76° Edição dos Jogos Vorazes escrita por Mad


Capítulo 5
O Sol e a Lua


Notas iniciais do capítulo

Nesse capítulo dei mais ênfase aos personagens Josh e Rain, mais por vontade do que por necessidade. Para os amadores de Luka e Carly, o próximo capítulo se dedicará apenas para eles.



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– Vamos lá - Josh diz, se sentando na cadeira de ferro ao lado dela - Me conte um pouco sobre você.

Rain bufa. Ela estava, segundo Josh, realmente maravilhosa em seu vestido dourado. Seus olhos pareciam mais prateados do que nunca, seu sorriso era angelical.

– Porque se importa com minha longa e trágica história de vida? - Ela pergunta, com descrença.

– É sempre bom conhecer seus inimigos. - Josh diz, revirando os olhos, imitando Luka.

Rain sorri.

– Tá legal. - Ela começa, com um suspiro - Eu... Tinha dez anos quando a guerra começou. Para falar a verdade, eu não entendia muito sobre nada. Sabe, Panem, a Capital e o domínio dela sobre os distritos, tudo parecia ridículo para mim, coisas que eu tinha que aprender apenas na escola. Nunca tive medo, mas também nunca tive coragem para desrespeitar os pacificadores, nem para ter atitudes ou pensamentos revolucionários.

A garota observa o rosto de Josh, em busca de algum sinal de tédio ou reprovação, mas o garoto simplesmente gesticula para ela continuar, a curiosidade aparente em seu rosto, deixando-o adorável, pensara Rain.

– Estávamos em uma época horrível. Eu e meus pais íamos dormir com fome frequentemente, de modo que os mesmos começaram a furtar alguns minúsculos grãos dos que colhiam no trabalho para poder me alimentar.

"Distrito 9. Distrito dos grãos e das tésseras", Josh relembra.

– E um dia eles me acordaram no meio da noite. Estavam aos pés de minha cama, com sorrisos melancólicos e sorrisos tristes. Minha mãe me perguntou se eu estava com fome, e eu respondi que sim. Foi quando meu pai me contou que eles iriam partir por ora. Não me disseram para onde iam, apenas que iam, sem dia para voltar. "Espero que em breve", meu pai falara.

Josh tenta adivinhar.

– Então eles foram e você nunca mais os viu. É isso?

A garota lança um olhar congelante para Josh, que, recebendo o recado, se cala na hora.

– Nossa vizinha na época era Maggie, uma senhora doente com seus 80 anos. Ela ficaria responsável por mim, eles me disseram. Me fizeram jurar que jamais contaria a ninguém que eu sabia que eles haviam partido, e que, se algo acontecesse, era pra eu me refugiar na floresta. E a simples ideia de ter que passar pela cerca me deixava morrendo de medo.

Ela suspira.

– Maggie me alimentava quando dava e tinha, mas eu fiquei responsável por mim mesma. Preparava meu próprio banho, dormia na hora que queria, andava a esmo nas ruas, preenchida de medo e saudades. - Seu olhar se torna distante - Minhas lembranças são... Digamos, nebulosas. Acordei com o som de tiros, crianças gritando, um caos. Não tive dúvidas quando peguei a primeira mochila que vi pela frente, enfiando algumas roupas e a foto, a única que tínhamos, minha e de meus pais. A cerca estava eletrificada, poderia ouvir seu zumbido a quilômetros de distância. Então eu... Eu...

Rain se viu presa na própria armadilha: Ou ela contava o que realmente aconteceu, um mentia, como sempre fez nas poucas vezes que contou a alguém sua história.

A menina Rain tentava subir em uma árvore que tinha a inclinação para o lado da cerca. Sua ideia - O que, relembrado por ela, poderia tê-la matado - Era pular para o outro lado. Ela não percebera a figura negra vindo em sua direção, já que estava tentando subir desesperadamente a árvore sob o caos da guerra. Quando ela cai de joelhos, que percebe que fora notada.

A figura estava toda de preto, com uma arma presa nas costas. Seu capuz escondia seu rosto, provocando um pânico irracional na garota, que envolve o próprio corpo com os braços e implora que, por favor, não a matasse.

É quando a mulher - Que Rain pode distinguir pelas ondas sinuosas por debaixo do uniforme - baixa o capuz, revelando seu rosto. Ela tinha olhos cinzentos - Apenas um pouco mais escuros dos que o da própria Rain - e seu cabelo castanho era preso em uma trança lateral. Ela observa a garotinha com uma expressão indescritível.

