Lá estava ela, parada me olhando. Há quanto tempo eu havia perdido esse lindo sorriso, a minha avó de criação, a mais doce senhora que já conheci. Eila continuava a mesma por fora.

Meus olhos marejavam e não consegui esconder minha emoção. Abracei-a com toda minha força e em seus ombros eu depositava todas as minhas lágrimas guardadas.

— Calma minha florzinha, você não precisa ficar desesperada – Eila disse enquanto passava a mão levemente nas minhas costas.

Engoli o soluço e enfrentei minhas lágrimas. Olhei para ela e dei um sorriso.

— C-Como chegou aqui? P-por que me deixou? – eu tentava falar.

Minha antiga vizinha olhou para Thomas e soltou um ar abafado.

— Olívia, vamos nos sentar – disse Thomas.

Me acompanharam até a sala, sentamos e depois que Eila se certificou que eu estava mais calma, ela começou a falar.

— Olívia, lembra que contei para você sobre minha filha?

Acenei positivamente e me recordei daquela trágica história.

— Bom, depois do ex-namorado dela ter a matado grávida e a jogado em um matagal – ela suspirou. – A filhinha dela sobreviveu.

— Mas eles disseram a você que ela não havia aguentado... – falei confusa e espantada.

— Sim, de fato, os vizinhos locais afirmaram isso. No entanto, a minha neta sobreviveu e foi colocada para a adoção. Eu só soube da existência dela cinco anos atrás quando a família adotiva entrou em contato comigo...

Um ponto se ligava ao outro.

— Então foi por isso que...

— Que eu saí às pressas sem ao menos me despedir de você.

Estava satisfeita por Eila ter encontrado sua neta, porém, uma parte de mim sentia triste.

— Você poderia ter me ligado...

Eila fez uma expressão triste e em seguida olhou para mim e disse:

— Me desculpe... eu errei em ter feito isso. Ter deixado minha primeira neta para trás foi uma das piores coisas que eu fiz na minha vida. Por favor, Olívia, me perdoe.

Abracei Eila e a perdoei na mesma hora. Por mais que tenha se passado um tempo, o amor é capaz de curar qualquer ferida aberta. Agora, minha ferida irá cicatrizar em paz.

— Bom, Thomas tem outras coisas para te contar – ela dizia.

— Você já teve um contato com a neta da Eila.

— Sério? Como?? – fiquei curiosa.

— Ela é a Gabriela. Sim, minha ex-namorada que é atualmente a minha amiga.

Arqueei uma sobrancelha e me pus a pensar. Gabriela, a menina que é ex-namorada de Thomas e que estava doente é a neta perdida da Eila. Caramba!

— Me expliquem com detalhes por favor! – supliquei.

— Assim que eu fui para Bom Despacho, conheci a família de Thomas que coincidentemente era amiga da família da minha neta, Gabriela. Expliquei minha situação e como eu precisava de dinheiro para me manter na cidade, eles compraram a minha casa.

— E assim que voltei para minha cidade – continuou Thomas. - Eila me ajudava a cuidar da Gabriela e às vezes conversávamos. Foi aí que ela perguntou se eu conheci você – ele me deu um sorriso.

— Thomas me contou do caso de amor de vocês – Ela riu. Fiquei rubra e dei um sorrisinho vergonhoso. – Por mais que Gabriela ainda gostasse dele, Thomas só tinha olhos para você. Então eu resolvi apoiar vocês em pensamento, haha!

Isso está parecendo novela mexicana. Quantas revelações!

— Eila, mas por que quis me apoiar com Thomas em vez da sua neta? – fiquei curiosa.

Ela parecia buscar por palavras.

— O amor que Gabriela sente por Thomas é diferente.

— Na época do nosso “namorinho” ela não entendia que era esse tipo de sentimento que guardava por mim. Por isso ela me traiu, Gabriela não me via como um amante, mas sim como um amigo e foi perceber isso anos mais tarde.

Realmente isso é uma novela mexicana! Que reviravolta!

— Vão me perdoar, mas que amiga possessiva!

Eles riram e começaram a falar o quanto Gabriela melhorou quanto ao ciúme.

— Mas não se preocupe, florzinha. Thomas e ela são bons amigos hoje, um dá força para o outro e isso é muito importante. Além disso, eu duvido que ele queira outra mulher além de você – falou Eila.

— Cinco anos amando não é pouco – Thomas disse e levantou para me abraçar.

Fiquei algum tempo na casa do meu namorado. Conversei abertamente com minha ex-vizinha sobre a faculdade, meus anos escolares, meus planos para o futuro e diversas coisas.

Por algum momento eu me senti realizada. Eu tinha um namorado que me amava, tinha amigas que se importavam comigo e estavam seguindo a vida bem. Tinha meus pais que eram o máximo. Minha vó postiça. Minha faculdade. Meu cachorro. Minha felicidade. Não me lembro de ter jogado na loteria e ter ganhado um combo desses! Cada lágrima derramada valeu todo meu esforço. Algumas coisas eu devo agradecer ao destino porque sei que se fosse eu apenas, nada disso seria possível. Portanto, destino, você é o cara!

Alguns meses depois...

Thalia e eu recebemos uma ligação de Rafael. Rosa estava em trabalho de parto no hospital e queria a todo custo que nós duas fôssemos assistir o parto dos gêmeos.

