Identidade Homicida escrita por ninoka


Capítulo 75
O seu maior inimigo


Notas iniciais do capítulo

oe anjinhos, tudo bom?
como tem sido o 2022 de vcs?? faz tempo que não apareço por aqui né kkkkkkkkkkk a meta era terminar IH ano passado, mas de agosto em diante minha vida deu um monte reviravoltas e ou me faltava tempo ou humor pra atualizar vcs ......... Estar escrevendo aqui é uma verdadeira conquista pra mim hehehe
de qualquer forma, mais um ano aqui e desejando tudo de bom pra vocês!!!!


Acho que esse é um dos capítulos mais importantes de toda a história, tudo foi moldado pra chegarmos nesse momento.... É um dos clímax finais. Descobrimos o inimigo que Elsie estava à procura durante todos esses anos... IRRA!

Boa leitura!!



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[Elsie]

Fui jogada dentro de uma das salas do corredor, onde fiquei algum tempo (que a adrenalina, o cansaço e o desespero não eram capazes de perceber) em completa histeria, batendo na porta com murros enquanto insistia pra que me deixassem sair. O meu maior medo àquela altura era que pudessem fazer alguma coisa com Armin… Já estava com os nós dos dedos esfolados, quando o keypass tocou no meu bolso.

— O que você quer com o Armin?! — rugi para Shermansky logo que apanhei o keypass e vi a sua fuça abominável aparecendo na tela. 

— Ei, calma, calma — riu — Ele está bem guardado… Mas eu não disse que queria uma conversa entre amigas?

— Vai pro inferno com esse cinismo! — gritei, me preparando pra arremessar o keypass na parede do outro lado da sala.

— Eu acho que você deveria me escutar primeiro — disse em tom de censura, fazendo com o que eu cessasse o gesto imediatamente — Armin está bem, mas ele ainda é meu refém. Eu tomaria cuidado com as suas ações, se fosse você.

Com a repreensão, voltei à normalidade; finalmente reparando no cômodo que me cercava: era do tamanho de um quarto, vazio exceto pela presença de um pequeno criado-mudo colocados numa das extremidades.

— O que você quer comigo, afinal? — perguntei, tentando normalizar o tom de voz, ainda analisando aquele cenário desagradável — Por que me trouxe até aqui? 

Dei uma rápida olhada para a tela: vi o seu sorriso incômodo mais uma vez.  

— O Blanc, aquele homem que matou os seus pais — falou.

Depois, anunciou sem qualquer floreio ou qualquer remorso. Como um grande triunfo. Numa apunhalada só: 

— Fui eu que o contratei. 

Demorei pra assimilar o que tinha ouvido. Fiquei alguns segundos em completo silêncio, sem conseguir esboçar qualquer reação. Uma mistura de emoções.

— Por quê? — falei, exausta demais pra demonstrar mesmo toda a ira e confusão que me consumiam  — O que minha mãe e meu pai tinham haver com isso...?

— Eles…? Nada. Mas eles tinham você

Novamente não conseguia sequer formular uma pergunta. 

— Agatha tinha os motivos dela, por isso ela nunca quis te contar a verdade. Mas existe uma espécie de carma que ronda a sua família. Esse carma foi o motivo pelo qual fiquei tão fissurada na sua tia desde que ela era uma criança. 

— Que porra de carma, sua velha louca?!

Essa parte ela falou com uma exclamação inspirada, como se estivesse alucinada de êxtase: 

— O carma… da morte! 

