– Trina, podemos conversar? - os meninos se levantaram ainda não confiavam em Magnus.

– Claro - eu o segui, sentamos em uma mesa afastada - O que quer falar? - a lanchonete estava cheia.

– Primeiro se desconecte - ele estava sério - Eu sei que eles nos escutam.

Desconectei, o sábio sorriu satisfeito.

– Ela falou comigo ontem - me assustei - e me contou um segredo - ele torceu o rosto quando seu olhar encontrou o de Julio - sobre o fracote ali - olhei para trás.

– Segredo?

– Sobre quem são os pais dele.

– Ora, Betha e Gabriel, isso não é segredo.

– Tem certeza? - eu não o entendi e ele percebeu - Quando fomos atacados no metrô ele executou um feitiço que para a idade dele seria impossível, a menos que ele tivesse uma aura forte - ele riu.

Estávamos no metrô seguindo para a área onde Magnus sentia uma pulsação mais forte de nosso portal. Quando saíamos do vagão fomos arremessados de volta, um grupo de demônios enviados diretamente por Lúcifer nos cercara, sem as armas Kalevi e Duncan eram praticamente inúteis, Magnus tentava usar a purificação leve, era algo fraco que apenas machucava demônios, se fosse uma purificação de verdade como a que os anjos fazem aqueles seres infernais teriam sido desintegrados.

Um demônio com um chifre tão grande que dava várias voltas tentou me atacar, apesar de não ser de brigas, afinal sou uma sereia, eu ataquei o monstro e quebrei-lhe o chifre eliminando um odor horrível que deixou a todos nós tontos e os seres maléficos apenas gargalhavam. Kalevi assumia suas garras e os atacava, não fora afetado, pois sua origem era a mesma daqueles seres. Um outro com uma única asa rasgada tentou me atacar, Julio se colocou entre mim e o monstro e executou um feitiço que fez com que todos caíssemos desacordados, quando acordamos encontramos apenas as carcaças dos demônios e o vagão estava vazio, nenhum humano estava ali e os que estavam não se lembravam de nada que tinha ocorrido. Perguntamos ao sábio o que ele havia feito, mas tudo do que se lembra era de ter tentado usar a purificação.

Era sobre esse incidente que Magnus se referia.

– Quando digo forte me refiro a auras como a minha que ainda é incapaz de algo daquele porte, ou algo parecido com o da Yeva... - ele olhou o trio e depois me olhou - se fosse filho de anjos seria um anjo não um sábio e o mesmo para se fosse filho de demônios, demônio seria.

Fui pega de surpresa, nunca pensei sobre qual seria seu parentesco, temos tanta fé em Gabriel que ao dizer que Julio era seu filho com Betha apenas acreditamos.

– Mas quem são os verdadeiros pais?

– Pense - ele cruzou os braços - Yeva foi um gênio bolando isso.

Eu olhei, o sábio parecia gargalhar com os olhos.

– Ah! - ele riu de minha reação - Ele é filho dela!?

– Boa - ele debruçou na mesa e sorriu galanteador - mas e o pai?

– Merlim? - perguntei, achei que aquela realmente era a resposta.

– Você está debochando de mim? - ele pareceu ofendido - Sabemos que ela já é meio rodada em nosso mundo, mas ela não faria isso com Merlim, ele é como um irmão para ela.

– Então quem? - pensei.

– O ser mais poderoso - ele começou com dicas - um grande guerreiro, comanda pombos-humanoides, preciso continuar? - eu o olhei e ele sou que eu descobrira.

– Como? Quando? Quero dizer, ele não desce a Terra há, pelo menos, mil anos.

– Quem disse isso? - ele parecia se divertir - Ele veio até ela há alguns séculos, seu pai, Gabriel, estava impossibilitado de vir até nós, então pediu ao irmão. Na época eu e ela lutávamos lado a lado e tentávamos expulsar Lúcifer da superfície, com um golpe ela o mandou ao Inferno e justamente esse golpe fora assistido por Miguel que se encantou com a feiticeira.