– Nós não matamos. Nós ajudamos. - Ela diz, com a voz rouca a áspera.

E é quando ela agarra a menina pelo colarinho da blusa, jogando-a como se fosse uma pluma, para o outro lado da cerca. A menina cai de joelhos, observando a mulher com descrença.

A mesma suspira, e diz:

– Seus pais serviram-nos com grande honra, Rain. Espero que honre-os com sabedoria.

E assim se fora.

E fora quando Rain percebeu que o que ela pensara ser uma arma, na verdade era uma aljava. E que em seu peito era atravessado um longo e mortal arco negro como piche.

E desde então Rain se perguntava se já tivera ficado cara a cara com Katniss Everdeen.

Josh ainda estava ali, estralando os dedos em frente ao rosto da garota.

– Terra chamando Rain. Alô?

Rain pisca algumas vezes, saindo do transe.

– Ah, sim. Eu pulei para o outro lado... Escalando uma árvore. E fim.

– Como assim "E fim."? Vamos, me conte! Como sobreviveu? Como voltou?

Rain encara-o.

– Não acha que está querendo saber demais?

– Olha, na verdade sim - Josh responde com um sorriso travesso - Mas eu não ligo. Continue.

Rain bufa.

– Afiei um pedaço de madeira até ficar razoavelmente mortal. Cacei animais para sobreviver, de início os comendo cru, até aprender a fazer uma fogueira.

– E quanto ao lobo? - Josh a pega de surpresa.

Rain sente o queixo caindo e a voz ficando perigosamente alterada.

– Como sabe disso? - Sua voz era como gelo.

– Nyah, minha representante, comentou algo. Sobre "Eu não acredito que você se aliou com a garota do lobo", ou algo assim.

Rain cruza os braços, irritada.

– Só para constar, o lobo se chama Winter. Eu o encontrei durante uma caçada, e domei-o, ensinando-o a amar. Ele é minha única família agora. E deve estar lá, escondido em alguma sombra, ganindo por mim. - Sua voz se torna frágil e baixa - E foi ele que me fez voltar. Ele começou a uivar e ganir até eu segui-lo. Quando chegamos o distrito estava destruído, uma ou outra casa continuava de pé. A grade que nos separava da civilização estava destruída. Havia muitos pacificadores, e os poucos moradores que haviam sobrevivido estavam refugiados a leste. Me juntei a eles tentando encontrar meus pais, quando encontrei Maggie. Ela estava morrendo, eu percebi. Mas me contou. Que meus pais haviam se aliado aos rebeldes e morrido por isso. Que eles não iam voltar.

Os olhos da garota marejam.

– E um pacificador a pegou pelo braço, arrastando-a para longe - Sua voz soa embargada - E logo depois descobri que ela fora queimada viva. Porque ela sabia por onde meus pais conseguiram escapar, mas não os dedurou mesmo depois de mortos.

Josh se abala.

– Pobre, velha e leal Maggie... - Seu olhar se torna distante.

– O distrito fora reconstruído - Rain continua, como se ele não tivesse falado - E eu fora alojada em um dos cubículos de cimento. Sobrevivi todos esses anos apenas da doação dos outros. E agora, cinco anos depois da guerra, eu estou aqui.

Josh não consegue encarar o rosto da garota.

– Sabe o que mais me dói, Josh? - Ela pergunta, mais para ela mesmo do que para o garoto - É que eu deveria honrá-los com algo. Dar orgulho a eles, onde quer que eles estejam. Pensei em me tornar professora, e ensinar crianças assim como ensinei Winter, mas... Veja onde eu estou agora, Josh! Sentada nesse maldito banco, com esse vestido ridículo, esperando para entrar naquele palco sorrindo e acenando como um animal de zoológico para um bando de... Capitalistas!

Josh percebe que a garota está gritando, e que eles recebiam alguns olhares reprovativos de algumas pessoas que passavam. Ele segura os ombros da garota desajeitadamente.

– Rain, ei, olhe para mim. Se acalme!

Rain começa a chorar. Ela chora até sua visão se tornar apenas um borrão de luzes, e se agarra a primeira coisa que vê na frente - Consequentemente Josh - tentando não desabar.

