76° Edição dos Jogos Vorazes escrita por Mad


Capítulo 11
Que a Sorte Esteja Sempre a seu Favor




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Josh se vira, devagar, e solta uma gargalhada.

– Qual é o problema agora? – Ele revira os olhos.
– Você é o problema. Você é um covarde nojento, um canalha.
Josh cerra os punhos, se levantando abruptamente.
– O que? – É a única coisa que ele consegue dizer.
– O jeito que você falou com Carly, as coisas que disse para ela... Ela está enlouquecendo dentro dessa arena...
– Olha, Luka, quem tem que me dizer algo é ela...
– ELA NÃO ESTÁ EM CONDIÇÕES DE DIZER NADA! Ela está sofrendo, ela está ficando insana, e você só piora a situação dela! – Luka exclama.

Josh sorri, maldoso.

– Não pensei que o fato dela estar tão vulnerável te incomodasse, Luka. – Ele diz, com malicia.
– Como assim? – Luka pergunta, tenso.
– Afinal, a garota não está em condições de negar nada, não é? Nem um beijo, nem um toque, ela nem se lembrará. Pensei que estivesse aproveitando.

Luka pisca algumas vezes. Ele não estava...
– O que quer dizer com...
– Exatamente o que você está pensando. Eu posso tê-la xingado, mas ela merecia ouvir. E eu nunca a toquei sem sua permissão. Nem a beijei.
– EU JAMAIS FARIA ISSO COM...
– A garota estava aos berros pensando que eu estava morto. Então para calá-la, você a beijou. Para alguns? Romântico. Para mim? Abuso de incapaz.

Luka sentiu todos os músculos enrijecerem. Ele amava Carly. Ele jamais faria isso com ela. Luka cerra os punhos, lutando contra a vontade de atacar Josh e cortar seu pescoço.
– Vamos, Luka. É verdade, não é? Você está gostando de estar assim. Ontem a noite rolou algo enquanto eu e Rain dormíamos? Enquanto ela dormia?

Chega.

Luka se atira sobre Josh, e os dois caem na água.
Luka desfere dois socos na cara de Josh, que estava submerso.
O garoto não emerge da agua.
Luka começa a entrar em desespero pela hipótese de ter acontecido alguma catástrofe, mas com um urro selvagem, Josh sai da água, se jogando por cima de Luka.
Os dois garoto, pingando água, caem pelas folhas, socando, mordendo. Sangue se mistura a água de suas roupas, do lábio de Luka, do nariz de Josh.
– VOCÊ VAI PAGAR POR ISSO! – Josh grita, e soca o rosto de Luka, que geme de dor.

–----

Carly ainda chorava, se embalando para frente e para trás, abraçando as pernas.
Rain observava, com nojo. Para beijar Luka ela estava bem ciente, não era?
– Pare com isso. Está me dando náuseas. – Ela manda.
– CALE A BOCA, RAIN! – Carly berra.
Rain se vira para ela, surpresa.
– O que você disse?
– Disse para você calar essa sua MALDITA BOCA! Já basta Josh viver você, escolher você...
– O que?
– EU AMO JOSH. – Carly cospe – E ODEIO VOCÊ! Você vive se dando para ele, vive tentando pegá-lo para você.

Rain sente um misto de ódio, idiotice e confusão.
Ela se dava para o Josh?
Carly ama Josh?

– Você... Você não tem direito de amá-lo, você...
– Porque eu não me dou com ele? É por isso que eu não posso amá-lo? E você tem direto de amar ele, só porque vive rindo das piadas dele, porque seu nome vive na boca dele, porque você se esfrega nele como uma vadiazinha?

Rain não aguenta. Ela se levanta e dá um tapa com toda a sua força no rosto de Carly.
– Vadia é você, que beijou Luka pensando que Josh havia morrido. Isso é amar ele?

Carly se levanta.
Rain não sabia que ela tinha uma faca presa no cinto, em parte das costas.
Carly poderia tirar proveito disso.

– Se pensa que deixarei que você e Josh sobrevivam para serem o novo casalzinho de Panem, está enganada. Eu prometi para mim mesma que, quando nossa aliança se quebrasse, eu a mataria com minhas próprias mãos... Mas nunca imaginei que...
Rain se sente alerta. Seus instintos dizem “Corra!”, mas ela se obriga a ficar parada como pedra na frente da menina.
– Nunca imaginou o que, sua coisa? – Ela diz, com um ódio insano.
– Que eu teria que fazer isso antes.

