Os Seguidores De Anúbis 3. escrita por Nath Di Angelo


Capítulo 2
Kebechet de Anúbis.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/507752/chapter/2

PDV ANÚBIS.

Suspirei pesadamente, rodando o colar de Natália entre meus dedos, encarando-o incerto.
— Rakel, está sendo muito ridícula! - Exclamou Hórus, batendo as mãos no balcão da cozinha da casa de Rick Ramsés.
Minha seguidora estava na cozinha, ajudando Stella a cozinhar algo que ainda não sabíamos o que era. Apenas eu, Hórus e Rakel estávamos na casa. Rick e Stella foram as compras deixando-nos sozinhos aqui.
Hórus sorria de lado parecendo se divertir irritando Rakel que olhava com raiva para o deus. Já eu não estava fazendo nada útil. Estava sentado na sala, deixando meus pensamentos se perderem. O colar com meu símbolo que pertencia a Natália estava em minhas mãos. Nunca pensei que eu pudesse sentir tanta falta de uma mortal, mas depois de entrar nessa casa percebi que ela fazia falta sim, e muita. O número de fotografias de Natália haviam dobrado de quantidade desde sua ida, trazendo-me tantas lembranças que me faziam sufocar. Stella disse que era um jeito de deixar a filha perto dela e matar a saudade, mas para mim aquelas fotos só ajudavam a aumentar minha angústia.
Um bilhete, seu colar e ela se foi novamente. Era tão típico dela mas ainda assim tão estranho. Era como se Natália nunca tivesse existido. Seu poder espiritual não era sentido a muito tempo, não havia mais nenhum sinal dela e a três anos era assim.
Eu tentei procurá-la quando acordei no dia seguinte da guerra contra Set e vi que ela não havia cumprido sua promessa de estar lá quando amanhecesse. Todos ficaram confusos com as breves desculpas e justificativas que ela havia deixado, mas depois de alguns dias veio a segunda carta. Nela Natália pedia mais desculpas e falou que estava bem. Disse que não podia contar muitas coisas e prometeu escrever novamente. Foram mais quatro cartas depois disso, e então, do nada, ela parou de enviá-las e desde então não sabemos nada sobre Natália Ramsés.
— Já avisei, se não calar a boca eu te chuto daqui. - Ameaçou Rakel, olhando de lado para Hórus que gemeu, passando a mão pelos cabelos recém cortados.
Bufei guardando o colar de Natália em meu bolço e levantando-me do sofá. Caminhei até onde o deus da guerra estava, vendo-o teimar mais uma vez com Rakel.
— … ano passado foi a mesma coisa, tivemos que ficar comendo bolo de aniversário uma semana! - Reclamou Hórus.
— Mas já é uma tradição! Fazer um bolo, cantar parabéns e celebrar! É nosso rito familiar! Todo mundo tem um!
Franzi a testa.
— Espera… bolo? - Perguntei.
Rakel revirou os olhos, enquanto Hórus se virava para mim.
— Rakel está fazendo um bolo de aniversário. - Falou Hórus, irônico. - Para ela.
— Ela? - Questionei.
Hórus olhou-me cansado.
— Para Natália. - Falou.
Arregalei os olhos levemente, puxando meu celular do bolso e olhando a data de hoje no visor. Amanhã era aniversário de Natália.
— Natália está fazendo outro aniversário? Já? - Perguntei baixo.
Rakel fez um bico manhoso, olhando-me irritadiça.
— É um evento anual, se não se lembra. Inclusive o meu aniversário foi a três meses. Obrigada por lembrar!
Eu comprimi os lábios, me sentindo um idiota.
— Rakel, eu sinto muito! É só… sabe como estou correndo por causa desses problemas todos!
— Tá! - Murmurou a garota. - Está tudo bem.
Tradução: Não está tudo bem.
— Olhe, eu juro que amanhã mesmo compro qualquer coisa que você quiser. Sério!
