Separate Ways - Requiem escrita por WofWinchester


Capítulo 16
Sacrifício de sangue


Notas iniciais do capítulo

Hello, babies!
Queria agradecer pelos comentários sempre lindões e maravilhosos, vocês são divas. Sem mais delongas, ao capítulo, moças!



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Ao longe eu ouvia um barulhinho ventilação que logo associei a algum tipo de passagem de ar. Eu estava sob uma superfície fofa, minha cabeça doía como o inferno, e a minha boca tinha um estranho gosto de algodão molhado. Abri os olhos e vi o ventilador de teto dando voltas vagarosas e sincronizadas, o que me deixava tonta.

Eu estava num quarto com paredes cor de creme, um pouco mofadas e com várias rachaduras que mais pareciam enormes teias de aranha. Apoiei as mãos na cama, puxando um pouco os lençóis pra levantar.
– Ei. Vá com calma – disse uma voz feminina. Procurei a origem dela e me deparei com uma garota de braços cruzados, recostada contra a parede. Os cabelos loiros desciam até abaixo dos ombros, enrolando nas pontas.
– Quem é você? – perguntei rapidamente, sentindo o som de minha voz latejar dentro da minha cabeça.
– Maison Wreckess, eu sou... Amiga do seu irmão – revelou calmamente.
– Meu irmão? Onde ele está? – indaguei tentando me levantar, mas a tontura me fez cair na cama no mesmo instante.
– Ele não está aqui – respondeu a garota, dando passos largos na minha direção – E me desculpe pela cabeça, acho que usei força demais – sibilou sem graça.
– Foi você que me bateu? – perguntei alarmada e com um pouco de raiva também. Então a figura loira que eu vi antes de desmaiar fora ela.
– Seus amigos entraram lá como quem quer dar um golpe de estado, e você parecia um cão farejador pelos corredores – justificou Maison, abrindo os braços.
– Claro e aí você afunda meu cérebro pra me parar – sibilei sarcástica, encarando-a. Eu não devia estar perdendo tempo aqui com essa garota que eu não sei se posso confiar, ela provavelmente deveria estar mentindo.
– Eu preciso falar com Jimmy – disse me levantando, mas Maison me puxou pelo cotovelo.
– Já disse que ele não está aqui, se acalme.
– Por que eu deveria confiar em você? – tentei me desvencilhar, mas ela era forte e sequer mexeu um músculo. Apertei as pálpebras, encarando o local onde sua mão entrava em contato com a minha pele - Onde estão meus amigos?
– Eu quero ajudar, ok? – ela passou os olhos pelo meu braço e então soltou devagar, gesticulando com a outra mão para que me mantivesse calma - Seus amigos estão aqui também.
– Eu quero vê-los – afirmei com determinação. Maison deu um suspiro breve.
– Não pode – disse comprimindo os lábios.
– Por quê? – perguntei ainda mais desconfiada. Se ela queria me ajudar, por que estava me mantendo trancada? E por que não queria me deixar ver os rapazes? E por que diabos meu irmão deixou essa garota quase estourar minha cabeça, afinal de contas?
– Por que estão desacordados – respondeu pacificamente, o que me fez apertar os olhos novamente. Desacordados, sei. Pelo que eu os conheço, Dean deve estar tentando chutar a porta neste exato momento, enquanto Sam deve estar pensando em mil teorias para sair de onde quer que estejam agora.
– Não importa. Eu os acordo – sentenciei me desvencilhando e correndo em direção a porta. Ouvi Maison bufar e me seguir.