Com um grito agudo, Carly se joga por cima de Rain, derrubando-a.
Rain fica surpresa demais para ter uma reação, até levar dois tapas na cara.
Uma fúria insana queima dentro de seu peito, e ela chuta Carly para longe. Era leve como uma pluma, inexperiente como uma criança.
Rain poderia tirar proveito disso.
As duas rolam pelas folhas rosas, puxando o cabelo uma da outra, socando, cravando as unhas.
Carly consegue ficar por cima de Rain, e segurando seus cabelos, bate com a cabeça da garota sobre uma pedra duas vezes. Rain perde a força no corpo, se sentindo mole e sonolenta.
Carly puxa a faca que estava presa nas costas.
– Então é isso, Rain. Vá embora. – Carly diz.
Carly faz a ênfase de cravar a lamina no peito da menina desorientada.
Ela junta coragem, uma, duas três vezes, mas sempre acaba desistindo.

Rain não conseguia ver ou ouvir nada. Sua cabeça doía, a nuca ardia.
Ela só precisava alcançar sua foice.
Estava ao alcance de sua mão, ela precisava apenas esticar um pouco e poderia apunhalar Carly por trás, antes de ser tarde demais.
Carly aponta a faca para o pescoço da aliada, tremendo convulsivamente, lágrimas caindo dos olhos. Afinal, o que ela estava fazendo?
E, quando a garota se afasta, a foice se crava em suas costas.
–----

O grito é agudo e desesperado, uma mistura de dor, pânico e medo.
É alto o suficiente para ouvir em léguas de distância, e fácil de ser reconhecido.
– Carly. – Luka murmura.

Nesse momento tinha Josh nas mãos; A ponta de sua faca roçando em seu pescoço.
Mas quando ele ouviu o grito, nada mais importava.
– CARLY! – Ele grita.
Se levanta, seu estômago vazio de desespero.
Josh se sentia perdido e dolorido, mas segue o garoto, ignorando a dor que latejava em seu corpo.
– CARLY! – Luka gritando.
“Não”, Josh pensa.
– Luka, espere! – Ele grita.
– Aconteceu algo com Carly! – Ele berra.

Josh vê.
Como um vidro embaçado, uma pequena movimentação transparente.
Mas Luka não vê.

E quando Josh grita, é tarde demais.

O garoto bate com força no campo de força, voando para trás, caindo por cima de Josh.
Um cheiro de queimado dominou suas narinas, de carne queimada.
Josh tosse, aquele odor repugnante inundando seus pulmões.
Ele se senta, e Luka cai, inerte ao seu lado.
– Não. – Josh geme. – Luka, Luka!
Josh vira o corpo de Luka, deixando-o de barriga para cima.
Seu corpo estava queimado, chiando, fumaça sendo expelida de suas feridas. Josh tenta imaginar a dor que o garoto estava sentindo.
Luka não tinha forças para nada, nem mesmo para gritar. Ele morde a língua, respirando com dificuldade, quase debilmente.
Ele estava morrendo.
– J-Josh... – Ele murmura.
– Estou aqui cara. – Josh diz, a voz sai embargada.
– Ca-Carly... Ela... Ela ama v-você, Josh...
– Não, Luka, ela te ama, ela...
– Cu-Cuide dela para mim...
– Luka, não fale isso, você vai ficar bem, não foi...
– Prometa, Josh. Prometa que você vai... – Ele se interrompe, falar estava acabando com ele – Vai dar pra ela tudo que eu... Não pude... Prometa...
– Eu prometo. – Josh desvia o olhar, ele não podia chorar, não poda ser fraco... – Luka eu...

Mas o garoto não podia mais ouvir.
O estouro do canhão diz tudo o que palavras jamais conseguiriam explicar.
Luka morrera.

Fora como um vazio.
Um vácuo negro e profundo aberto dentro de seus peitos.
Um filho. Um anjo, um pedaço, um órgão.
Morrera, queimado, longe, abandonado.
Senhor e Senhora Venomania não conseguem expelir reação.
Eles encaram a filha menor, que brincava com uma boneca de trapos no chão da casa de madeira. Agora, a casa parecia repleta de Lukas.
Pulando, brincando, sempre com o sorriso tão alegre na realidade tão dura.
Os joelhos de seus pais sedem, as lágrimas queimam seus olhos.
Aquela dor, aquela fúria silenciosa, apertando seus peitos, pressionando, esperando com que eles se rendam.

