Identidade Homicida escrita por ninoka


Capítulo 56
Covil


Notas iniciais do capítulo

oi meus amoreees kkkkkkkkkkkkk tudo bom???? mais uma vez demorei pra caramba mas aqui estou. E parece que finalmente estamos atingindo um clímax na história????

fatos importantes para contextualizar esse cap:
> (Cap 54) Jack vai até a casa de Faraize e os velhos amigos batem um papo depois de muitos anos. Faraize é o criador da tecnologia dos keypass; em sua sala, Jack verifica a existência de um quadro bastante curioso e, escondido, tira uma foto da obra.
> (Cap 30) Sala 78 é a sala onde Burniel reencontra Jade pela primeira vez
> (Cap 46) Hórus; aquele que tudo vê



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[Nathaniel]

Tava à toa na sala do Grêmio, completamente no ócio, derramado sobre a cadeira giratória balançando o corpo de um lado pro outro. 

Uma mensagem chegou e fez meu celular assoviar em cima da cômoda do computador. Fui até o alvo sentado na cadeira mesmo, puxando o peso do corpo arrastando os pés pelo chão. Os remédios me deixavam naquele estado de ânimo.  

A mensagem vinha de Jack. Tinha sido enviada naquela hora. 

Uma foto.  

Entortei as sobrancelhas. Que raios era aquilo? Parecia… uma planta? A planta de alguma construção. Me trazia um sentimento familiar… Parecia a planta que tinha no mapa do keypass. 

Peguei o apetrecho só pra meios de confirmação -- batata. Não deu em outra. Aquele rabisco era o mapa dos três andares do prédio principal colégio, colocados lado a lado. 

Certo. 

Agora, segunda questão: Por que Jack me enviou aquilo? De onde vinha aquilo? Também haviam marcações estranhas postas em determinados cômodos, pontos vermelhos.

Primeiro de tudo tentei identificar a quais cômodos específicos aqueles rabiscos se referiam. Usei o mapa do keypass como base. Constatei que os cômodos marcados não pareciam ter qualquer tipo de relação aparente: a biblioteca, o armazém de limpeza, e a sala 78.

Sala 78. Pelo o que sempre me tinha sido informado, era uma sala inativa. Alguns professores usavam pra aulas de reforço. Também havia boatos que alguns alunos que conseguiam invadir se apossavam do recinto pra fumar maconha. Mas, nunca soube o real sentido daquela sala. 

Como diria Jay: Meu sexto sentido falou comigo naquele momento. Era hora de deixar a molenguice de lado e verificar algumas coisas. 



[Jun]

 

— O que será que se passa na cabeça dele? — sussurrou Íris, enquanto encarava o crianção, Burniel, sentado sozinho na mesa atrás à nossa. Estávamos na parte externa da cantina. 

Verifiquei por cima do ombro, disfarçadamente. Ele parecia bastante empenhado em tentar fatiar um bolo de chocolate com o garfo, analisando-o com o prato suspenso na altura dos olhos. Um esquisitão. 

Com certeza não tinha como saber o que se passava ali. Quem sabe, uma esfera de feno rolando num deserto; quem sabe, muita coisa obscura. Ficamos alguns minutos analisando-o, esperando os próximos passos. Até que ele finalmente encerrou sua tarefa entediante. 

Íris e eu o seguimos, tentando não gerar suspeitas. Ele entrou para o prédio principal, subiu até o segundo andar e parou de frente para a famigerada sala número 78, tão mal falada no Grêmio. Não esperaria menos de um esquisitão como ele. 

— Não é a primeira vez que vejo ele entrando ali. — constatou minha querida Íris.

— O que será que ele fica fazendo ali dentro?

— Não sei… Mas seria uma boa forma de tentarmos encurralá-lo quando estivermos mais preparados. — não esperaria menos do meu anjo ruivo. — Mas tem um problema. — dedilhou os próprio lábios, pensativamente. 

— Diga.

— Não é qualquer um que consegue entrar ali com o keypass. Hm, isso com certeza torna ele mais suspeito ainda. 

— Isso é verdade. Mas… não se preocupa, quanto à chave. A gente consegue entrar ali num pulo se eu conseguir a chave mestra do grêmio. — sorri. Gostava de arranjar soluções pro que Íris julgava um problema. Alimentava meu ego. 

Íris abriu um sorriso ainda maior. Me deu um beijo rápido. 

Ficamos de longe observando.



