Fred e George ainda estavam desapontados com a notícia que não poderiam participar do Torneio Tribruxo por causa de suas idades. Quem teria tido a estupida ideia de achar que aquele evento seria perigoso? Quando o Cálice foi colocado em uma das salas para que os alunos mais velhos pudessem colocar seus nomes, uma linha fora traçada para que, tecnicamente, nenhum aluno que não obedecesse os requisitos a ultrapassasse. Por alguns poucos dias os garotos procuraram alguma solução que os dessem alguma chance de burlar as regras e, quem sabe, um deles conseguir a chance de ser escolhido pelo Cálice de Fogo. Um tiro no escuro. Mas tão obvia quanta a linha etária traçada no chão de pedra da sala, era a ideia da poção de envelhecimento dos gêmeos Weasley.

Os alunos se amontoavam nos bancos, observando cada aluno de Hogwarts, Durmstrang e Beuxbatons que cruzava o círculo luminoso. Quando Fred e George passaram pela chuva que caia no pátio até chegar ao outro extremo onde ficava a sala, sentiram como se estivessem fazendo algo grande e glorioso. Ao chegar na porta, Fred perguntou, em um canto: - Você tem certeza? - o irmão acenou positivamente com a cabeça, entrando com um largo sorriso e informando a todos do seu plano. Hermione, sentada a um canto, desacreditava que iria dar certo, colocando sua fé na genialidade de Dumbledore, que não se deixaria enganar por uma poção tão simples como a do envelhecimento.

Infelizmente a ideia dos Weasley era boa, mas nem tanto. No momento em que pularam a linha etária e colocaram seus nomes no Cálice, este o cuspiu para fora, atirando contra os gêmeos e de repente, seus cabelos passaram de laranjas a branco acinzentados e seus rostos lisos foram cobertos com espessas barbas.

Minerva McGonagall chegou em seguida, puxando os dois por cada orelha e os levando em direção á enfermaria, repetindo várias e várias vezes o quanto estúpidos eles eram.

X

– Eu não acredito no que aconteceu. - repetiu Fred pela milésima vez naquela hora que já havia se passado. - Barba, George. Nós estamos com barba! - o garoto riu e pegou um amontoado de pelos do rosto que ainda estavam brancos.

– É, foi realmente incrível! Sabe quantas pessoas tentaram fazer o que nós fizemos? Que eu saiba nenhuma!

– Isso é incrível. Vão se lembrar da nossa tentativa quando estivermos na hora do jantar.

– Falando em hora do jantar... Eu estou com muita fome.

– Eu também. - Fred pulou da cama, indo até um dos armários em um canto da enfermaria. - Será que aqui tem alguma coisa pra comer? Madame Pomfrey não pode morrer de fome, não é? - revirou e olhou tudo o que tinha dentro do respectivo armário, mas tudo que conseguiu achar foram vidros coloridos, porém não comestíveis de remédios que ele não saberia dizer para que eram usados. - Não. Aqui não tem nada.

– Garoto, você quer voltar para a cama! AGORA! - Madame Pomfrey havia saído de sua pequena sala e pegara Fred indo para o armário vizinho ao anterior.

– Estamos morrendo de fome! - disse George.

– Eu tenho certeza que alguém vai trazer alguma coisa para o seu irmão, George. - dizia a enfermeira enquanto examinava George que ainda estava na cama. - Você está dispensado agora. Pode ir.

– E por que eu não posso? - protestou Fred.

– Porque, se não percebeu, você ainda têm pelos faciais tão brancos quando os meus cabelos, querido. Deite-se aí.

– A gente se vê mais tarde, Fred. - George saiu dando risadas. Quando bateu a porta pesada da enfermaria e Madame Pomfrey o deixou sozinho de novo, jogou a cabeça no travesseiro e só conseguiu pensar em como estava com fome. Sentou-se de costas para a porta, de modo que pudesse estar de frente a janela e ver a paisagem, que era mais interessante do que ver camas vazias.

Depois de algum tempo, e Fred não sabia dizer quanto, a porta da enfermaria abriu-se novamente.

– Finalmente comida! Eu estou morrendo de fome!

– Do que você está falando? - uma voz rouca de uma garota o respondeu. O garoto virou-se.

