Liberte-me... -Interativa escrita por Kiseki Akira


Capítulo 4
Sob a noite escura


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas... não tenho muito o que comentar aqui, então nos vemos nas notas finais.
Boa leitura.



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Cater estava assustada.

Fizera mais uma pesquisa em seu notebook a respeito de seus adversários, e mais uma vez apenas para constatar que nem mesmo a polícia sabia muito sobre eles. Quase nada, pelo menos sobre a maioria. Mas da última vez não pesquisara sobre todos, e se assustou quando fez isso. As informações que mais chocaram Cater foram:

A Assassina Genial: métodos sádicos e provocadores; deixa sempre uma carta à polícia, incitando-a a procurá-la. Aparentemente usando facas, decapita suas vítimas e escreve as cartas com o sangue delas.

O Caçador de Olhos: usa uma espécie de veneno (que ainda está sendo discutido pelos investigadores) paralisante em suas vítimas, levando-as a desmaiar. Deste modo em que elas não podem se defender, ele realiza uma cirurgia para arrancar-lhe os olhos. Logo após esse processo, enforca suas vítimas amarrando-as em algum ponto visível, mas assustadoramente sem nunca ser visto.

Alice: simplesmente conhecida por este nome pelo fato de que, ao terminar de matar sua vítima (de diversas formas, seja por esfaqueamento a queima roupa ou à distância, etc.), este assassino deixa uma carta de baralho com o nome “Alice” escrito com sangue próximo ao corpo, geralmente num ponto visível.

O Violinista Fantasma: os cortes nos corpos do cadáver geralmente são reconhecidos como cortes das lâminas de duas foices. O assassino não caça qualquer vítima: tem uma preferência por homens e mulheres de classe alta, o que leva a polícia a pensar tratar-se de um mercenário. Não deixa qualquer rastro sequer na cena do crime, exceto por uma rosa geralmente vermelha.

Cater não era uma garota medrosa. Nem um pouco. Mas como poderia lidar com pessoas assim, que podiam enrolar a polícia com tanta facilidade? Se eles podiam apagar seus rastros como genuínos fantasmas, com certeza teriam habilidades necessárias para caçar qualquer pessoa numa boa.

A garota empurrou seus fios dourados para fora de seu campo de visão.

–Preciso encontrá-los... –murmurou. –Preciso encontrá-los antes que eles me encontrem. Ou então todas as minhas chances de realizar meu desejo estarão perdidas... Eu não posso deixar isso acontecer.

E então voltou a comer o sushi que chegara por entrega há alguns minutos, mesmo que agora estivesse com o estômago embrulhado por conta do que acabara de ler.

~*~*~

Sophie estava assustada e satisfeita com a própria sorte.

Vasculhando cada cantinho mínimo do quarto de Annie, encontrara não só uma coleção muito bem escondida de facas e espadas, como também uma folha de papel cuidadosamente dobrada com vários nomes de assassinos. Sorriu friamente ao ler “Alice” e notar que o nome estava sublinhado de vermelho, talvez um sinal de que ela estivesse na lista dos primeiros a serem procurados.

Não estava com muita vontade da caçar alguém, mas não podia se permitir ser caçada. E também precisava de alguma vantagem.

Alice saiu do quarto com uma feição calma e satisfeita. Tocou o baralho que estava no bolso do moletom, já começando a planejar seu trabalho.

~*~*~

A noite havia chegado. Estava particularmente mais gelada que nos dias anteriores, e mais escura também. Nuvens que se assemelhavam a fumaça negra cobriam parcialmente a lua e deixavam as estrelas pouco visíveis.

Naquela noite escura, uma figura solitária observava o nada com pensamentos diversos correndo por sua mente, enquanto sentava-se numa das janelas de Gedächtniskirche, uma escura igreja antiga cujo prédio principal fora fortemente danificado por conta de um bombardeio na Segunda Guerra Mundial. As pessoas que vagavam por ali pareciam não ver tal figura, enquanto esta as fitava com um olhar gélido de puro desinteresse, enquanto sua mente devaneava.

Era um cenário bastante melancólico.

