Identidade Homicida escrita por ninoka


Capítulo 55
Vai uma mãozinha aí?


Notas iniciais do capítulo

olá xuxus

esse capítulo sucede a ideia do capítulo ANTES do anterior, quando Jack entrega pra Elsie um relatório antigo e uma verdade meio........ chocante



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[Elsie]

Aqueles relatórios tinham fodido com meu psicológico.

Lembro que saí cedo do Savage Planet e voltei pra escola. Enquanto passava muito mal no banheiro, os meninos me ligaram quando perceberam minha demora pra voltar pra dentro do parque. Falei que tinha voltado pra escola e eles vieram atrás. Contei a situação me sentindo culpada por interromper a comemoração do aniversário do Armin prematuramente. A noite foi ridícula e desgastante.

Sobre os relatórios; cada detalhe me fazia ventilar de ódio. O covarde, assassino -- conhecido como “Blanc” -- entrou durante uma tarde na casa que meus pais moravam e atirou nos dois com um silenciador. Pelo o que constava em outros relatórios onde tia Agatha dava depoimento, ela chegou na casa minutos antes do ocorrido e presenciou toda a carnificina. Ela quem acionou a polícia que conseguiu deter o miserável.

Mas a questão que me fez vacilar ainda mais, foi a linha que dizia “o meliante alegou ter sido pago para executar o trabalho”. Isso queria dizer que… a morte dos meus pais… tinha sido “encomendada”? Péra, péra. A coisa não termina nisso. Ele se negou a explanar o contratante. E quer ver essa história ficar mais esquisita ainda? Na manhã seguinte após ele ser detido, encontraram ele morto na própria cela, vítima de um envenenamento. As especulações apontavam que alguém por dentro do sistema quem tinha colocado algo na comida dele, por ordens… exteriores. Saca? Pra ter certeza de que Blanc não fosse contar o que não devia. No final das contas, eu não via onde ficava a justiça nisso.

Muita informação pra processar? Eu entendo. Como resultado disso, desde que acordei pela manhã, já devia estar pelo menos uma hora inteira no meu quarto, naquela mesma posição, esmagando o travesseiro entre os braços.

Parecia uma zumbi; perdi o controle dos meus próprios pensamentos. Não sentia mais raiva e nem tava deprimida. Na real, uma apatia generalizada tinha tomado conta de mim. Sentia como se qualquer estímulo pra levantar o corpo da cama parecesse inexistente.

Além da nova descoberta, muitas questões mal resolvidas vinham à tona. Tanta coisa tinha se acumulado, uma em cima da outra, e naquele momento tudo o que eu mais queria era explodir.

Tia Agatha… e o jogo. Por que ela participou? Quais eram suas motivações? Todo esse trambique tinha alguma coligação com a morte dos meus pais? Por que ela nunca me contou a verdade? Quanto sangue brotava e escorria pela história da nossa família?

Enquanto as ideias acerca da minha própria origem me atormentavam, minhas memórias viravam uma bagunça medonha; tudo se mesclava e, no final, nada se encaixava. Retomei neuras antigas.

Eu realmente tinha ido pra cima do Castiel como Kentin e Armin tinham me dito? Então, por que não me lembrava? Eles tavam mentindo pra mim? Ou eu machuquei uma pessoa, mesmo? Um cara daquele robustez toda? E desde quando eu era capaz disso? Mas, ei, do que eu tava me queixando, mesmo?! Eu tinha matado Jade, não tinha? Eu e Armin. Eu segurei a mão dele e nós matamos ele. Sim, matamos. Foi, lá na estufa de jardinagem, não foi? Foi auto-defesa. Ou talvez eu fosse tão cruel quanto um assassino? Quanto Blanc…? Mas, péra. Jackelino disse que Jade tava vivo, não disse? Jackelino é um espião? Ele é o menino da foto com a tia Agatha. Ele tava me espionando o tempo todo?! Nojento, asqueroso.

Minha mente parecia prestes a se desintegrar num colapso, quando uma visita inesperada bateu à porta.

 

[Armin]

Me enfiei na biblioteca com o Kentin. A gente já tava há uns bons minutos numa das mesas de estudo, checando nossos rascunhos e resumos e tentando elaborar o maldito cartaz que precisávamos expor pra dali dois dias durante a aula de filosofia.

Elsie era parte do nosso grupo de trabalho, mas a gente sabia que ela não tava nada bem desde a conversa com o Jack e, então, não fazia sentido forçar a barra. Nós dois, --claro-- os dois bundões, achávamos que daríamos conta do recado fácil.

