PDV NATÁLIA.

Deveriam ser umas 22:00 quando Sr. Rá liberou-me de sua "bronca" ordenando-me a ir diretamente para o meu quarto. Dessa vez eu não achei ruim receber uma ordem do deus pois ouvi-lo falar por tanto tempo, realmente, era exaustivo.

Nesse momento eu dormia tranquilamente em meu quarto. A janela aberta trazia uma briza gostosa que deixava o clima infernal do Egito até que agradável. Estranhei ter conseguido dormir tão facilmente, considerando a situação em que eu estava. Set e Apófis retornaram, em tese, e Kebechet, mais que nunca, quer minha cabeça em sua parede. Tive que sair praticamente correndo da sala dos deuses para não conversar com Hórus. Não que o deus da guerra fosse indesejável mas...Eu não aguentava mais tudo isso. Eles aqui só pioraram minha vida fazendo uma coisa complicada piorar em segundos. Anúbis também não estava sendo fácil. Desde seu surto após ver a mensagem que Set deixará em seu pulso o mesmo não voltou ao duat. Eu o entendia. Sabia a sensação de ver estampado em sua pele a marca de seu inimigo, do seu pior pesadelo, porém, com o tempo aprendi a ignorar e esperava que Anúbis também conseguisse.

–Hm...-Resmunguei sonolenta quase entrando em total sono profundo, porém, algo me despertou. Senti o vento fresco parar de tocar meu corpo e o forte barulho da janela se trancando...Merda, oque é agora?!

–Você...-Continuei parada. Fingindo dormir. Senti algo gelado tocar meu pescoço e logo depois um aperto. Todo o ar se esvaiu de meus pulmões forçando-me a arfar a procura de mais. Tentei atacar a pessoa que tentava me estrangular parando a mão a centímetros da mesma.

–Anúbis?-Perguntei em um sussurro falho. O deus dos funerais trincou o maxilar olhando-me com ódio. Por um momento pensei que Set havia o possuído novamente mas aqueles não eram os olhos de Set . Gemi sentindo meu coração se apertar ao olhar atentamente para Anúbis. Suas pupilas estavam dilatadas e em um formato estranho, as orelhas estavam mais pontudas que o normal e o mesmo rosnava como um animal. Anúbis ainda era humano mais eu tinha certeza que aquele era seu eu animal. O chacal Anúbis.-Anúbis...Por favor.-Implorei, porém, ele pareceu não ouvir. Anúbis não parecia estar consciente. O mesmo tinha o olhar perturbado e me encarava com dor ,como se algo o ferisse fortemente. Uma adaga estava caída em seus pés enquanto o mesmo segurava meu pescoço fortemente com as duas mãos.-Não faça isso...Não seja ser você!-Pedi suplicante. Desde que eu descobri minha profecia me senti tensa, ainda mais tensa quando ouvi o verso "Um de seus favoritos um traidor se tornará". Eu nunca acreditei que haveria um traidor, porém, confesso que o nome de Anúbis era o primeiro a surgir em minha cabeça quando em pensava em um...E aqui está ele.

–Você não pode, não pode matar minha filha!-Rosnou. A voz do chacal se sobressaindo, Engoli em seco tentando tirar sua mão de meu pescoço, gemendo ao não ter sucesso.

–Anúbis, eu sei...A perda de Kebechet pode te destruir mas por favor, Não faça isso!-Gritei.

–Cale-se!-Berrou apertando mais seus dedos, chegando a me levantar do colchão. Grunhi alto sentindo suas unhas adentrarem minha carne. Céus...Oque está havendo com Anúbis?!

–Anúbis!-Exclamei sufocada.-Não faça isso, estou te pedindo.- O mesmo me soltou com força virando-se alucinado em direção a parede enquanto eu caia na cama novamente. Suguei uma grande porção de ar, escorregando tremula para fora da cama. Me levantei tremula encarando temerosa as costas de Anúbis. Seu corpo tremia fortemente fazendo seus ombros descerem e subirem freneticamente, juntamente com um rosnado sem fim que me avisava que o mesmo estava se controlando para não fazer uma besteira. O mesmo virou-se rápido para mim fazendo-me cambalear para trás. Anúbis tinha um olhar feroz , a promessa de morte estampada em seu rosto .-Oque deu em você?!-Perguntei incrédula.

–Não fale...Não fale!-Ordenou alto.

–Anúbis...Você perdeu o controle.-Murmurei aflita.

–Não!-Gritou aproximando-se de mim. Recuei alguns passos derrubando meu abajur no chão.-Oque é você?!-Questionou-me.-Amante de Set? Sinto seu cheiro impregnado em sua pele, aquele maldito...Esta procurando vingança?!

