Deixe-me te proteger escrita por Vlk Moura


Capítulo 14
Prazer em revê-los


Notas iniciais do capítulo

Mais um depois de tanto tempo >3



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Sem Kalevi e Duncan eramos agora um grupo bem fraco, não tínhamos nenhuma experiência com lutas, já dei alguns socos e pela minha condição já matei um anjo, mas não é como se eu fosse uma super guerreira, a verdade de eu ter matado um anjo foi que...

– Trina - Magnus me chamou, eu o olhei - Isso aqui, isso aqui é o portal para o Portal.

– Não pode ser, não agora - eu me aproximei dele, estávamos a porta de um sebo velho que caía aos pedaços.

– Mas é. Com ou sem eles temos de ir - ele falou e olhou Julio que analisava a porta.

Ele abriu a bolsa e sacou um caderno, era de Yeva, reconheci a letra de quase dois mil anos atrás. O filho de Miguel o abriu em uma página, tinha vários desenhos e os reconheci era tudo que estava entalhado a porta, figuras místicas, asas que pareciam o desenho de uma criança. Nossa feiticeira já utilizara aquele lugar antes. Magnus nos observava.

– Vamos? - ele me olhou, confirmei receosa.

Magnus ia abrir a aporta, mas Julio o parou recebendo um olhar raivoso.

– Se fizer isso irá para a casa de Lúcifer e acho que não quer isso - ele me olhou - Aqui diz que para entrarmos temos de ser dignos da passagem, precisamos ter uma razão pura para atingirmos nossos objetivos.

– Querer salvar todo o universo já não é justo o suficiente? - perguntei e ele negou rindo.

– Ser justo não significa pensar no coletivo - Magnus me olhou confuso, não lhe lancei um olhar diferente, olhamos o sábio que começara a passar as pontas dos dedos pela porta e pelas marcas.

Sua mão parou na imagem do que me pareceu ser um gnomo, eu não tinha certeza, eram desenhos muito confusos. Ele enrugou o rosto de forma dolorosa e de sua mão começou a escorrer sangue e um cheiro estranho, pareceu ser enxofre, mas depois percebi que era o mesmo cheiro de Atlantis nos dias ensolarados anteriores ao seu sumiço, não era o cheiro de algo ruim, pelo contrário era o cheiro do amor e da harmonia. Julio retirou a mão de cima da imagem, o sangue que ficou no batente da porta começou a se movimentar e dar a cor escarlate a todos os outros desenhos, uma luz piscou, ele nos olhou e fez sinal para que seguíssemos seus passos. Entramos no portal.

Agora estávamos em um salão, outros seres estavam ali ou chegavam junto de nós. Recebemos olhares curiosos, não mais do que os olhares que lançamos a eles. Magnus olhou alguns sábios pareciam se conhecer, eu conhecia algumas sereias-anjo que estavam ali, e elas me reconheceram, apenas nos cumprimentávamos com leves acenos de cabeça tão discretos que duvido que os outros tenham percebido.

– Como isso pode ser tão caro? - uma feiticeira reclamava com um sábio, ela segurava uma arma na mão - Sei que pertenceu a Merlim, mas você não pode me cobr... - ela nos olhou - Magnus?

– Oi, Magda - ela pulou nos ombros dele que a abraçou com cuidado.

Magda era uma feiticeira linda, um longo cabelo castanho queimado do sol dando um toque avermelhado, uma pele perfeita sem nenhuma pinta ou ruga, um pouco mais baixa do que eu, com movimentos delicados, mas perigosos, reconheço feiticeiras ruins quando as vejo e ela era uma dessas.

– Quem são eles? - ela nos olhou e me encarou por alguns segundos.

– Trina e Julio - ele falou e a olhou - O que faz aqui?

– Vou participar dos jogos - ela sorriu - E acho que vocês também.

– Jogos? - Julio perguntou confuso.

– Sim, a equipe vencedora será permitida a chegar ao Portal.