A menina não respondeu, continuando suas tarefas na cozinha dos Ramsés.
— Enfim, continuando: Bote isso na sua cabeça, Natália não vai vir! - Falou Hórus. - Não perca seu tempo!
— É o aniversário dela, e eu sei que ela pode não vir, mas a amamos e queremos fazer! É bom para a Stella, ela se sente mais perto da filha, seu insensível! - Rebateu Rakel. - Fazem três anos já! Não é possível que ela não dê pelo menos um sinal de vida!
— Rakel, Parece que você não a conhece, Natália sempre foi uma egoísta sem coração, nunca pensou em ninguém e não vai ser agora que ela vai pensar! Ela está com Rá. Tenho certeza que ele a mima por ser sua escolhida. Acho que ela nem lembra de nós!- Disse Horús.
— Ah, por favor! Não acredito que falou isso! Diga que não está a difamando desse jeito apenas por seu ego estar ferido por Natália não ter te se despedido de você!
— Não, estou falando isso porque...
— Já chega vocês dois. - Cortei Hórus. - Estão parecendo duas crianças! - Resmunguei.
Aquela era uma outra verdade que ainda não engoli. O fato de Natália ter lutado praticamente sozinha naquela guerra ainda me deixava irritado. Toda vez que lembrava da guerra contra Set eu me sentia um completo inútil e tenho certeza que Hórus também se sentia assim. Eu não pude fazer nada. Não pude ajudar Natália, não pude salvar meu pai, deixei Vylu - minha seguidora mais jovem- se matar, e sequer pude impedir minha mãe de se descontrolar e perder seu Bá. Hórus, ao contrário de mim, havia lutado e se ferido. Não estava acordado quando Natália falou conosco pela última vez, e tinha ficado extremamente ofendido e magoado quando viu que a Ramsés havia ido embora.
— Anúbis? - Questionou Rakel, tirando do-me de meus devaneios.
Levantei a cabeça percebendo pela expressão da garota que ela já me chamava fazia tempo.
— O que?- Indagueu.
— Onde está com a cabeça, Chacal? - Perguntou Hórus.
— Eu estava pensando em… tudo. - Falei, achando melhor não mencionar o nome de Natália ou de Néftis.
Nesses três anos que se passaram citar o nome da minha mãe em qualquer lugar desencadeava uma enorme discussão. Para todos Néftis era uma traidora e ninguém se esforçou nem um pouco para encontrá-la. Eu e Osíris éramos os únicos a discordar disso e até tentamos algumas vezes encontrá-la, mas achamos melhor parar, pois isso quase fez uma nova guerra acontecer, dessa vez comandada por Ísis. A deusa da magia parecia ter recobrado sua sanidade desde a última guerra o que me pareceu bom pois se Ísis continuasse louca como antes já haveríamos nos matado. De alguma maneira todos os deuses se distanciaram, alguns até brigaram entre si. Desde o desaparecimento de minha mãe, alguns deuses pararam de se comunicar, como Geb e Nut. A tempos não tínhamos uma reunião decente e nunca mais iniciados vieram da casa da vida. Esse era mais um dos mistérios que rondavam o duat desde que Natália e Rá se foram. Amós trancou as portas sem mais nem menos, impedindo a entrada de qualquer deus ou qualquer outra pessoa aqui de fora na casa da vida. Ninguém sabia o que realmente acontecia naquele lugar. Uns diziam que Amós fazia um exército e outros que ele apenas estava tentando proteger suas crianças, mas nenhum de nós, deuses, estávamos felizes com os fechamentos das portas do vigésimo primeiro nomo.
— Ah, céus, desculpem deixá-los esperando, o mercado está um caos! - Exclamou Stella, adentrando a cozinha com um monte de sacolas nas mãos.
Hórus revirou os olhos mais uma vez, olhando incrédulo para a mulher.
