[...]

— Eu não sabia que você já sabe escrever tão bem em Braile — digo.

— Ham, o quê? — ele pergunta, confuso.

— Tô falando do papel que você deixou em minha escrivaninha, dizendo que será feliz enquanto eu for feliz.

— Isso é tudo é o que eu realmente sinto por você, Leo, mas eu não escrevi nada pra você e deixei na escrivaninha...

Fico em silêncio, atônito. Se não foi Gabriel, quem poderá ter sido? O Fábio? Não, ele nunca veio na minha casa...

— Leo? — chama Gabriel.

— Ah, oi... tava tentando pensar em quem poderia ter colocado isso aqui...

— Bem, será que não foi a Gi?

— Não. Ela tá com o William.

— Mas eu sempre achei que a Gi era a fim de você...

— Talvez fosse, mas não é mais.

— Hum. Então tá. Leo, tô ocupado. Depois a gente se fala, tá amor?

— Ok. Beijos. Te amo.

— Te amo mais — e desligou.

Fiquei pensando naquele papel durante as horas seguintes.

Se não foi Gabriel, e tenho certeza que não foi a Gi, e não há como ter sido o Fábio, quem terá sido?

Então meus pais chegam. Eles parecem muito felizes.

— Oi, Leo! — diz mamãe.

— Oi, mãe! — respondo sorrindo.

— Tudo bem, meu filho? — pergunta papai.

— Estou bem, sim. E vocês?

— Estamos ótimos! — diz mamãe!

— E como foi a noite com seus amigos? — papai pergunta.

Eu fico em silêncio, tentando imaginar o porquê dessa pergunta, temendo que seja por causa dele ter me visto junto de Gabriel.

— Ham... foi legal — digo por fim.

— Ah, que bom meu filho! — diz mamãe.

Depois disso, nós jantamos e eu fui dormir logo, pois estava com sono.

Alguém está segurando a minha mão. Eu logo imagino que se trata de Gabriel, pois sei exatamente qual é a textura de sua mão. Eu o abraço bem forte e ele me abraça também. Depois ele me beija, bem forte. Eu passo uma mão por suas costas e a outra em seus cabelos. Mas não são cabelos encaracolados com os quais já estou acostumado. São cabelos longos e lisos... me afasto.

— Leo... o que é isso? — essa é a voz de Gabriel, mas não vem da pessoa que está a minha frente, mas vem de detrás de mim.

Me viro em desespero.

— Gabriel?

— Leo... você não me ama mais, é isso? —a voz de Gabriel está instável, como se ele estivesse prestes a chorar.

— Gabriel... o que tá acontecendo?

—Você tá aí se agarrando com o Fábio! — grita ele.

— Com o Fábio? — não consigo acreditar.

— Leo, você disse que me ama — disseram Gabriel e Fábio ao mesmo tempo — Você disse que me amava.

— Gabriel, eu te amo! Eu te amo muito! — eu digo, já chorando.

— Nem parece — responde Gabriel, também chorando — Me trocou por ele... Que sempre te tratou mal. Que fazia piadas a sua custa.

— Não Gabriel, eu não te troquei! Eu não fiz isso!

— Não fez, Leo? — essa é a voz de Fábio — Você me abraçou. Disse que quer ficar comigo.

— Adeus, Leo. Eu te odeio agora — declara Gabriel. E eu grito.

— Leo, acorda filho! — é a voz do meu pai. — Leo. Calma, foi só um sonho.

Ele segura minha mão.

— Pai? Pai... — eu começo a chorar.

— Calma Leo, calma. Já passou.

Fico em silêncio.

— Cadê a mamãe? Por que ela não veio correndo para ver se eu não morri?

Papai dá uma risadinha.

— Ela foi ao mercado, Leo.

— Hum...

Silêncio.

— Leo, vamos conversar?

— Hum... sobre o quê?

— Bem Leo... eu nunca pensei que tivesse que conversar sobre isso com você... qual pai imaginou, não é...? — não estou gostando do rumo dessa conversa...

Fico em silêncio.

— Leo... bem... vou falar logo de uma vez — diz ele — Eu vi que você e o Gabriel estavam... se abraçando. Eu percebi que... que vocês estão juntos.

Eu não respondo.

— Leo, eu sou seu pai. Não importa as escolhas que você faça e vou te amar e te apoiar.

Não sei o que responder.

— Leo, fala alguma coisa, por favor.

— Bem... pai... Eu amo o Gabriel.

Meu pai fica em silêncio.

— Tudo bem, Leo. Isso é normal. Eu te amo.

— Eu também te amo, pai.

Ele me abraça e ficamos assim por um bom tempo.

— Você contou para a mamãe? O que ela disse? — eu pergunto.

— Não, eu não falei com a sua mãe. Quer que eu fale com ela?

— Não. Eu falo com ela... quando eu estiver pronto.

— Tudo bem.

Meu pai se levanta. E ouço a porta do quarto fechar.

Me levanto e vou tomar banho.

Mamãe chega em casa e ainda estou debaixo do chuveiro.

— Leo? — chama ela.

— Oi mãe — pergunto, passando xampu.

— Eu encontrei com a Giovana no mercado. Ela te convidou para ir na casa dela tomar banho de piscina às quatro.

— Tá, mãe.

Depois do almoço eu me deito em minha cama novamente. Começo a pensar no sonho. Nunca antes eu havia reparado no Fábio... até aquele beijo... eu sonhei com ele... isso me faz ficar... nem sei como me sinto. Também estou pensando muito nas belas palavras daquela carta... não foi o Gabriel que a escreveu. Terá sido a Gi? Não, ela tem o William. Então só resta uma resposta: foi o Fábio. Mas ele nunca entrou em minha casa. Não tem como ser ele também.

Dá a hora de ir para a casa da Gi então eu visto a sunga e ponho o short, para não ter que demorar tempo muito me trocando. Pego a mochila que mamãe preparou pra mim e vou saindo de casa.

— Oi, Leo! — Gi está me esperando no portão.

— Oi, Gi.

— Vim te buscar.

Eu saio e vou andando de mãos dadas com ela.

— Como cê tá? — ela pergunta.

— Tô bem. E você?

— Bem... não sei. Preciso te contar uma coisa — o tom de voz dela estava bem sério.

— Ai, Gi... fala.

— Olha... sabe... sobre a noite que eu tive com o William?

— Hum... sei.

— Pois é... Eu acho que tipo assim... no momento, eu não pensei direito nas consequências...

— Você tá querendo dizer que não gosta mais do William?

— Não, não é isso. Gosto muito dele.

— Então o que é?

— É que... tipo assim... minha menstruação tá atrasada. E ela nunca atrasou, você sabe.