PDV NATÁLIA.

Senti meu peito dar um pequeno solavanco assim que as vidraças atrás de mim explodiram. Vi minha tatuagem começar a brilhar escondendo-a rápido no bolço da blusa. Deuses...Não.Não agora...

–Natália, Minha little bitch! Ia começar as apresentações sem mim?-Perguntou Kebechet. Todos da sala arregalaram os olhos, arfando incrédulos. Encarei a deusa em minha frente praguejando mentalmente.

–Quem é ela?-Perguntou Rakel mas ninguém respondeu a garota. Dei um passo a frente sentindo meu corpo começar a tremer. Era assim que eu ficava quando me colocavam perto de Kebechet. Era como se o poder de Rá dentro de mim reconhecesse o inimigo lutando contra mim para sair e acabar com ela. Mas eu não podia...Tinha que me controlar o máximo ou eu estaria completamente ferrada.

–Chegou mais cedo dessa vez , Keb.-Rosnei tentando me manter relaxada. A deusa riu ficando frente e frente comigo. Lembrei de Anúbis olhando temerosa para o deus chacal. Um arrepiou passou pelo meu corpo ao olhar para ele e depois para Kebechet , a semelhanças entre eles eram impressionante, os olhos, os cabelos...Até mesmo o jeito debochado de sorrir, tudo era exatamente igual..

–Kebechet?-Perguntou Anúbis baixo. O sorriso da garota vacilou tornando-se cruel em um piscar de olhos. Vi o ódio puro surgir em seu sorriso e sua expressão pareceu quebrar todos os ossos de Anúbis; seu sorriso irônico parecia faze-lo lembrar do passado obscuro que voltava aos poucos na vida daqueles dois. Pai e filha. Fruto do relacionamento dele com Input.

–Surpresa...Papai.-Kebechet riu sem humor fazendo Anúbis empalidecer tanto que pensei que todo seu sangue havia deixado seu corpo. Hórus olhou pra mim temeroso enquanto meu corpo tremia novamente. Trinquei os dentes retirando minha mão do meu bolço deixando cada gota do poder de Rá correr livremente por meu corpo.

–Kebechet...Já chega!-Kebechet gargalhou dando alguns passos a frente parecendo esquecer de Anúbis. O deus dos funerais cambaleou olhando assustado para a filha,parecendo ainda não acreditar que ela estava mesmo ali.

–Doce Natália... Nunca cansa de diversão não é mesmo?.-Uma pressão se formou no ar e meu corpo pareceu ficar em chamas. Alguns deuses recuaram alguns passos e Rakel agarrou-se a Khonsu confusa. Uma névoa dourada envolveu meu corpo protetoramente se espalhando por toda a sala. E , como aconteceu no Egito, meus trajes começaram a mudar. Minha blusa fio substituída por um top de linho, e um colar pesado ao belo e extravagante estilo Egípcio; Eu também usava uma especie de saiote com alguns fios de ouro entrelaçados em minha cintura.

–Ótimo...-Resmunguei. Olhando para meu próprio corpo. Ouvi uma risada sonora virando-me para Kebechet. No meio da minha fumaceira dourada outra negra invadiu a sala. E quando percebi Kebechet também havia mudado.Suas roupas eram idênticas a minhas tirando seus olhos.-Mas oque...?!-Os olhos da deusa haviam mudado de forma, deixando para trás a cor castanha de antes. Seu olho direito exalava uma luz verde e sua pupila se resumia em uma fenda que se parecia muito com o olho de uma cobra e o esquerdo era totalmente vermelho. Aqueles se pareciam, não, eram os olhos de Apófis e Set!

–Surpresa!.-Murmurou Kebechet sorrindo confiante. Rosnei começando a correndo em sua direção. Kebchet não demorou muito também e nós duas nos encontramos juntas no meio do salão. Senti algo pesar em minha mão e só pude ver oque era quando parei um dos ataques de Kebechet. Eu segurava duas adagas um tanto que estranhas. No lugar da lamina havia três pontas, como um garfo, uma adaga Sai.

–Cada vez fica mais divertido não é?!-Perguntou Kebechet dando mais uma risada. Tentei corta-la passando as pontas de minhas adagas a centímetros de seu rosto mas, como sempre,a mesma desviou com precisão.

–Divertido vai ser mata-la sua vadia-Rosnei batendo minhas adagas com as delas Kebechet gemeu em zombaria empurrando-me forte fazendo-me cambalear.

–Faça-as parar!-Exclamou Rakel.

–Como faço isso sem morrer?-Protestou Khonsu. Olhei nervosa para os dois fazendo-os arregalar os olhos. Senti algo cravando-se em meu braço machucado arfando de dor. Kebechet riu ao ver sangue escorrer de sua adaga.

–Maldita...-Grunhi.

–Oque docinho?! Não se distraia com seus amigos, está lutando comigo!-Fui pra cima dela ignorando a forte dor em meu braço. Consegui cortar seu rosto oque fez Kebechet urrar de raiva tentando me esfaquear novamente.

–Natália!-Gritou meu pai assustado. Trinquei o maxilar ignorando-o. Chutei a mão de Kebechet que deixou sua adaga cair.

–Vadia!-Exclamou Kebechet.

–Vá para o inferno.-Rosnei jogando minha adaga em direção a Keb. Porem antes da arma atingir a deusa um rosnado ecoou por todo o salão e uma criatura negra pulou por cima de todos conseguindo parar a adaga antes que a mesma atingisse Kebechet. Anúbis estava transformado em chacal fazendo-me arregalar os olhos.