– Então era isso que ela dizia - Julio me olhou - Nas anotações da Yeva dizia que não se deve confiar no fácil que nem tudo é o que parece ser, até mesmo uma passagem pode ser trabalhosa. Era isso, esse tal jogo.

– Yeva? - Magda pronunciou o nome lentamente e como se fosse um ácido, nos fitou - Vocês estão com ela?

– Est...

– Não - Magnus cortou Julio - Não, ela deve estar morta a essa hora, não se preocupe.

– Você sabe que não me preocupo. - ela sorriu sedutora, Magnus retribuiu - Vão falar com a Fada, ela deve dizer onde será o aposento de vocês, nos encontramos mais tarde, Magnus.

Ele acenou para ela.

Fomos atrás da Fada que nos levaria até nossos quartos.

– Qual o problema dela com Yeva? - Julio perguntou.

– Yeva matou toda a família de Magda - nós dois nos olhamos e o sábio continuou a andar - Eles ficaram do lado de Lúcifer quando ele ameaçou destruir o Paraíso, Yeva já estava em Terra e sabia que se permitisse que os aliados terrestres de Lúcifer elevassem-se ao Paraíso tudo acabaria, quando digo tudo, me refiro a tudo mesmo. - ele nos olhou por cima dos ombros - Yeva invadiu a vila dos aliados e os matou, Magda sobreviveu assim como eu sobrevivi ao ataque em minha vila, mas...

– Ela assistiu a tudo e pensa em uma vingança contra Yeva - ele confirmou - Isso a torna nossa inimiga. - Julio falou.

– Não - olhamos o sábio - Ela é inimiga da Yeva, não nossa.

– Qual a diferença? - Julio me olhou.

– Se ela desafiar a Yeva nunca teremos permissão para nos colocar entre as duas. - falei - Isso é cruel.

Encontramos a Fada que sorriu amarelada ao nos ver, sua pele brilhava intensamente em um violeta encantador. Disse algo sobre pensar que eramos um grupo maior, mas já que só nós estavamos ali teríamos de lutar daquela forma mesmo e lamentou por não poder conhecer Kalevi que era seu ídolo.

O quarto onde nos deixou era enorme, tinha seis camas, me perguntei como poderiam saber que estavamos em seis se o grupo original eram apenas quatro. Os organizadores místicos são misteriosos demais até mesmo para seres como nós. Deitei em uma cama, era confortável e saber que ali não seria atacada por demônios fez com que eu adormecesse quase que instantaneamente após me deitar. Julio e Magnus não fizeram diferente, dormiram assim que deitaram.

Acordei com um som abafado, mas eu o reconheci, era uma explosão e esse barulho despertou meus colegas de quarto que me olharam sonolentos e assustados. Abrimos a porta do quarto e encontramos gritos, não desesperados, mas sim como as humanas faziam ao verem seus ídolos, gritos histéricos. Fomos até o salão onde entramos e para nosso susto vimos Duncan e Kalevi entrando, eles estavam machucados, cansados e não pareciam estar muito alegres. Logo atrás deles um rapaz loiro, com porte atlético entrava encantador como se desfilasse para uma grande marca de roupas. Em seus braços tinha um corpo que parecia morto e que ao perceberem um silêncio sombrio tomou conta do lugar. Aos nos enxergar a dupla celeste-infernal guiou o rapaz até onde estavamos, só então reconheci o corpo, era Yeva, sua respiração estava tão lenta que parecia sequer existir, sua pele tinha uma tonalidade cinza.

Magnus encarou o rapaz bonitão, parecia não gostar de vê-lo ali. O rapaz sorriu simpático para nós três.

– Trina, nos leve ao aposento - Duncan falou com uma voz sombria.

– Cl... Claro. - eu tomei a dianteira e abriu a porta do quarto.

Anjo e demônio entraram com um andar cansado, logo o rapaz entrou e deitou o corpo em uma cama. Olhou para nós três que tentavamos entender a situação.

– Irmãozinho - ele olhou Julio - Você poderia me emprestar seu colar?