Josh prende a respiração com a aproximação repentina. A quanto tempo não recebia um abraço? Há pelo menos dois anos, no mínimo, com certeza.

Ele envolve as costas dela com um braço, de forma hesitante, e afaga a cabeça dela com a mão livre.

– ELES VÃO ME MATAR JOSH! ELES MATARAM MEUS PAIS E AGORA VÃO ME MATAR!

– Eles não vão te matar. - Josh responde, se assustando com a própria sinceridade.

Rain se afasta do peito de Josh, onde sua cabeça estava encostada, sentindo falta na mesma hora de seu cheiro e seu calor.

– O que quer dizer com isso? - Ela pergunta, curiosa, limpando as lágrimas com a palma as mãos.

– Você não vai morrer. Porque eu não vou deixar.

Atenção tributos, preparar para ir ao ar. Se posicionem em fila indiana em ordem crescente de acordo com o distrito.

Tributo 1, Juliet Venega, preparar para entrar em 10, 9, 8...

– Acho que tenho um lugar naquela fila. - Rain se pega falando.
– Acho que nós dois temos. – Josh responde, com as mãos nos bolsos.
Juntos eles caminham na direção dos tributos que se organizavam – Ou ao menos tentavam – em fila indiana.
Carly, como Rain previra, estava maravilhosa em seu vestido amarelo–canário - Seus cachos ruivos caindo nas costas em ondas perfeitas. Ela estava, de alguma forma, conversando com Luka, que era o último da fila, por meio de gestos e gritos, soltando risadas aleatórias e murmúrios graciosos.
Josh já estava se afastando dela para entrar em seu lugar na fila, quando sente uma mão gelada agarrar-lhe o braço. Ele se vira e vê uma Rain hesitante o segurando.
– Só para deixar bem claro – Ela fala, nervosa – Que você nunca mais me verá assim.
– Assim como? – Ele pergunta, confuso.
– Tão fraca e vulnerável.
E assim ela dá as costas, posicionando-se atrás da figura de Carly. Ela podia estar escondida ali atrás por ser baixinha, mas Josh conseguia sentir sua presença a metros de distância.
Fora quando o garoto percebera que ela não fazia a melhor ideia do efeito que causava.
–-----

– É isso ai, Panem! – O grito de Caesar ecoa pelo estúdio – Já recebemos aqui seis dos doze tributos que enfrentarão esse ringue louco! Mas, agora, receberemos alguém inédito! Ele, nosso lenhador do ano, o belo Josh Cellar!
Os gritos são ensurdecedores.
Josh entra em cena com seu melhor sorriso confiante, acenando para a plateia e sorrindo quase que automaticamente, e sem saber, provocando o desejo de milhares das telespectadoras da Capital, e até mesmo dos distritos.
– Olá Caesar! – Ele diz, o cumprimentando com um aperto de mão.
– É um prazer tê-lo aqui, garoto! – O homem responde.
Josh se senta ereto na poltrona confortável vaga.
– O prazer é todo meu! – Ele responde, apenas por educação.
As mulheres da plateia soltam suspiros em admiração.
– Bem, Josh, infelizmente temos que ser rápidos, não é? – Caesar pergunta, e sem esperar pela resposta já lança a pergunta – Soubemos que após você ser escolhido na colheita seu pai sofrera um ataque do coração, não resistindo. Como você se sente com isso, Josh?
Josh cerra os pulsos. Caramba, ele tentara evitar esse assunto o máximo possível, para agora ter que discuti-lo em público? O garoto engole em seco em uma tentativa de se acalmar, antes de falar.
– Eu me sinto... Destruído – Ele admite, provocando gemidos piedosos na plateia – Pois meu pai era um bom homem, ele que me ensinou a ser o que eu sou hoje. Espero que ele não tenha sofrido tanto como eu estou sofrendo agora. Acho que na verdade ele foi para não precisar sofrer a morte de seu filho, o que eu achei muito inteligente de sua parte.

