Hoje quando cheguei à escola, enquanto esperava a campa de entrada bater, percebi que a Gi não tava nada bem.
— Oi, Leo... — ela tava falando bem baixinho, muito desanimada.
— Oi, Gi. Tudo bem com você?
— Tá... — isso não me convenceu. Havia algo errado.
— E como foi com o William ontem?
— Olha, o Biel chegou. Ele tá vindo pra cá — ela mudou de assunto. Isso não é nada bom...
— Oi, Galera! — eu estendi a mão para que ele a apertasse, e assim ele fez.
— Oi, Gabriel — respondi.
— Oi, Biel. Tudo bem com você? — perguntou Gi.
— Aham. E com você?
— Também.
A campa bateu e nós nos dirigimos para a sala.

No intervalo, eu tava sentado na mesa com a Gi e o Biel.
— O William não vai sentar com a gente hoje? — perguntei pra Giovana, dando falta do namorado dela.
— Não sei.
— Por que vocês não se falaram na sala hoje? — perguntou o Gabriel.
— Por nada.
Daí ela ficou caladona e eu achei melhor não falar mais sobre o assunto. O Gabriel deve ter chegado à mesma conclusão.
Então chegou a Karina – uma menina que estuda na minha sala – e perguntou:
— Gabriel, Leo, é verdade que vocês namoram? — caramba! O que responder?
— Não, por quê? — eu falei.
— É que o Guilherme comentou que vocês foram embora de mãos dadas ontem.
— Ah, o Leo só fez isso pra tirar uma com a cara deles! — mentiu Gabriel.
Eu e o Gabriel decidimos que ninguém além da Gi pode saber sobre o namoro, se bem que eu pus muita coisa em evidência ao segurar a mão dele. Mas agora temos que disfarçar.
— Ah tá. Bem que eu nem acreditei. Vocês não parecem nem um pouco com “beija-rapazes” — e então ela ficou calada.
— Pois é... — falou a Gi.
— Ei, gente! — disse a Karina.
— Que foi? — perguntou o Gabriel.
— Vou dar uma festa nesse sábado. Cês vão, né?
— Aham. — respondeu o Biel. Eu balancei a cabeça concordando.
Daí a campa pra voltar pra sala tocou e a gente saiu do refeitório.
As últimas aulas são de Educação Física e por isso eu fico sentando nas arquibancadas enquanto o resto da turma joga vôlei ou futebol.
Mas hoje o William veio falar comigo.
— Oi, Leo!
— Oi.
— Tudo bem?
— Aham, e com você?
— Tudo jóia.
Fez-se uma pausa.
— Sei que não é da minha conta, mas como cês tão? — perguntei, pensando no mau humor da Gi.
— Ham? Como assim?
— Você e a Gi, como vai o relacionamento?
— Hum... bem...
— Ela não parece lá muito feliz.
Ele respirou fundo.
— A gente brigou ontem.
— Por quê?
— Por... tem razão, Leo, não é da sua conta.
E então ele se afastou.
Por que será que eles brigaram? Ontem mesmo a Gi tava tão feliz por que ia encontrá-lo. O que será que aconteceu?

Depois da aula, Biel, Gi e eu ficamos no pátio pra conversar um pouco.
— Ei, a gente vai pra festa da Karina? — eu perguntei.
— Não sei. — respondeu a Gi.
— Sim, eu vou ser o DJ de novo.
Daí a gente saiu da escola e fomos em direção das nossas casas – moramos todos na rua da escola: a Giovana mora a quatro quadras depois da escola, eu moro duas quadras depois da casa dela e o Gabriel mora a três depois da minha.
— Gi, vai lá pra casa hoje? — eu pergunto.
— Aham.
— E você, Biel?
— Hoje não dá. Tenho que ajudar meu pai numas coisas lá em casa.
— Ok. Mas ia ser bem mais legal se fossemos nós três — comentei.

Quando eu e Gi chegamos à minha casa e Gabriel foi para a dele, minha mãe estava me esperando na varanda.
— Oi, Leo. Oi Giovana. Tudo bem?
— Sim, mãe.
— Tudo legal, tia.
O almoço já tava na mesa.
— O papai não vem hoje, mãe? — eu pergunto.
— Não, ele está ocupado no trabalho.
Faz-se um pouco de silêncio.
— Leo, você ainda quer fazer intercâmbio?
— Não sei — respondi.
— Mas você queria tanto. Por agora não tem certeza?
— Eu não sei, mãe. Talvez agora tenha coisas que me façam querer ficar — eu olhei na direção da Gi, por que ela sabe muito bem as razões.
— Hum... — há um pequeno silêncio. Então mamãe pergunta: — Leo, Giovana... posso saber uma coisa?
— Pode, mãe.
— Claro, tia.
— Vocês dois... vocês dois namoram?
Silêncio.
— Não, tia — responde Gi.
— Não, mãe — eu não consigo não sorrir em direção à Gi, o que deve parecer bem suspeito. — Por quê?
— Ah, não sei. Vocês vivem andando juntos, deitam juntos... parece atitude de namorados.
Eu e Giovana caímos na gargalhada.

Depois eu e Giovana fomos para meu quarto e nos deitamos na minha cama.
— Leo?
— Oi.
— Você já brigou feio com o Biel?
— Depende. Antes ou depois de começar a namorar ele?
— Depois.
— Não.
— Hum...
Silêncio.
— Por quê? — eu quis saber.
— Nada.
Silêncio. Esse silêncio quer me matar.
— Você brigou com o William, né? — não pude deixar de perguntar.
— Aham...
Silêncio de novo. E depois um soluço. Isso é choro?
— Gi, cê tá chorando?
Ela não respondeu, mas os soluços ficaram mais fortes.
— Gi, fica assim não!
Ela me abraçou. eu retribuí o abraço, bem forte.
Dei um beijo na bochecha dela.
— Ele é um safado — disse ela depois de um tempo.
— O que?
— O William. Ele é um pervertido.
— Como assim? Por quê?
Entre soluços, ela me explicou:
— Ontem a gente se encontrou na casa dele. A gente se deitou na cama dele, mas não assim como eu você estamos, entende?
— Aham — eu entendi muito bem.
— Estávamos nos beijando, então ele começou a passar a mão na minha coxa e eu pedi pra ele parar. Ele não parou, continuou insistindo... daí eu fui embora. Sem falar nada... — ela começou a soluçar freneticamente... como dói vê-la assim... e eu não sei o que dizer.
Então fiquei só a abraçando.