PDV NATÁLIA.

Suspirei pesadamente empurrando com força as portas da sala do trono, adentrando o salão dos deuses cansada. Já faziam 10 minutos que eu havia acordado do efeito colateral e , assim que meus olhos se abriram, corri para cá. Felizmente eu não senti dor dessa vez, porém oque eu senti foi sufocante e eu não sabia nomear aquele sentimento horrível . Uma mescla de raiva e medo. Era assim que eu me sentia toda vez que voltada de um efeito colateral...Com medo. Afinal toda vez que aquela escuridão me engolia, sem me dar opções nenhuma de volta, eu não sabia quando ia poder acordar novamente. Não sabia o quanto aquilo iria durar e tinha medo de ficar novamente três meses em sono profundo.

–...Vamos lá Khonsu, aposto a alma de sua namorada que você não ganha de mim nessa partida de Senet!-Exclamou Kepri. A sala do trono estava cheia e todos , menos Rá que não estava presente, encaravam o deus do lua com curiosidade. Engoli em seco cruzando os braços na frente do peito inconformada por ninguém ter notado minha presença.

–Não, obrigada Kepri.-Rosnou Khonsu semicerrando os olhos ameaçador para o deus escaravelho. Rakel olhou confusa para o namorado.

–Do que ele está falando, Khonsu?-Perguntou a garota. Khonsu abriu a boca para responder porém eu o cortei.

–De nada, Rakel...Kepri não está falando de nada.-Grunhi. Kepri sorriu para mim enquanto eu o encarava com raiva.-Abra sua boca mais uma vez e eu te mato...-Ameacei. Quando vim pro Egito descobri que o passado de Khonsu não foi assim tão limpo. O deus parecia um tipo de "viciado em apostas" colocando tudo em jogo em suas partidas de Senet. Foi assim que a deusa Nut conseguiu os cinco dias dos demônios para dar a luz a seus filhos, foi assim que Khonsu levará a alma de Bes. Mas mesmo assim eu acreditava que o deus da lua havia mudado e não podia deixar de livra-lo da alma venenosa de Kepri.

–Natália...-Assustei-me saindo de meus devaneios quase caindo no chão. Hórus estava perto demais de mim juntamente com Nefertum que me encarava preocupado.-Como está?-Questionou. Respirei fundo estendendo meus braços para frente os examinando, contando cada dedo meu para ter certeza que nada estava errado.

–Acho que estou bem.-Murmurei.

–Tawaret!-Chamou Nefertum fazendo-me rodar os olhos. A deusa desceu de seu trono vindo até mim colocando a mão em minha testa.

–Hm...Sem febre. Ela está bem.-Garantiu. Nefertum sorriu satisfeito enquanto eu fitava Anúbis de soslaio. O deus me encarava sem um pingo de vergonha na cara, seu queixo estava rígido e sua aparência dava a entender que o mesmo se quer tinha dormido.

–Natália...Rá nos contou ontem sobre o efeito colateral.-Trinquei o maxilar enquanto Hórus pigarreava olhando Anúbis.-Eu e Anúbis sentimos muito por isso...Não sabíamos de nada por isso fomos tão duros.-Bufei.

–Você e Anúbis?-Perguntei.-Não vejo como Anúbis sente muito por isso.-O deus dos funerais virou-se lentamente em minha direção.

–Olhe... Me desculpe por ontem...Mesmo! Eu me arrependo, lhe tratei mal, não devia ter feito isso.-Balancei a cabeça negativamente.

–Vocês ensaiaram isso não foi...?

–Ta legal!-Cortou Nefertum olhando-me cético.-Não estrague seu dia!

–Meu dia?-Perguntei sem entender. Nefertum puxou-me fortemente para um abraço fazendo-me arfar com a força que o mesmo usou.

–Não acredito... É tão preocupada com sua vida que se esquece de seu próprio aniversário?!-Perguntou enquanto me tirava do chão ainda me abraçando. Arregalei os olhos levemente me lembrando que hoje eu fazia 20 anos.-Happy Birthday!

–Obrigada...-Murmurei correspondendo seu abraço apertado. Hórus sorriu de lado enquanto Rakel dava pulinhos excitados ao lado de Khonsu.