De repente o olhar azul e gélido volta-se para o teto acima de sua cabeça, pois de lá escutou um barulho. Numa questão de segundos, uma presença calma e tranquilizadora estava ao seu lado: uma mulher de túnica branca e uma corrente dourada como cinto. Seus cabelos eram absurdamente negros, e seus olhos dourados eram como os de um falcão. Ela se apoiou numa das janelas e ficou parada lá também; provavelmente tinha descido pelo telhado pontudo da torre.

–O que você faz aqui? –perguntou o garoto de olhos azuis, voltando a fitar as ruas pouco movimentadas. Suas tatuagens ficavam precariamente escondidas por uma camiseta branca sem mangas com dois furos nas costas para exibir tocos de asas que foram cortadas.

–Eu quem pergunto. –murmura a mulher de cabelos negros, encarando o garoto como quem planeja estrategicamente sua morte.

–Você sabe o que estou fazendo aqui. –ele ri, ainda sem tirar os olhos das ruas. –Você sabe do jogo, e sabe que não pode me impedir, certo?

–Sei que não posso te impedir. Mas mesmo assim, estou aqui para tentar te aconselhar a não cometer mais um crime. Você gosta de estar com a corda no pescoço? –ela pergunta, deixando certo tom de irritação sair.

–Você não tem nada melhor para fazer, Keri? –ele resmunga, fugindo do assunto.

–Você pode pelo menos olhar para mim ao falar?

–Não. Seu rosto não me agrada.

–Você tem é vergonha. –Keri cospe as palavras como se fossem venenosas. –Tem vergonha de ser um criminoso fracassado, mas jamais admitiria isso, não é? Prefere fugir dos seus problemas e ainda começar novos a tentar se redimir...

Ele cala a boca dela com um movimento repentino. Num piscar de olhos, estavam a centímetros um do outro, e ele fechava a boca de Keri com uma de suas mãos.

–Por que você não cuida da sua vida, vadia? –ele pergunta. Os olhos estavam mais frios do que nunca; olhos de um completo psicopata, mais assustadores somados a um sorriso sádico. –Estou fazendo isso por estar entediado, pelo simples fato de que quero fazer. Estou pouco me lixando para você e as suas regras, então vê se fica quietinha e não se meta no meu caminho. Estamos entendidos?

Keri não responde. Ela revira os olhos dourados e o empurra, mas ele dá apenas dois passos para trás, o sorriso cruel lentamente se transformando num pequeno sorrisinho de canto.

–Já que não posso fazer nada, pelo menos me diga quem você escolheu para ser sua... –ela suspira pesadamente antes de concluir a frase: – sua peça.

–Ah, ele está em movimento agora mesmo. –disse o garoto de olhos azuis de modo quase simpático. –Você não quer assisti-lo?

–Não. Eu não sou doente como você.

–Bem, tanto faz. –ele dá de ombros. –Ele se chama Lucas. Lucas Nimble.

Keri franze a testa, aparentemente reconhecendo o nome.

–Você é nojento, Leere. –resmunga ela.

O anjo caído, Leere, novamente abre seu sorriso sádico e simplesmente diz:

–Eu sei.

~*~*~

A casa era cercada por brancos muros altos com ferros pontiagudos no topo. Havia um portão aparentemente pesado de madeira como modo de entrada, mas obviamente estava trancado. As câmeras de segurança já haviam sido desativadas, e agora várias ferramentas eram freneticamente usadas para romper a tranca do portão.

Apenas um baixo “click” anunciou o sucesso na operação. Fora bastante rápido.

–Parece que nós conseguimos, né Escorpio? –murmurou o garoto de cabelos pintados de vermelho-sangue num tom de voz empolgado. Não era difícil para ele invadir uma casa em uma rua escura e praticamente deserta, mas sempre que uma alma viva passava por ali, ele logo ficava mascando chicletes inocentemente e esperava a pessoa ir embora. Mas murmurava consigo mesmo o tempo todo.

Lucas Nimble empurrou o portão de leve e olhou cuidadosamente para o ambiente lá dentro. A primeira coisa que viu foi uma árvore morta, mas nenhum sinal de qualquer ser humano por perto. Esgueirou-se para dentro da casa e fechou o portão silenciosamente atrás de si.