Aquela era a única boneca de Lily.
Luka havia a batizado de Isadora.
Já estava rasgada aqui e ali, e Lily adorava enfiar o dedinho nos buracos da boneca, puxando de dentro o enchimento.
– Não faça isso, Lily. Vai estragar Isadora. – A voz familiar a xinga.
Ao levantar os dois olhinhos dourados, seu irmão estava ali, com um sorriso. Ele parecia bem, com um tipo de brilho amais, feliz como a menina nunca vira.
– Luka! – Ela grita de felicidade, abraçando o irmão.
– Lily? – Ele chama, em meio ao abraço.
– Sim, mano? – Ela responde.
– O que eu sou seu? – Os olhos de Luka sorriem.
– Meu herói! – Ela responde, com um sorriso sem dois dentes.
– Ah é? – Ele faz cócegas na irmã, que se debate em risadas. Mas quando para, Luka está sereno e sério, observando os pais, em prantos. – Lily? – Ele chama mais uma vez.
– Sim? – Lily responde, seguindo o olhar do irmão.
– Eu estou indo embora.
– Por que? – A menina responde, triste.
– Eu vou ficar um tempo em outro lugar, tá bem? E antes de ir, eu preciso que você faça uma coisa pra mim. Você faz?
– Sim, sim, sim! – Ela responde, batendo palmas alegremente.
– Eu preciso que você seja a heroína deles. – Luka aponta para os pais deles. – Você consegue fazer isso?
– Consigo! – Ela responde, confiante.
– Ótimo! Então agora eu posso ir embora.
– Vou sentir sua falta. – A menina diz.
– Eu também, Lily. Mas... Eu sempre vou estar com você. Sempre.
Luka bagunça os cabelos da irmã, que sorri.
O pôr do sol entra pela janela, com todo o seu esplendor.
E, quando a menina se vira, o irmão não está mais lá.
– Luka...?
Seu chamado não tem resposta.
–----

Josh se levanta, com um nó firme entalado na garganta.
Ele sentia que aquele nó jamais poderia ser desfeito.
O garoto fecha os olhos inertes de Luka, e dá as costas. Não poderia mais ficar ali mais um segundo, pois tinha certeza que vomitaria.

Então ele se lembra da razão do desespero de ambos: Carly.
Carly.
O nome parecia estar em tudo que ele via, em todas as lembranças que ocorriam em sua mente.
“Cuide dela pra mim”
“Prometa, Josh”
“Raio de Sol”
“Ingresse-a em seus planos”
“O novo casal de Panem”
“Erros genéticos”

Quando chega, a primeira pessoa que vê é Rain.
Ela soluça, ajoelhada na grama rosa, segurando os cabelos com violência.
“O que eu fiz, o que eu fiz, me perdoe, me perdoe”, ela murmurava.
E a sua frente, Carly estava morrendo.
Sua respiração provocava convulsões em seu peito ensanguentado.
Seus olhos se reviravam, o azul parecendo preto, a procura de algo para sustentar seu olhar.
Enfim, ela encontra o par de olhos castanhos.
– J-Josh... – O nome sai degolado e agudo, como um último suspiro.
Josh sente o mundo sendo arrancado de seus pés.
As memórias eram piores do que qualquer lâmina.
Seu sorriso, o contraste de seu rubor com o vestido vermelho, sua expressão alegre e divertida, suas palavras graciosas.
Nada mais existia.
Era apenas passado.
– Estou aqui Carly. Estou aqui pra você. – Josh se ajoelha ao seu lado, segurando a mão ensanguentada da garota.
Carly gesticula levemente com a cabeça, mas o seu aperto é forte.
A garota tenta transpassar tudo o que nunca disse, as atitudes que nunca tomou, naquele último aperto.
Josh segura a mão de Carly até seu aperto cessar, e seus olhos perderem o foco.
Quando o canhão soa, duas promessas são quebradas.

Josh se levanta, e por fim uma lágrima lhe escapa.
Rain continuava soluçando.
– Eu não queria, eu não queria...

Josh não podia olhar para ela. Seria demais para ele.
Então, o tributo simplesmente junta uma mochila do chão, passando a alça por seu ombro.
– A-Adeus, Ghostsong. Nossa aliança está... Acabada.
O garoto dá as costas, mas por último, murmura:
– E que a sorte esteja sempre a seu favor.

E por fim some na floresta.




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