Era um silêncio sufocante o que eu sentia. As paredes daquele quarto, que já era minúsculo, pareciam se comprimir sobre o meu corpo. Mesmo que aquilo tudo soasse uma grande besteira, simplesmente não conseguia frear Shermansky e ela logo se adiantou:   

— Você não acha que seja uma grande coincidência todos os finais trágicos que a sua família trás desde sempre? Veja, você não tem avós, nem pai, nem mãe, nem tios ou primos… E eu… sempre tive uma curiosidade horrível sobre a morte. “Tetzner”, meu sobrenome de nascença. Você sabia que eu era filha de uma família de camponeses alemã? Num lugar tão distante, nós matávamos nosso próprio gado, nossa própria carne; e as doenças nos abatiam muito mais facilmente pela falta de medicamentos, uns morriam muito jovens. Além do mais, minha infância acompanhou o período da Segunda Grande Guerra… As pessoas eram violentas, agressivas, prepotentes, a guerra, a morte… ela nos incita à nossa verdadeira natureza. Hoje em dia, em tempos de paz, as pessoas não pensam mais sobre isso. Elas não pensam sobre quem elas verdadeiramente são. Muito pelo contrário; a paz estragou os humanos, Elsie. Nos vestimos constantemente com máscaras e nos despimos da essência humana. Mas vocês... os Cotton, vocês têm a natureza da morte. Por gerações, mortes trágicas, envolvimentos com assassinatos, crimes.. é cíclico! Vocês são o antro da morte.. Vocês são a engrenagem perfeita pra movimentar o meu jogo! A real essência da humanidade! 

Depois de encerrar o seu discurso alucinado num tom cheio de inspiração, não conseguia sequer calcular o que pensar. Então me satisfiz em apenas destilar o desprazer que era ouvir tudo aquilo: 

— Você é… louca. Completamente pirada. 

— Acha que é mentira? Bom, a sua tia tentou te proteger disso. Do seu carma. Ela temia que você passasse por tudo que ela passou desde criança. Por isso ela escondeu sobre a morte dos seus pais, sobre a sua família, e te isolou do mundo inteiro… E é claro que quando Agatha ganhou o jogo, eu precisava de alguém que a substituísse. Eu precisava de uma nova engrenagem.  

Eleonora continuava, sem parar: 

— Até que soube que Agnólia, sua mãe, teria uma filha… uma nova Cotton. O meu plano contratando o Blanc era roubar você dos seus pais aquela noite. Eu a teria sob os meus cuidados e moldaria a sua vida de forma que os seus caminhos te levassem até Sweet Amoris… Mas houve, digamos, um pequeno contratempo. Porém, posso dizer que essa é uma das minhas principais qualidades e o que me permite manusear esse jogo é que eu danço conforme a música, Elsie… Se Agatha seria a sua tutora depois da morte dos seus pais, talvez isso fosse ainda mais interessante! Quer dizer, por que não? Eu queria ver o resultado disso; o resultado do que uma pessoa instável como a Agatha seria capaz de fazer com uma criança. E pra que eu ficasse por dentro de tudo, eu precisava de alguém que estivesse sempre por perto e ainda pudesse controlar pouco a pouco as decisões da sua tia. Quer dizer, não era uma tarefa tão difícil… Uma mulher  fragilizada, aterrorizada com ela mesma e tão solitária… foi fácil fazer ela se apegar à companhia de uma senhorinha viúva, de aparência frágil e que trabalhava no mesmo hospital que ela… 

Um filme passou na minha cabeça. Fragmentos de memória daqueles anos lá atrás, das tardes ensolaradas no jardim, dos quadros do seu falecido marido, do sorriso gentil de senhora, dos sermões de tia-avó… Pronunciei, quase sem fôlego, querendo chorar, sentindo tudo o que não tinha comido querendo subir pela garganta: 

— Murple...   

Shermansky soltou uma gargalhada sonora:

— Você acha que o nosso primeiro encontro na casa dela foi uma grande coincidência? Ela era uma colega minha, e também minha espiã. E me ajudou a trilhar tudo para que você chegasse até aqui… Uma pena que tenha se apegado a você e acabou abrindo a boca demais. De toda forma, ela foi muito útil durante o tempo que me serviu. E no final das contas, tudo ocorreu bem melhor do que eu previa! A Agatha acabou criando um monstro muito pior do que as minhas expectativas…  

Me sentia grudada como um imã. Não queria ouvir mais uma palavra que Shermansky dizia, mas continuava; como se um magnetismo se apoderasse de mim; como se a força tivesse saído do meu corpo. E eu continuava -- paralisada e atenta à toda a sua narrativa. 