–Para onde agora, Escorpio? – os frios olhos cor-de-mel de Lucas estudavam cada canto do ambiente. Apenas um jardim de plantas mortas e grama selvagem. Mais adiante, uma casa não muito grande de pintura branca e gasta. Ele se dirigiu até a casa enfiando-se no jardim mal cuidado para evitar ser visto.

–Ah, olha, que bonitinho... –murmura ele ao tropeçar por acidente numa pequena caveirinha de dia dos mortos. Ele pisa no objeto, que quebra, e segue seu caminho.

Passa alguns instantes observando as luzes apagadas, mas as janelas estavam abertas. Não havia mais nenhuma câmera de segurança. Após alguns instantes, Lucas logo constatou desapontado:

–Ué? Não tem ninguém em casa...?

~*~*~

Sasha fora dormir cedo.

Passara o dia irritando-se com a estupidez de seu mordomo, já pensando em livrar-se dele só pela raiva que a fazia sentir. Ele não conseguia levá-la a canto algum de Berlim sem se perder no caminho, e seu alemão era tão trágico que Sasha já estava achando que teria pesadelos com aquilo.

Por enquanto não obtivera pistas satisfatórias sobre sua vítima, a Chama da Noite, além das matérias jornalísticas que facilmente encontrava na internet. Mas sabia que o título fora dado por conta de cabelos tão ruivos que era possível vê-los no escuro, e por aí já poderia começar a caçá-la primeiramente com os olhos. O problema era que a vítima poderia estar em qualquer canto de Berlim, e não havia só uma ruiva no mundo.

Não poderia ter ficado mais satisfeita com a ideia de ir dormir cedo.

Assim que caiu no sono, um sonho extremamente realista veio à sua mente. Não podia ser um sonho comum, ela logo deduziu. Era nítido demais.

Passava-se numa casa pequena e sufocante. Um tapete velho que antes fora branco e agora era marrom se estendia por toda a sala-de-estar. As janelas estavam sujas de poeira, mas dava para ver que alguém morava ali. Mesmo com toda a sujeira, aquela casa cheirava fortemente a um perfume francês que deixou o nariz de Sasha irritado mesmo após ela acordar.

Alguém abriu a porta da sala com um rangido alto.

Era uma garota loura, que usava roupa de menos e maquiagem demais. Seus olhos verdes estavam repletos de tristeza, mas em seu rosto havia um sorriso meio bobo. Ela entrou cambaleando na sala e logo caiu no chão bem aos pés não materializados de Sasha.

–Lola? –uma voz delicada e baixa falou de repente.

Bem ao lado da Manson passou um rápido vulto vermelho. Sasha arregalou os olhos ao ver uma garota pequena e magra correndo para ajudar a loura, e esta garota tinha cabelos tão ruivos que realmente pareciam-se com...

Chamas...

Sasha então desesperadamente tentou mover-se para ver o rosto da menina, mas o sonho não permitia que ela tirasse os pés de onde estavam.

Acordou num salto e com o coração acelerado. Só notou que segurava sua faca ao sentir sua mão esquerda arder com um corte feito acidentalmente por ela. Largou a faca no chão e afundou seu rosto nas duas mãos, frustrada por não ter visto o rosto de sua presa.

Quando afastou as mãos, havia uma macha de sangue em sua bochecha.

~*~*~

Sob a noite escura, numa floresta afastada, sombras vagavam por um círculo de pedras. Nenhuma forma de vida verde crescia no interior do círculo; ali havia uma areia infértil e mal cheirosa.

–O jogo está completo? –uma das sombras perguntou. Sua voz era como a junção de várias numa só, falando ao mesmo tempo. Era algo perturbador de se escutar.

–A última peça já foi escolhida. –uma voz reptiliana afirmou. Sua sombra enrolava uma mecha de cabelo que agora parecia uma espécie de tentáculo ou alga oleosa.

–Até que enfim o jogo está completo. –suspirou a voz de Leere, o anjo caído, aparentemente muito satisfeito.

–Quem foi o último humano? –outra das sombras perguntou.

–Chama-se Charlie Scarperrot. –Leere responde.