–Ah céus, não acredito que já se passaram tanto tempo. Ma Cherie hoje o dia vai bombar! Flores, champanhe, roupas escandalosas...Uh, até perco o fôlego.-Exclamou Nefertum animado piscando para Serket

–Então hoje teremos vinho e uma boa festa...Ah eu vou amar.-Exclamou Sekhmet espreguiçando-se ao lado de Bastet.

–Festa , queridinha? Não...Nefertum não faz uma festa. Nefertum faz a festa. Podem aproveitar para descansar amores que eu desejo que, pelo menos, esse aniversário dure até amanhã...!

–Nefertum...-Chamei.

–Comida....Precisa ter muita comida e musica! Claro, precisa ter musica!

–Nefertum!-Exclamei . O deus me encarou.-Olhe...Eu agradeço tudo mas não quero uma festa, sério... Não estou com animo para essas coisas.-Todos da sala encararam-me incrédulos.Meus aniversários nunca tiveram a fama de ser bons e além disso eu tinha motivos para desgostar da data. 5 anos atrás Mike morreu no dia do meu aniversário...Realmente não era algo para se comemorar.-Sério...Eu...

–Você terá uma festa.-Cortou a voz de Rá. O deus adentrou o salão ao lado de Osíris, Tot e Ísis olhando-me em cheio com seus olhos dourados.-Não é sempre que se faz 20 anos Natália... São duas décadas de vida e momentos assim não podem passar em branco.

–Mas senhor...

–E também....Não sabe quando terá a oportunidade de comemorar datas assim novamente.-Engoli em seco enquanto Nefertum sorria triunfante pra mim. Curvei-me para o deus do sol dando-me por vencida. Ele tinha razão...Não sabia o quando eu poderia me divertir com meus amigos novamente ou se conseguiria viver para mais um aniversário. Macabro? Pode até ser porém era a verdade.

–Sim senhor...-Murmurei. Rá sorriu juntando as mãos.

–Bom, temos muito oque fazer não é? Nefertum deixo Natália em suas mãos, use-a como quiser.-Fiz uma careta enquanto Nefertum se curvava com um sorriso radiante em direção a Rá.

–Pode deixar, senhor...Farei com que Natália se torne uma verdadeira princesa.-Semicerrei os olhos para o deus da beleza enquanto o mesmo pegava-me fortemente pelo braço.

–Ei...Oque...?-Antes que eu pudesse reclamar o mesmo tampou minha boca.

–Ele disse "use-a como quiser"-Arregalei os olhos enquanto Nefertum sorria para todos.-Bye!-E assim sumimos juntos em uma fumaça perfumada.

(...)

Eu olhava entediada Nefertum e Serket discutirem em minha frente. Eu não sabia porque calhas d'água a deusa escorpião estava aqui mais preferia não questionar nenhum dos dois nesse momento. Meus olhos passeavam pelo quarto de Nefertum fazendo-me inveja-lo por ter uma cama tão legal. Eu esperava que o castelo de Nefertum fosse toda rosa ou com algum toque altamente extravagante mas me surpreendi ao ver o quão elegante era o lugar em que ele morava. Seu quarto era grande e simples. Pelas paredes claras viam-se espelhos espalhados por todos os lados. No centro, m dossel se elevava da cama, coberta com tecido

transparentes, dando forma e sensualidade a quem deitava ali. Me senti uma estrela de cinema naquele lugar mas guardei esse pensamente para mim.

–Com licença...-Pedi erguendo a mão. Serket e Nefertum se viraram para mim.-Posso dar minha pequena opinião?-Os dois continuaram me encarando.-Peço-lhes que sejam os mais básicos comigo. Não me façam parecer um bicho pois, como eu disse antes, não estou com um pingo de vontade de comemorar minha data de nascimento.

–Duas taças de vinho e ela mudará totalmente de opinião.-Murmurou Nefertum virando-se para a deusa escorpião.

–Enfim! Ah...Vamos logo com isso!-Marchei sem paciência para a penteadeira de Nefertum enquanto os dois deus acompanhavam-me alegres. Sentei-me sentindo-me um brinquedo na mão deles.-Hm...Serket...Oque exatamente faz aqui?