Julio nos olhou assustado, e então entregou ao rapaz o colar, o rapaz tocou a pedra atlântica na cabeça da feiticeira que inspirou profundamente, abriu os olhos, sorriu de uma forma doce e então voltou a dormir. O rapaz agachou a frente dela e prendeu o colar ao seu pescoço depois nos olhou e sorriu encantador.

– Prazer, Merlim.

– Merlim? - Julio olhou Magnus que confirmou - O filho de Miguel? - Merlim confirmou - Caramba, não posso acreditar, finalmente eu o estou conhecendo, mas pensei que era um pouco diferente.

– Eu sei, os humanos insistem em me retratar como um velho barbudo de chapéu pontudo, horrível isso. Mas sim, sou o Marlim, o mesmo que ajudou Arthur a se tornar o grande Rei Arthur, aquele garoto era um bom rapaz pensa que... - ele estremeceu - Não importa, ahm... Será que poderei dormir aqui? Rastreá-los me consumiu muita energia.

– Claro! - Julio respondeu - Pode ficar na minha cama, eu já dormi, não vou precisar dela mais.

– Obrigando, irmãozinho.

Merlim foi até a cama, deitou e antes mesmo de pousar a cabeça no travesseiro já estava adormecido. Kalevi e Duncan estavam machucados, nos olharam cansados e sorriram, sendo simpáticos pela primeira vez desde que nos reencontraram.

– Querem dormir, também? - perguntei. Negaram.

– Precisamos conversar - Kalevi falou olhando nós três - sobre o que ele fez com ela e o que ela fez conosco durante todo esse tempo.

– O que você quer dizer? - Magnus parecia ofendido - Ela não fez nada comigo, nada que eu não saiba.

– Ela é boa em enganar os outros. - Duncan sorriu olhando o corpo da feiticeira - Por onde começamos? - ele olhou o demônio que respirou fundo.

– Com o nosso encontro com Merlim - ele falou - Yeva estava apagada quando acordamos na floresta, tentamos contatá-la - ele me olhou - mas algo estava errado e não conseguíamos ligar nossas mentes, na árvore vimos marcações, Yeva marcara os dias que conseguiu ficar acordada conosco, a nossa volta restos de animais dos quais ela se alimentou e em nossas mentes, lembranças e um mapa confuso - ele olhou para Duncan e continuou - sozinho eu não conseguia entender logo percebemos que ela deixara metade do mapa comigo e a outra com Duncan, esse mapa nos guiava até Merlim, ele cuidaria dela e de suas lembranças, pelo que entendi ela já o tinha contatado antes mesmo de apagar.

– Merlim, como sabemos, é um grande amigo de Yeva, e ele sabia exatamente o que fazer com as memórias dela e as nossas. Mas antes de chegarmos até ele tivemos várias batalhas com monstros das sombras, Calista ainda está nos caçando e com as batalhas entendiamos outras coisas largadas em nossas mentes por ela, a filha de Lúcifer quer se aproveitar de todos nós, aqui - ele olhou para todos - Somos seres muito antigos e com isso muito poderosos principalmente - ele encarou Julio - ele - apontou - Lúcifer agora quer você, nos foi pedido para que o protejamos acima de qualquer outro aqui.

– Durante as batalhas com os monstros fomos desbloqueando portais que nos deixavam cada vez mais próximos de Merlim, até que um portou nos largou em um estacionamento de trens, caminhamos pelo lugar até encontrar a marca do sábio - ele apontou para uma marca que só então eu reparei, Julio pareceu se assustar, ele me olhou e então nos mostrou em suas costas uma marca idêntica - entramos no trem e sem fazer perguntas ou qualquer comentário ele a tirou de nossas mãos e fez uma varredura espiritual, disse que ela passou muito tempo nos bloqueando que era um ato suicida, mas graças a esses bloqueios todos nós aqui, sobrevivemos, inclusive você, Magnus - ele olhou o sábio - Ela também brincou com sua mente.

– Mas... - ele tinha os olhos perdidos - Mas eu sabia dos planos dela, eu me lembro de tudo, como ela...