"Após a batalha estávamos esgotados, desmaiamos. Eu fui largado para trás, porém ela foi levada até o abrigo do Arcanjo na Terra e ele cuidou dela, os ferimentos das trevas são profundos e geralmente mortais, ele a purificou durante duzentos anos para ter a certeza de que aquele poder não a levaria a escuridão.

Devido aos cuidados a feiticeira caiu nos encantos do anjo, começo a achar que esse é o fraco dela, mas enfim, viveram juntos por muito tempo, tanto tempo que Gabriel achou que a filha tivesse morrido junto a Miguel. Os mil anos do Mensageiro acabaram ele resolveu descer a Terra buscando notícias do irmão e da filha.

Uma luta sangrenta tinha começado, mas já era longa. Demônios e anões tentavam matar Miguel e a feiticeira, ela já se encontrava nocauteada e era protegida pelo Grande Arcanjo que já estava esgotado.

– Gabriel! - Miguel chorou - Gabriel, cuide de sua filha em seu ventre encontra nosso filho.

O Mensageiro se assustou, no instante em que tomou a filha nos braços o corpo de seu irmão fora atingido por um demônio que logo após foi morto pelo próprio Arcanjo que desfaleceu.

Em choque com o ocorrido Gabriel invocou asas e as bateu para longe, clamou por Althea, Betha e Outono que o escutaram e incrédulas ao ocorrido prometeram ajudá-lo. Haviam transcorrido novecentos anos."

– Depois eu a convoquei a nos ajudar - falei - Minha nossa! - curvei para trás, a noite havia caído - Eu nunca pensaria nisso. Mas Calista nunca o caçou.

– Porque ela acha que ele é filho de Gabriel e Betha - ele suspirou - Essa Yeva arma uma confusão.

– Mas por que está me contando isso?

– Porque ela me pediu e pediu ainda para que o protegêssemos, parece que a feiticeira das trevas descobriu.

– Irei cuidar dele - prometi.

– Sei que vai - ele sorriu - você já cuida.

Se referia a um de nossos ataques que tentaram acertar Julio e eu me coloquei a sua frente.

– Eles nos esperam - me levantei e fui seguida pelo sábio que espreguiçou.

Partimos para mais um processo de busca, mas Julio seria nosso buscador, Magnus conseguira treinar o sábio filho de Miguel para sentir os portais, não era nada muito confiavel, mas Magnus fora o último buscador e já estava cansado. No quarto de hotel Duncan e Kalevi nos protegiam de fora enquanto eu e Magnus monstavamos guarde de dentro.

O filho de Miguel começara e junto eu pensava no quão poderoso ele poderia ser. Em meus devaneios encontrei algo perdido em minha mente, era a cidade perdida no momento de sua construção, eu e outras sereias admirávamos os humanos que trabalhavam sem parar. Em um canto sentado encontrei a Yeva, caminhei até ela e observei uma pedra runada em suas mãos.

– Ele me deu - ela sorriu tímida se levantando.

– Sabe o que significa? - perguntei pegando a pedra e a analisando, ao meu toque a pedra esquentou e percebi ser um artefato mágico.

– amor - ela falou desanimada - mas para mim é só uma pedra.

– É uma pedra de proteção - expliquei - Duncan a criou para que te protegesse - ela sorriu. Arranquei um pedaço do tecido da minha roupa e a colei a pedra, a pendurei no pescoço da feiticeira - Não se preocupe, ele retornará da guerra.

Fui até o pescoço de Julio e olhei a pequena pedra colada a um tecido, sorri emocionada.

– O que houve? - Magnus se aproximou.

– Essa pedra - eu apontei - Duncan deu a ela quando Atlantes era erguida, é uma pedra de proteção e ela só funciona se você a receber de alguém que o ama mais do que a si próprio.

– Ela deu ao filho - o sábio sorriu - Eu não teria feito diferente...

Um estouro, o corpo de Duncan entrou arremessado, Kalevi em seguida, o demônio se levantou, uma nuvem escura avançou para nós tão rápido que só me encolhi sobre Julio, mas tão rápido quanto a nuvem foi Magnus abrindo um portal e nos puxando.

– E os dois? - perguntei - Precisamos deles.

– Não se preocupe.

Os dois foram capturados.