Josh acorda com um som de bipe incessante apitando em seus ouvidos.
Seus olhos demoram um pouco para se acostumarem com a luz forte vinda das luminárias no teto, piscando algumas vezes. Ele sentia uma dor estranha na nuca, como se alguém estivesse puxando suas entranhas por uma abertura na mesma.
A primeira que ele vê é Carly.
Usa jeans e uma camiseta rosa simples, os cabelos presos em um rabo de cavalo ruivo.
Está de pé, com o corpo encostado na parede azul-bebê, de olhos fechados.
Josh percebe que se trata de um leito de hospital. Ou pelo menos deveria ser, com aquelas maquinas todas ligadas a ele, agulhas em seu pulso levando soro a suas veias, um tipo de prendedor em seu dedo mínimo e alguns outros fios na testa. Nunca imaginou que um dia entraria em um hospital da Capital, quanto mais se hospedaria em um. Digamos que aquele pequeno quarto era maior que sua casa inteira no Distrito 7.
Rain está sentada em uma poltrona a seu lado, com a cabeça tombada para frente, sua respiração profunda indicando que está dormindo.
Ele poderia ter ficado tranquilo com aquilo, até perceber que mais um garoto estava ali.
O tal de Lion James, o panaca que se casara com sua Carly.
O que ele estava fazendo ali?
O que Josh estava fazendo ali?
Ele não conseguia pensar agora. Suas memórias pareciam nebulosas, e o único sentimento e sensação que conseguia sentir e ter naquela hora era o ódio. Ele precisava se atirar sobre aquele desgraçado e soca-lo até mata-lo.
O bipe que havia acordado Josh aumenta violentamente de volume e velocidade, causando um festival de bipes pelo quarto, aumentando o ódio do garoto que estava deitado na cama, envolto em lençóis azuis.
Carly abre os olhos, atenta, e ao ver Josh consegue dar um sorriso aliviado.
– Josh! Ela se aproxima do garoto.
Josh lança um olhar duro para ela, e cutuca Rain, que continuava dormindo e acorda em um pulo.
– Onde estamos? Pergunta para Rain, ignorando Carly completamente.
– Ah, Josh! Rain o abraça Você me deixou tão preocupada!
– Eu? Por que? Josh pergunta, confuso.
– Você não se lembra?
– Só um pouco. O casamento Josh força as duas palavras E... Um líquido estranho que pinica a língua e...
– Era champagne, gênio. Você ficou bêbado. Rain diz, direta.
– Eu o que?! Josh se assusta.
– Você subiu no palco, e na frente de Panem inteira, falou tudo. Carly diz.
– Tudo? Josh diz, temeroso. O que significa tudo?
– Tudo desde que Carly é neta de Snow e que você queria beijar Rain, mas se confundia ao também desejar Carly. Uma voz masculina diz, atrás de todos.
Josh encara o garoto com ódio, e por fim se levanta da cama, arrancando todos os fios que estavam ligados a ele, inclusive a agulha do soro, e ignorando a dor e o fiapo de sangue que escorria de seu pulso, anda até o garoto, pegando-o pela gola da camiseta branca.
– Josh! Rain diz.
– Josh, largue ele! Carly bate em suas costas, mas ele nem sente.
– Opa, hey cara, minha camisa, está sujando ela de sangue Lion diz Assim não poderei ser seu amiguinho.
– Quem é você?! Josh grita DE ONDE VEIO?
Josh larga Lion e se vira para Carly.
– E você? Por que não me disse nada? Por que não me disse que gostava dele, que ia casar com outro garoto?!
– Por que ela não sabia Josh! Rain grita, irritada. Afinal, por que ele se importava tanto?
– Como assim não sabia, é claro que ela deveria saber, eles casaram, deveriam saber... Josh balbucia.
– Foi Snow. Carly diz, os ombros tombados para frente, projetando um ar cansado em volta dela Ele não queria... Não aprovava Quando diz as palavras, revira os olhos Os meus supostos sentimentos por você. Não que eu tenha um, é claro. Carly acrescenta. Mas enfim, ele arranjou esse garoto ai para me obrigar a casar e passar a noticia para Panem, para poder evitar nossa junção.
Josh encara Lion, com uma cara confusa.
– Lion James, distrito 2, carregado de casa até aqui por quinhentos pacificadores que ficavam ameaçando minha família caso eu não cooperasse. E pode ficar calmo, estou tão infeliz com tudo isso quanto ela. Lion pensa e acrescenta Não que seja um castigo, Carly, você é maravilhosa.
– Não a chame de maravi... Josh se irrita.
– Mas, enfim, nós deveríamos estar na nossa suposta Lua de Mel agora, e o nosso primeiro dia é resumido em partidas de xadrez e goles de café esperando você acordar, depois de vomitar a Capital inteira. Carly completa.
– Eu vomitei o que?! Josh diz, seu peito aperta.
Josh se senta na cama, e em silencio, Rain envolve uma atadura em seu pulso.
– Antes de... Era visível que a garota estava segurando uma onda de riso antes de você subir ao palco, pegou uma daquelas bebidas coloridas que os loucos da Capital bebem para vomitarem e continuarem comendo, e bebeu tudo de uma vez só enquanto falava. Você vomitou tudo e mais um pouco. Josh se permite um sorriso Imagino o que mais você teria falado caso o vomito não tivesse te interrompido.

