PDV ANÚBIS.

Milhões de vozes se misturavam em minha cabeça me deixando ainda mais confuso. Cenas distorcidas e estranhas invadiam minha cabeça como se um filme quebrado estivesse ligado em minha mente. Meu corpo inteiro doía e uma sensação ruim estava impregnada em mim de tal maneira que só tive certeza de estar vivo depois de conseguir respirar.

–Imprudente, egoísta! Como pode exitar em tal situação?!-Gritou a voz de alguém visivelmente irritado. Tentei abrir os olhos mas a luz forte me cegou obrigando-me a ficar mais um tempo de olhos fechados.

–Eu não poderia machuca-los eles eram...

–Não tente arrumar desculpas!-Cortou a voz raivosa novamente. Mesmo sem conseguir reconhecer a voz me senti irritado com o tom que ela usava. Tentei abrir os olhos novamente, dessa vez com sucesso. Minha mente estava nebulosa e minha visão sem nexo. Não consegui me concentrar em nada nos primeiros minutos até enfim me encontrar. Eu estava sentado em meu trono na sala dos deuses. Todos estavam presentes incluindo Natália. A garota estava agachada na frente do trono de Hórus, que assim como eu parecia confuso e muito grogue. Eu não conseguia ouvir oque a garota falava mais pela sua expressão algo ruim estava acontecendo. Sua camisa estava manchada de sangue e um curativo mal acabado tinha sido feito em seu pescoço. Tentei levantar mas minhas pernas não responderam não permitindo qualquer movimentação.

–Oque aconteceu?-Murmurou Hórus tocando o pescoço de Natália. A garota retirou a mão do deus balançando a cabeça negativamente.

–Não se preocupe com isso.-Ordenou. Ouvi uma risada irônica.

–Essa garota...Ei, super heroína Anúbis também acordou!-Exclamou Kepri. Natália virou-se para mim, afagando a mão de Hórus e vindo rápido em minha direção. A garota foi seguida com o olhar por todos os deuses, que estranhamente a olhavam com uma certa antipatia, inclusive Rá. O deus do Rá parecia furioso e encarava Natália como se quisesse frita-la em óleo fervente. Franzi o cenho encarando Natália em minha frente não entendendo como a garota parecia tão calma.

–Você está bem?-Perguntou tocando meu pulso.

–Oque...?-Comecei mas a garota não me deixou terminar.

–Responda.-Exigiu.

–Eu...acho que estou.-Respondi. Cocei os olhos soltando um grunhido.-Oque caralhos aconteceu aqui?

–Nada de mais, apenas não se preoc...

–Volte para cá Natália, eu ainda não terminei-Cortou a voz de Rá fria como uma pedra de gelo. Natália comprimiu os lábios soltando um forte suspiro. A garota levantou-se indo até o meio do salão sendo bombardeada novamente pelos olhares acusadores.

–Prossiga sr.Rá.-Incentivou a menina. Rá endireitou-se no trono olhando desafiativo para Natália.

–Primeiramente, não quer contar oque houve para Anúbis e Hórus?-Perguntou. Natália encarou o deus do sol.

–Não, não quero.-Rá sorriu irônico olhando incrédulo para Natália.

–Como se tivesse escolha, pirralha.-Murmurou Kepri.

–Não se meta.-Rosnou Natália fazendo Kepri sorriu.

–Conte oque aconteceu, Natália.-Repetiu Rá. Natália fitou o chão segurando as próprias mãos nas costas.

–Do que estão falando? Oque aconteceu?.-Grunhiu Hórus. Natália negou.

–Não...-Repetiu. Pude sentir o ar esquentar e a raiva de Rá parecer subir. Todos arregalaram os olhos olhando sem acreditar para a Ramsés.

–Natália...Eu estou mandando que fale ou...

–Set e Apófis voltaram!-Exclamou Nefertum nervoso tirando a atenção de Natália. A garota olhou encabulada para o deus dos perfumes.-Porque está me olhando assim?! E te salvei de uma morte bem feita sua maluca!- Franzi o cenho olhando incrédulo para Nefertum. Demorei alguns segundos para processar oque o deus dos perfumes tinha dito, erguendo-me com dificuldades.

–Oque...Você disse?-Perguntei.

–Eles não voltaram... Não literalmente.-Falou Khonsu pedindo-me calma com as mãos.-Os bás deles voltaram...

–Impossível.-Sussurrou Hórus.-Eles estavam mortos, Natália os destruiu, não a como eles voltarem tão rápido assim!-Protestou Hórus tão incrédulo quanto eu. Natália passou as mãos pelo cabelo massageando a nuca com um das mãos.

–Kebechet os resgatou.-Murmurou.-Por isso ela tem tanto poder... Ela os fez de hospedeiro.

–Não...-Rosnei assim que a garota terminou de falar.