— Ah não, Stella, você também acredita que Natália vai voltar? - Perguntou Hórus.
Stella lançou um olhar repreensivo ao deus.
— Não estou fazendo isso por que acho que ela vai voltar, Hórus. Estou fazendo porque é aniversário da minha filha e mesmo que ela demore 10 anos para voltar eu farei isso todos os anos. - Argumentou a mulher.
Eu engoli em seco sentindo o peso das palavras de Stella. 10 anos? Céus, isso seria tempo demais.
— Mamãe! você esqueceu isso no carro! - Exclamou uma voz infantil.
Senti algo me empurrando e vi Sibuna surgir por debaixo de minhas pernas segurando com uma certa dificuldade duas sacolas.
— Sibuna? - Perguntei, olhando pra baixo.
O garotinho de quase 5 anos riu, piscando os grandes olhos verdes.
— Oi, tio Anúbis! - Exclamou feliz, entregando as sacolas para a mãe e correndo para o sofá logo depois.
O segui com o olhar não deixando de sorrir. Sibuna se parecia muito com Natália e a semelhança eram impressionante. O tom da pele, a cor dos olhos e dos cabelos, tudo era muito parecido com o da garota, até mesmo suas personalidades.
— Isso é que é um homem prestativo, veja e aprenda com a criança, Hórus. - Falou Rakel irônica.
Sibuna sorriu para Rakel do sofá, olhando Hórus de um jeito superior. Os dois começaram a se fulminar fazendo Rakel revirar os olhos.
— Meus deuses, quem é o mais velho em idade mental?
— Cale a boca.
— Céus, passou tanto tempo! - Suspirou Stella, soltando um gemido carinhoso. Ela segurava duas velas na mão que juntas formavam o número 21, a idade que Natália completava amanhã.
A mulher sorriu acariciando uma das fotos da filha.
— Ela deve estar tão bonita… tão… crescida.
— Eu não acredito que aquela garota já está fazendo 21 anos. - Grunhiu Rakel.
— Rakel, você tem 21. - Falei obvio.
— É, mas eu sou mais madura. Nunca fugi de casa sem me despedir. - Argumentou. - Na verdade, eu nunca fugi de casa!
— E depois dessa desfeita vocês ainda querem que ela volte? - Perguntou Hórus em tom de zombaria recebendo um olhar cortante de Stella.
— Ela teve seus motivos!
— Deuses, cale a boca, Hórus! - Pediu Rakel.
— Deuses, cale a boca, Hórus. - Repetiu Sibuna, recebendo um olhar mal-humorado do deus da guerra.
Rick adentrou a casa, arrastando-se. Ele estava com a cara fechada, parecendo adorar a ideia da festa para filha tanto quando Hórus.
— Por que querem transformar um aniversário em um memorial triste? - Perguntou, olhando para os ingredientes em cima do balcão.
— Não é um memorial triste! É uma comemoração pelo dia que dei a luz a minha primeira filha, e ao aniversário dela! - Respondeu Stella, mal olhando para o marido.
— Certo, façam o que quiserem. Eu vou pedir uma pizza. - Suspirou Rick, recebendo um tapa da esposa, que saiu da cozinha logo depois.
— Pelos deuses, por que são tão desacreditados?! - Perguntou Rakel.
— Não somos desacreditados, Rakel. Entenda, quando Natália fez algo como nós queríamos? Quando ela obedeceu as datas? Talvez um dia ela volte mas não vai ser quando tivermos a esperando, vai ser de repente, de surpresa. Acredite, eu conheço minha filha. - Disse Rick.
— Mas foi exatamente isso que eu tentei explicar pra vocês! - Protestou Hórus. - Viu? Agora somos três a zero, loira!
Rakel fez um biquinho, virando o rosto como se não quisesse ouvir. A garota largou as panelas indo até seu celular no balcão.
— Não me ponha nessa, Hórus. - Pedi.