–Ah, conheço esse aí... –uma voz profunda comenta. –eu o observei durante um tempo, mas acabei por escolher outra peça...

–Azar o seu. –debochou uma das sombras. Sua voz era feminina e gentil. –Ele vai ganhar.

–Veremos.

E as sombras continuaram a conversar ao redor do círculo de pedra pelo resto da noite, suas vozes macabras ecoando pela floresta escura, exalando podridão, fazendo com que mesmo os animais noturnos se recolhessem em suas tocas, ninhos ou onde quer que seja, nervosos com aquele ar desagradável.

~*~*~

Ariane chegara tarde ao hotel, morrendo de frio e de fome. Estava estranhamente descabelada e arfando. Assim que a notou, a balconista (que até agora ainda não tinha dito seu nome) foi imediatamente buscar um cobertor. Os lábios da menina estavam meio roxos.

–Você está bem? Onde é que esteve o dia to-...? –ela ia perguntando, mas não obteve resposta, pois Ariane desmaiou ali mesmo em seus braços. –Oh, céus... Friedrich, mir helfen! Friedrich!

Antes mesmo que o homem chegasse, a balconista notou algo no pescoço de Ariane.

Seu pescoço delicado tinha agora alguns cortes profundos. O líquido vermelho manchava as mãos da mulher e o casaco de Ariane. Ela afastou os cabelos da menina para vê-los melhor.

Aquelas marcas seriam de...

Garras?

~*~*~

Annie não conseguia dormir, e sabia que nem mesmo seria uma boa ideia.

Estranhara chegar ao hotel naquele dia e ter encontrado seu quarto destrancado, tendo certeza de que não o deixara assim. Ao entrar no cômodo, não viu nada fora do lugar, então suspeitava que não fora um mero ladrão. E isso a incomodou pelo resto do dia.

Já havia sido encontrada por algum dos assassinos? Se sim, quem?

Talvez aquela pessoa que a observara na praça...

Ainda assim enrolou-se em suas cobertas e ficou ali parada, respirando suavemente, mas com os olhos entreabertos. As luzes do quarto estavam apagadas. Havia uma espada também suavemente enrolada nas cobertas, mas o cabo estava sendo firmemente segurado pela mão de Annie.

Ficou daquele jeito por horas. Já estava achando que iria enlouquecer quando viu no relógio em cima da cômoda que já eram duas da madrugada. Foi quando escutou um “click” baixo na porta do quarto.

Tentou continuar respirando suavemente para que o invasor não notasse que estava desperta. A porta foi abrindo de vagar com um rangido baixo, e o quarto ficou mais claro por causa da luz do corredor. E então a porta se fechou novamente, trazendo a escuridão de volta.

Passos.

Passos indo na direção de Annie.

Ela sabia que não podia vacilar. Nem mesmo sabia que tipo de arma seu inimigo estaria usando, mas tinha que se salvar de algum modo.

Quando os passos pararam e Annie sentiu a presença de alguém perto dela, foi tudo muito rápido.

A lâmina prateada da espada brilhou no escuro e rebateu de forma certeira a faca que já estava posicionada nas mãos enluvadas do inimigo.

Correção: inimiga. Annie franziu a testa.

–Que diabos...?


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Notas finais do capítulo

O jogo está completo e os ataques começaram! Hahaha!
Suponho que mir helfen signifique "ajude-me", mas sei muito pouco de alemão e as informações da internet nem sempre são confiáveis... perdão caso esteja errado.
Desejem sorte a seus personagens... alguns irão precisar. Ah, e poucos apareceram nesse capítulo, mas com certeza terão chances mais tarde.
A quem interessar:
LUCAS NIMBLE: http://static.tumblr.com/f77b7095a4e4ed5607464d13b6055686/tb2nia4/vtimta41o/tumblr_static_sasori.png
E também, esta é a Gedächtniskirche:
http://www.ac-nancy-metz.fr/pres-etab/colllouispergaudfresnesenwoevre/voyages/berlin/gedaechtniskirche.jpg
Espero que tenham gostado.
Aur revoir, estou indo ver o Jack Sparrow na TV. @_@