Pelo que eu pude perceber, o lugar todo tinha aquele padrão de paredes cor de creme, e o chão deveria ser de mármore espelhado se não estivesse tão sujo. O corredor era estreito e com várias portas, e no final delas havia uma grande janela com uma cortina branca esvoaçante. Andei pelo mesmo, girando todas as maçanetas e encontrando quartos vazios. Eu não fazia ideia de onde os rapazes estavam. Quando eu ia tentar a penúltima porta da esquerda, Maison tomou a frente e se virou pra mim, apontando para o quarto logo ao seu lado. No mesmo instante ele foi arrombado, e Dean saiu a passos largos, com uma cara nada feliz.
– Onde infernos eu estou? – perguntou ele, pegando a garota pelos ombros e prensando contra a parede. Sam e Jimmy Novak vieram logo atrás dele.
– Você está bem, Esther? – indagou o Winchester caçula. Assenti com a cabeça, surpresa pela reação violenta do loiro.
– O que diabos está acontecendo aqui? – questionou Jimmy. Notei que ele mantinha a mão fortemente pressionada contra o braço direito, num ponto onde tinha uma enorme mancha vermelha escura, provavelmente sangue coagulado.
– Berrando desse jeito o máximo que você vai conseguir é um chute no meio das pernas – prometeu ela ao Winchester mais velho, trincando os dentes.
– Solta ela, Dean! – pedi segurando seu ombro. Ele me fitou e então cedeu, Maison lançou um olhar furioso para o loiro e então se voltou pra mim.
– Muito maneiros os seus amigos. Adorei! Precisamos fazer uma festa do pijama qualquer dia desses! – falou sarcástica.
– Essa é a Maison – apresentei, apontando para a garota estupefata a minha frente – E esses são Sam, Dean e Jimmy – disse enquanto indicava para o moreno, o loiro e o homem de olhos azuis.
– Alguém me chamou? – se meteu uma sexta voz.

Me virei pra trás e vi meu irmão caminhando devagar até nós, ele ficou na minha frente, abaixando a cabeça para me fitar, já que era definitivamente bem mais alto. Apertei os lábios, tentando conter a bola que se formava na minha garganta. Eu havia passado esse tempo todo tentando encontrá-lo e agora que ele estava bem ali, eu não sabia o que dizer.
– Esther – falou brevemente.
– Mano... – foi tudo o que saiu pela minha boca. Não havia nada que eu pudesse expressar com palavras, eu estava feliz e aliviada, finalmente encontrei meu irmão e ele está bem. E de alguma forma eu sabia que Jimmy também não estava encontrando nada pra dizer, e então ele simplesmente me abraçou.
– Cara, momentos família são tão constrangedores... – comentou Dean com um pigarro.
– Cala essa boca – repreendeu Sam, dando um peteleco no braço do mais velho.
– Nós precisamos conversar – falou Jimmy, me soltando e colocando as mãos sob meus ombros.
– Todos nós precisamos – acrescentou o loiro com uma expressão séria.

– Vocês não deviam estar aqui! – reclamava enquanto espichava a cabeça para dar uma olhada no corredor, e em seguida fechou a porta do quarto onde momentos antes eu estava desacordada.

Assim que meu irmão apareceu, nós fomos todos convidados a nos trancar naquele cômodo para poder ter uma conversa segura. O único que não estava no recinto era Jimmy Novak, que foi levado por Anna, uma gentil moça de cabelos ruivos, para fazer um curativo no braço onde tinha um corte fundo.
– Pra começar, onde é “aqui”? – indagou Sam.
– Um hotel abandonado no interior de Peoria, foi o primeiro lugar seguro que conseguimos achar para trazer vocês – revelou Jimmy, gesticulando com as mãos.
– Quem sabe que nós estamos aqui? – perguntou o moreno novamente.
– Só eu, Maison e alguns nefilins que eu considero leais – respondeu andando de um lado para o outro, dando uma curta pausa na conversa - Não deviam ter me procurado, as ordens eram pra matar todos vocês, sabiam?
– Nós só queríamos conversar – expliquei, fazendo-o me fitar.
– Fale por você – retrucou Dean com uma careta.
– Não há o que conversar – devolveu Maison brevemente – Já está tudo decidido.
– Então é verdade, vocês vão incitar uma guerra – falou o loiro, alterando o tom de voz.
– Não – disse Jimmy calmamente, encarando o Winchester com uma expressão descrente.
– Por que será que eu não to acreditando?
– Por que você é idiota – murmurou a loira com ar sarcástico.
– Maison, diga pra eles o que você é – pediu o nefilim, sem desviar o olhar. Ficamos em silêncio por um minuto, e então a garota deu dois passos a frente, fitando-o por alguns segundos antes de falar.
– Um anjo caído.