–Anúbis, por favor!-Pediu Osíris.-Já está na hora de aceitar que Keb não é uma santa...Estamos em guerra com ela agora e seria totalmente impossível Natália ter inventado isso tudo. Kepri , Rá e Nefertum viram você e Hórus possuído pelos deuses. O próprio Set , que estava em seu corpo, disse que esta ajudando Kebechet nisso.-Olhei enojado para minhas próprias mãos soltando um rosnado.Eu não podia acreditar naquilo...Eu não queria acreditar naquilo. Kebechet era minha filha, tudo oque passamos foi por causa de Set. Ela não iria perdoa-lo por uma vingança idiota...Ela não podia fazer isso!

–Como?! Espera...Oque quer dizer com "...Viram você e Hórus possuídos pelos deuses?".-Perguntou Hórus temeroso.

–Os bás de Set e Apófis possuíram vocês dois e fizeram uma visita a Natália essa manhã.-Respondeu Rá. Hórus arregalou os olhos olhando assustado para Natália que apenas encarava os pés. Senti um gosto amargo na boca sentindo meu pulso esquerdo arder como fogo.-E não foi só isso... descobrimos também que o poder de Natália e de Kebechet se parecem muito. Kebechet também possui efeitos colaterais e a junção do poder de Apófis e de Set dentro de si se assemelham ao meu dentro de Natália.-Rá encarou a garota no meio do salão enquanto Natália trincava o maxilar.- Porém, por serem hospedeiros, Apófis e Set podem sair a hora que quiseram no corpo de Kebechet e isso aconteceu essa manhã. Os dois, no corpo de vocês, tentaram mata-la com ordem de Kebechet.

–Isso já é demais!-Protestei sem acreditar.

–Anúbis.-Chamou Ísis.-Sei oque está sentido...Não sei oque eu faria se tivesse que lutar contra meus próprios filhos. Mas por favor, fique calmo.-Implorou a deusa com um certo tom maternal na voz.

–Como eu posso ficar calmo? Estão me dizendo que minha filha se juntou com os dois piores deuses do mundo por causa de uma vingança contra Natália?! Deuses...-Me virei para a Ramsés que me encarava.-Oque diabos você fez?!

–Anúbis!-Censurou-me Khonsu.-Oque acha que está...-Natália levantou a mão impedindo que o deus da lua de continuar.

–Eu não preciso da defesa de ninguém aqui.-Rebateu Natália. A garota tomou folego.-Eu não me importo com oque Anúbis diz também...Eu entendo sua dor. Não a nada pior que sacrificar uma pessoa que você ama. Ela é filha dele, não tentem censura-lo.

–Natália está certa...A profecia mesmo disse que haveria um traidor.-Disse Kepri olhando para suas unhas despreocupadamente. Natália virou a cabeça em direção ao deus escaravelho.

–Abra a boca mais uma vez que eu te mato Kepri.-Ameaçou com uma forte dose de ódio. Kepri encarou Natália desafiativo.

–Está sendo injusto com Natália, Anúbis.-Falou Rá.-Essa garota quase não reagiu aos ataques de Set e Apófis afim de proteger vocês daqueles dois...

–Oque queria que eu fizesse?! Não eram Set e Apófis, eram Anúbis e Hórus! Set e Apófis estão mortos se eu tentasse fazer algo eu só machucaria Anúbis e Hórus!-Retrucou Natália.

–Fizesse, mas não colocasse sua vida em risco! Sabe oque aconteceria caso você morresse? Não escutou a profecia?!

–Que se dane a profecia!-Rebateu Natália.

–De que merda de profecia estão falando?!-Grunhiu Hórus.

–A que foi feita por nosso lindo Tot após aqueles dois endiabrados saírem daqui.-Contou Kepri. O mesmo apontou para o deus da sabedoria.-Conte a eles Tot, querido.-Natália encarou Tot suplicante mas o deus apenas pigarreou começando a falar.

–"Ao seu último ano Natália chegará

E a todos sua glória bem claro estará.

O poder de Rá na mesma semeará e o seu terceiro deus logo ela terá que matar.

A filha do chacal sua vitima será e a discórdia logo se espalhará.

Um de seus favoritos um traidor se tornará e no final dos tempos uma delas morrerá."

Natália virou-se irritada como se a profecia não tivesse importância.

–Está sendo infantil.-Grunhiu Rá. A mesma apertou os olhos como uma crianças birrenta.

–Essa sou eu, não brinque comigo como se eu fosse um robô!-Rebateu a garota.

–Estou tentando protege-la, será que não vê? Como pode lutar tão imprudentemente?!-Natália não respondeu .

–Natália.-Chamou Hórus. A garota se virou para o deus da guerra.-Pensou em se sacrificar por nós?-Natália ficou em silêncio novamente.

–Responda...-Ordenei.Meu peito se apertou e eu começava a ficar confuso. Como ela podia querer me salvar ainda? Como poderia ainda me proteger?! E se Kepri estiver mesmo certo...? E se eu desejar mata-la?

