O que são demônios para você?

Seres monstruosos, gananciosos e obcecados por luxúria e outros pecados humanos?

Criaturas horrendas que possuem corpos para atormentá-los?

Ou meros monstros imortais com sentimentos humanos normais?

Talvez eles sejam um pouco de cada...

Numa sexta-feira 13, um dia clichê para encontros doentios, dez seres das trevas reúnem-se num castelo alemão abandonado, o castelo de um antigo líder nazista, falecido há muitos anos, culpado pela morte de centenas de judeus na época do holocausto. As paredes cheiravam a mofo e umidade, e o piso estava sujo de lama e poeira.

O primeiro a chegar foi um anjo caído. Ele tinha uma aparência gentil e meiga, mas seus olhos azuis tinham um brilho gélido. Estava sem camisa, seu corpo era cheio de tatuagens negras, e em suas costas havia tocos de asas cortadas e tufos de penas negras.

O segundo era um ser medonho parecido com um búfalo de pelos ásperos e negros, porém com chifres mais longos e mais cruéis, e enormes olhos vermelhos.

A terceira era uma mulher-cobra. Seu rosto era fino e delicado e sua expressão era triste. Seus cabelos oleosos eram vendes, e a pele branca era escamosa. Da cintura para baixo, ela era uma serpente de cor verde-jade.

E logo, cada um mais bizarro que o outro, os outros monstros foram chegando, até que o salão do castelo foi ocupado por dez deles.

–Por que fomos chamados aqui? –A mulher-cobra perguntou. Sua voz era fraca e reptiliana, sempre soltando sibilos ao pronunciar o “s”.

–Estou entediado. –Anunciou o anjo caído, abrindo um sorrisinho perturbador. –Que tal começarmos um jogo?

–Um jogo? –Uma criatura escondida nas sombras perguntou. Ela soltou uma risadinha desdenhosa.

–Ah, sim... –O ex-anjo ergueu as mãos como quem vai apresentar um grande plano. –Todos nós sabemos o quanto humanos são ingênuos e egoístas, e o que são capazes de fazer para conseguirem o que desejam, certo? Eu sou o único aqui a achar isso extremamente interessante?

Um silêncio tomou conta do ambiente, e depois de um tempo, o anjo caído deu de ombros e concluiu:

–Quem cala consente. –Ele começou a andar em círculos pelo salão. –Estou lhes propondo um jogo em que faremos uso de humanos como entretenimento. Cada um de nós escolhe uma boa “peça” e a põe no tabuleiro. Obviamente, se a peça que você escolher derrotar todas as outras, a vitória é sua.

–Em outras palavras, quer que cada um de nós escolha um humano e o ponha para lutar contra outros, até que apenas um sobreviva. –Diz o búfalo com sua voz rouca e profunda, como uma voz que sai do fundo de um abismo.

–Adoro quando entendem minhas metáforas.

–Isso é tão cruel... –Comentou a mulher-cobra em tom triste. No segundo seguinte, seus olhos tinham um brilho assassino e ela tinha um sorriso enorme e macabro no rosto. –Eu adorei.

–Fico feliz com isso. –O anjo caído bateu palmas.

–Mas escolheremos qualquer humano? –O búfalo perguntou.

–Qualquer um que você julgue ser capaz de vencer! Ah, e prometam algo a seus humanos: dinheiro, poder... Qualquer coisa que eles queiram! E digam a eles que será o troféu por sua vitória, caso consigam de fato vencer os outros.

–E devemos cumprir a promessa? –A mulher-cobra perguntou em tom sádico e de puro divertimento.

–Só se vocês quiserem. –O anjo caído dá de ombros. –Tanto faz.

Vários demônios riram; risadas macabras, perturbadoras, animalescas, horríveis, enchendo o silêncio da noite com sons doentios que fariam qualquer um estremecer e sair correndo.

–Já tenho minha escolhida. –Disse o ex-anjo quando as risadas cessaram. Seus olhos brilharam perigosamente. –Se me dão licença, agora tenho assuntos a resolver. Mas estamos todos de acordo quanto ao jogo?

Várias respostas foram murmuradas, gritadas e resmungadas, todas afirmativas.

–Então... Escolham suas peças! Estão esperando o quê?

Quando o anjo caído deu as costas ao grupo, ele abriu um sorriso frio e falou para si mesmo:

–Mal posso esperar para por a minha no tabuleiro.

E então ele mergulhou nas sombras e sumiu.