— Ironicamente, — continuou — o fato de Agatha negar a própria natureza, tornou ela uma pessoa completamente agressiva e possessiva.... perseguida sempre pelo fantasma do próprio passado. Ah, claro… você sabe muito bem como ela era. Você mesma provou do veneno dela.  

De repente criei forças. As palavras vieram de forma automática: 

— Você pode saber tudo que sabe sobre a minha tia, mas eu vivi com a minha tia. Independente de tudo que ela fez no passado, só eu sei a pessoa gentil que ela era!  

— Ah, sim, tem razão, só você sabe

Recuei de novo. Cada frase de Shermansky conseguia me acertar certeiramente, era como se ela soubesse os pontos vitais da minha mente. Dei um passo pra trás, encostando as costas sobre a porta trancada. Queria fugir. Ela continuou:  

— Sim, você sabe… Como naquele dia. Os seguranças analisaram as câmeras: ninguém tinha entrado no apartamento. Era um prédio no terceiro andar, então ninguém poderia ter pulado pelas janelas. Isso só poderia significar uma coisa.

Um sentimento… esquisito apertou meu peito; foi como se algo tivesse sido aberto dentro de mim. Algo que não devia ser aberto. 

— Você não lembra? — riu, moribunda — Aquele dia, uma semana antes do seu aniversário de treze anos, estou certa? Você e sua tia estavam decidindo os preparativos para a sua festa. Estavam na mesa da cozinha.  

— Para! 

Larguei o keypass subitamente, deixando ele cair no chão. Coloquei as mãos sobre os ouvidos, tampando-os com força. Um gigante; era como se um gigante se aproximasse. Seus passos faziam o chão tremer e minha visão pular. Estava cada vez mais próximo de mim. O gigante iria me esmagar. 

— Agatha tinha um humor instável por conta de tudo o que ela passou — a voz de Shermansky reverberava do keypass caído no chão — E ela sempre te dava demonstrações desse humor instável.  

— Para! — gritei, fora de mim, fechando os olhos com força — Eu não sei de nada disso que você tá falando! Para de falar merda!  

Naquele dia você encontrou o crachá da sua tia dos tempos de Sweet Amoris numa caixa de papéis e perguntou para ela do que se tratava. Você era só uma criança, é claro. Como iria imaginar o caos que uma pergunta inocente como aquela iria causar? Mas Agatha sequer sabia daquele rastro do passado sombrio dela ali. E rever o passado dela a atingiu tão forte…! Mas não tão forte quanto quando ela atingiu a sua cabeça contra a parede quando ficou completamente transtornada.  

Caí com as costas contra a porta, chorando. Meu corpo escorregou até o chão, encolhendo, reprimindo, diminuindo. As lágrimas saíam sem qualquer aviso prévio dos meus olhos. 

— Você sabe… sabe que não tinha coragem de desafiar sua tia. Porque era sua tia, sua única família! Mas naquele dia ela bateu sua cabeça contra a parede com tanta força, que quando ela te deixou sangrando no canto da cozinha e foi chorar no banheiro, você ficou lá, largada no chão, tremendo de medo, pensando na raiva que sentia dela.  

— Para...! — gemi numa súplica angustiada, quase engasgando com a própria saliva que parecia ficar grossa e ácida, sentindo minhas forças sendo drenadas pouco a pouco do meu corpo. 

— Mas daí você parou de pensar, Elsie. E a sua ira criou forma. Sua ira se transformou em… Irene!  

— Por… favor…  

Não conseguia ver mais nada, tudo era um borrão trêmulo; mas eu sabia que Shermansky dizia aquilo com grande excitação: 

— Você se lembra de tudo agora, Elsie?! O motivo pelo qual não viram ninguém entrando no apartamento aquele dia, ou porque as memórias desse dia pareciam tão turvas na sua mente? A resposta é muito simples: o assassino da sua tia, a pessoa que te colocou nesse jogo e que você jurou se vingar e odiar… O seu maior inimigo, Elsie... não é ninguém menos que você mesma







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