–Acredite ou não, eu sei muito sobre a aparência das pessoas. Antigamente eu era responsável pelos embalçamentos e mumificações e não a ninguém nesse mundo que faça uma maquiagem para funeral melhor que eu.

–..."Para funeral"...-Observei temerosa. A deusa passou a linguá pelos lábios retirando um pouco do batom arroxeado que usava. A observei enquanto a mesma rondava-me como se fosse me dar um bote. Nefertum a acompanhou examinando-me.

–Hmm, algo sexy.– ele pegou uma mecha de meu cabelo enrolando-a no dedo – Sem nada no cabelo, vamos ousar em suas jóias. -Nefertum fechou os olhos apontando para mim.-Já sei exatamente oque fazer com você.

–Nef, está me dando medo.-Cantarolei. O mesmo abriu seus olhos sorrindo travesso.

–Hora de criar.-Cantarolou. Suspirei deixando-me ser levada pela animação daqueles dois deixando um pequeno sorriso aparecer em meu rosto. Deuses...Que essa festa não seja uma tragédia.

PDV HÓRUS.

Era impressionante oque se podia fazer em minutos com um pouco de magia. O salão dos deuses estava todo enfeito e parecia ter crescido alguns metros quadrados após alguns minutos que Natália se foi com Nefertum. Servos traziam bandejas e mais bandejas de comidas e bebidas posicionando-as em cima de uma grande mesa que havia aparecido no meio do salão. Os deuses caminhavam pro todos os lados conversando e comendo como uma típica festa. Algumas pessoas já chegavam fazendo eu me perguntar como Nefertum era tão rápido. Todos usavam trajes Egípcios e um grupo de garotos que eu não conhecia me chamou atenção, todos tiravam sarro um dos outros por causa das vestes. Me perguntei de onde Natália conhecia tantas pessoas mas resolvi deixar a pergunta pra mim. Afinal eu sentia que se eu ou Anúbis questionássemos Natália mas uma vez a garota nos trucidaria.

–Quem diria não é...?-Murmurou Khonsu aproximando-se de mim. Assenti pesadamente soltando um forte suspiro.-Sempre pensei que nunca mais voltaria aqui.

–Somos dois.-Grunhi olhando de soslaio todos os deuses daquele salão. Todos pareciam felizes, como se nada estivesse acontecendo. Como se horas atrás Natália não tivesse desmaiada , como se Kebechet nunca havia existido. Sr. Rá conversava animadamente com os outros deuses e até o mesmo parecia calmo.

–Olhe isso...-Grunhiu Khonsu. Segui o olhar do deus da lua dando de cara com Anúbis. O chacal era o único deus que não estava de pé festejando. Pelo contrário sua cara fazia parecer que o mesmo arrancaria um dedo para sair daquele lugar. Suas mãos estavam apertadas nos braços de seu trono e o cenho estava franzido preocupadamente. Khonsu bufou olhando-me.

–Vamos até lá?-Perguntou. Assenti pegando duas taças em cima da mesa , caminhando junto com o deus da lua até Anúbis.

–Beba.-Ordenei estendendo o taça para o chacal. Anúbis franziu a testa parecendo não ter gostado de ter sido tirado de seus devaneios; Mas mesmo assim pegou a taça de minha mão olhando dentro.

–Oque é isso?-Perguntou.

–Algo com álcool...Beba, vai te deixar melhor.-Falei. Anúbis me encarou por uns segundos antes de virar o copo em sua boca bebendo o conteúdo do copo de uma vez só. Encostei-me no trono do chacal sendo empurrado pelo mesmo quase instantaneamente.

–Não encoste no meu trono...-Grunhiu. Khonsu revirou os olhos cruzando os braços.

–Se anime..Logo Natália estará aqui.

–Acha que é fácil?!-Questionou Anúbis irritado.-Ela que matar minha filha!

