Levantei mais ou menos quatro da tarde, e fui para a cozinha, deixando Anna dormindo no quarto sozinha. Vi que Dylan e Caleb já estavam acordados.

– E aí? – perguntei, me sentando em uma cadeira.

– Pedimos hambúrgueres. – disse Caleb, sorridente.

– Como?

– Pedimos para o serviço de quarto. É de graça! – respondeu Dylan.

A campainha tocou e eu atendi a porta. Uma senhora levando um carrinho com cinco hambúrgueres, acompanhamentos como cebola empanada, nuggets, mini chickens, batata frita e refrigerante Coca Cola.

– Obrigada. – agradeci, pegando uma bandeja. Dylan e Caleb pegaram outras duas.

Levamos a comida para dentro e colocamos em cima da mesa. A senhora fechou a porta do apartamento.

Fui até o quarto dos garotos e bati três vezes na porta.

– Acorda! – gritei, e bati na porta do quarto meu e de Anna.

As duas portas se abriram simultaneamente e os rostos sonolentos e horríveis de Noah e Anna apareceram. Fiz uma careta e os convidei para se sentarem conosco na mesa para comer os hambúrgueres.

Peguei um Cheeseburguer Duplo e abocanhei. Todos estavam silenciosos comendo, e eu não gostava daquilo.

– Já sabem o que vão ser? – perguntei.

– Como assim? – perguntou Anna, inocentemente para mim.

– Aquele negócio de Mago e enfim.

– Isso vai ser resolvido hoje, não se apresse.

– Aquilo que o Owen falou parece ser muito legal! Quer dizer, viram como ele matou aquele monstro?

– Sim, nós vimos. E sim, foi incrível. E não, não sei o que vou ser ainda. Acho isso tudo muito estranho ainda.

Fiquei calada. Anna era impaciente e ansiosa as vezes, eu conhecia ela muito bem. Eu sabia que ela estava querendo saber o que queria ser. Ela não achava estranho, ela achava sensacional. Era o tipo de pessoa que amava mitologia, de qualquer tipo.

– Vamos descer. – eu disse, depois de termos acabado com os hambúrgueres.

Escovamos os dentes, trocamos de roupa e saímos da estufa-hotel.

Ao chegarmos lá embaixo, seguimos a trilha até o arco de madeira onde haviam as pedras. Eram mais ou menos seis horas da noite, e a fogueira crepitava no meio do círculo que tinha as pedras. Owen nos recebeu com um sorriso e nós nos sentamos em algumas pedras. Algumas pessoas chegaram a ficar em pé.

– Bem, vamos começar nossa seleção? – perguntou Owen.

– Guerreiros são na maioria das vezes explosivos. Costumam sempre liderar um grupo ou uma expedição, independentemente se estiverem fracos ou não. São corajosos e não temem a dor. – disse Owen – Quem de vocês seria um guerreiro?

Noah se levantou. Owen sorriu e começou e sussurrou algo no ouvido dele. Logo após Owen entregou uma espada para Noah. A lâmina dela era de um metal mais escuro, quase negro, mas ficava cinza quando exposto à luz.

– Magos são sábios e inteligentes. Pacíficos, mas sabem a hora que precisam agir e fazer alguma coisa para defender o seu grupo. – continuou Owen.

Olhei para Anna e Caleb. Anna estava de cabeça erguida, convencida. Já Caleb estava com o rosto da cor de um camarão.

– Caleb? – perguntou Owen.

Ele levantou a cabeça e caminhou tropeçando até Owen. Foi-lhe entregue uma varinha mágica amarela com uma esfera azul brilhante na ponta. Ele e Noah voltaram para seus lugares.

– Ladrões são conhecidos por serem travessos, malignos, as vezes sombrios. Mas na maioria das vezes são divertidos e só querem saber de zoar com as pessoas. – disse Owen.

Me identifiquei. Mas acho que aquilo não era exatamente eu. Então me dei conta que Dylan havia se levantado, e Owen lhe entregou uma daquelas armas.... Como é o nome mesmo? Ah, sim! Zamadar! Dylan voltou para o seu lugar.

– Arqueiros são espertos, corajosos, hábeis e possuem uma destreza maior do que a de todos os outros. – continuou Owen.

Anna se levantou, decidida. Owen lhe entregou um arco húngaro amarelo com aquele-lugar-que-se-coloca-as-flechas em vermelho. Ela voltou para o seu lugar, sorridente.

– Por fim, os Piratas. – disse Owen, finalmente – Os Piratas são traiçoeiros como os ladrões, não gostam de tomar a linha de frente como o Guerreiros, não são tão sábios quanto os Magos, muito menos hábeis como os Arqueiros. Mas eles são espertos. Sabem o que tem que fazer na hora certa, nunca se intrometem em brigas por acaso, e quando entram em uma, é para vencer. São destemidos, superiores e finos.

Pensei bastante. Eu me parecia com uma Pirata. Quer dizer, tudo aquilo era verdade. Meus amigos sempre diziam que eu me achava sempre superior que os outros, mas sempre também fui traiçoeira e brincalhona segundo eles mesmos. Fiquei indecisa, ainda queria ser Ladra. Mas...

Me levantei e fui em direção à Owen, de cabeça erguida.

– Já imaginava. – ele sussurrou em meu ouvido enquanto me entregava uma pistola pintada de marrom e cinza – Acho que você vai se dar bem nesse ramo.

– Por que? – perguntei, pegando a pistola.

– Há algo que Violet quer de vocês, principalmente do meu filho Noah. Ele não está preparado para isso. Muito menos você. Mas se tem uma coisa que eu posso contar é: não aceite as ofertas da Rainha dos Fantasmas, ela pode ser pior do que um Ladrão. Astúcia também é uma característica dos Piratas, use sua astúcia e enfrente Violet. Acredito em você, Zoey.

Por fim, Owen sorriu para mim. Eu fiquei sem graça e confusa. Sorri de volta e voltei para o meu lugar.

– O que seu pai te disse? – perguntei para Noah.

– Ele disse que estava orgulhoso de mim. – respondeu Noah com ar de superior – E o que ele sussurrou para você?

Repeti tudo o que Owen havia dito. Todos ficaram boquiabertos.

– Violet quer algo de... mim? – perguntou Noah, incrédulo.

– Aparentemente sim. – respondi.

– Vocês dois parecem realmente serem importantes. – disse Dylan, cruzando os braços. Ele estava com ciúmes, era bastante ciumento.

– Ah, cale a boca! – retruquei.

– Crianças! – exclamou Owen, sorridente e com um olhar travessamente divertido – Vamos começar o nosso treinamento?