— Não fode, Armin. — Kentin inclinou o corpo na cadeira para o lado, pendurando a cabeça no ar para baixo da mesa e vasculhando o escuro com os olhos. — Você perdeu a folha?!

— Relaxa, okay? — cruzei os braços. — Eu sei tudo de cór sobre esse jogo. — bati com o indicador na têmpora. — Anota aí em algum lugar que eu falo.

A proposta do trabalho: analisar uma mídia atual e relacionar com a teoria de algum filósofo e blablablá. Como coordenador do projeto(ui!), óbvio que ia escolher falar de jogo. Botar um toque do que você curte torna qualquer tarefa chata ao menos… “fazível”.

Bom, mas tínhamos um problema crônico:

— Você é o líder mais irresponsável que eu já vi, Armin. — falou Kentin. Não mentiu. — Tá que você lembra tudo do jogo, mas e aí, fala o que tu lembra sobre Sartre… porque essa parte a gente também perdeu.

— Perfeito! — praguejei para os céus, exclamando, de imediato recebendo uma censura de outros grupos sentados nas mesas ao redor, e sendo comido pelo olhar da bibliotecária, que despejou todo o seu ranço em mim e voltou a ler a revistinha medíocre dela sobre perda de peso aos 36 anos.

O fato é que tava faltando um toque de feminilidade ali com a gente, alguém que tivesse capacidade e pujança pra comandar a porra toda sem se perder nas cartas. Acho que a gente costumava atribuir essa tarefa à Elsie. E quer saber? Fazia falta.  

Pensei naquilo e, de repente, como um anjo prestes a nos resgatar do vale do iminente fracasso que seria aquele trabalho porcaria, duas mãos branquelas se exibiram diante dos nossos olhos sobre a mesa. Elevamos a linha de visão e lá estava Elsie, para nossa estonteante felicidade.

Até que instantaneamente estranhamos: seu corpo tremia, e ela arfava como se tivesse voltado de uma maratona. Olhos arregalados, boca pálida.

— Que houve? — perguntou Kentin, gelado.

Elsie ainda manteve o ritmo descompassado, agonizando para respirar.

Levantamos, caminhamos até a porta e levamos ela pra fora conosco.  

— O que aconteceu? — perguntei enquanto tínhamos nos sentado num dos bancos do corredor.

Elsie alucinadamente olhava pro nada, tremia.Tentou falar qualquer coisa, chegou a me entreolhar, mas só balbuciou, como se tivesse desaprendido a manusear a própria boca.

Tirou um pacote debaixo do braço. Vinha do correio, já tava deslacrado.  

Kentin veio com uma garrafinha dele com água e estendeu pra Elsie, depois se agachou de cócoras à nossa frente.

— O que é isso? — perguntou, esticando o pescoço na direção do pacote.

Abri. Gelei.

Dentro do papel pardo, um saco semi-transparente. O conteúdo fez o almoço subir pra garganta e quase escapar. Kentin também tava em choque. Elsie encarou o pacote por um rápido segundo e depois se virou pro lado oposto, tapando o rosto e chorando.

Diante de nossos olhos, dentro do saco plástico embebido de sangue, uma mão.

Uma prótese de brinquedo bastante convincente? Cheguei a me questionar se era algum filho da puta tentando sacanear a gente, até que me atentei a determinados detalhes que talvez fossem o motivo de tanto desespero pra Elsie.

A mão era suficientemente pálida, mas ainda assim era possível perceber a legitimidade do negócio. As rugas, as manchas da idade e uma aliança…

 

***

 

Escorado numa parede qualquer, braços cruzados, observava Elsie --suas costas, na verdade-- há alguns metros, sentada num banco de madeira ao lado do caixão. Esse, a propósito, tava fechado; não tinha nenhuma condição de ficar aberto.

Usando as melhores roupas escuras, sozinha no meio daquela igreja, tão nova; Elsie parecia uma viúva. Não dizia nada, nem soluçava mais. Era como se agora, depois de tanto chorar, sua mente e seu corpo estivessem completamente exaustos.

Cogitei falar com ela, mas já tínhamos conversado muito no caminho. Pensei também que, por algum motivo, ela precisasse de um tempo sozinha, digerindo tudo por conta própria.

Fiquei mais alguns minutos observando, até que desgrudei da parede, virei pra porta da igreja, e mergulhei na luz do exterior.  





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