76° Edição dos Jogos Vorazes escrita por Mad


Capítulo 2
Apenas seja você mesma


Notas iniciais do capítulo

Ham, foi muito dificil para mim escrever esse capítulo, tantas emoções diferentes, quatro pontos de vista diferenciados. Espero que tenha ficado bom.

Ah, e mais uma coisa! Só para esclarecer a minha ideia: Até os distritos e Panem se reerguerem, foram passados vários anos. A 76° edição dos Jogos Vorazes foram uma reestreia dos Jogos, com suas novas regras. Quando eu digo que "Eles já haviam passado pela colheita outras vezes", digo que foram nas antigas edições dos Jogos, 74° - Onde Katniss foi escolhida -, 73° e assim em diante.
Só para deixar claro.
Tentei fazer calculos exatos, e conclui que se passaram uns quatro ou cinco anos para a reestréia dos Jogos após a guerra.



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Josh subia ao palco com movimentos automáticos. Ele não sentia nada, não conseguia perceber o que estava acontecendo, até o toque da mão fria de Nyah Swit, a representante do distrito 7, tocar-lhe o ombro.
Seu nome fora recitado com tanta certeza por sua voz grave e controlada que ele demorou um pouco para perceber que aquele nome, Josh Cellar, pertencia a ele mesmo.
Josh observa o resto dos moradores do distrito 7, todos com olhos grandes e surpresos. Michele e Victoria produziam sorrisinhos maldosos em sua direção, e ele teve que desviar o olhar para não pular do palco e ataca-las no pescoço.
Segundo as novas regras dos Distritos, era completamente proibido algum outro morador se oferecer como tributo no lugar de algum escolhido, mas mesmo assim Josh não acreditaria que alguém gostaria de apossar-se de seu cargo. Ele era odiado por todos do distrito, taxado como arrogante e encrenqueiro. Há quem tentava esconder o tédio e o alívio dele ser escolhido no lugar de qualquer outro, sem sucesso, sorrisos de satisfação de seus colegas de trabalho eram exibidos entre a multidão.
– Então é isso pessoal. - Nyah Swit se despede - Palmas para o tributo do Distrito 7, Josh Cellar!
Talvez um silêncio constante seria muito mais aconchegante. Mas não foi isso que aconteceu. Gritos de alegria, assovios altos e palmas foram ecoadas pela praça central, e Josh, para esconder a revolta, simplesmente dá as costas, entrando na prefeitura sem se importar em esperar Nyah. Ele é guiado por alguns pacificadores até uma sala grande e esbelta da prefeitura, onde encontraria seu pai, provavelmente pela última vez. Ele se senta em uma poltrona estranhamente confortável, de cor verde musgo, e se pergunta como o pai seria levado da casa deles até ali. O senhor Cellar não conseguia andar dois passos antes de desabar.
–----

Rain Ghostsong recebe olhares de pena. Ela odiava aquilo; O fato de deixar as lágrimas escorrerem de seus olhos, de suas mãos finas e normalmente cerradas em punho estarem tremendo descontroladamente. Maioria das pessoas trabalhadoras do distrito a conheciam; Foram elas que a ajudaram a se manter viva, doando comida que a maioria das vezes lhe faltavam, roupas e agasalhos.
Por um curto momento de tempo ela se perguntou se alguém se ofereceria para ir em seu lugar caso fosse permitido.
Lea James, a representante do distrito 9 oferece sua mão pálida para a garota que a segura com vontade. Talvez ela não desabasse se segurasse em algo ou alguém.
– Bem - Lea tosse timidamente - Então é isso, moradores do distrito 9. Saudações para Rain Ghostsong, o tributo que os representará na 75° edição dos Jogos Vorazes!
Uma ou duas pessoas batem palmas, o resto da população se mantem em silêncio. Ao longe a garota escuta um uivo desesperado, e ao varrer as sombras com os olhos cinzentos, encontra dois pares de olhos azuis assustados. Antes dela conseguir pensar em algo, a mão firme de Lea a puxa para dentro da prefeitura, as duas portas altas de madeira maciça se fechando entre elas e o lobo branco.
–----