Josh ri, mas o nervosismo transforma a risada em um gemido angustiado.
–----

– Então... Posso ser o padrinho dos filhos de vocês? Josh tenta fazer piada da situação, mas sua voz sai infeliz.
– Cale a boca Josh. Nunca terei filhos. Ela diz, revirando os olhos.
Eles estavam no salão do prédio onde os tributos eram hospedados antes dos jogos, Rain e Lion jogavam uma partida entediante de damas, enquanto Carly e Josh estavam estirados sobre um sofá.
– Vocês não acham estranho... Rain começa, mas se interrompe para fazer uma jogada planejada e comer duas peças do inimigo, Lion, que solta um gemido de frustração Estranho que ninguém tenha vindo aqui ainda? Quero dizer, depois do que Josh falou, Panem inteira viu, e até agora tudo o que recebemos foram olhares reprovadores.
– Ela tem razão. Lion diz, ainda concentrado nas peças do Jogo. Eu simplesmente discordei da ideia de Snow e ele ameaçou toda a minha família. Acho um pouco questionável que você, depois de ter feito tudo aquilo em público, saia ileso.
– Olha, eu estou aqui me perguntando QUEM PEDIU SUA OPINIÃO. Josh diz, duro.
– Josh, vamos, seja educado. O garoto não tem culpa, além de tudo é legal. Rain não tira os olhos das peças de Dama.
– Não me interessa, não fui com a cara dele desde o primeiro momento que o vi.
– Nhá, o menino teimoso está fazendo birra. Carly diz e aperta as bochechas de Josh, que a ignora.
– Vamos, sai de perto de mim. Seu vovô não aceita, lembra? Josh diz, emburrado.
Carly se cala.
– Amanhã começa o Tour, Josh. - Rain diz depois de um tempo de silêncio, focada no jogo.
– Que Tour? Ele fala, entediado.
– Nos Distritos, cabeçudo. Como somos dois, começaremos no 1.
– Ah, era Violet que o representava, não? Josh diz, roendo as unhas.
– Sim, ela mesma. Mais corajosa que qualquer outro Carreirista.
– Mesmo. Carly diz, pensativa, relembrando o grito que ficara preso em sua garganta quando pensara que a garota se atiraria no abismo.
– Bem, não temos muito com o que nos preocupar, certo? Afinal, iremos ficar lá na frente e ler uns papéis, nada demais.
– Não me preocupo com isso Rain diz, na defensiva Só fico nervosa com as pessoas que estarão lá. Tipo, nunca gostei de atenção, e agora vou ter que discursar um monte de baboseiras na frente de um Distrito inteiro. E ao mesmo tempo sinto uma coisa boa no peito, e pensar em voltar para meu distrito. Vocês não sentem falta dos seus? Rain diz, evitando falar que na verdade estava ansiosa para reencontrar Winter, seu lobo.
– Eu? Josh pergunta, amargo Na verdade não. Se não fosse o Snow um pé no saco, eu poderia estar relativamente realizado aqui.
– Bom, eu sinto falta do meu. Carly murmura Sinto falta de tudo lá. Mesmo dos meus vizinhos que me odiavam como se eu fosse um pedaço de bosta, eu sinto falta.
– Nossa. Deve ser ruim ser tratado como um pedaço de bosta. Lion murmura.
– Claro que diz isso. Afinal, é do Distrito 2, aposto que você estalava os dedos e uma maçã caia do céu direto para sua mão, que todos ficavam te abanando com asas de pavões e lhe dando uvas na boca.
– Olha, qual é o seu...

Nesse momento a porta enorme de madeira coberta por verniz se abre, e a figura rosa, preta e branca de Nyah aparece, e sem hesitar, anda até eles e agarra Josh pelo pulso.
– Precisamos conversar. Ela diz, em tom frio.