–...Uma filha que você já havia esquecido faz tempo não é Anúbis?-Perguntou uma voz nova se aproximando. Anúbis rosnou enquanto eu e Khonsu virávamos em direção a voz vendo Kepri se aproximar cambaleante de nós. O deus sorriu aproximando-se de nós com uma garrafa de Whisky na mão.-Ora, garotos...Não a julguem dessa maneira. Afinal não foi Natália que começou essa luta...Sua filhinha querida que veio infernizar a garota Anúbis, creio que Rá já tenha lhe contado isso.

–Kepri, não se ofenda mas...Não queremos ver mais um de seus shows.-Grunhiu Khonsu irritado. Kepri bebeu um gole de sua garrafa sorrindo bobamente para o deus da lua.

–Porque está defendendo-a?-Questionou Anúbis. Kepri pareceu pensar.

–Não pensem que eu gosto de Natália está bem? Não suporto aquela garota tanto quanto vocês mas... Ela não passa de uma criança amaldiçoada que acha que após matar Kebechet sua vida vai voltar ao normal e que no final vai acabar morta sendo esquecida em questão de minutos por todos esses sangues-sugas aqui.-Kepri apontou para trás onde todos os deuses se encontravam.-Não é culpa dela ter uma vida tão...Infernal.

–Espera...De onde tirou que não suportamos Natália?-Perguntou Khonsu semicerrando os olhos. Kepri deu de ombros.

–É uma questão de tempo até isso acontecer...Me digam, acham mesmo que ela continua aquela doce menina que deixou vocês a três anos atrás?-O deus escaravelho sorriu de lado-Por favor...Eu sou a pureza perto de Natália Ramsés...Ela pode parecer uma menina meiga, sofrida pelo que o destino a reservou e cheia de cicatrizes causadas por seus inimigos mas pelo que ouvi da guerra passada o modo que a mesma arrancou o coração de Set não foi nada bonito de se ver.

–Não sabe do que está falando, Set queria mata-la!-Protestei começando a sentir raiva de Kepri.

–Caros amigos, todos querem!-Kepri sorriu maleficamente aproximando-se mais de nós dois. O cheiro de álcool que exalava do deus me fez querer prender a respiração.-Entendam rapazes...Todos aqui dariam um braço para ver a cabeça daquela garota rolando, inclusive eu é claro. Natália não é amaldiçoada, ela é uma maldição.

–Do que está falando?-Perguntei.

–Acha que todos aqui gostam dela?-Perguntou Kepri apontando com a garrafa novamente para o salão cheio de deuses-Por favor...Eles não passam de uns hipócritas! Fingem gostar de Natália apenas para agradar a Rá! Mas , sem sombra de duvidas, seriam os primeiros a traí-la caso o deus do sol a deixasse.-Semicerrei os olhos.

–Inclusive você...-Grunhiu Khonsu. Kepri assentiu.

–E ele também.-Falou apontando dessa vez para Anúbis. O chacal ergueu as sobrancelhas surpreso enquanto Kepri ficava sério.-Diga-me Anúbis...Desde que soube que Natália está destinada a matar sua filha não sentiu nem uma vezinha ódio da garota? -Encarei Anúbis enquanto o Chacal olhava com raiva para o deus- Nunca sentiu vontade de mata-la de uma vez para salvar Keb? Sabe que uma delas terá que morrer não é? Não poderá salvar nenhuma...

–Cale-se!-Gritou Anúbis. Kepri riu enquanto Nefertum chegava apressado. O deus nos olhou desconfiado trincando o maxilar irritado.

–Escute vocês...Se estragarem essa festa nem que seja por um segundo eu os mato!-Exclamou.- Natália chegou...Abram um sorriso e finjam se importar!

–Ahm, Nefertum...Não seja tão malvado! Só estamos conversando!-Exclamou Kepri manhoso.

–Eu sei oque estava fazendo Kepri...-Rosnou. O deus escaravalho levantou as mãos para cima em um gesto de rendição.

–OK,OK...Sei quando não me querem.-Falou sorridente. O deus virou-se de costas mas antes de se afastar pareceu lembrar de algo.-Ah, mas antes...-Ele apontou para Anúbis.-Lembre-se de quem é o verdadeiro inimigo.-Kepri sorriu saindo de perto de nós enquanto Nefertum revirava os olhos nervoso.

