria se eu pedisse por favor? – questionou inclinando a cabeça de lado. Fitei aquela cena fofa e é, eu fiquei toda boba. Aquilo era um tremendo de um golpe baixo.

– Ok, você venceu. – coloquei as mãos pra cima enquanto me sentava e desligava a televisão com o controle remoto. – Eu só vou... – Estiquei o pé para colocá-lo no chão, mas então eu senti o colchão macio abaixo de mim. Nós estávamos no meu quarto agora, olhei ao redor e balancei a cabeça.

– Super prático você – disse e deitei de lado, puxando os cobertores. Castiel ficou sentado na cama, me encarando até eu terminar de me ajeitar. Quando ele fez menção de se levantar eu segurei sua mão instintivamente.

– Fica aqui até eu dormir? – pedi, tendo plena convicção de que meu tom saiu igual ao de uma criança manhosa. Ele olhou para baixo, dando um meio sorriso, e era quase como se ele tivesse ficado um pouco constrangido.

– Eu ainda vou estar aqui quando você acordar. – prometeu, e então colocou a mão para que ficasse abaixo da minha, segurando-a delicadamente. Senti minhas pálpebras se fechando lentamente, ele tinha razão, eu precisava dormir. Mas era difícil fechar os olhos com Castiel ali, e ao mesmo tempo eu sabia que não teria mais pesadelos essa noite, juntamente com a promessa de que ao acordar eu o veria ali fazia enternecer as partes mais bonitas da minha alma.


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Notas finais do capítulo

Ownt que coisa mais fofa...
Agora realmente temos a certeza de que Esther é a reencarnação da condessa de sangue, e mais, ela e Cass se conheciam. Mas por que ele não lembra dela? O que será que aconteceu naquela época de tão ruim que não possa ser descoberto? Só de dar uma espiada no véu já surgiu um poltergeist maluco, imagina quando a verdade vir à tona.
PS: Assim como no filme evocando espíritos, Esther começou a expelir ectoplasma pois seu corpo entrou em contato muito forte com o outro mundo, e contatos assim sempre geram caos ao seu redor.
PSS: O filme que eles estavam assistindo era "Uma prova de amor".
Próximo capítulo é um especial, então deverá ser postado muito em breve. Um beijão!



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