PDV ANÚBIS.

Adentrei a cozinha de meu castelo batendo as mãos no balcão. Respirei fundo fechando os olhos apertado. Porque caralhos ela tinha que voltar dessa maneira?! Porque tinha que ser assim?!

–Merda...-Grunhi irritado. Felizmente consegui sair daquela festa. Eu não conseguia mais ver tanto entusiasmo e felicidade, como se nada estivesse acontecendo. Como se eles...digo, ela não quisesse matar minha filha. Eu não aguentava mais saber que Kebechet era agora a terceira deusa traidora e não suportava também as insinuações de Kepri. Como eu poderia matar Natália? Como eu poderia sentir ódio dela? Era quase impossível sentir isso pela minha ex-seguidora. Eu sequer podia machuca-la pois ainda tinha o peso do que fiz para a mesma no passado. Mas também...Como eu poderia matar minha própria filha, aceitar que a mesma é a nossa nova inimiga?!-Droga!-Gritei socando o balcão com força. Minha cabeça latejou como se meu cérebro me força-se a desacelerar.Eu não aguentava mais tudo isso! Se eu pudesse...

Meus pensamentos se calaram quando algo adentrou minhas narinas fazendo-me tossir. Meu corpo queimou por dentro enquanto uma fumaça vermelha surgia diante de meus olhos, adentrando meu corpo impedindo-me de respirar. Me senti sendo afogado e a dor aumentou fazendo-me cair cair em inconsciência minutos depois.

PDV HÓRUS.

Coloquei Natália cuidadosamente em uma cadeira, encostando sua cabeça na parede. A garota ressonava baixo parecendo estar em sono profundo. Olhei para o céu tendo quase certeza que já se passavam das 4:00 da manhã mas ninguém parecia ligar para isso. A festa continuava animada com quase todos os deuses presentes. Alguns já haviam desistido como Osíris e Ísis ,assim como Tot e a família Ramsés. Natália havia dormido em meus braços pouco tempo depois daquele beijo. Eu me sentia ridículo por me sentir tão animado com uma coisa tão boba. Ela estava bêbada e provavelmente nem se lembraria disso amanhã...Porém eu não podia deixar de ficar feliz, pois mesmo bêbada ela em beijou...Isso significa alguma coisa, certo?

–Natália, flor do meu dia...!-Nefertum apareceu sorrindo mas ao ver a garota seu sorriso sumiu.-Oque houve com ela?-Perguntou.

–Ela dormiu.-Respondi obvio dando um forte suspiro. Nefertum fez um biquinho decepcionado enquanto eu examinava o rosto de Natália.

–Hm...Logo agora que a festa estava ficando boa...-Reclamou Nefertum tocando a bochecha de Natália com o indicador, porém a garota mal se mexeu. Reprimi a vontade de tocar o rosto de Natália também cruzando os braços.

–Cuide dela está bem? É quase certo que ela acordará com uma ressaca do caramba.-Falei para Nefertum O deus riu olhando para Natália malicioso.

–Como se fosse a primeira vez...-Franzi o cenho.

–Desde quando ela bebe...Quer dizer, desse jeito?-Perguntei.

–A primeira vez que ela bebeu até cair? Bem...Que eu me lembre foi no seu aniversário de 18 anos...-Nefertum sorriu.-Fui uma bela festa, devo admitir.-Olhei novamente para Natália tentando imaginar como aquela garota pode mudar tanto em apenas três anos.

–Bem...Mesmo assim, cuide dela.-Falei dando as costas para Nefertum.

–Oque? Vai embora? Já?!-Questionou o deus incrédulo. Eu sorri.

–Boa noite Nefertum...-Murmurei caminhando para a saída, em direção ao lugar onde Natália me beijará. Sai para o lado de fora já podendo ver o sol erguendo-se no horizonte. Respirei fundo enquanto alguém aproximava-se de mim.

–Anúbis?-Perguntei. O deus parou ao meu lado com as mãos atrás das costas.-Pensei que tivesse ido embora...-Falei. O deus dos funerais bufou parecendo irritado.

–É impressionante como você me irrita garoto...-Grunhiu. Franzi o cenho percebendo a voz de Anúbis diferente, Seus olhos também estavam fechados.

–Hã...Você está bem?-perguntei. Anúbis bufou novamente estralando o pescoço para os lados.

–Eu adoraria ficar e conversar, Hórus...Talvez até dar uma revanche a você pela última vez que nos encontramos...-Anúbis abriu os olhos ainda fitando o horizonte.-Porém, estou ansioso demais para reencontrar Natália.-Um sorriso apareceu no rosto do deus enfim virando-se para mim. Arregalei os olhos ao ver a íris do olho de Anúbis totalmente vermelha.