— Por que não, irmão? Ou você realmente acha que Natália está voltando?!
— Bom… ela falou comigo antes de partir. - Respondi.
Hórus fez uma careta.
— Wow… - Gemeu Rakel.
Me virei para ela, vendo-a olhar a tela de seu celular parecendo temerosa.
— O que foi? - Perguntei.
A garota entregou-me o celular, com uma mensagem de Khonsu.
"Rakel, venha agora para o salão dos deuses. Traga Hórus, Anúbis e Rick… É URGENTE!"
Eu Semicerrei os olhos, entregando o celular a Hórus. O deus da guerra franziu o cenho.
— O que tem de tão importante? - Perguntou.
Rakel bateu no balcão da cozinha, olhando para nós dois com um sorriso.
— Não é óbvio?! Eu estava certa! - Exclamou a menina.
Hórus engoliu em seco.
— Rick, venha aqui! - Exclamou alto.
Rick encarou o deus com uma sobrancelha arqueada, saindo do sofá onde estava brincando com Sibuna.
— Aconteceu alguma coisa? - Questionou
— Estão convocando uma reunião de emergência e mandaram você vir com a gente. - Disse Hórus.
Rick piscou algumas vezes.
— Acha que tem alguma coisa a ver com ela?!
— Sim. - Falou Rakel.
— Não! - Insistiu Hórus. - Não tem nada a ver com a Natália!
Rakel me encarou, murmurando "O que há com ele?!" sem som.
Neguei com a cabeça, dando de ombros.
— Só vamos saber do que se trata essa reunião se irmos para ela. - Falei.
Rick assentiu, virando-se para Sibuna.
— Lucca avise sua mãe que a gente precisou sair com urgência. Não demoramos, OK?
Sibuna encarou o pai por alguns segundos, assentindo logo depois. Sei que parecia estranho deixarmos essa responsabilidade para uma criança de 5 anos, mas Sibuna era diferente. O garotinho era um iniciado, sabia viver com o perigo e com as responsabilidades desde que nasceu. Com certeza daria o recado corretamente para sua mãe.
Hórus abriu um portal para o duat. Adentramos-o, dando de cara com a sala dos deuses.Todos viraram-se para nós. Tot que andava de um lado para outro, parou, nos olhando aliviado.
— … Eles já vão chegar, Tot se acalme! E, ah… finalmente! Onde estavam?! - Perguntou Ísis assim que nos viu. Khonsu caminhou até nós, abraçando Rakel. O deus estava estranhamente corado, parecendo bem feliz.
— O que houve? Pra quê a urgência? - Perguntou Hórus.
Osíris ergueu-se de seu trono e pude ver no rosto de meu pai que as coisas não iam bem. Uma ruga de preocupação se formava entre as sobrancelhas do deus dos mortos.
— Por que está com essa cara, pai? - Perguntei.
Hórus também virou-se para Osíris.
— Tivemos notícias de Rá. - Revelou o deus.- E recebemos informações sobre nossa real situação, que não é nada boa.
— O que quer dizer isso? - Indagou Horús.
— É uma história complicada. Basicamente nos passaram que Rá está no Egito e que o terceiro deus foi encontrado. - Revelou Bastet, pulando de seu trono com os braços cruzados, lançando um olhar estranho para mim.
Arregalei os olhos.
— Terceiro deus? - Perguntou Rakel.
— O terceiro deus da profecia de Natália. - Falou Tot.
— Tot acabou de lançar mais uma profecia enquanto estavam vindo para cá…
— Outra?! - Perguntou Rakel incrédula. - Mas o que…
— Espera! - Cortou Hórus. - Como descobriram tudo isso? Onde está Rá?!
— Rá não pode sair do Egito. Ele está ocupado e por isso me mandou… - Explicou uma voz familiar.
Meu coração deu um solavanco, fazendo-me virar com tudo para trás. Por um momento senti a frustração me atingir pensando que não era ela, mas após alguns segundos tive a certeza que se tratava de Natália.