Luka Venomania escuta primeiro um grito. Fino, continuo e claramente desesperado. Sua mãe.
Ele varre o local, e encontra sua família, sua mãe tentando correr em sua direção, segurada firmemente pela mão grande e grossa do senhor Venomania. Sua irmã, Lily, encara-o com os dois olhos âmbar, claramente assustada, sem ao menos entender o motivo.
Enquanto caminha a passos mais ou menos firmes até a escada que o levaria ao palco, com a cabeça sempre erguida, ele escuta a população prender a respiração por um longo tempo.
Sua família era conhecida do distrito por ser a única que tinha coragem o suficiente para contradizer as novas leis dos Distritos e conseguir passar pela cerca escalado uma árvore e saltando para o outro lado, entrando na floresta e voltando com comida. Eles doavam quando sobrava, e talvez fosse por isso que os moradores, todos eles cientes do crime que sua família cometia, se mantinham calados. Mais de uma vez salvaram famílias dadas como mortas, tão esqueléticas que imaginaram que fosse difícil sobreviver, doando comida e alguns agasalhos feito do couro de alguns animais.
Mas Luka, o filho primogênito do casal, era especialmente conhecido, principalmente pelas garotas do seu distrito. Tinha nascido especialmente belo, e criado desde pequeno aprendendo a ser sempre educado e a tratar garotas, não importa o quão repulsivas, sempre com uma gentileza amais.
Com o tempo fora o alvo principal das garotas, mas para falar a verdade, nunca gostou daquilo. As garotas não entendiam o que ele queria, uma amiga, uma companheira, não apenas um corpo ou uma distração.
Havia feito várias amizades no trabalho das minas, sendo sempre querido por várias famílias do distrito.
E agora ele perceba que nada adiantara aquilo.
Ele percebe isso quando se posiciona, com a cabeça erguida e o peito estufado, ao lado da figura minuscula de Effie Trinket, a experiente representante do distrito 12. Ela bate palminhas suaves, que ecoam pela praça.
– É isso ai, gente! - Ela sorri com um toque de melancolia - Esse garoto bonito irá representar vocês e...
– Maninho! - Um grito feminino e infantil é ouvido entre a multidão. Os olhos âmbar de Luka marejam, e ele resolve não olhar, pois tinha certeza de que desabaria ao encontrar a dona daquele chamado.
– Bem, continuando - Effie continua - Palmas, por favor!

Nenhuma palma é produzida.
Uma mão morena e tímida se levanta entre a ala feminina dos concorrentes a serem tributos. Luka sente um nó no estômago. Ele se lembra da última colheita em que participou - No qual ele vira Katniss Everdeen ser escolhida.
As novas regras eram extremamente rígidas, e um comentário poderia ser fatal...
– Sim? - Effie pergunta para a garota de pele morena e cabelos cacheados que erguera a mão, com surpresa aparente.
Luka nunca a vira na vida. Não que se lembrasse. Mas provavelmente já tinha lhe dirigido uma saudação.
A menina olha fixamente para Luka ao falar.
– Ele não merece.

Uma exclamação é expirada por todos no recinto. Luka sente um calafrio na espinha, e logo várias outras pessoas levantam a mão, como que para pedir permissão para dizer sua opinião na roda da escola, sem esperar, dizendo.
Ele não merece.
Ele não merece
Ele não merece.
Logo o lugar se torna um caos, com gritos e ecos da mesma frase, o choro alto de sua mãe se destacando.
Effie Trinket cerra a mandíbula. "De novo não", ela pensa.
Segura o punho de um Luka em pânico, arrastando-o para dentro da prefeitura, as portas de fechando atrás deles.
Não antes de ver a bala da arma de um dos pacificadores atravessar o crânio da garota que levantara a mão primeiro, não antes dele a ver desabando no chão, sem vida. Por sua causa.
–----