Silêncio colossal.
A gargalhada de Caesar ecoa dentro do cérebro de Josh.
– Vamos garoto, esse é seu momento, você precisa brilhar, não é mesmo? Me diga, você é um rapaz muito, mais muito atraente não é mesmo? – Ele lança um olhar para ninguém em especial na plateia, recebendo gemidos de concordância – Você era muito paparicado no distrito sete?
– Olha, Caesar – Josh diz, sinceramente – Você é a primeira pessoa que me elogia em séculos, para ser franco – A plateia ri.
– Não acredito! – Caesar responde, parecendo surpreso – Não há ninguém que Josh gostaria de trocar carícias? Nenhuma garota desejando o nosso Josh?
– As garotas do meu distrito costumavam me ver como uma peste. Mas... As especiais estão aqui atrás. – Ele lança sem hesitar, apontando para a porta que levava aos bastidores.
O público urra em curiosidade, os olhos clinicamente roxos de Caesar se esbugalham em sua cara.
– Eu ouvi um plural? – Ele pergunta para a plateia, que delira – Vamos Josh, temos permissão para expor nomes?
Josh observa em volta. As pessoas da plateia se inclinavam para o palco em busca de nomes, seus rostos em uma máscara de curiosidade. Ele sorri, percebendo que causara o efeito desejado.
Josh se inclina a Caesar como se fosse=-lhe contar um segredo, sorrindo em deleite.
– Caesar, meu amigo – Ele faz suspense – Eu estou dividido entre o Sol e a Lua.
Gritos.

*****
No dia seguinte

Josh sai do banho com os cabelos pingando água. Estava apenas com uma toalha enrolada na cintura, deixando seu peito nu. Ele treme ao sair do chuveiro, sentindo o choque gelado na espinha, ao sair de um lugar quente e entrar em um frio.
Josh solta um gritinho fino e pra lá de constrangedor ao perceber a figura em sua cama.
Estava com as duas pernas curtas cruzadas, observando as próprias unhas, com uma expressão perigosamente controlada, os ombros tensos e eretos. Rain.
– O que você está fazendo aqui? – Ele pergunta, engasgando.
A garota o encara e cora, como se somente no momento percebera que ele estava seminu. Mas logo ela se recupera, se levantando graciosamente, em movimentos lentos e visivelmente contidos. Algo em sua mão esquerda brilha, e Josh demora um pouco para perceber o que era: Um terrível, homicida e brutal tesoura escolar sem ponta.
– Josh Cellar. – O nome sai da boca da garota com tanto veneno que Josh recua. – Eu sei que aquela maldita indireta fora para mim! Então é esse seu plano? É essa sua estratégia? Um triângulo amoroso? Ou melhor, um triangulo amoroso entre, você, Carly e eu? Pois fique sabendo, querido, que quando entrarmos naquela maldita arena, não há amor que poderá nos salvar, nem mesmo os amores falsos e planejados APENAS PARA CONSEGUIR ALGUNS MÍSEROS PATROCINADORES!
Rain aos poucos fora perdendo o controle, avançando na direção de Josh apontando a ponta oval da tesoura na direção de seu rosto vermelho. Ele dava alguns passos para trás cada vez que ela avançava, de forma que agora estava espremido contra a parede do dormitório, com a ponta da tesoura em seu pescoço. Ele engole em seco e junta coragem para falar:
– Eu estou salvando sua vida! Veja, fomos os destaques daquela entrevista!
– Não, Josh, você foi o destaque daquela entrevista! Caesar apenas elogiou meu vestido e ficou o tempo todo enfatizando os meus olhos cinzas prateados, prateados como a lua.

Rain dá alguns passos para trás, jogando a tesoura no chão.

– Eu não preciso que você salve minha vida. Quer saber? Só não renuncio a seu anúncio pois isso mataria todos nós. Só quero que você se lembre disso quando eu estiver matando-o com minhas próprias mãos dentro da arena, quando nossa aliança se quebrar.

Rain dá as costas a Josh, como se fosse sair. Ela abre a grande porta branca de madeira, mas a garota se detém, se virando novamente para Josh.

– E Josh? – O garoto a encara – Eu não sou a lua. Eu sou fria, e não posso ser controlada por nenhum ser humano no planeta até me esgotar completamente, destruindo tudo o que deveria destruir. Eu posso ser calma mas também tenho meu lado destruidor, Josh Cellar. Meu nome é Rain, e eu sou a chuva. E se por um acaso, eu realmente fosse a lua, minha noite seria apenas escuridão. E o único que vaga pelas ruas escuras da minha vida é Winter, Josh. Não tente me convencer de que há mais alguém.

E assim a porta se fecha, separando Rain e Josh por não apenas uma parede, mas também quilômetros de choques elétricos.


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Notas finais do capítulo

Sim, era Katniss Everdeen. Choremos.



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