Os olhares no recinto eram de alarde e ceticismo, nós já tínhamos ouvido falar de caídos, e os Winchester já haviam topado com alguns anjos rebeldes, mas nunca os verdadeiros. Digo, nunca os que realmente tiveram as asas arrancadas.
– Vocês supostamente deviam estar se matando agora – falei, deixando uma pergunta no ar. Anjos caídos e nefilins estavam em guerra uns com os outros, então por que eles estavam se dando tão bem?
Supostamente – enfatizou Jimmy, gesticulando com o dedo – Mas Maison salvou a minha vida.
– Por que não começa do começo? – pedi um pouco nervosa, minha mente havia dado um nó no raciocínio.
– Ok – assentiu ele com um suspiro - Eu vivia em Seattle com meus pais adotivos. Há alguns meses comecei a ter sensações estranhas, comecei a crescer mais rápido, ficar mais forte e todos os meus machucados cicatrizavam num tempo absurdo. – Jimmy então sentou na cama, mexendo com as mãos enquanto falava - Eu estava apavorado tentando lidar com essa situação e então um dia cheguei a minha casa e meus pais haviam sido assassinados. Um demônio estava lá, ele correu atrás de mim, nós lutamos e no último momento Maison apareceu e me salvou. Desde então ela me ensinou tudo que eu sei.
– Espera, ela matou um demônio? Como? – indagou Dean, desconfiado.
– Exorcismo enoquiano – expôs ela.
– E no meio disso tudo você simplesmente decide fugir com uma garota que mal conhecia e nem cogita a possibilidade de me procurar? – retruquei me colocando a sua frente.
– Eu não precisei procurar você, por que eu sempre soube onde você estava Esther – afirmou ele, o que me fez ficar com uma expressão confusa. - Em Elwood, depois em Sioux Falls, sempre soube. – continuou o nefilim - Mas eu não podia arriscar. Você já corre perigo demais sozinha, e comigo por perto só ia piorar.
– Que se dane, somos irmãos. Família, entende isso? – joguei os braços pra cima com raiva e continuei - E então quer dizer que você sabe sobre os demônios no meu pé?
– Sei há algum tempo, mas antes que me pergunte, eu não sei de nada relevante. Só sei que é algo grande e muito bem esquematizado. Eles estão mais organizados e focados do que nunca. O último que eu cacei não falou uma palavra depois de quase uma semana de tortura.
– Ah, quer dizer que você caça também? – indaguei revoltada, dando alguns passos pesados pelo espaço limitado do cômodo. Um odor de fósforos queimados invadiu minhas narinas, o que me fez grunhir e procurar um lugar perto da janela.
– E aí é capturado e eu tenho que livrar seu traseiro – retrucou Dean, sarcástico e com uma pontada de irritação na voz.
– Você foi capturado também, Dean. – Jimmy lançou um olhar pejorativo na direção do Winchester, enfatizando o fato - Não se esqueça.
– Que seja – ele deu de ombros, trincando os dentes - O que você estava fazendo em Sioux Falls?
– Me aproximei apenas pra me certificar que Esther estava viva – ele sibilou pra mim, e então adquiriu um tom irônico – E aí demônios me capturaram e quase mataram a nós todos.
– Como você se tornou líder do exército? – bombardeou Sam, com mais uma pergunta - Digo, alguém novo assim simplesmente aparece e reivindica a coroa?
– Meu pai era o líder deles.
– Seu pai não era humano? – questionou o moreno.
– Aparentemente um humano cheio de segredos sujos – murmurou Jimmy com um suspiro.
– Herança de família, sei. – Continuou Dean - E qual é o grande plano da vez? Essa guerra?
– Estou tentando achar um meio de evitá-la – expôs o nefilim.
– Como? – devolveu o Winchester caçula.
Eu ainda não sei– rosnou - Mas vocês não ajudaram em nada aparecendo lá desse jeito. Se eles souberem que eu mantenho contato com caçadores, já era. – ele se levantou de supetão, voltando a caminhar pelo quarto.
Ou anjas caídas – retrucou Sam com desdém.
– Você é caçador, mas não mantém contato com caçadores? – questionou o loiro desconfiado - Que tipo de piada é essa?
– Eu cubro bem os meus rastros – explicou – Os nefilins levam a sério essa coisa de lealdade.
– Alguém tá sentindo esse cheiro? – perguntei, sentindo o leve aroma de fósforos queimados adquirir um cheiro mais intenso, como o de ovos podres.
– Isso tá parecendo... – Maison caminhou vagarosamente até a porta enquanto falava, sendo interrompida por Sam.
– Enxofre – murmuraram Dean e Jimmy ao mesmo tempo.
– Cara, tem demônios aqui! – esbravejou o Winchester mais velho – Por que tem demônios aqui?!
– E pela intensidade do odor são muitos! – emendou Sam, correndo até a janela e abaixando a persiana.
– Alguém nos traiu – chiou Jimmy, trincando os dentes e lançando um olhar para Maison.
– Cadê o sal? – perguntou o loiro, olhando para os lados.
– Não tem sal aqui – respondeu ela..
– Vocês não têm sal? Que tipo de caçadores são vocês?!
– Desculpe, não deu tempo de pegar a porcaria do sal enquanto eu tentava tirar o seu traseiro gordo do rastro de dezenas de nefilins revoltados! – devolveu a garota, alterando o tom de voz.
– Detesto interromper o papinho bacana, mas – Balthazar apareceu logo atrás de mim, o que me fez dar um pulo para trás – Precisamos sair agora!
– Você! – Jimmy fechou os punhos e partiu pra cima do anjo, enquanto o mesmo apertava os braços em volta de mim.
– Calma aí, garotão – falou enquanto apontava a lâmina angelical em direção à minha garganta, o que fez o nefilim parar rispidamente – Todo mundo mantenha a cabeça no lugar, e assim eu mantenho a minha e preservo a dela, ok? Ok.
– Me lembre de chutar você quando tudo isso acabar – disse sarcástica enquanto tentava ficar o mais longe possível da arma afiada.
– Eu vou matar você – prometeu Jimmy com um olhar homicida.
– Balthazar, solta ela – pediu Dean, educadamente. Caminhando devagar em nossa direção – Se alguma coisa acontecer com a Esther, bem, o Cass vai ficar muito bravo. E eu não cutucaria um anjo nerd se eu fosse você, só pra constar.
– No dia que eu tiver medo do Cassie, talvez eu ligue pras suas baboseiras – o anjo gesticulou com a lâmina – Enfim, ela é a minha garantia de sair vivo daqui.
– Como você entrou? Tinha símbolos antianjos por todo o lugar! – rosnou Jimmy furioso.
– Vocês, meus queridos, são mais inúteis que os Winchester pra fazer sigilos – devolveu ele sarcástico – Vamos sair daqui antes que alguém morra, e isso só iria me atrasar.