— Não pode ser… - Hórus arregalou os olhos e puder ver o deus perder a cor dos lábios.
Natália nos encarava com as mãos na cintura a uma certa distância. A garota tinha um sorriso feliz no rosto.
— Oi pessoal.
A olhei de cima abaixo me questionando como aquela menina que sumiu de meu castelo no meio da noite podia ser essa mulher que estava na minha frente. Seu rosto continuava da mesma forma, os lindos olhos verdes brilhando divertidos enquanto a menina nos encarava. Mas seu corpo estava totalmente diferente. Suas curvas estavam atléticas e bem definidas. O cabelo negro, que antigamente desciam livremente por suas costas, estavam curtos e loiros, pairando um pouco acima do ombro.
— É uma ordem do deus do sol que venham comigo para uma reunião geral. Precisamos colocar algumas coisas em pratos limpos.
— Com certeza temos! - Exclamou Hórus. Natália virou-se para o deus, dando um sorriso aberto. - Para começar: Quem é você?!
Natália riu olhando para a parede por alguns minutos, antes de voltar-se ao deus novamente.
— Continua um bobão, Hórus… -
Falou a Ramsés.
— Onde estava nesses três anos sua…?
— Prometo que depois conto tudo para vocês! Mas agora, preciso falar sério. - Cortou Natália.
Hórus franziu a testa, abrindo a boca para protestar, porém, foi cortado novamente por Rick.
— Não antes de me contar o porquê de não ter respondido minhas cartas, Natália Menezes Ramsés! - Falou o homem, com um falso tom severo na voz, que se misturava com um tom emocionado.
A menina arregalou os olhos levemente, como se não tivesse percebido a presença do pai ali.
— Pai! - Rick, que estava ao meu lado sorriu abertamente quando Natália correu para ele, abraçando-o com força.
Eu, quase instantaneamente, me afastei, dando pelo menos uns 10 passos para trás. Franzi o cenho, quando senti algo se mexer dentro de mim. Era meu eu chacal, avisando-me que tinha algo ameaçador no ar.
— Ah, é você mesmo…- Sussurrou Rick
— Sou eu… - Garantiu Natália. A garota respirou fundo apertando mais Rick em seus braços. - Eu estava com tantas saudades!
— Nunca mais faça isso! Nunca! - Pediu Rick.
Natália mordeu o lábio inferior, sorrindo logo depois quando viu que Rakel se aproximava dela.
— Eu sabia! Eu falei para todos aqui que você estava voltando!
Khonsu riu, olhando a namorada de soslaio.
— Kel! - Natália soltou-se do pai, indo ao encontro de minha seguidora. As duas garotas se abraçaram fortemente, rindo como crianças.
— Céus, sua louca! O que houve com você?! - Questionou Rakel, passando as mãos pelos braços de Natália.
— Você nem imagina…
— Está loira?! Depois de tanto tempo me julgando, você está loira?!
— Rakel, sei que está com saudades de Natália e louca para pôr a conversa em dia mas poderia, por favor, deixá-la falar? Tenho certeza que o que ela tem para dizer é importante. - Falou Osíris.
Natália sorriu para o deus dos mortos.
— Certo, mas não vai escapar de mim de novo! - Rakel entrelaçou os braços aos de Natália, deixando a garota enfim falar.
— Bom… como ouviram de Ísis, Rá e eu se mudamos para o Egito depois da última guerra… - Enquanto Natália falava eu a encarava de testa franzida. Examinava cada milímetro de seu corpo sentindo cada vez mais um arrepio subir por minha coluna. Tinha algo em Natália que me deixava inquieto. Seu cheiro adocicado estava misturado com outro que era estranhamente conhecido por mim. Meus olhos correram por seu corpo e pararam em seu braço onde uma ferida começava a se cicatrizar.
— Onde fez isso?! - Perguntei, cortando o discurso da garota.