–Se acalme, se acalme!-Repeti tensa.-Não está se lembrando de mim? Sou eu Nat...

–Cale-se!-Cortou-me-Eu sei quem você é...Natália Ramsés, a maldita iniciada que um dia eu acreditei ser minha seguidora!

–Não sabe oque está dizendo, esse não é você...Essa não sou eu!-Rebati. Sentindo cada vez mais meu coração se apertar. Anúbis riu olhando-me sarcástico.

–Então...Me diga. Me diga quem é você. Se eu não me lembro me faça recordar!-Mandou.

–Anúbis...Não sou eu a inimiga, é a Kebechet!-Protestei ouvindo mais um rosnado sair da boca do deus dos funerais.- Como pode esquecer?! De mim, de tudo que sofri com Set e Apófis, você estava lá, você viu!-Argumentei desesperada. Anúbis cerrou os punhos, olhando-me por cima dos olhos.

–Não faça isso...Não exagere, não se faça de vitima!-Rebateu.-Eu não vou cair dessa vez!-O encarei incrédula.

–Exagerar?! Como não se lembra, Anúbis? Quem foi que segurou nas mãos as entranhas de Apófis? Quem reprimiu o coração batendo de Set?!

–Não pode matar Kebechet!-Gritou.

–Posso matar se eu quiser! Pois estou morrendo!-Rebati perdendo meu controle.- Pare de agir como se mata-la vai adiantar alguma coisa pois não vai! Eles são deuses, deuses! Vão voltar algum dia, o mais rápido possível eles vão voltar e continuar assim com suas vidas infinitas! Enquanto eu, uma mortal, desperdiço minha vida tentando detê-los!-Berrei.-Acorde e brigue comigo como homem, é isso que sente por mim toda vez que me olha?! Essas são as verdades escondidas dentro de você, Anúbis?!

–Cale...A...Boca...-Ordenou pausadamente.

–Oque vai fazer depois hein? Me matar? Ir pro lado da sua querida filha? Por favor..-Implorei.-Não faça isso comigo...

–Eu mandei calar a boca!-Gritou atirando-se sobre mim.. Fechei os olhos não tendo força para mover um músculo. Senti as garras de Anúbis rasgarem a pele de meu braço e logo depois seu corpo pesado bater contra o meu. Fui arremessada na parede e minha cabeça bateu contra a quina de meu móvel. Minha visão nublou enquanto meus ouvidos zumbiam, transtornados. Olhei para frente tonta enquanto ouvia os passos de Anúbis aproximando-se novamente de mim.

–Anúbis eu não...-Me calei quando o mesmo chutou meu estômago.Mordi os lábios impedindo-me de gritar, de soluçar ou até mesmo de chorar. Eu não iria ficar assim...Não na frente dele.

–Eu sempre soube que...-Ouvi a porta de meu quarto sendo aberta com força e um grupo de pés adentrando o local. Senti a presença de Anúbis sumir de perto de mim. Algo agarrou meus braços puxando-me fortemente para cima. Merda...Minha vida está acabada.

PDV HÓRUS.

Eu caminhava cansado pelos corredores da casa da vida. Realmente...Não havia nem um mês que eu estava aqui no Egito e eu me sentia mais cansado do que todos os anos que eu vivi com Natália. Eu estava aqui na casa da vida justamente por causa da garota. A mesma saiu tão rápido que mal pude falar com ela, coisa que estava difícil já que todos naquele lugar pareciam depender dela.

–Hórus...Eu estou cansado.-Gemeu Khonsu enquanto meu pai me encarava com uma expressão que perguntava "porque diabos eu estava aqui?!". Suspirei dando de ombros. Eu havia trazido os dois como forma de desculpa para sr. Rá. O deus do sol não me deixaria vim aqui sozinho, mas com a companhia de Osíris eu poderia até ir a lua se eu quisesse.

–É aqui...-Murmurei vendo o numero que Nefertum me deu pregado em uma das enumeras portas do corredor. Khonsu sorriu.

–Vamos logo com isso, Hórus.-Pediu Osíris. Assenti pronto para bater na porta quando ouvi um barulho alto sair do quarto de Natália. Franzi a testa quando o barulho foi seguido por outros cada vez mais altos.

–Oque...?-Antes que eu pudesse concluir minha frase ouvi um grito, não alto ou escandaloso, mas ainda sim um grito.-Merda...-Rosnei. Rodei a maçaneta da porta adentrando o quarto com rapidez. Arregalei os olhos não acreditando na cena que eu via. Anúbis rosnava alto apontando as unhas para Natália, que estava deitada no chão, choramingando baixo enquanto sua testa e mais algumas partes de seu corpo sangravam. O deus parecia transtornado e não acreditei ao ver que o mesmo estava a um passo de se transformar completamente em chacal.