Ouvimos um barulho no andar debaixo e então a porta foi escancarada com violência, fazendo-nos fitá-la com pavor. Cerca de uns oito demônios nos encaravam com sorrisos maquiavélicos.
– Hora de correr – falou Balthazar e então ficou imóvel, logo a expressão debochada se tornava frustrada. Uma risada ecoou pelo quarto, enquanto uma garota abria espaço entre os homens de terno. O cabelo vermelho estava preso num coque com alguns fios soltos. Era Anna.
– Nós achamos mesmo que algum anjo viria, só não pensamos que fosse você – começou ela – Eu tenho algumas bruxas poderosas sob o meu comando, então considere-se desligado, Balthazar.
– Anna – cumprimentou o nefilim com um sorriso sarcástico – Vadia.
– Sabe, você é um bom líder, Jimmy. Mas se juntar com um anjo caído? Tsc tsc... Acho que está na hora de outra pessoa assumir o cargo.
– E essa pessoa seria você? – arriscou ele.
– E quem mais seria? – ela espalmou a mão no peito fingindo se sentir ofendida, e então riu novamente - Vou transformar isso em algo poderoso.
– Ou um cabaré – retrucou Dean, recebendo um olhar autoritário da ruiva.
– Prendam todos – sentenciou ela aos demônios.