Natália se sobressaltou, olhando para mim por um milésimo de segundo, desviando o olhar constrangida logo depois.
— Eu… o que? - Natália, do nada, pareceu ficar confusa.
Neguei com a cabeça, vendo o nervosismo da garota, avançando alguns passos em sua direção. Natália andou alguns passos para trás.
— Onde se machucou? - Perguntei novamente sentindo uma aura nada boa sair daquele machucado e atingir-me totalmente.
— Está perguntando onde me machuquei? É isso mesmo? Passei três anos fora e tudo o que tem para me falar é onde eu me machuquei? - Natália voltou a me olhar, mas não encarou meus olhos. - Oi Anúbis, é bom te ver também!
Pisquei os olhos confuso.
— Eu… não sei. Só quero saber onde se machucou, merda! Quem fez isso em você?!
— Quem fez isso em mim? - Natália repetiu as palavras, tremendo levemente. A garota virou-se para mim erguendo queixo. - Me deixe falar, por favor. Logo saberá de tudo, Ok?
— Certo! Fale agora! - Exclamou Bastet. - E não a atrapalhe dessa vez, chacal!
Natália me lançou um último olhar, culpado, e se virou para todos.
— … o que Tot disse mais cedo era verdade. Encontrei meu terceiro deus pouco tempo depois sair daqui a três anos atrás…
— E porque não nos avisou? Por que não voltou?! - Questionou Hórus.
— Eu achei que podia vencê-la sozinha. - Respondeu Natália, pouco a vontade.
— Vencê-la? É uma deusa? - Perguntou Khonsu.
Natália assentiu.
— Calminha… - Pediu Bastet. A deusa gata pareceu pensar, contando nos dedos alguma coisa. - Néftis é sua deusa?!
Meus olhos se arregalaram.
— Não! Não! Nem sem onde Néftis está. Não é Néftis. - Assegurou a Ramsés.
— Então quem é? Fale logo! - Pediu Hórus. - E depois nos explique o porquê de ter parado de se comunicar, e talvez possa me contar porque saiu sem se despedir.
— Horús, isso não é importante! - Falou Tot.
— Ele tem razão. Não é. - Falou Natália. - Seus olhos bateram com os meus e uma onda de pânico me tomou. - Desculpe Anúbis, mas…
— Desculpas?! - Questionei.
— O nome da minha terceira deusa é… - Natália foi cortada por uma risada alta.
A garota virou-se em direção a voz ao mesmo tempo que uma das vidraças da sala dos deuses explodiu, fazendo todos recuarem.
— Natália, minha cadelinha, ia começar as apresentações sem mim? - Perguntou a voz horrivelmente familiar.
Virei-me devagar para ela, sentindo cada gota de meu sangue virar gelo. Uma garota caminhava lentamente na direção de Natália. O vestido negro arrastava-se pelo salão e ela nem se virou quando passou por nós.
— Quem é ela? - Perguntou Rakel para Khonsu mas o deus, assim como todos os outros, estavam pasmos demais para responder algo.
— Eu não acredito… você… você é ridícula! O que está fazendo aqui, Kebechet?! - Indagou Natália parecendo furiosa, ficando frente a frente com o da nova garota do salão.
Seus olhos eram marrons como os meus e brilhavam toda vez que batiam com os da Ramsés. Seu cabelo negro era comprido e liso, e sua pele era pálida. Assim como Natália, ela tinha alguns ferimentos marcados pelo sangue dourado dos deuses espalhados pelo corpo, mas não parecia se importar. Seu sorriso irônico se alongou enquanto passava os olhos por todos no salão.
— Kebechet?! - Perguntei incrédulo quando relembrei como falar.
A garota virou-se para mim e pude ver ódio brilhando no fundo de seus olhos.
— Surpresa… pai!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Mandem reviews babys, pls!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os Seguidores De Anúbis 3." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.