–Mas que merda!-Gritou Khonsu. Ele e Osíris correram até Anúbis imobilizando o chacal antes que o mesmo pudesse encostar em Natália. O olhei sem acreditar sentindo meu coração palpitar assustado. Virei-me em direção a Natália vendo-a levantar a cabeça tonta. Fui até a mesma puxando-a rápido para cima, apertando-a em meus braços.

–Natália, Natália!-Chamei aflito. A garota parou seus olhos em mim e pude ver a dor refletidos nitidamente nos olhos da garota. A mesma ofegou enquanto um filete de sangue descia por sua boca.

–Hórus...-Suplicou.-Faça-o voltar Hórus...-Pediu.

–Está tudo bem, tudo vai dar certo.-Prometi enquanto me virava para trás vendo Osíris e Khonsu tentando acalmar o chacal, oque não parecia estar funcionando. Anúbis dava trancos para frente, tentando soltar-se dos deuses, olhando para Natália como se a mesma fosse uma especie de caça. Semicerrei os olhos incrédulo.-Oque houve com você Anúbis?!-Questionei

–Hórus...-Gemeu Natália apertando-se mais em mim.

–Oque foi?-Seu corpo amoleceu completamente e a mesma caiu em inconsciência antes de eu obter minhas respostas.-Céus...Garota!-Desci até o chão com a mesma tentando acorda-la preocupado.

–Tas!-Virei-me para trás bem a tempo de ver Osíris prender Anúbis com as fitas de Hathor, imobilizando totalmente o deus chacal.

–Deuses...Que merda aconteceu aqui?!-Questionou Khonsu olhando-me assustado.

(...)

Eu caminhava de um lado para outro olhando com atenção a chave em minha mão. Olhei para o cadeado preso na porta perguntando-me se realmente era necessário tudo isso...Aquele naquele quarto não parecia Anúbis. A milhares de anos eu não via o deus chacal tão aterrorizante, quase perdendo totalmente sua consciência e o pior, machucando Natália. A garota não estava aqui no momento, na verdade eu mal sabia para onde eles a haviam levado. Sr. Rá ficou irado quando levamos a garota até ele e ordenou que levassem-na para algum outro lugar, para longe de Anúbis. Segundo Taweret, Natália estava bem, porém, seu emocional estava um caco. Eu não podia imaginar oque a garota sentia nesse momento e nem queria imaginar como seria nosso reencontro, ou pior, o reencontro dela e de Anúbis. Eu não entendia muito bem oque havia acontecido apenas sabia que por algum motivo Anúbis deixou sua fera sair.

–Você só faz merda...-Cuspi olhando irritado para Anúbis. O deus estava em um sono forçado por algumas das magias de Ísis mas segundo a deusa, ela logo acordaria. Então fui mandado aqui como babá, para assegurar que Anúbis não sairia correndo em direção a Ramsés afim de machuca-la mais.

–Ah...!-Gemeu Anúbis abrindo os olhos confuso. O mesmo massageou as têmporas semicerrando os olhos para o quarto. Prendi a respiração escondendo a chave em meu bolço, caminhando fortemente até o mesmo.

–É você Anúbis?-Questionei parando na frente de seu cama. O deus chacal virou-se mal-humorado para mim, olhando-me sarcástico.

–Não, Hórus não sou eu...-Anúbis se calou respirando fortemente. O mesmo levou sua mão ao peito parecendo ficar confuso.-Hórus...

–Anúbis...-Rebati. Anúbis arregalou os olhos enganchando as mãos no cabelo.

–Não...-Sussurrou. Bati fortemente no pé de sua cama encarando-o incrédulo.

–Oque deu em você?! Como pode fazer aquilo com ela?!-Gritei.

–Não...Diga-me, diga-me que ela está bem...Por favor Hórus!-Suplicou Anúbis.-Ah!-O mesmo gemeu apertando a cabeça como se a mesma doesse.

–Como ela poderia estar bem?! Você tentou mata-la!-Acusei.

–Não!-Rebateu Anúbis.-Não...Eu, eu perdi a cabeça! Eu não sei...Set, Set deixou a mensagem em meu braço e isso me deixou furioso, assustado...Eu não queria!

–Anúbis, não sabe oque fez.-Murmurei enquanto o mesmo encarava-me agoniado.

–Eu não sei...Não sei! Deuses...Oque foi que eu fiz?!