– Cara, eu não me conformo – comecei andando de um lado para o outro do minúsculo cômodo onde estava presa com Sam e Jimmy Novak. Aparentemente esse hotel velho era uma espécie de delegacia há alguns anos atrás, e nós estávamos presos como bandidos. Dean e meu irmão estavam chutando a porta da cela a minha frente como se estivessem convictos de que poderiam derrubá-la assim, e Maison estava parada num canto mal iluminado enquanto Balthazar desfrutava nada feliz de uma outra cela só para ele. – Virou modinha se aliar a demônios hoje em dia, não é?
– Quem é aquela vadia? – questionou o Winchester mais velho, desistindo e se sentando próximo a loira.
– Minha tenente – revelou Jimmy com um suspiro, e então sorriu sarcástico, desferindo um último chute contra as grades - Ex-tenente, agora.
– Precisamos sair daqui – focou Sam, se aproximando da porta de ferro - Balthazar, por que não explode essas celas?
– Você é surdo? – chiou o anjo - Eles colocaram um feitiço a prova de anjos aqui, eu estou completamente inútil sem meus poderes.
– Maravilha – Maison jogou as mãos para cima.
– E o que a gente faz agora? – perguntou Jimmy logo ao meu lado. Assim que chegamos ele estava desacordado, provavelmente foi pego por Anna assim que saiu da nossa vista, o que me fez sentir mal. Se eu não estivesse tão focada em achar meu irmão, teria pensado melhor nas consequências e armado um plano decente. Nós fomos imprudentes e agora estávamos presos nesse fim de mundo, sabe se lá pra quê.
– Senta e chora – sibilou a loira, irônica.
– Na verdade tem um jeito – começou Balthazar, recebendo todos os olhares esperançosos.
– Qual? – perguntei, me agarrando às grades. De relance eu pude ver a bolsa de armas dos Winchester, jogada no canto próximo ao duto de ventilação. Se ao menos fosse possível alcançá-la, nós poderíamos ter uma chance de sair disso vivos.
– Precisamos chamar o seu lindo anjinho guardião – falou ele.
– Você mesmo disse que tem um feitiço a prova de anjos aqui, é inútil – retrucou Sam, confuso. Balthazar deu um suspiro irritado e então se voltou para mim.
– Você já parou pra pensar que essa marca de guardião não é só pra enfeitar?
– O que você quer dizer? – questionei franzindo a testa.
– Castiel não é mais um anjo comum, agora ele tem poderes diferenciados – explicou enfatizando a palavra - Vocês estão ligados de todas as formas possíveis. Vamos imaginar o seguinte: Você é a pólvora, ele é a arma, a marca é a bala.
– A marca é uma conexão – refleti comigo mesma.
– Ele pode se conectar com seus poderes – expôs o anjo.
– Como você sabe disso? – perguntou Jimmy, vindo até as grades.
– Eu li o manual, é interessante.
– Certo, e como nós o trazemos de volta? – questionou Maison rapidamente.
– Um feitiço de conexão com três etapas – começou ele erguendo a mão e mostrando três dedos. Lembrei do sonho que eu tive noite passada e sobre o que Castiel havia dito, que eu ia precisar ajudá-lo com um feitiço. Então era isso? Mas algo não batia, por que justamente no último momento? Nós poderíamos ter feito isso horas atrás.
– Não estou certo quanto a isso – comentou o Winchester mais velho, receoso.
– Se vocês querem sair daqui, é o único jeito – explicou o anjo. Instintivamente todos os olhares se voltaram para Jimmy Novak, que estava imóvel e atento. O moreno apenas assentiu com a cabeça.
– Certo – falou firmemente - Apenas diga como proceder.

Vários minutos depois, Balthazar havia feito um símbolo parecido com um círculo formado por três números seis na parede de sua cela, e Sam o reproduziu com o meu sangue, pintando um em mim e outro em Jimmy, na parte lateral de nossos abdomens.
– E agora? – quis saber o Winchester caçula.
– Agora é a pior parte: Sacrifício – começou Balthazar, sentado de pernas cruzadas no chão.
– Não gostei nada disso – comentou Dean.
– A casca precisa se sacrificar pra receber o anjo – continuou friamente.
– Como é? – indagou Jimmy incrédulo ao meu lado - Não.
– De jeito nenhum – emendou o loiro – Ninguém vai morrer.
– Eu já ouvi falar desse feitiço – refletiu Maison no fundo de sua cela, se virando para nós - Mas se ele o fizer, estará se ligando à casca pra sempre. Digo, é quase como a ligação entre o corpo e a alma, só que imortal.
– Mas vai funcionar? - indagou o nefilim - E o que acontece com a casca? – ele se virou para a garota, percebendo sua expressão negativa.
– Ele morre, permanentemente - afirmou ela - Só existirá o anjo lá dentro.
– Garota inteligente – elogiou Balthazar com ironia.
Não – enfatizou Jimmy Novak.
– Tudo bem, então vamos todos morrer – sentenciou o anjo secamente.
– Tem que ter outro jeito. Tente lembrar de algo! – pedi, me aproximando das grades. Algum jeito que ninguém precise morrer, de preferência.
– Não tem – respondeu ele, juntando as mãos em frente ao corpo.