[Nathaniel] 

Vinha naturalmente, caminhando pelo corredor ajeitando a gravata. A sala 78 estava há alguns metros, mas já conseguia vê-la; de porta fechada, como sempre. 

De outro corredor, surgiu Burniel, meu parceiro de quarto, tão ausente quanto o próprio senso de conveniência que ele possuía. A princípio foi um alívio não ter que suportar as piadas nível pré-escolar dele enquanto eu tentava estudar pra algum exame que teria no dia seguinte; mas, depois tudo aquilo ficou estranho. Sentia como se, de repente, ele me evitasse.   

Pra minha estúpida surpresa, Burniel parou na porta sala 78, de frente, apressadamente autentificou o keypass no leitor e adentrou.

Paralisei ali por alguns segundos, meio chocado, tentando regular na minha cabeça o que tinha acabado de acontecer. Daí apertei o passo pra valer. A chave mestra do grêmio tava habilitada no meu keypass desde que invadimos a sala de gravação então não seria problema entrar ali. Mas, como e por que Burniel tinha acesso a um lugar tão restrito como aquele?

Corri e abri a porta sem qualquer tipo de cerimônia, fechando logo em seguida atrás de mim. Burniel estava de costas no meio da sala, parado, e se virou em pânico quando me ouviu entrar:

— O que você tá fazendo aqui?! — eu mesmo me espantei com o pavor dos seus olhos. Não soube o que dizer. 

E não precisei dizer mais nada, mesmo. 

De repente, lá no umbral da janela, detectei uma silhueta sentada. A silhueta se levantou, de costas para a luz do sol, e se aproximou de nós. O próprio anti-cristo; eu o vi e o reconheci. Aquele que tinha apagado a luz da Jay do mundo. Jade.

— Filho da puta... — rosnei entre os dentes. Uma irritação tão ardente começou a preencher cada fibra do meu corpo, eu tremia, fervia. Iria matá-lo.

O desgraçado ainda conseguia sorrir, cínico, cheio de si, sem escrúpulos, como se se orgulhasse de toda aquela merda. 

— Você que trouxe ele aqui? — perguntou para Burniel, com uma falsa serenidade na voz. 

— N-n-não. Eu não sei o que aconteceu… Eu… Eu achei que tivesse trancado a porta… 

Jade andou mais à frente, ultrapassando Burniel, chegando alguns poucos metros de mim. Eu o devorava com o olhar, fechando os punhos. Caralho, como eu queria estourar a cara daquele verme. 

— Então… você já sabe. Você é bem rápido até. 

Apertei os olhos. Estava prestes a chorar de ódio. Nunca um sentimento tão forte e pesado tinha me contaminado daquela forma. 

— Mas você tem que saber que a culpa não é só minha. — insinuou uma tristeza teatral apontando para Burniel, quem desviou o rosto. — Ele me ajudou bastante. Realizou partes bastante importantes do plano, de verdade. 

— Mas de que merda você tá falando, seu cretino? — me contia pra não gritar. 

Ele voltava com aquele sorriso, os olhos vidrados e alucinados:

— Você tinha que ver a cara dela… Coitada. — minhas narinas se desdobravam e fechavam compulsivamente. — Quando botei fogo no cabelo dela as coisas ficaram dez vezes mais interessantes. Ela gritou tanto. — Tremia; não por medo, sim pela adrenalina.  — Até tentou falar o seu nome.

Chega, porra! 

Quando desengatei fui longe: pulei pra cima de Jade e caímos no chão. Ficamos numa posição nada anatômica, um tentando se pôr em cima do outro enquanto os socos corriam solto. Consegui cotovelar a cabeça dele, mas, no último momento abaixei a guarda. Jade conseguiu imobilizar meu braço e girar meu corpo para baixo do dele, me prendendo no chão com seu peso sobre o meu abdômen. As chances pareciam perdidas; ele arrancou um estilete de dentro do bolso e direcionou no meu rosto. 

— Jade, calma, pára! — Burniel rugiu, o desespero em sua voz.  

Jade parou. 

Ficou imóvel por algum tempo. 

— Mas será possível…? — como se de repente ignorasse minha presença, Jade se levantou, esticou o braço e mirou a lâmina no novo alvo: Burniel. — Quantas vezes você vai se intrometer onde não te diz respeito? Será que não posso mais confiar em você?!  

— Pra que matar uma pessoa que não tem nada haver com o nosso objetivo?! — sentia toda a apreensão em sua expressão, em cada palavra dita, tudo milimetricamente medido. 

