Josh sente todos os músculos de seu corpo entrarem em alarme, seu modo de autodefesa ativando automaticamente.

– Vô. – Carly chama, com tanta intensidade, que Josh se vira para encara-la. A pouco tempo ela repugnava tanto aquele homem, e agora ela o chamava com tanto afeto... – Você prometeu.

Snow sorri para ela, mas quando olha para Josh, seus olhos são duros.

– Só queria enfatizar, meu caro – Snow começa – Que você e a garota, Rain, só estão vivos por pedido de minha neta. Por mim teria os matado apenas com um toque de meu dedo em um botão. Ou seja, Carly salvou sua vida, Cellar, coisa que você deveria ter feito por ela. Agora vá – O homem gesticula para a porta – Pretendo nunca mais precisar encarar sua cara novamente.

Josh se levanta, um pouco cambaleante, e sai pela porta de carvalho.
Está se afastando quando um burburinho começa, por trás da porta que acabara de sair, tornando impossível o garoto não se aproximar para escutar.

– ... Poderia ter sido mais sensível!
– Não tenho que ser sensível com aquele garoto, Julie. Ele é a cara da rebelião! Seus atos revolucionários...
– Que eu saiba, Josh nunca teve nenhum “ato revolucionário”. – Carly diz, desafiadora.
– Ele não precisa! Apenas seu jeito, o olhar que lança para o povo da Capital, seu tom de voz em minha presença, seu ar superior e arrogante, Julie, ele é a própria rebelião!
– CHEGA! Meu nome NÃO É Julie, meu nome é Carly, não importa o que você tenha injetado em minha cabeça, não importa o meu passado! E Josh.... Josh é muito importante para mim, ele...
– Eu não aprovo sua relação com aquele marginal.- A voz do Presidente é dura e decidida.
– Você não deve aprovar nada. Você também não deve aceitar nada, porque a vida é minha, e eu falo, interajo e me relaciono com quem eu quiser!
– Julie...

Josh só tem tempo de sair correndo quando a porta se abre e uma transtornada Carly sai, fechando-a com um estrondo.
–----

– NETA? – Rain se engasga com o suco, tossindo algumas vezes. Carly se aproxima e bate levemente em suas costas.
– Shiu! – A garota a reprova – Isso não é algo que Snow queira anunciar. As únicas pessoas que sabem são vocês e meu falso pai, Gregory. Além de mim e dele mesmo.
– Uau – Josh pousa as pernas sobre a mesa, ignorando o olhar reprovador de Nyah em um canto da sala – Me sinto especialmente honrado. – Diz com sarcasmo.
– Deveria, lenhador boboca. – Carly joga uma azeitona em seu rosto.
– Ai. – Josh diz, quando ela acerta sua testa.

~

– Então, senhor – Mario Saunders diz, dando uma longa tragada em seu charuto, encarando os tributos na tela tecnológica da câmera, onde eles nem faziam ideia de que estavam sendo vigiados – Creio que a melhor forma de acabar com esse seu... Probleminha, podemos assim dizer, é a aniquilação total.
– Pois bem, caro Mario. – Snow responde – Meus dedos coçam apenas em pensar em acabar com ele de uma vez por todas. Mas, o problema, na verdade, é Julie. Veja. – Snow ordena.
Mario encara a garota sorridente na tela.
– Você vê? – Snow pergunta, com um toque homicida – Consegue enxergar o brilho de seus olhos cada vez que ela fita esse animal? – Seu tom de voz é alterado - Eu não queria magoá-la. Não tão cedo, Saunders. Então... Estive pensando, e acredito que o que devemos fazer é.... Interferir nesse pequeno caso. Devemos enfiar uma peça no meio desse jogo, e dar logo um xeque-mate.
Mario o encara, cheio de dúvidas.
– Pois bem, senhor... – Começa.
– Distrito 2, Saunders. O melhor garoto que encontrar. Precisa de uma família para podermos usar, lembre-se disso. – Snow diz, pensativo.
– Sim senhor. – Mario se levanta, por fim entendendo, ordenando alguns pacificadores a prepararem um aerodeslizador pronto para voar ema direção ao segundo distrito.

Assim que sozinho, Snow encara o rosto da neta na tela.

– Não se preocupe, querida. Irei cuidar de você.

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– NÃO! De jeito nenhum, não, não! – O garoto diz, encarando o Presidente com seus dois olhos escuros esbugalhados.
– Você está questionando minhas ordens, Lion?
– Mas... Mas... O que o senhor está me propondo, é um absurdo...
– Você a conhece, caro Lion James? – Snow o interrompe, gesticulando para a imagem congelada de uma Carly sorridente em um holograma no centro da mesa.
– Sim. – Lion responde de imediato. – Carly, sobrevivente da última edição dos Jogos. Eu só não entendo o porquê...
– Você não deve entende nada. Deve apenas fazer o que eu mando, sem questionar. Afinal, Lion, conheci sua família. Sua mãe é um amor de pessoa, seu pai trabalhador, seu irmão tão inteligente. Seria uma pena...
– Não faria isso... – O garoto força as palavras saírem.
– Sim, com certeza faria. – Ele sorri cinicamente – Mario garantiu-me de que você é um bom garoto. Inteligente, bonito, soube que faz sucesso no distrito por sua personalidade e simpatia. Estou errado?
Lion encara os lados, sem saber o que fazer. Pergunta-se se conseguiria fugir, mas logo percebe que é uma ideia estúpida, por isso tenta agir naturalmente.
– Costumo ser.... Pelo menos quando não me propõem o que o senhor me manda fazer agora.
Snow sorri em deleite.
– Isso vai dar muito certo.
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Na mesma noite, Carly recebe a notícia. Snow não lhe dá tempo de questionar, e Carly percebe que qualquer reação sua a partir daquele momento se espelharia naquele em que amava.
Ela se senta para não desabar.
Por amá-lo, teria que deixa-lo.
Tudo aquilo que por uma vez fantasiou, um futuro perfeito, se estilhaça sobre seus olhos como vidro quebrado.
Ela nunca poderia ser feliz de verdade.
Snow estava tomando posse da garota, ela sentia, e pior, ela não poderia fazer nada para impedir.
Lion e Carly conversam por alguns minutos, claro que não o suficiente. Para sua felicidade, ela percebe que o garoto parecia tão infeliz quanto ela com a ideia, ou melhor, com a ordem.
Ele era inteligente, bonito e divertido, mas afinal, ele não era Josh.
Nunca seria.