– Você está vendo essa vista? O sol especificamente? - Faço uma pausa - É laranja. É esse o motivo.

– Não entendi. Por que isso é um problema?

Eu rio rispidamente. Ele não entende. Ele não entende.

– Algum tempo atrás, o Peeta me trouxe aqui e... ele... - Digo entre soluços - Ele brincou comigo sobre qual seria minha cor favorita. É estúpido, eu sei. Mas a dele, é essa - Eu aponto para o sol - É um laranja, não um laranja chamativo, mas um laranja por do sol.

– Eu ainda não entendi.

– É só que Haymitch... ele nunca... ele... ele nunca mais vai poder ver esse laranja se ele morrer. Eu quero morrer no lugar dele Haymitch. E agora mais do que nunca, sei que ele não vai deixar. Ele é bom demais. Ele me ama demais. E isso quebra meu coração. A única coisa que eu quero, é que o menino do pão sobreviva.

Ele passa um tempo sem falar nada, só olhando pra mim. Depois ele tenta quebrar o silêncio.

– Katniss... você tem que parar d...

– Não! Não tenho. É a verdade. Nós temos que parar de agir como se nós não estivéssemos indo, não pra capital, mas... mas... pra morte.

Eu só não continuo falando porque sei que a culpa não é dele. A culpa não é de ninguém. As coisas são assim. Não tem nada que ninguém possa fazer para mudar isso.

Por que o Snow é assim? Ás vezes eu me pergunto o porquê dele ser tão frio e ríspido. A razão dele matar sem dó. Ele provavelmente perdeu alguém que ele amava. Ele provavelmente vai morrer logo. Ninguém aguenta setenta e cinco anos de poder. Espera... eu acho que ele não poderia estar todos esses setenta e cinco anos governando Panem. Ele provavelmente virou o presidente depois do pai dele, pois eleição eu tenho certeza de que não foi.

Eles nunca ensinam essas coisas na escola. Deve ser porque eles não querem que a gente saiba dessas coisas. Deve ser porque conhecimento causa opinião o que causa revolução. O que eu tive muito tempo pra pensar sozinha na floresta.

– Pelo menos você tem sua família – Ele disse

– Ele tirou sua família, não tirou? Por causa do campo de força? – Pergunto ainda com a voz trêmula. Eu não devia ter dito isso...

– Sim – Ele fala e eu percebo a fraqueza em sua voz

– Desculpa por ter visto aquela fita, eu não devia... – Eu começo, mas ele me corta.

– Não tem problema. Snow tirou todos de mim. Todos que eu amei. Minha mãe, minha irmã... Ele faz isso com todos. Ele não tem misericórdia – Ele explica e dá pra perceber o tom frio em sua voz.

– Eu sinto muito – Digo honestamente.

– Não é culpa sua.

Nós saímos de lá e eu vou para o banheiro lavar meu rosto e esperar ele desinchar. Toda vez que eu choro, meu rosto fica vermelho e com bolinhas na minha testa. Passa depois de uns dez minutos, mas é o que sempre me entrega.

Espero as bolinhas e o avermelhado passarem, lavo meu rosto e me olho no espelho. Eu estou pálida, meus lábios estão rosados e eu estou com fome. Percebendo que já é provavelmente hora do almoço, vou para a mesa das refeições, mas os avoxes estão tirando os pratos e ninguém está lá. Vou para o quarto e vejo Peeta pela porta semiaberta chorando, indo de um lado do quarto para o outro, gritando coisas para o nada.

– Por quê?! Por que eu?! O que eu possivelmente fiz pra você? E-Eu... eu só quero ser feliz. Por favor. Por favor.

Quando eu não consegui mais ver aquilo, finalmente entrei no quarto, o segurando pelas seus braços e o empurrando pro chão para ele parar antes que se machuque.

– Peeta pare! Calma... o que aconteceu? – Falo olhando para ele, sua testa está um pouco suada o que faz os fios de cabelo loiro grudarem nela. Seus olhos estão profundos e em um tom mais escuro do que seu azul normal. Ele parece apavorado.

– Onde você e o Haymitch estavam? – Ele pergunta sem olhar para mim com sua voz um pouco falha

– Na varanda – Respondo.

– Por quê?

– Porque eu não queria que você me visse chorando Peeta. Depois do que você me disse ontem...

– Eu prefiro ver você chorando do que saber que você estava chorando e eu não estava lá com você tentando fazer você se sentir melhor.

– Peeta... não importa o que aconteceu hoje no almoço. O que houve com você aqui?

– Eu não queria que você tivesse me visto assim...

– Peeta. Eu estou aqui para tudo. Você pode me contar qualquer coisa a qualquer momento, ok?

Peeta:

Quando ela fala isso eu estremeço. O bebê. Eu tenho que contar pra ela... não posso! Ela escolheu que fosse assim eu não posso simplesmente...

Se ela quis que eu não soubesse, não tem problema.

– Ok – Respondo e ela sorri levemente.

– Agora vamos... Provavelmente chegamos na Capital logo... – Ela fala desanimada o que me faz rir levemente. É como se ela tivesse esse poder sobre mim. Ela me acalma. Sempre.

Ela me leva segurando minha mão até o banheiro e pega uma toalha. Molha a toalha com água da pia e depois a passa pela minha testa para melhorar o suor.

Depois nós tomamos banho e nos trocamos. Ela não comeu, e eu queria que ela comesse algo antes de sairmos então passo na cozinha e pego uma barra de chocolate e entrego pra ela. Ela sorri e a morde. Vejo ela fechar os olhos e grunhir de satisfação

– Obrigada – Ela diz de boca cheia o que me faz rir um pouco.

– De nada – Dou um beijo em sua testa.

Depois Effie e Haymitch chegam e nos dizem o que fazer, aonde ir, para que direção andar e essas coisas.

Quando enfim chegamos, eu e Katniss saímos daquele trem juntos, de mãos dadas. Como uma prova de que nada o que acontecesse ali poderia me impedir de ama-la até o último segundo que meu coração bombeie sangue. Eu estou com ela. E ela está comigo. E nada vai mudar isso.

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