Identidade Homicida escrita por ninoka


Capítulo 28
Fobias


Notas iniciais do capítulo

Olá, minha póva! Estou bem feliz porque falta UM capítulo para que eu poste uma coisinha que já está guardada há tempos. U...U

Acrescentei um mecanismo novo à história: "[-x-]"
Sempre que capitarem esse símbolo, é sinal de que não há uma visão individual; ou seja, narração em terceira pessoa.
Eu realmente não queria apelar pra esse tipo de coisa, mas acho que é uma ferramenta e tanto, e ajudará muito a reduzir o número de "pontos de vista", que geralmente não me agradam. Além de tornar certas cenas mais ambíguas. Claro que não pretendo de forma alguma retirar a visão individual de alguns.


Recapitulando o básico: Tchurma escolar de Elsie parte para uma visita FAIL no museu. O ônibus quebra e todos são obrigados a passarem alguns dias numa hospedaria próxima...



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O ônibus da excursão não fora substituído, e isso nos garantia algum tempo a mais na pousada.

Um dia estranho - de manhã escura e ventosa e um chuvisco raso. O clima incomum, junto ao sobrado antigo que era a pensão, tornou-se num daqueles cenários clichês de terror.

Naquele cômodo banhado em escuridão, os alunos formavam um círculo para compartilharem suas vivências sobrenaturais. Burniel posicionou a luz da lanterna sob seu rosto, projetando uma sombra tenebrosa sobre sua face.

Ele tomou fôlego para realizar uma pergunta breve, mas de significado intenso:

— Como vocês definiriam a “insanidade”?

— “É fazer exatamente a mesma coisa, várias e várias vezes, esperando alguma mudança”. – citou Armin.

— Falta de senso comum? – palpitou Nathaniel.

— Demência. – Castiel complementou.

O pessoal continuou lançando seus palpites na roda, enquanto continuei questionando a mim própria.

— Hm... – prosseguiu Burniel, forçando a voz para criar uma aura de suspense. – São ideias muito boas. Mas, vocês se esqueceram de mencionar que a insanidade não passa de um sentimento qualquer...

— Continue “senhor sabe-tudo”. – Jennifer riu.

Burniel ajeitou a lanterna sobre o rosto, sorrindo:

— A verdade, Jay, é que não existe equilíbrio sem que se contemple um pouco da insanidade.

— Isso é completamente ilógico. – Jennifer fitou-lhe com um sorriso divertido.

— Você está errada. Afinal, do que seriam os grandes mestres se não tivessem se deixado cair em insanidade por um breve momento? Ou seja, se eles nunca tivessem recusado o senso comum...

Se eu pudesse descrever a insanidade, diria que é algo que se assemelha a cada oponente que me deparei até o momento. Jade, Melody, a dupla de professoras. Até o próprio assassino anônimo de minha tia.

Talvez, a razão específica para que estes rumassem a este caminho, não haja quaisquer similaridades. Porém, o que todos têm em comum, é a sede para alcançarem seus objetivos desumanos, independente de seus métodos e consequências; além de uma série de contradições mentais.

Para mim, esta seria a melhor descrição para uma mente não sã...

Introduzidos num circuito aparentemente inacabável de respostas e suposições, os alunos repassaram para os contos de terror – nas quais não me atentei, ao deparar-me submersa diante várias questões levantadas em minha mente.

***

Cada um dos dormitórios da hospedaria havia três camas postas paralelamente, um armário de madeira e uma pequena escrivaninha. A única janela do ambiente, recoberta por uma cortina lisa branca, dava para frente da pensão – um pequeno espaço de terreno, configurado por um aglomerado de árvores de folhas caídas, nas quais expunham silhuetas assombrosas nas paredes caramelos do quarto.

A chuva parecia piorar a cada instante.

— Tá tudo bem com você, Elsie? – perguntou Burniel, em posição de lótus sobre seu colchão, engomado em seus lençóis.

Sentada em frente à escrivaninha, um tanto absorta, respondi:

— Sim, sim... – forcei um sorriso.

Burniel espremeu os olhos, fitando-me como numa tentativa de decifrar meus pensamentos:

— Não me parece.

Ri nasalmente, inclinando brevemente a cabeça para frente. Havia algo fora do lugar, apesar de que eu não soubesse exatamente o quê.

Creio que ao pensarmos muito, poderemos, eventualmente, causar-nos graves danos mentais.

— Mas, - continuou Burniel. – independente do que for, vai ficar tudo bem. – sorriu alegremente.

Correspondi o gesto, embora tristemente.

Apoiei o cotovelo em cima da mesinha de madeira, o peso do queixo sobre o bojo das mãos:

— É que, sabe... às vezes eu sinto como se as coisas boas não me durassem muito tempo. E acabo por ter medo de perder o que me é importante.

— Eu imagino como se sente, Elsie.

Burniel perdeu a fulgura de minutos antes; arqueando sua postura, porém não largando a curva de seus lábios, fitando sonhadoramente o vazio:

— Não tenho memórias claras de infância, e a maior parte que recordo da minha vida foi o tempo que passei no cativeiro com Jade. Soube da notícia das crianças mortas, e brevemente soube sobre Jade estar em S.A. Sabendo de seu falecimento no trabalho, eu poderia sem problema algum retornar para minha monotonia. Mas... acontece que eu gosto daqui. – sorriu docemente. – Pode ser egoísmo de minha parte tentar ignorar o luto. Mas tanto você, como Nathaniel, e o senhor Jack. Todos vocês são um grande conforto pra mim. E... Eu tenho um medo incontestável de perdê-los da mesma forma que Jade.

Ergui meus olhos em sua direção, fitando, estupefata, o semblante tão contente do garoto.

“Magnólias... são as flores que trazem esperança de quando precisamos suportar algo difícil, quando necessitamos de perseverança.”

A porta do cômodo fora inesperadamente aberta:

— Ei, vocês dois, - Armin ficou entre o vão entreaberto, a mão sobre a maçaneta. – não soa bem que fiquem sozinhos aí no quarto. Sopa de ervilha. Corram lá embaixo antes que acabe. Será a última refeição da noite.

Burniel largou-se de seus cobertores. Deixando sua última mensagem:

— De toda forma, Elsie, não se esqueça do que te disse...

E retirou-se do cômodo, cruzando com Armin sob o arco da porta, fazendo-o suspirar em tom de desprezo.

Permaneci cabisbaixa, largando a mão do rosto.

— Você vem? – perguntou o moreno.

De semblante evasivo, indaguei-lhe numa tonalidade fraca e engasgada:

— Armin... – suspirei para recolher fôlego. – Você...

Ele inclinou a cabeça interrogativamente:

— Eu...?

— Você... – apertei o punho solto sobre a mesa.

Ergui o rosto:

— Tome cuidado... Está bem?

[-x-]

À sombra de um guarda-chuva azul escuro, Lysandre observava a frente da hospedaria. Alguns rastros da chuva lhe escorriam pelas madeixas platinadas.

Estático entre o aglomerado de árvores descritas por Elsie, o poeta fitou, no alto do sobrado, a janela acesa de sua próxima musa inspiradora.




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Notas finais do capítulo

E aliás, quais são suas maiores fobias?