–Quem é você?! E oque fez com Anúbis?-Perguntei. O falso Anúbis revirou os olhos abrindo os braços.

–Oras querido Hórus, não reconhece nem seu próprio tio?-Perguntou Irônico. Senti algo bateu contra meu peito tentando agarrar minha espada.

–Set!-Rosnei. O deus riu fitando algum lugar atrás de mim.-Ah, Apófis...Está atrasado!-Reclamou. Tentei virar-me para trás mas antes de faze-lo senti algo queimar em mim. Uma névoa verde cegou-me por completo e me senti sendo cuspido de meu próprio corpo.

PDV NATÁLIA.

Abri os olhos sonolenta sentindo-me um verdadeiro caco. Soltei um gemido estendido massageando as têmporas devagar. Me senti como se um carro tivesse passado por cima de mim. Meu corpo inteiro doía e meu hálito cheirava a álcool...Droga, porque ainda ouço Nefertum?

–Droga...-Grunhi. Olhei para os lados constatando que eu estava em meu quarto. Me estiquei devagar pegando um papel em cima da cabeceira da minha cama reconhecendo a caligrafia elegante do deus dos perfumes.

"Não pude esperar você acordar, venha pra cá até as 15:00 da tarde ou vou atrás de você! Temos que conversar umas...coisinhas. Já estou com saudades.

Beijos, Nefertum."

Olhei o relógio ao meu lado vendo-o marcar 13:00.

–Mereço...-Reclamei levantando-me da cama um tanto cambaleante. Passei a mão pelos cabelos tentando lembrar de algo de ontem. Fragmentos de memória se embaralhavam em minha mente e a maioria não era algo de se orgulhar. Suspirei caminhando até o banheiro olhando-me no espelho. Eu estava, definitivamente, um horror. Minha maquiagem estava borrada e meu cabelo ameaçava nunca mais se desembaraçar. Me despi entrando embaixo do chuveiro sentindo-me melhor quase instantaneamente. Fiquei por alguns minutos assim antes de lembrar que Nefertum queria me ver. Gemi novamente desligando o chuveiro com pesar saindo rapidamente do banheiro enrolada numa toalha. Me vesti com uma roupa qualquer não estando nem com um pingo de paciência para uma super produção. Andei até minha penteadeira pronta para pentear meu cabelo porém algo refletido no espelho me chamou atenção. Um arrepio estranho, porém conhecido, percorreu meu corpo fazendo-me olhar fixamente para meu reflexo no espelho. Arregalei os olhos não acreditando, sentindo cada gota de ar sumir dos meus pulmões.

–Apófis!-Sufoquei-me. Meu corpo foi virado com força e em um piscar de olhos eu era prensada na parede. Mas aquele aperto não era de Apófis. Meus lábios perderam a cor como se cada gota de meu sangue evaporasse dentro de mim. As várias cicatrizes espalhadas por meu corpo começaram a arder como se todas as feridas fossem reabertas.-Set.-Sussurrei. Meu corpo foi virado com força novamente me deixando de frente. Arfei incrédula não acreditando em meus próprios olhos...-Hórus, Anúbis?!

–Olá querida...-Murmurou Hórus, mas aquela não era sua voz. O deus estava coma mesma aparência de sempre mas seus olhos me mostravam que aquele não era ele. Suas íris estava verde e suas pupilas se resumiam em fendas negras. O mesmo sorriu cruelmente, algo que não combinou com seu rosto.

–Oque...?-Comecei. Porém fui cortada.

–Ora...ora...ora...Mas vejam só! Como você está mudada!-Exclamou uma voz no canto da sala. Engoli em seco virando-me em sua direção vendo Anúbis encostado na parede com uma peça de roupa minha na mão. Porém esse, assim como Hórus, tinha a voz e os olhos diferentes dos habituais. Aqueles não era eles...Com certeza não era.-Oque vocês fizeram com eles?!

–Hunf... Eu esperava uma recepção mais calorosa! Não nos vemos a muito tempo, Natália!-Exclamou Apófis fingindo estar desapontado. O deus sorriu de lado passando o polegar por meu rosto.-Está bem crescidinha, não é?-Eu o olhei com nojo mesmo o deus do caos tendo a aparência de Hórus.

–Você não respondeu minha pergunta!- Set riu se aproximando.

–E está mais selvagem...Se isso for possível , é claro.

–Malditos...Devolvam Anúbis e Hórus, agora! -Gritei dando um passo a frente. Apófis empurrou-me de volta a parede dessa vez sendo mais bruto.

–...Não sabe a quanto tempo eu esperei por isso garota. Todos esses anos, vendo-a crescer sem poder toca-la...Sem poder machuca-la.-O mesmo sibilou enraivecido apertando os dedos em meu pescoço.-É uma pena Hórus ter presas tão pequenas...Não sabe como estou sedento pelo seu sangue.-Tirei sua mão de mim com força olhando-o ameaçativa.

