Peeta:

– O que foi? – Pergunta ela se aproximando de mim tocando meu rosto suavemente com a mão.

– Nada, desculpa... Eu só... lembrei de coisas que não queria.

– Tipo o que?

– Tipo depois da gente ter saído da arena – Digo baixinho olhando pra baixo, mas eu sei que ela ouve pois levanta meu rosto com sua mão e me encara.

– Peeta, eu sinto muito mesmo pelo jeito que eu te tratei antes. Eu estava confusa. Mas descontar em você não foi de nada justo da minha parte. Me desculpa?

Eu sorrio e a puxo para junto a mim a beijando lentamente.

– É obvio que eu te desculpo.

Ela sorri.

– Você quer ir na floresta mais tarde? – Ela pergunta o que me faz pensar um pouco.

Não, não quero. Mas por ela eu faço qualquer coisa. Será que ela só está me perguntando isso porque ela não tem o Gale mais pra ir com ela e ir sozinha deve ser chato? Me recuso a acreditar que sim.

– Claro, vamos, mas me prometa que se eu tropeçar em um galho e morrer batendo a cabeça em uma pedra, a culpa vai ser sua – Digo brincando. Ela ri.

– Você não vai morrer, Peeta! Você ganhou os Jogos Vorazes – Ela fala com um meio sorriso no rosto.

– Só porque você me ajudou aquele dia no lago. Se não tivesse ajudado, eu teria morrido bem antes dos quatro finalistas – Falo e observo ela me encarando enquanto falo, com seus grandes olhos cinzas.

Katniss:

Eu posso ver o brilho nos lindos olhos azuis do Peeta quando ele fala isso.

– Você também me salvou! Sem você me avisando para correr quando eu estava sobre o efeito das teleguiadas, eu teria morrido – Falo e percebo que quando sai da minha boca, torna-se verdade para mim mesma. Eu nunca parei pra pensar muito sobre isso. Ele me salvou. Mais uma dívida que eu nunca vou poder pagar de volta para o menino do pão.

– Estamos quites então. Vamos para a floresta? – Ele diz e eu sorrio.

– Sim, vamos. Eu vou pra casa tomar banho, me trocar e avisar minha mãe do porque eu não durmo lá faz noites. Se é que ela percebeu – Digo em um tom brincando, mas no fundo queria que Prim pelo menos ficasse mais comigo.

– Ok, até – Ele diz e eu lhe dou um selinho, levantando e indo embora, fechando a porta.

Eu caminho até a minha casa, com um pouco de pressa, mas ainda não correndo. Andando rápido. Não é longe. Meus pés estão quase saltitando e não pisando, eu estou nas nuvens. Não deveria, eu sei, é errado, com todas essas pessoas nesse distrito tristes e tal. Mas nesse momento eu realmente não ligo. Eu demorei tanto pra entender o que eu sentia por ele. Não era ódio, amizade ou competitividade. Era algo intenso como os três, só que melhor.

Ter conforto em seus braços quando eu estou triste, não tem preço. Ainda mais essa semana que eu fiquei bloqueando ele. Eu me odeio tanto.

Finalmente chego em minha casa, e me deparo com minha mãe sozinha no balcão da cozinha.

– Onde você estava? – Pergunta ela em o que eu acho que foi uma tentativa falhada que dar uma de mãe protetora.

– No Peeta – Respondo ainda parada na sala.

– Você dormiu lá? – Ela pergunta.

– Sim – Respondo.

– Você e ele já estão... você sabe...? – Ela pergunta e eu franzo o cenho. Não posso falar que não fiquei surpresa com a pergunta.

– Não! – Quase grito e ela dá de ombros.

– Se estiverem também, é normal. Só me avise.

– Tá – Digo subindo as escadas. Que conversa sinistra.

Admito que nunca pensei nisso. Pelo menos não comigo e com o Peeta. Não estou falando que não seria bom, o que eu acho que seria, mas eu não sei, a minha mãe querer saber detalhes da minha vida privada é só, sinistro.

Francamente, a minha vida tem sido uma bagunça tão grande nesses últimos meses que eu tinha até esquecido da existência de tal coisa. Mas agora que estou considerando, não acho tão ruim.

Tento com esforço me afastar de meus pensamentos e tiro todas as minhas roupas entrando no chuveiro. Mergulho meus cabelos na água, massageando-os. Tento não pensar em nada. Nada, nada, nada...

Finalmente acabo o banho e vou para meu quarto, me seco e coloco uma roupa qualquer com uma bota. Eu as uso quando vou pra floresta. Eu quero levar o Peeta pra lá porque é um lugar tão especial pra mim que eu sinto que se Peeta também estivesse lá seria só perfeito. É meio egoísta mas eu realmente não ligo. Não ligo.

Saio de casa e vou para a casa dele. Ele já está na porta e abre um sorriso quando me vê. Eu posso ver o brilho em seus olhos.

– Vamos? – Pergunto apontando para a cerca que separa a vila da cidade.

Ele acena com a cabeça como quem diz “sim” e rumamos para a floresta. Andamos de mãos dadas pelo distrito 12. Não tenho que falar que é estranho. Muitas pessoas nos olhos mas eu tento não me preocupar, afinal eles nos viram quase morrer. Faço o caminho que não passa na frente da padaria de seus pais pois acho que isso pode trazê-lo muita mágoa. E isso é a última coisa que eu quero. Chegamos na cerca.

– Bom, aqui é mais complicado. Primeiro você tem que ver se ela está ligada, o que nunca está, mas mesmo assim... depois você pode ir por baixo ou por cima, o que eu nunca consigo – Explico e ele concorda com a cabeça.

– Ok. Quem vai primeiro?

– Eu.

Digo verificando o som da cerca. Desligada. Novidade. Atravesso por baixo dela e chego do outro lado. Olho para Peeta que faz o mesmo.

Caminhamos mais um pouco e sentamos Na Pedra.

Sim, aquela pedra. A que eu conversava com Gale. Tento ao máximo não pensar nele. Penso em Peeta e logo o moreno sai da minha cabeça.

Sento na pedra e ele logo em seguida também.

– O que você faz por aqui? – Ele pergunta, acho que se referindo a floresta.

– Eu caço... basicamente isso – Tem os meus encontros com Gale, mas parece errado falar isso pra ele.

– Eu sei do Gale, Katniss. Eu te seguia as vezes quando era menor. Eu via vocês passando da cerca. E eu confio em você. Está tudo bem.

– Eu te amo – Digo, experimentando dizer essas palavras pela primeira vez.