Nessa altura do campeonato, Thalia estava namorando com Marcelo. Finalmente os pombinhos se acertaram e eu não pude ficar ainda mais feliz. Bem, Thomas se mudara para sua antiga casa – que é ao lado da minha. E agora, era a vez de Rosa ter uma história para contar.

Thomas levou eu, Thalia e Marcelo de carro para a maternidade. Os garotos ficaram na sala de espera enquanto minha amiga e eu acompanhávamos Rosa.

— Thalia me ajuda aqui, deixa eu esticar minhas costas, estão doendo muito! – ela fazia uma careta enquanto se alongava. – Meninas do céu, Deus me dibre dessa dor!

As contrações aumentaram e o período de tempo entre cada uma diminui. Rosa foi para outra sala, e o médico afirmou que ela estava com dez centímetros de dilatação. Sabe o que isso significa? Estava na hora dos bebês nascerem.

O médico avisou que poderia ficar apenas uma pessoa com a Rosa, então Rafael ficou no quarto para assistir o parto dos seus filhos.

Ficamos sentadas ao lado dos nossos respectivos namorados.

Depois de algum tempo, a enfermeira liberou nossa entrada. Lá estava Rosa, com o rosto coberto de suor, pálida mas parecia satisfeita. Ela estava fazendo carinho no narizinho do seu filho enquanto Rafael segurava a menina. Aquela cena encheu meus olhos de água. Me apoiei na Thalia e juntas deixamos algumas lágrimas descerem.

— Rafael, deixa eu pegar na minha princesinha também... – Rosa dizia com uma voz rouca e baixa.

Chegamos perto dela e ela estava segurando os dois bebês.

— Olívia, cumprimente a Isis – Rosa me olhou e sorriu. – Viu, Isis, essa é a sua madrinha. Seja boazinha com ela e peça presentes caros!

Sorri e passei suavemente a mão no cabelo da minha afilhada. Ela era muito bonita, havia puxado o nariz de Rosa.

— A Dindinha vai te levar para vários eventos animes quando você crescer!! – falei empolgada.

Rosa deu uma risada e olhou para seu outro filho.

— Thalia, dê um oi para o Fernando!

Thalia deu um sorriso de canto a canto e pegou na mãozinha do garotinho.

— Que Deus abençoe esse príncipe – disse ela.

— Fernando, você também pode pedir presente caro para ela, porque ela é sua madrinha!

Demos outra risada e cada uma pegou os dois nenéns. Ambos tinham a pele branca, puxando o pai, e o cabelo pretinho igual da Rosa.

E assim, Rafael foi tirando foto de cada momento nosso.

— Seus filhos são lindos... Eles vão crescer com muito amor e carinho, vamos nos esforçar para estar presente na vida dos dois! – falei.

— Concordo com a Olívia. Vamos dar todo carinho para eles como se fossem nossos filhos! – Thalia completou.

Pedimos para Rafael tirar uma foto minha com minhas amigas e os bebezinhos. Com certeza, aquela foto ficaria para sempre em nossos corações.

Saímos da sala e os meninos entraram. Logo veio a família da Rosa. A mãe dela estava muito feliz e só sabia falar o quanto os netos eram graciosos e que nenhum puxou o Rafael. Chegaram os parentes do Rafael e entre eles estava o Miguel.

Após ver os sobrinhos, Miguel foi para perto de mim.

— Já imagino esses garotinhos me implorando por cupcakes de graça! – disse ele sorrindo.

— E imagino que você com certeza não irá negar – falei.

Enquanto cruzava meus braços, Miguel pôde notar minha aliança e sem discrição logo me alfinetou.

— Não sabia que estava namorando.

Apenas sorri e balancei a cabeça.

— Ele é um cara de sorte – Miguel falou olhando para Thomas tomando água no final do corredor. – Bom, queria te pedir desculpas. Eu praticamente te obriguei a ficar comigo, sei que isso não foi um gesto muito legal.

— Eu te desculpo. Mas também, eu agradeço você por ter sido meu amigo nesses anos.

Ele me abraçou e ambos desejaram felicidades.

Fui para casa com Thomas e dentro do carro fiquei bastante pensativa.

— Agora mais do que nunca a Rosa precisará do nosso apoio – eu disse.

— Tem razão, principalmente na parte emocional. Ter filhos não é algo fácil...

— Mas eles são tão lindos e tão amorzinhos! É uma pena que não quero ter filhos – blefei.

Thomas parou no sinal e me olhou fuzilante.

— Amor, eu quero ter filhos...

Meu coração palpitou tão forte nesse momento. Era a primeira vez que Thomas me chamou de amor e além disso, ele queria ter filhos comigo.

Dei um gigante sorriso.

— Mas eu que escolherei os nomes! – reivindiquei.

O loiro começou a rir e disse que eu só gosto de nomes “frufruzinhos”.

Chegando no portão da minha casa, Thomas passou direto e virou no último quarteirão. Semicerrei os olhos para ele e perguntei por qual motivo ele havia feito aquilo. Poucos segundos depois nós paramos em uma praça escondida que havia no nosso bairro. Descemos do carro e Thomas levou consigo alguns livros da faculdade. Me sentei em uma mesinha e ele em seguida.

— Olívia – suspirou. – Hoje estou aqui engolindo meu orgulho e quero que me entenda... Poderia estudar Cálculo II comigo? Segundo semestre está chegando e eu quero chegar preparado e...

Antes que ele pudesse falar mais alguma coisa, eu selei nossos lábios.

— Daremos nosso melhor juntos! Shannaro!

Fim do capítulo 41.