–Está certo Apófis...-Murmurou Set chegando até mim. O deus contornou meu queixo com os dedos.-Deixarei você ir primeiro...Quero ter o prazer de ser o último a esmagar você, de vê-la chorar, sofrer...-Trinquei o maxilar sentindo a raiva me invadir. Minha tatuagem esquentou e pude pegar um pouco do poder de Rá concentrando-o em minha mão. Bati contra o peito dos deuses fazendo-os serem jogados para trás. A camisa de ambos ficou chamuscada mas os dois não esboçaram nenhum traço de dor.

–Natália...Que coisa feia!-Exclamou Apófis abrindo um sorriso. O mesmo apontou para o próprio peito.-Hórus vai sentir uma dor horrível!-Franzi o cenho enquanto Set ria.

–Ah, querida...Não entende? Estamos usando Hórus e Anúbis como hospedeiro...Ou seja, não pode nos machucar sem machuca-los!

–Consegue machucar seus namorados, Natália? Não se esqueça que estamos mortos, então não sofremos dano nenhum mas não posso dizer o mesmo dos seus patéticos namoradinhos...-Apófis apontou para a ferida que meu empurrão causou no corpo de Hórus fazendo-me sentir culpada...Aqueles malditos!

–Idiotas...Voltem para o fundo do inferno que é o lugar de vocês!-Gritei alcançando minha espada no duat. Tentei acertar Apófis porem o mesmo me parou com sua espada.

–Pensei que gostasse mais de Hórus e Anúbis...Finalmente esqueceu deles?-Perguntou. Set revirou os olhos.

–Não demore Apófis, nosso tempo aqui é limitado e ainda quero minha vez.- O deus sorriu enquanto eu rodava tentando acertar o deus do caos. Apófis parou minha lamina com a mão nem se preocupando com o corte feio que isso causou.

–Viu? Não sinto absolutamente nada!-Exclamou.

–Maldito!-Rosnei. Apófis sorriu abaixando-se quando minha espada passou rente a sua cabeça. Set riu retirando uma adaga do cinto.

–Diga-me querida...Ainda tem as cicatrizes que eu te deixei? Ainda está marcada como meu território?-Cerrei os dentes lembrando da frase "Set esteve aqui" desenhada em minhas costas pelo deus do mal. -Oque acha de eu fazer isso em Anúbis também? Tenho certeza que ele vai adorar ter uma marca igual a sua...-Set sorriu sádico apontando a adaga para o próprio braço.

–Não faça isso!-Gritei parando um ataque de Apófis logo depois.

–Ah, que falta me faz minha verdadeira forma...Você já estaria morta se eu pudesse me transformar em cobra!-Reclamou. Eu rosnei batendo minhas espadas com a dele novamente enquanto Set sorria rasgando a pele de Anúbis formando letras. Balancei a cabeça negativamente batendo o cabo de minha espada contra Apófis fazendo-o cambalear para trás. Virei-me rapidamente em direção a Set apontando minha espada para seu pescoço. Porém paralisei na última hora, aquele não era Set...Eu não poderia mata-lo, ou Anúbis morreria.

–Garota você é patética!-Gargalhou o deus do mal.-Não consegue feri-los não é? Dessa vez assuma que vencemos!

–Nunca.-Rosnei. Set largou sua adaga batendo a mão contra a minha derrubando minha espada no chão. Sangue pingava de seu braço porém o deus parecia não ligar.

–Você continua a mesma vadiazinha de sempre...Uma garota que precisa ser domada.-Eu grunhi tentando acerta-lo porém o deus parou minha mão virando meu braço para trás. Eu rosnei enquanto o mesmo o entortava cada vez mais olhando-me superior.-É a sua vez Apófis...-Set empurrou-me em direção ao deus do caos que me imobilizou da mesma maneira que o deus do mal tinha feito. O mesmo abaixou-se pegando a adaga que estava do chão enquanto Set jogava-se despojadamente em minha cama.

–Tsc, tsc...Sua tolinha...Sempre pensando nos outros, sempre se sacrificando pelas pessoas erradas.-Apófis virou-me de costas para ele passando o dedo pela cicatriz de de seus dentes.-É uma pena que eu não posso reabri-los do jeito convencional.-Apófis passou a adaga por meus pescoço fazendo um pequeno corte em cima da cicatriz. Eu grunhi debatendo-me, tentando me soltar em vão. O mesmo pressionou-me contra a parede de novo lambendo o filete de sangue que descia do corte.-Esse gosto...É tão delicioso...

