Acordei com o Mateus acariciando meus cabelos. Ambos estávamos nus e com as pernas entrelaçadas.
— Bom dia! - ele sussurrou no meu ouvido — Dormiu bem?
— Nunca dormi tão bem.
Ele me puxou para mais perto e beijou o topo da minha cabeça.
— Sua mãe esteve aqui no quarto...
— O que? - falei me sentando e cobrindo os seios com o lençol
— Não se preocupe, ela não disse nada. Apenas sorriu.
Suspirei e me deitei novamente.
— Minha mãe te adora, é claro que não ficaria brava. Se fosse...
Mateus me calou com um beijo ardente. Nossos corpos estavam tão próximos, que eu pude sentir seu coração batendo contra o meu. Nos separamos quando meu celular começou a tocar. Atendi sem ao menos conferir o nome no identificador de chamadas.
— Liv?
— Oi, quem é?
— Natália, bobinha. Você tem noticias do Mateus? Eu estou preocupada. Você não veio pra aula e nem ele.
Senti um frio na barriga e afastei o telefone da orelha. Eu não podia dizer que o namorado dela estava nu na minha cama, e nem contar da noite maravilhosa que tivemos. Fiz a única coisa que passou pela minha cabeça... desligar na cara dela. Essa não era uma atitude madura, mas eu não sabia o que fazer em uma situação dessas. Nunca fiquei com o namorado de nenhuma outra garota, e muito menos trai alguém. Eu e o Mateus havíamos nos metido em uma encrenca das boas. Me certifiquei em desligar o celular e fui até o banheiro. Fiquei me olhando no espelho por alguns segundos. Quando eu havia me tornado em uma traidora insensível? O que eu tinha na cabeça quando me apaixonei pelo meu melhor amigo? Milhões de perguntas ecoavam na minha mente. Abri o chuveiro e deixei a água lavar os meus pensamentos. Em menos de cinco minutos Mateus estava diante de mim, do lado de fora do box.
— Quem era no telefone?
— Não quero falar sobre isso.
— Liv... - ele abriu o box e entrou
— Eu preciso pensar, é só isso.
— Pensar sobre o que? Você se arrependeu do que aconteceu ontem?
— Não. - gritei — E esse é o problema Mateus, eu não me arrependo. Foi maravilhoso.
Ele tocou meu rosto e eu me afastei. Não podia ser tocada por ele. Não agora.
— Nós esquecemos deles... Natália e Pedro. - eu disse — Eles não merecem isso.
— O Pedro merece algo pior do que isso. - ele gritou — Você não sabe a metade do que aconteceu sábado.
— Então me diga, o que aconteceu?
— Lá fora. Pode terminar o seu banho!
Ele saiu e me deixou sozinha. O silêncio era perturbador, por isso me lavei rapidamente e fui para o quarto. Mateus já havia se vestido e estava fuçando alguns papéis que estavam na cabeceira da minha cama. Me troquei e sentei próximo dele.
— Pode começar. - falei
— Muita coisa aconteceu Liv, não sei por onde começar.
— Comece pelo Pedro.
Mateus contou tudo, em detalhes, o que tinha acontecido naquela noite. A minha quase transa com o Pedro. A briga dos dois. A minha quase transa com ele. E que no domingo o Pedro e seus amigos haviam dado uma surra nele. Quando ele terminou e me olhou com aqueles olhos azuis, eu tive vontade de chorar. Eu estava envergonhada, por isso voltei para o banheiro e fiquei sentada no chão por alguns minutos.
— A última vez que entrou brava nesse banheiro você caiu. - ele gritou do lado de fora.
— Então quer dizer que isso - falei abrindo a porta e mostrando o roxo que estava na minha cintura — eu consegui no sábado? Ótimo.
Mateus riu e me puxou para um abraço. Eu enterrei a minha cabeça no seu peito e respirei o seu perfume. Mesmo depois de uma noite intensa ele cheirava tão bem.
— Eu sinto muito. - falei — Eu não deveria ter bebido tanto.
— Está tudo bem. Se não fosse por isso, nós não estaríamos aqui hoje.
Ele estava certo. Em meio a tantos erros, acertamos em alguma coisa.

*****
Como já havíamos perdido o horário para a escola, Mateus e eu fomos para a sua casa terminar o nosso trabalho de Artes. Essa era a última semana para entregar e nós não tínhamos começado. Fizemos uma maquete sobre o Parque do Rouxinol. Lá era sem dúvida o nosso lugar favorito. Lugar onde aproveitamos a nossa infância e Mateus gravou o nosso amor. Depois de terminar o trabalho, almoçamos juntos e assistimos um filme. Quando a noite caiu senti um aperto no meu peito. Sabia que era a hora de se despedir. Mateus me levou para a casa em silêncio, não queríamos quebrar o encanto. Quando chegamos em frente á minha casa, ele segurou a minha mão com força.
— Eu não sei o que vai acontecer daqui pra frente...
— Mateus! - falei colocando um dedo sobre os seus lábios. Ele retirou e beijou a palma da minha mão.
— Mas eu sei o que eu sinto. - continuou — Eu gosto de você, Liv. Gosto de verdade.
— Pensei que você me visse apenas como a sua irmãzinha.
Ele riu e me abraçou.
— Eu estava tentando me enganar, mas acho que não sou muito bom nisso.
Beijei a sua boca. Precisava sentir o seu sabor novamente, mesmo se fosse a última vez. Mateus me segurava com força, como se tivesse medo de que eu fosse fugir. Eu não iria para nenhum lugar. Não sem ele.
— Nós iremos dar um jeito... - ele disse — juntos!