–Eu...Pensei.-Respondeu Natália dando de ombros.

–Mas somos deuses! Como pode pensar algo assim?!-Perguntei incrédulo.

–Não ligo oque sejam ou como sejam! Não farei algo que eu acho injusto só porque a merda do duat está em minhas mãos. Farei o possível para ninguém, sendo deus ou humano, nunca mais se machucar por mim.

–Eu não te perdoaria nunca mais se morresse de modo tão patético...-Falou Nefertum.

–Poderia ser diferente?-Perguntou Natália.

–Sim poderia!-Respondeu o deus dos perfumes..-Não está falando coisa com coisa, sabia?

–Você me conhece, Nerf. Quase perdi Khonsu uma vez e mesmo ele sendo um deus foi uma das piores sensações que eu já senti na vida. Já aceitei esse fato, de certa maneira. Que, para salvar alguém , valeria a pena perder tudo oque eu tenho.-Respondeu Natália. Neguei com a cabeça olhando-a incrédulo.

–Não sabe oque está falando! Nunca ouvi você falando tanta besteira!-Falei. Natália virou-se para mim.

–E então oque? Devo matar sua filha?-Perguntou. Me calei imediatamente sentindo outro aperto no peito. Porém, além de mim, Hórus e os deuses no Brooklyn, todos sorriram sarcásticos.

–Não...faça esse jogo.-Cuspiu Nefertum.

–Eu quase senti pena...Sério.-Murmurou Serket olhando para suas unhas. Natália deu de ombros.

–Estou enjoada de responder vocês, vou fazer oque tiver que ser feito.-Respondeu. Um silêncio angustiante se instalou até ser cortado quando as portas do salão dos deuses foi aberta fazendo todos olharem em sua direção. Sobek adentrou o salão carregando um sarcófago que parecia pesado. O deus crocodilo colocou o objeto aos pés de Natália enquanto a garota apenas sorria.

–Está limpo...Sem sinal de magia ou alguma armadilha. É apenas um sarcófago normal...Mas cuidado, ele fecha por fora e uma vez dentro dele é impossível de sair sem a ajuda de alguém.-Falou Sobek. Natália assentiu.

–Coloque-o no meu quarto, Sobek. Por favor.-Pediu a garota.

–Nem pensar!-Cortou Nefertum.-Oque deu em você hoje sua cadela asmática?

–O sarcófago é meu, foi um presente...É prudente que fique no meu quarto.-Argumentou Natália.

–Um presente? Quem te deu um sarcófago de presente?-Perguntou Hórus.

–Adivinhe.-Pediu Nefertum sarcástico. Um bolo formou-se em minha garganta.

–Kebechet.-Respondeu Hórus dando um sorriso sem humor. Natália assentiu retribuindo o sorriso sem graça.-Inacreditável...

–Pode leva-lo, Sobek.

–Neeeem pensar!-Exclamou Nefertum correndo até o deus crocodilo impedindo o deus de andar.-Deixe isso ai mesmo, vamos queima-lo!

–Nefertum..-Pediu Natália.-Sai dai.

–Sr. Rá, vai deixa-la fazer uma coisa dessa?-Perguntou o deus dos perfumes.-Isso é masoquismo, auto-tortura! Como pode ter tanto sangue frio?!- Rá suspirou dando de ombros.

–Se está limpo não a motivos para queima-lo ou destruí-lo, Nefertum. Ele é de Natália, ela pode fazer oque quiser com ele.-Nefertum encarou Rá incrédulo enquanto Sobek retirava o sarcófago do meio do salão.

–Oque quer fazer com aquilo?-Perguntou Hórus cansado.

–Apenas me lembrar todos os dias oque acontece se eu der mole, eu morro.-Falou Natália. Senti meu estômago revirando obrigando-me ame sentar. Apoiei minha cabeça na mão sentindo novamente meu pulso esquerdo queimar. Olhei para o mesmo vendo pela primeira vez um curativo apertado feito no mesmo. Peguei a ponta do esparadrapo.

–Anúbis espere...-Antes de Natália terminar puxei o curativo deixando a mostra meu pulso.Arregalei os olhos sentindo um solavanco no peito. Minha pele estava avermelhada e inflamada, mas não era isso que me assustava. O machucado presente nela não era um corte comum ou uma ferida e sim letras. Rabiscada em minha pele estava as palavras "Set esteve aqui" assim como as existentes nas costas de Natália. Levantei o olhar para a menina vendo de longe sua pele arrepiada. A mesma encarava-me com culpa e temor me deixando ainda mais aflito. -Anúbis...-Me levantei rápido indo em direção a saída.

–Anúbis!-Exclamou Hórus. Não dei ouvidos a ele continuando a andar rápido só querendo parar quando estivesse bem longe dali.