–Pare com isso!-Grunhi. O deus pareceu não ouvir continuando a tomar meu sangue enquanto Set assistia tudo entretido. Fechei os olhos com força tentando me acalmar. Concentrei-me no espirito de Rá tentando chama-lo.-Me ajude...-Sussurrei. A porta de meu quarto explodiu fazendo Apófis jogar-me no chão abrindo um sorriso juntamente com Set, que se levantou animado.

–Finalmente você cedeu, querida! Estávamos esperando por isso!-Exclamou Set enquanto Rá, Kepri e Nefertum adentravam meu quarto. Ambos tinham espadas nas mãos e encaravam Set e Apófis com ódio.

–Sempre tão fraca não é? Sabia que iria pedir a ajuda de Rá!-Zombou Apófis.

–Apófis...-Rosnou sr. Rá. O deus do caos fez uma reverencia forçada abrindo um sorriso de escárnio.

–Rá...-Murmurou, o ódio visível em sua voz.-Nos reencontramos de novo...

–Com uma diferença...Eu estou vivo e você morto.-Rebateu sr. Rá. Nefertum correu para mim ajudando-me a levantar, entregando-me uma espada.

–De fato...-Concordou Apófis.-Mas não por muito tempo, acredite.

–Kepri!-Saudou Set com animação.-De todos esses deuses você foi oque eu mais senti falta!

–Vá para o inferno.-Rosnou o deus escaravelho. Set riu balançando a cabeça negativamente.

–Mas vejo que, como todos os outros, você decaio seu nível...Protegendo essa garota? Tsc...E eu pensando que você tinha visão.-Kepri olhou-me de soslaio parecendo não gostar do comentário do deus do mal.

–Oque fazem aqui?-Perguntou Rá.-Como voltaram?-Set deu de ombros.

–Não voltamos...Estamos apenas de passagem. Pegamos emprestados o corpo de Hórus e de Anúbis apenas para fazer uma visitinha a nossa querida Natália.

–Como fizeram isso?! Quem tirou seus bás do inferno?!-Questionou Rá.

–Quem mais poderia ser? Não lhe passa nenhum nome pela cabeça?-Perguntou Apófis. Comprimi os lábios.

–Kebechet...-Falei.

–Bingo!-Exclamou o deus cobra.

–Como...?

–Oque? Acha que do nada , Kebechet, uma deusa da purificação, se tornaria tão forte? Por favor! A filha de Anúbis cedeu seu corpo para nos hospedar em troca do nosso poder. Tanto ela como nós queremos ver seu sangue espalhado pelo duat, Natália. Achamos uma troca justa.-Eu rosnei enquanto Apófis suspirava.

–Infelizmente, caros amigos, nosso tempo está acabando. Ainda não podemos ficar tanto tempo fora do corpo de Kebechet.-O deus olhou para as próprias mãos.-Pelo visto ela já está acordando de seu efeito colateral...

–Espera...Oque?!-Perguntou Nefertum incrédulo.

–Iria se impressionar ao constatar as semelhanças de Natália e Kebechet...Ambas querem o poder, ambas querem vingança...Kebechet também paga caro pelo uso de nossos poderes, assim como Natália paga pelo poder do sr. deus do sol. Juntos, eu e Set, temos quase o mesmo poder que Rá e mesmo sendo uma deusa ela sofre as consequências.-Falou Apófis.

–Assim como você, queridinha...-Sorriu Set. Semicerrei os olhos enquanto o corpo de Anúbis e de Hórus começavam a fumegar.

–Nos veremos em breve!-Prometeu Apófis acenando para mim.-Nos espere...

–E guarde bem seu corpo querida...Ainda não tive a minha vez.-Set sorriu mais uma vez antes de virar os olhos juntamente com Hórus. Os dois caíram no chão enquanto uma névoa branca subia do chão. Senti Nefertum segurando meu braço enquanto eu tentava me aproximar dos deuses caídos.

–Oque é aquilo?-Perguntou Kepri abanando o ar. Franzi a testa vendo algo surgir entre os corpos de Hórus e Anúbis. Aproximei-me cautelosamente enquanto a névoa sumia aos poucos.

–Mas oque...?-Começou Nefertum. Diante de mim havia um grande caixão decorado com várias pedras preciosas. O mesmo estava em pé e seu tamanho era um pouco maior que eu.

–Um sarcófago...-Murmurei. Nefertum assentiu.

–E tem um bilhete.-Falou apontando para um envelope branco preso no sarcófago. Eu o peguei abrindo rápido dando um sorriso de lado.

–Oque diz ai?-Questionou Rá.

–"Espero que tenha gostado do presente. Foi feito exatamente para você...Com as suas medidas, com o seu tamanho. Espero que possa usa-lo...Logo. Happy b-day, bitch."-Li.-É um presente de Kebechet...A vadia acordou.