Carly sente seus pés perderem o chão. O sol bate em seus olhos azuis, e ela cambaleia para trás algumas vezes, esbarrando em outra garota que a empurra sem nenhuma sutileza para frente.
– Carly Doug? - Charlotte Grey repete pela sétima vez, visivelmente irritada.
Ela não se pronunciaria, até alguém achá-la. O que não seria difícil, considerando o fato de todas as pessoas olharem-na sem disfarçar.
Ela sente algo duro bater em sua nuca, e se vira, tremendo.
– Você é Carly Doug? - O pacificador pergunta, a arma em punho.
Tudo que ela consegue é produzir um sim com a cabeça.
– Suba. Agora. - Ele manda.

Ela não gostaria de levar um tiro em praça pública, então apenas começa a andar em direção a uma Charlotte muito irritada. Ela suspira de alívio quando ela se apresenta, claramente com vontade de revirar os olhos, mas se conteve. Provavelmente ao perceber a cara verde da garota.
Ela se posiciona ao lado da mulher, varrendo o local com seus olhos e encontrando seu pai, o Prefeito. Ele estava de costas, falando com alguém naquele seu aparelho especial. Qual era o nome mesmo.. Ah, sim, telefone celular portátil.
Enquanto Charlotte pede palmas - Foram muitas palmas - ele não se vira para encara-la, nenhuma vez. Nem quando ela começara a soluçar no palco, nem quando ela fora levada para dentro da familiar prefeitura, seus cachos ruivos balançando com o vento.
–----

– Josh Cellar? - A voz grave de Nyah o faz interromper seus pensamentos.
– Sim. - Ele se levanta, alarmado, olhando para os lados. - Meu pai... Ele está aqui?
A mulher encara-o, impassiva.
– Sente-se, Josh. Precisamos ser rápidos. - Ela se senta na poltrona idêntica a que ele se senta novamente, servindo-se de café que estava em cima de uma mesinha. Ela percebe que o garoto a encara com descrença e pegunta - Quer café?
– Não, eu não quero café, quero saber onde está meu pai. - Ele responde, decidido.
A mulher apresenta a primeira emoção, um olhar piedoso.
– Nós fomos até a sua casa para traze-lo, Josh. E ele... Não pode vir.
– Ele está bem? - Josh se ergue em um pulo, assustado.
– Não, Josh, ele não está bem. Ele está morto.


Josh entra no vagão do trem, rígido. Enquanto esperava sozinho na sala da prefeitura, ele prometera comer toda a comida que pudesse antes de ir para os jogos. E comida era o que não faltava; Duas mesas cheias dos pratos mais refinados, alguns que ele nem sequer conhecia, doces, salgados, bebidas coloridas e transparentes. Mas ele não conseguiu comer. Ele foi direto para seu dormitório, ignorando Nyah que se encontrava sentada em uma das cadeiras da mesa de jantar, deitando sem tomar banho, sem sequer tirar a roupa. Ele sabia que em a algum outro trem, que passaria nos trilhos livres ao seu lado, estariam os tributos dos distritos 1, 2, 3, 4, 5, 6, 8, 9, 10, 11 e 12, e ele dorme tentando imaginar qual deles seria o motivo de sua morte.
–----

O lobo branco entra na sala com um uivo feroz, se jogando nos braços de Rain, lambendo seu rosto desesperadamente. Atrás dele, seguindo-o, vem Lea James, com um olhar reprovativo.
– Se você não tivesse avisado que ele era seu - Ela começa - Ele daria uma bela pele para meu próximo casaco.
Rain Ghostsong pensa em ignora-la, mas emfim segura seu olhar.
– O que vai acontecer com ele? Quando eu... Quando eu estiver fora, quando eu não voltar?
– Ah, pelo amor de Snow, não seja ridícula. Tenha um pouco de positividade, certo? - Ela percebe que a garota está realmente preocupada - Ele ficará bem, sobre os cuidados dos seus vizinhos, como foi combinado. Você sabe que isso é proibido, não? Quero dizer, cuidar de um lobo.