Ouvi a enorme porta de metal ranger e abrir, enquanto uma figura morena de olhos negros puxados entrava por ela. A garota exibia um belo sorriso no rosto, triunfante, enquanto girava uma chave nos dedos da mão, a mesma estava presa a um chaveiro de coelho com enormes orelhas.
– Quando soube não pude acreditar, tive que ver com meus próprios olhos – começou ela, parando entre as celas. O som de sua voz subindo algumas oitavas, soando quase infantil – Os Winchester, um anjo, uma caída, o líder nefilim, Esther e a casca do guardião. O natal já chegou?
– Ah, vadia – murmurou Dean imitando o sorriso sarcástico que ela tinha.
– Olhe a sua boca – repreendeu a garota.
– Quem é você? – questionou Jimmy.
– Pergunte ao Balthazar, ele sabe quem eu sou – respondeu a morena convicta. Todos os olhos se voltaram para o anjo.
– Anastácia, demônia vadia que se acha a bam bam bam – respondeu ele, apontando para a mesma.
– Mas onde estão os bons modos dos cavalheiros? – chiou ela, divertida.
– O que você quer? – perguntou Maison, fazendo-a se virar na minha direção e caminhar até as grades. Ela guardou as chaves no bolso da jaqueta, deixando o chaveiro de pelúcia para fora.
– Essa linda garotinha - revelou, me fazendo grunhir de irritação.
– Desculpa amor, eu já disse pra sua amiguinha e vou dizer pra você: Eu não gosto de mulher – retribui com deboche, e então Anastácia trincou os dentes e enfiou as mãos pelas aberturas, me puxando pela gola da camiseta, o que me fez bater o rosto nas grades.
– Você é muito atrevida pra alguém do seu tamanho – murmurou com um tom ameaçador, e então uma ideia mirabolante me veio à mente ao fitar o chaveiro tão próximo de mim.
– Larga ela! – gritou Dean, no mesmo instante que Sam e Jimmy corriam na minha direção para afastá-la de mim, sendo interrompidos quando Anastácia liberou a outra mão para segurá-los no ar.
– Eu já ouvi isso antes, e quem disse queimou feito carvão – devolvi conseguindo deixá-la mais furiosa ainda. Ouvi meu irmão e Dean chutarem a porta da cela incansavelmente. Pelo canto do olho eu acompanhei meu braço se mover vagarosamente para perto dela - Se é a mim que você quer apenas os deixe ir.
– E perder a diversão de matar todos eles? – perguntou retórica, me batendo contra as grades novamente - Acho que não.
– O que você quer comigo, afinal? – indaguei rispidamente.
– Você me compreende tão mal, Esther. Eu não vou machucar você - Anastácia suavizou o tom de voz com um suspiro - Você é importante pra nós, ou será futuramente.
– Do que diabos você está falando? – franzi a testa.
– Tudo ao seu tempo – respondeu a morena com um sorriso felino, inclinando a cabeça para o lado e tentando fazer uma expressão meiga.
– Estou cansada de ouvir isso – ironizei enquanto aproveitava o momento de descuido e enfiava o braço por entre as grades, agarrando o chaveiro e jogando-o em direção à cela onde Dean estava derrubando as paredes. O objeto caiu alguns centímetros longe da entrada, e rapidamente Maison se abaixou, esticando as mãos para pegá-lo. Assim que percebeu o que eu havia feito, Anastácia tentou me soltar para correr até eles, mas eu a segurei pelo cabelo, sentindo a força descomunal da demônia me jogar contra o chão.

Maison conseguiu abrir o cadeado com uma agilidade surpreendente, e então Jimmy caiu em cima de Anastácia. Dean saiu correndo e se lançou em direção à bolsa de armas, dando dois tiros certeiros nas trancas das celas. Abri a porta com um chute no mesmo instante em que mais demônios invadiram nossa pequena prisão, alarmados pelo barulho.