— Eu sou a única pessoa que te entende. Você sabe disso. — sua fala ficou embargada, como se fosse chorar; o que eu duvidava muito que fosse acontecer. — Você poderia tentar entender o meu lado também! — deu alguns passos à frente, o estilete ainda firme em suas mãos, apontado para Burniel. 

Burniel, por sua vez, não tinha fala. Seu olhar dizia tudo: sentia medo. A culpa parecia cegá-lo, como se se julgasse não merecedor de um destino diferente daquele. 

Jack me dizia para tomar aquela medida só em casos que eu julgasse extremos; e aquele era o momento. 

— Larga essa merda. — falei, com muito mais estabilidade agora, de pé, apontando a mira da pistola para as costas de Jade.   

Jade demorou para reagir um tempo. Botou as mãos para o alto, largando o estilete para o chão. Depois, como se não temesse a morte, olhou por cima dos próprios ombros, e disse, como o alucinado que era:

— Hórus vai castigar vocês, cretinos. 

E correu sem incertezas para a janela; se apoiou, pulou, voou. Corri atrás, mas foi tarde demais. Ele já tinha sumido, se dissipado com o vento. Admirando o céu através da janela, guardei a pistola dentro da calça e dei um suspiro. Aliviado, de certa forma. 

Mas a paz não durou sequer um segundo. O som de choro começou a infestar o ambiente. Burniel ficou sem apoio; desmoronou ali mesmo, no chão da sala, de joelhos. 

Seria a hora de exercer a empatia, mas as memórias da fala de Jade de repente chacoalharam minha mente e a ira me tomou pela raiz. Corri até Burniel, apanhei o colarinho com força:

— Que merda tá acontecendo aqui?! Você… — tomei fôlego. — Você matou a Jay! Era você nas gravações!

Ele me olhava, debulhando, rosto vermelho como os de uma criança que chora. 

— Como você pôde…? — solucei, torcendo o rosto pra não ceder também ao choro. 

— Eu só tava tentando ajudar ele. Eu… eu só queria poderia ter ele de novo. Queria sentir que tinha pago pelo o que fiz com ele. Eu...  ia tentar tirar a cabeça dele desse plano maluco, mas… mas parece que ele que conseguiu mudar a minha. 

— Do que você tá falando? Que plano maluco? 

— A justiça… a vingança… da Elsie e do Armin. 

Vingar?

— Do que você tá falando, porra?!

— Jade diz que eles tentaram matá-lo. 

Minha mente viajou. Lembrei do cartão vermelho na cena do crime de Jade. O “bolo” de cartões que Jay viu no banheiro da suíte. Todos só poderiam pertencer à uma mesma pessoa: Elsie.  

No entanto, o que me brecou de tomar qualquer atitude impulsiva foi questionar como (e por quais motivos) uma pessoa sem qualquer tipo de antecedente criminal seria capaz de deixar Jade naquela situação que eu e Jack tínhamos visto, sendo ele -- Jade -- um visitante de carteirinha assinada pelas delegacias do estado. Isso, além de tudo, trazia à tona minhas teorias que envolviam Melody.   

A situação naquele momento, porém, envolvia outros assuntos; assuntos que ainda precisavam ser contestados: 

— Mas o que a Jay tinha haver com tudo isso? — choraminguei, porque era impossível não sentir que tudo aquilo era parte de uma injustiça. 

— Eu… não sei. Ele nunca me explicou direito. Nunca me deixou claro o que realmente tava acontecendo. Mas eu não queria ter feito aquilo com ela, Nath. — cobriu o rosto com as mãos. — Eu tentei parar, eu juro.  

Meus olhos estavam úmidos. Precisava deixar o emocional de lado; inspirei fundo. 

— Me ajude a pegá-lo. — falei firme, e soltei as mãos da sua roupa.  

Burniel descobriu o rosto e me encarou. A face rubra pós-choro.   

— Ele é um assassino perigoso. Você sabe disso. — falei. 

— Fui eu que fiz isso com ele! Eu que abandonei ele!

— Não. Não foi culpa sua. Isso faz parte da própria natureza dele

Ele enxugou as lágrimas, fungando com o nariz. Inspirou, expirou. Foi se acalmando. 

— Eu prometo…  — prossegui, erguendo a mão num juramento. — que se você me ajudar a pegá-lo, vamos enviá-lo pra um lugar onde ele possa ser finalmente curado.

Burniel me encarou, os olhos brilhosos. Pensou um pouco. 

— Promete? — perguntou, com o timbre de uma criança. 

— Prometo.

  





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