–Anúbis...Oque...?-Antes de eu conseguir terminar o deus me deu uma patada jogando-me fortemente contra a parede. Senti meu corpo latejar assim que cai no chão erguendo minha cabeça incrédula. Anúbis virou-se para Kebechet arreganhando os dentes ameaçadoramente.

–Oque? Vai me matar?- Perguntou a garota em tom de zombaria.-Isso seria fácil pra você não é chacal?-Anúbis rosnou para Keb colocando as orelhas para trás. -Acha que eu não sei não é? Acha que eu não sei que você traiu minha mãe com essa garota?!

–Anúbis não tem mais nada com a sua mãe Kebechet.-Rebateu Osíris.

–Não se meta!-Gritou a garota para meu tio. Semicerrei os olhos.

–Como se atreve a falar assim...?-Começou Ísis mas Kebechet a cortou sem nem se importar com a deusa da magia.

–...Ele traiu a minha mãe!-Gritou Kebechet.

–Sua mãe é uma vagabunda, Keb.-Resmunguei. A deusa se virou furiosa em minha direção.

–Você...Isso não acabou!

–Acha que eu quero que acabe?-Provoquei sentindo um filete de sangue descer .-Da próxima vez eu é que te acho sua vadia.-Rosnei. Kebechet riu.

–Então, esperarei ansiosamente.-A deusa sumiu em uma nevoa negra deixando tudo em silêncio. Gemi baixo escorando-me na parede tentando me levantar. Minha tatuagem parou de brilhar e a névoa dourada espalhada por todo o salão foi retornando aos poucos para mim. Senti um forte aperto no coração e meus ossos fraquejando...Merda!

–Ah...-Arfei colocando minha mão sobre o peito. Meu coração estava se acelerando fortemente.-Droga...-Senti a presença de alguém perto de mim.-Me ajude por...-Antes que eu pudesse terminar fui puxada com força para cima. Senti minha cabeça rodar focando os olhos no rosto alucinado de Anúbis.

–Oque foi isso?! Oque significa isso?!-Perguntou aproximando-se perigosamente de mim.

–Anúbis...Está me machucando!-Protestei vendo-o apertar meu pulso fortemente.

–Me responda!-Berrou o deus. Gemi empurrando-o para longe de mim com força.

–Me solte! Acha que pode falar assim comigo?! A culpa é toda sua!-Rosnei irritada.

–Oque?!

–Sim, é isso mesmo! A culpa é toda sua! Se não tivesse mentido para mim, se tivesse me contado tudo,eu não estaria com tantos problemas! A cinco anos sua mulher maluca quase me matou por que?! Porque nunca me contou que tinha uma mulher! E agora...Minha última deusa é sua filha! Uma filha que eu nem sabia que existia!-Gritei. Anúbis piscou perplexo olhando-me confuso.

–Eu...Eu menti para proteger você...-Rakel pigarreou.-Vocês...-Acrescentou.

–Proteger?!-Questionei incrédula.-Se você soubesse o quanto sua proteção me faz mal você não faria mais!-Rebati.Senti mãos quentes tocarem minhas costas.

–Natália, querida, temo que essa não é a hora nem o lugar para isso...-Falou Tio Osíris.

–Não, não! Ele precisa ouvir...Precisa...-Fui cortada por um crise de tosse que me atingiu.Tio Osíris franziu a testa enquanto eu colocava a mão na boca.

–Natália?-Perguntou Hórus vindo até mim. Levantei minha mão livre pra ele fazendo-o parar.

–Eu...estou bem.-Tirei minha mão da frente da boca vendo gotas de sangue respingadas na mesma. Grunhi nervosa limpando-a na calça. Me recompus lançando um olhar ainda irritada a Anúbis.-Não tenho tempo pra isso...Precisamos ir.

–Ir pra onde?!-Perguntou meu pai.

–Pro Egito.-Respondi-Céus...Alguém tem horas?!

–São...23:58, mas porque...-Cortei Khonsu antes dele terminar apoiando-me em Hórus para não cair. Anúbis continuou parado, perplexo, no local em que eu o deixei. O olhar do deus estava perdido no meio do salão mas eu nem me preocupei como estava o emocional do deus, afinal...Ele certamente era meio culpado de tudo isso.

–Venham, é um momento auspicioso.-Exclamei fechando os olhos. Tentando me concentrar no salão dos deuses do Egito. Todos se entre olharam vindo até mim. Osíris amparou Anúbis que parecia estar em estado de choque colocando as mãos em meus ombros.

–Desde quando espera momentos auspiciosos para abrir portais?!-Questionou Hórus colocando meu braço em seus ombros ajudando-me a ficar de pé.

–Desde quando virei uma parte de Rá.-Respondi e isso foi o suficiente para cala-lo. Ouvi o celular de Khonsu apitar avisando que já era meia noite e então fomos sugados.

–Mas que...-Rakel se calou assim que fomos cuspidos na frente do salão dos deuses. A garota encarou chocada a enorme porta de ouro em sua frente parecendo hipnotizada pelos diamantes cravados nela. Me soltei de Hórus caminhando devagar até a porta apertei as maçanetas fechando os olhos por um minuto.

–E cá estamos....-Falei antes de deixa-los entrar no meu novo mundo.