A resposta de Rain é curta e firme.

– Ele se chama Winter. E é minha única família.
Lea prende a respiração.
– Tudo bem. Você tem cinco minutos. Logo mais o trem partirá.

Ela sai de lá, com um silencioso nó na garganta, deixando Rain e Winter sozinhos.
–----

Luka não sentara nenhuma vez. Estava de pé, com o ouvido pressionado contra a porta de madeira, tentando escutar qualquer sinal que diria que sua família estaria próxima, para poderem se despedir.
Mas ele não conseguira escutar nada, de fato que quando a porta de abre ele perde o equilíbrio desabando no chão de tabuão.
Effie Trinket, com seus cabelos verdes e pele amarelada, aparece, o rosto tenso.
– Onde estão eles? - Luka pergunta, se levantando.
– Eles foram escoltados para sua casa, Venomania.
– Mas... Eles tinham que vir até aqui, eu tinha que me despe...
– Você não tem mais permissão de de despedir deles, não depois daquela confusão. Ordens diretas de Snow.
Luka suspira e se atira no sofá.
– Eles vão ficar bem? - Ele pergunta, o lábio inferior tremendo.
– Sim, eles ficarão bem. Mas quem não ficou nada bem foi a garota. Ela está...
– Ela está morta. Eu vi.
Effie desvia o olhar.
– Por favor. Eu realmente não quero mais confusão. Não para você. O distrito 12 foi reconstruído, mas ainda leva má fama. Se você se tornar o queridinho do público, poderá ser...
– Eu não quero ser o queridinho do público! - Luka eleva sua voz - Eu não tive culpa, eu sequer conhecia aquela garota!
– Bem - Ela se repõe - Só gostaria que você não arrumasse mais confusão. Pelo menos não antes de ganhar.
– Eu não vou ganhar.
– Espero que esteja mentindo.
E juntos eles seguem pelos corredores da prefeitura até a parte de trás, onde o trem já os esperava.
–----

– ABRA A PORTA! EU NÃO QUERO FICAR AQUI!
O grito de Carly era razoavelmente alto, mas ela tinha certeza de que eles estavam apenas a ignorando. Ela já estava presa ali a dez minutos, e ninguém sequer aparecera para lhe dar explicações.
– ME DEIXEM... - Ela recomeça.
A porta se abre, e o prefeito Gregory, seguido de Charlotte Grey, entra, e sem dizer absolutamente nada, a abraça, forte e intensamente.
Nesse momento ela já estava se debulhando em lágrimas.
– Papai... Eu estou com tanto medo... - Ela diz.
– Tudo bem, meu amor - Ele responde, surpreendentemente firme - Você vai ficar bem. Acredite, você vai.
Ela se preparava para soltar uma risada sarcástica, quando a rosa purpurinada Charlotte e sua voz estridente diz:
– Bem, precisamos ser rápidos. O trem já está pronto, e vocês já bateram o tempo...
– Mas eu acabei de entrar... - Gregory começa.
– Dez minutos de atraso, Gregory. - Ela responde, com um olhar que Carly não soube traduzir.
O homem quase calvo gesticula um sim com a cabeça redonda, beijando a testa de Carly.
– Eu vou fazer de tudo para mantê-la bem, meu amor.
– Pai. - Ela responde, a voz embargada - Eu não sei o que eu faço, eu...
– Apenas seja você mesma. - Ele responde, antes de dar as costas e sumir pelas portas.


Josh Cellar, Luka Venomania, Carly Doug e Rain Ghostsong.
Quatro histórias diferentes.
Apenas um futuro para ambos.



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Notas finais do capítulo

O sistema de trens foram reformados. Agora seriam doze trilhos para doze trens, um para cada tributo. Assim, logo após a despedida dos famíliares, eles iriam direto de trem para a capital, onde seriam treinados e apresentados para Panem.

Não haverão mais tutores; Apenas dois, pessoas treinadas para o cargo pela capital. Com eles os tributos aprenderão apenas a lutar e se manter vivo, nada mais.