Corri até as armas, caindo de joelhos e arremessei a faca para Sam, que estava junto com Maison enquanto se engalfinhavam com cinco homens de olhos pretos no final da sala. Dean, Jimmy e Balthazar estavam sendo rendidos por quatro demônios, peguei a calibre 22 que estava no chão e disparei alguns tiros, o que só os irritou mais.

O Winchester caçula se apressou em direção ao irmão com a faca, mas antes que pudesse dar mais de três passos, ele foi lançado contra a minha direção, me esquivei por pouco ouvindo-o bater contra a janela e cair junto a parede. Anastácia avançou na direção do moreno, e eu apontei a arma e comecei a descarregar, acertando tiros em seu peito ombros, pernas e rosto. Ela apertou a mão e então eu senti meu corpo ficar imóvel, a mesma continuava a avançar devagar na minha direção com um sorriso cruel, as balas saindo dos furos ocasionados pelos tiros. Fechei os olhos e então ouvi o crepitar de passos sobre os vidros estilhaçados da janela, e em seguida um gemido.

Anastácia acendeu num tom de laranja, caindo no chão em seguida. Sam estava atrás dela com a faca, respirando ofegante e aliviado. Olhei para o lado e Jimmy Novak tinha as mãos contra o peito, de onde estava jorrando grandes quantidades de sangue que manchavam a camiseta e desciam se espalhando pelo sobretudo. Ele havia cravado um estilhaço de vidro do tamanho de uma faca.
– Não! – gritei sentindo raiva dele por ter feito algo tão impensado.
– Eu acho que você... Pode fazer valer à pena – murmurou, deixando grandes filetes de sangue escorrerem pelos cantos da boca e pingarem no chão, o rosto se contorcendo de dor – Finalize o ritual, Esther.
– Droga! - encarei Sam que tinha uma expressão piedosa, o moreno assentiu brevemente, deixando transparecer que não havia nada mais que pudesse ser feito. Rolei os olhos pela sala em caos à procura de Balthazar - O que eu faço agora?! – gritei para o anjo que estava sendo jogado contra as grades, enquanto o Winchester caçula avançava nos demônios que vinham em nossa direção e eu disparava tiros com a intenção de atrasá-los.
– Agora beija! – berrou ele.
– O quê?! – perguntei incrédula, acertando um homem de olhos pretos por cima do ombro.
– Um contato afetuoso – explicou o anjo, enquanto montava em cima de um demônio e torcia sua cabeça para trás – Vocês podem transar, mas nós não temos muito tempo aqui! – sorriu sarcástico, esquivando de um soco.
– Mas... Mas... Isso não faz sentido! – protestei, percebendo que meus tiros estavam sendo completamente inúteis.
– Beija logo ou nós vamos todos morrer! – berrou Maison.
– Beija logo! – gritou Sam, enquanto arrancava uma barra de ferro do sistema de ventilação para acertar as pernas de um demônio e jogava a mesma para Dean que a enfiou dentro da traqueia de uma garota. Encarei Jimmy novamente, ele tinha as mãos trêmulas e o olhar vago, provavelmente deixando os sentidos devido à grande perda de sangue.
– Mas que droga! – murmurei apertando os olhos com raiva, e correndo na direção dele, segurando-o instantes antes de cambalear e quase cair. Coloquei as mãos no seu rosto e selei nossos lábios.

Foram milésimos de segundos e logo eu pude ouvir um som agudo invadir meus ouvidos, e embora eu estivesse de olhos fechados, era como se tudo estivesse girando. Uma onda de energia parecia me envolver e logo ser drenada pra fora, me fazendo ficar exausta, mas não o bastante para desmaiar. E então eu senti seu braço contra as minhas costas, me apertando forte contra ele, senti gosto de sangue mais profundo dentro da boca, senti uma estranha sensação de calor e mãos geladas, e logo eu percebi que algo havia mudado.

Me afastei um pouco enquanto recuperava o fôlego e vi um par de olhos azuis profundos me encarando inexpressivo.

Não era mais Jimmy Novak.

Era o anjo Castiel.


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Notas finais do capítulo

~Feelings abalados aqui~



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