– Ela é pior do que imaginamos que ela seja. - Duncan socou a cama a quebrando, ele xingou - Eu já estou com quase cem porcento da minha memória e agora eu entendo o quão cruel ela pode ser.

– E o quão problemática ela é - Kalevi completou - Suas memórias voltarão aos poucos, assim como as nossas, conforme o bloqueio dela é sendo desmanchado o nosso também é. - ele olhou par ao corpo - Quando ela despertar - ele respirou - tenho medo do que ela será. Tenho lembranças péssimas dela, assim como lembranças muito boas, mas em cada uma delas ela é diferente e isso me assusta, pode ser que ela seja a boa como pode ser que ela seja a má.

– Queremos que vocês estejam prontos para quando ela acordar e de preferência que ninguém fique sozinho. - Duncan alertou.

– O que quer dizer com isso? - Julio perguntou.

– Ela é um monstro - Magnus falou, tinha lágrimas em seus olhos e eu entendi o porquê, sua memória na qual confiava tanto agora se mostrava traiçoeira, assim como a minha, eu estava tendo várias visões da Yeva e imaginei que com ele não era diferente, provavelmente via algo dela do qual não sabia ou apenas não recordava - Ela... Eu preciso matá-la.

Ele invocou uma foice ia avançar sobre a feiticeira, mas foi barrado pelo demônio e pelo anjo, os olhou confuso.

– Ela irá matar a todos nós - o sábio falou.

– Controle-se - Kalevi falou sério - Não sabemos qual dela irá ser mais forte, você não pode matá-la até sabermos.

– E não será você a me parar.

Ele abriu um portal que sugou o demônio, Duncan se colocou entre os dois e também foi sugado por um portal, tentei avançar, mas antes do meu primeiro passo ele já tinha me imobilizado. Procurei por Julio, eu não o encontrava imaginei que ele tivesse sido sugado por um portal assim como Duncan e Kalevi, olhei par ao sábio com a foice, ele se preparava para o ataque, a foice se movimentou, virei o rosto, não queria ver a cena. Magnus soltou um palavrão e olhou por todo o quarto, olhei-os, a porta foi arrombada pela dupla que fora teleportada, mas eles ficaram tão surpresos quanto eu ao verem o que acontecia, um portal se abrira no peito de Yeva e dele surgia Julio com lágrimas nos olhos, ele segurava uma espada que cintilava a ponto de nos cegar, ele fazia força não fora treinado para suportar armas e nem portais. Ele saltou sobre o outro sábio que caiu deixando a foice fugir de suas mãos, Yeva tossia, Julio pronunciou algo que eu não entendi, mas percebi que Magnus relaxou os músculos, com a imobilização Julio largou a espada e tombou desmaiado.

– Isso - eu olhei Duncan que me soltava - Isso que acabou de acontecer, o que foi?

– Ele despertou - olhamos a dona da voz, Yeva estava sentada na cama e olhava para os dois sábios desacordados, ela nos olhou, seu olhar era frio, busquei em minhas lembranças por algo parecido, mas não encontrei nada. - Meu pequeno anjo despertou.

Ela sorriu, um sorriso maternal que eu nunca vira antes. Ela se levantou meio zonza e caminhou até Julio, passou a mão pelo cabelo dos filho e o beijou na testa, quando se afastou percebi que ela tinha molhado a face do rapaz, pude ver que chorava, ela o levantou nos braços e o deitou na cama, ele dormia tranquilo. Ela encarou o corpo de Magnus, foi até ele, com o olhar gélido pensei que ela fosse matá-lo e pelo movimento de Kalevi percebi que não fui a única apensar dessa forma.

– Me desculpe por enganá-lo - ela beijou Magnus na bochecha, um portal se abriu e o sugou. - Vá descansar, você fez um bom trabalho.

Ela se levantou e espreguiçou, nos olhou como se nos visse pela primeira vez, sorriu, seu sorriso agora era dócil.

– É bom tê-los de volta.


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