–Eu poderia mata-lo apenas para fazer um tapete...-Grunhiu. O deus saiu de perto respirando fundo antes de abrir um sorriso. Anúbis bagunçou o cabelo enquanto Khonsu colocava a mão no ombro do deus chacal.

–Se acalme, não ouça Kepri.-Aconselhou o deus da lua. Respirei fundo pronto para falar algo para Anúbis porem fui cortado quando Natália adentrou o salão. Franzi a testa sentindo um sentimento estranho, e a tempos não sentido, palpitar em meu peito. Natália sorria como a anos eu não a via sorrir, sua roupa fez meu corpo se aquecer e de longe pude sentir o perfume que a mesma usava. Khonsu a encarava surpreso enquanto Anúbis parecia ter levado uma flechada...Céus...Essa garota.

–FELIZ ANIVERSÁRIO!-Gritou Rakel encontrando Natália. As duas riram se abraçando como se voltassem a ter 15 anos de idade. Rakel a girou fazendo a saia com fendas esvoaçarem deixando de fora as fortes e torneadas pernas de Natália. A loira puxou a menina em nossa direção fazendo Anúbis gemer.

–Essa não...-Gemeu o Chacal. As duas chegaram em nós de mão dadas. Khonsu foi o único a sorrir abraçando fortemente Natália.

–Parabéns querida...-Murmurou Khonsu contra seu cabelo.A menina sorriu separando-se do deus. Seu sorriso se apagou assim que seus olhos bateram com os de Anúbis.

–Eu...-Começou mas Nefertum a cortou.

–Um minuto de atenção de todos!-Exclamou o deus sorrindo como se ele fosse o aniversariante.-Estou muito feliz de estar participando desse momento na vida de Natália Ramsés! E posso dizer que essa garota foi a única mulher que conseguiu roubar meu coração.-Natália deu linguá para o deus enquanto todos riam.-Então...Como não pode faltar em um aniversário, principalmente nesse aniversário, precisamos de um bolo não é?-Nefertum bateu palmas.-Que entre o bolo, por favor!-As portas da sala do trono se abriram e Rick , Stella e Sibuna entraram. Stella trazia um bolo em suas mãos com velinhas simbolizando o numero "20". Natália ofegou colocando a mão sobre a boca.

–Mamãe!-Exclamou. Stella riu com os olhos marejados. Sibuna olhou tudo confuso agarrando-se a perna da mãe enquanto a mesma entregava o bolo a Rick recebendo um forte abraço da filha.

–Natália...Meu amor...A céus...

–Mãe...Desculpe por sumir eu...

–Não fale nada ou eu te bato aqui mesmo garota!-Stella riu soltando-se da filha examinando seu rosto com carinho.-Deuses...Está tão linda, tão crescida!

–Mamãe!-Sibuna olhou feio para a mãe voltando-se para Natália enciumado. A garota arregalou os olhos e foi a sua vez de ficar perplexa.

–Sibuna?-Perguntou baixo. O garoto fez que sim com a cabeça.-Você...Cresceu.-Murmurou Natália.

–Acha oque bonzona? Só você pode mudar drasticamente aqui?-Perguntou Rakel. Natália sorriu abertamente abaixando-se até ficar na altura do irmão que a encarou confuso.

–...Lembra de mim?-Sibuna assentiu fazendo Natália sorrir mais ainda. O mesmo pareceu pensar retribuindo o sorriso da irmã pulando no pescoço da garota. Natália riu abraçando fortemente o pequeno. Nefertum se aproximou da família recebendo um olhar do mal de Natália.

–Porque não me falou que eles vinham?

–Porque ai não seria uma surpresa, dã!-Rebateu o deus da beleza. Natália revirou os olhos levantando-se com Sibuna no colo dando um beijo na bochecha de Nefertum.

–Obrigada...-Sorriu.

–Desculpem atrapalhar esse momento mas...Eu preciso de uma bebida e vocês estão no caminho-Cortou Kepri. Natália e Nefertum olharam maleficamente para o deus que apenas empurrou os dois indo até a mesa.

–Deuses...Vamos.-Grunhiu Anúbis levantando-se de seu trono.