Se deparou com uma com uma expressão confusa, tão branca quanta a cor das paredes e tão ruiva quanto seus cabelos antes dos efeitos colaterais da poção de envelhecimento. No seu rosto haviam tantas sardas que era possível ve-las com pouca luz e mesmo estando distante Fred a achou bonita. Particularmente bonita. No mais, ela estava com uma das mãos enroladas em um pano.

– Ah, desculpe. Eu pensei que era alguém trazendo comida. Eu estou morrendo de fome.

– Não tem problema. Você sabe dizer onde Madame Pomfrey está? - a garota andou e sentou, desajeitada, na cama ao lado da de Fred.

– Ela entrou para a sala dela há algum tempo atrás, acho melhor você esperar.

– Hm, ok.

Um silêncio tomou os dois e pela primeira vez Fred se perguntara se seria indelicado ao perguntar o que havia acontecido com a mão da garota, que continuava a apertar firmemente o pano que envolvia sua mão esquerda. Mas para a sua surpresa, a garota quebrou o gelo primeiro.

– Fred Weasley, não é? - perguntou com um sorriso animador.

– O próprio! Acho que estou um pouco irreconhecível com essa barba branca, mas faz parte do charme.

– Eu ouvi por aí o que vocês fizeram na sala do Cálice de Fogo.

– E foi por isso que eu vim parar aqui, com essa minha barba branca bem charmosa.

– Eu sei, mas ela não está mais tão branca, se quer saber. Acho que consigo ver uns fios laranjas daqui.

– Espero que sua visão esteja muito boa mesmo. Nem sei a quanto tempo eu já estou aqui e não tem nada pra comer... Mas então, eu nunca tinha te visto em Hogwarts. Seu nome é... - foi interrompido por Madame Pomfrey que saia de sua pequena sala em direção aos dois, mais precisamente em direção a garota, pelo seu olhar ao ver a sua mão.

– Anna! O que aconteceu com a sua mão?

– Boa noite, Madame Pomfrey. Eu não queria, bem, incomoda-la, mas é que sem querer eu consegui outro corte com a esgrima.

– Não entendo vocês e esses esportes de trouxas modificados. - bufou. - Qual o tamanho do corte dessa vez?

– Um pouco maior do que o das outras duas vezes. - Anna corou.

– Outras duas vezes? - Fred soltou, surpreso em como uma garota tão pequena podia se machucar tantas vezes.

– Weasley você oficialmente liberado. Saia daqui. - reclamou a enfermeira.

– Não, não tem problema, ele pode ficar. Ele ainda está parecendo um ancião com essa barba. Deixe-o ficar. - sorriu para Fred. “Sem ofensas”, sussurrou para que Pomfrey não a escutasse.

Fred, que nunca tivera problema com sange, apenas sentou e observou Madame Pomfrey limpar e fazer um novo curativo em Anna, que aparentemente não sentia dor alguma.

Imaginava o por quê de nunca te-la visto pelos corredores, já que uma garota como ela chamaria tanta atenção: senso de humor, uma certa insensibilidade e ruiva. Uma pessoa ruiva e tão cheia de sardas como ele só havia visto na sua família e ele só tinha essa plena certeza: eles não eram parentes. Ah sim, ele com certeza achava que era um desperdicio de garota.

Enquanto ela estava ali, sentada, por muitas vezes seus olhares tinham se encontrado e ela, com seus olhos castanhos, havia retribuido com um sorriso tímido e engraçado.

– Pronto Anna, é isso que essas mãos velhas podem fazer por você hoje. - a garota observou o curativo e sorriu satisfeita.

– Obrigada, Madame Pomfrey e mais uma vez, desculpe por incomoda-la esta hora.

– Ora, criança! Incômodo algum! As pessoas que você precisa se desculpar são seus pais pela quantidade de cortes que você consegue em um ano.

– Eles não acham tão ruim assim. Acho que é melhor eu ir agora.

– É e tente não aparecer por um tempo. Por mais que você seja uma ótima garota, você não aparecer tão cedo é um excelente sinal. - levou Anna até a porta, aonde um elfo doméstico estava prestes a entrar com uma bandeija de comida, que deveria ser para Fred.

– Fred! - Anna chamou. - Acho que você ficará feliz agora. - apontou com a cabeça para o pequeno elfo que ia entrando e viu um sorriso enorme aparecer no rosto do garoto. Ela virou e saiu em direção as escadas, mas ouviu a voz de Fred chamando seu nome.

– Oi.

– A gente se vê por aí?

– É. A gente se vê por aí.