–Onde?-Questionei.

–Acho que eu também necessito de uma bebida.-Falou Anúbis puxando-me juntamente com Khonsu para longe de Natália.

(...)

Eu não aguentava mais aquele lugar. A horas eu estava sozinho naquela festa já que ,Anúbis de alguma maneira, tinha conseguido escapar de Nefertum e havia ido embora e Khonsu dançava devagar com Rakel no meio do salão me deixando completamente sozinho em meu trono. Não havia nenhum sinal de Nefertum e Natália no local então vi uma deixa para minha saída. Levantei-me caminhando rápido para fora do salão saindo do duat . Meus pés afundaram nas areias do Egito a beira do rio nilo. A noite calma e serena tinha o céu azul escuro estrelado magnificamente que me fez perder o ar.

–É lindo não é?-Me sobressaltei virando-me para trás vendo Natália sorridente atrás de mim. A menina andou cambaleante até mim olhando para cima soltando um forte suspiro.-Da vontade de beijar Nut desse jeito.-Franzi a testa estranhando.

–Você...Está bem?-Perguntei. A garota virou-se para mim apertando minhas bochechas.

–Estou!-Garantiu. Suas bochechas estavam rosadas e pude ver na hora qual era o problema dela.

–Você bebeu?-Questionei. Natália fez bico juntando o dedo polegar com o indicador.

–Só...Um pouquinho.-Murmurou. Revirei os olhos olhando-a cansado.

–Desde quando bebe?

–Nefertum me levou para o meu caminho.-Respondeu sorrindo. A mesma cambaleou para o lado quase caindo, sorrindo logo depois.

–Céus...Exatamente, oque você bebeu?-Perguntei. A mesma virou-se de frente para mim contando nos dedos.

–Vodka, Whisky, um negócio quente chamado conhaque...Ah, e suco!-Exclamou.-Três copos.

–Claro, obvio que foi o suco.-Murmurei irônico. Droga...Lá se vai minha chance de ir embora.-Vamos...Precisa dormir.-Murmurei pegando-a pelo braço porem a mesma se soltou.

–Não quero dormir! Está tudo tãão bom!

–Sim, tudo está uma maravilha...Agora vamos!-Falei sarcástico. Natália cambaleou mais uma vez agarrando-se em mim para não cair. Seu hálito quente bateu contra minha pele enquanto a mesma segurava-se em meu pescoço.-Hã...Natália. Onde está Nefertum?!-Questionei urgente.

–Não faço a menor ideia...Ele disse que ia pegar mais bebidas mas acho que ele fugiu.-Natália começou a fungar.-Ah...Mas porque estou tão quente?!

–Ah, garota....Vamos precisamos ir!-Exclamei tentando tira-la de meu pescoço.

–Ei, Hórus!-Reclamou manhosa mas logo depois sorriu.-Você é muito legal, Hórus!

–Não diga isso, ira se arrepender quando estiver sóbria..-Gemi.

–Você é o único que continua do meu lado não é Hórus?-Perguntou Natália. Sua boca aproximou-se de meu rosto.-Nunca vai me trair não é?

–Eu...Nunca vou te trair...-Sussurrei.-Céus...Oque está fazendo? Se disser mais uma palavra eu te deixou e vou embora!-Ameacei. Natália negou com a cabeça.

–Eu gosto muito de você, Hórus...Mas apesar de tudo também gosto muito dele...Essa é verdade.-Murmurou.

–Natália...

–Shiii!-A mesma tampou minha boca com a mão não me permitindo falar.-Apenas me escute.-Murmurou. Seus lábios comprimiram minha boca deixando-me estático. Meu coração acelerou tanto que pensei que o mesmo iria sair de meu peito e não pude deixar de corresponder seu beijo. Sua boca realmente estava com gosto de suco mas a saudade daqueles lábios não me deixou prestar atenção em mais nada. Eu apenas queria beija-la sem ter um final. Não queria mas solta-la e muito menos deixa-la ir embora novamente. Naquele momento eu não pensava em nada, apenas tinha uma certeza: Eu ainda era apaixonada por Natália Ramsés.