Lyssa e Igor foram para casa sozinhos, naquela noite. Alice até mesmo se ofereceu para levá-los, mas eles preferiram caminhar sozinhos. Lyssa precisava caminhar sozinha. Parecia que estava enlouquecendo.

Não fazia muito, ela havia se apaixonado pelo cara mais popular da escola, mas agora, ele era só dela. Mas ser só dela significava que ele morreria logo e isso a causava dor. Vê-lo sofrendo a causava dor. Se ele tinha que partir, porque não ia logo? A menos que ela fizesse alguma coisa.

– E eu nunca falei nada com você? Sequer um oi? - Igor havia deitado em sua cama, se deixando levar pelo cansaço do dia. Como um espirito podia se sentir cansado?

– Bem, uma vez você me pediu licença na fila da cantina e perguntou se podia ficar na minha frente. Foi um progresso para mim. Falaram comigo por dois dias - Lyssa brincou, mas ele não estava sorrindo. Ele se sentia uma merda e seus comentários não estavam ajudando.

– Desculpe.

– Mas a culpa não era sua. Era minha. Eu sempre fui tímida demais ou louca demais. Sempre tive uma queda por você e isso me fazia agir meio esquisito quando você estava por perto. Acho que te assustei - disse, deitando-se na cama ao lado dele - Uma vez, eu e Alice estávamos fazendo um mural, um para ela e um para mim, com nossos ídolos do cinema. Fiz um mural só com fotos do seu facebook.

– Bem, acho que a culpa é mesmo sua - ele gargalhou e Lyssa se sentiu bem novamente, útil, por conseguir fazê-lo rir daquela maneira outra vez - Porque você desmaiou? Quando saímos nessa manha, sua tia disse que você desmaiou.

– Não ria de mim - Lyssa respirou fundo. Provavelmente o afastaria novamente, mas não queria mentir para ele - Foi quando soube do acidente. Acho que tive medo de que você morresse e nós nem tivéssemos dito oi um para o outro.

– Bem, talvez seja por isso que eu estou aqui agora. Para dizermos nosso oi, antes de eu morrer - encararam o teto por um longo tempo, num longo silencio.

Mas, seja lá o que fosse, apenas Samarys poderia lhe dizer.

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Quando Lyssa pegou no sono, ou fingiu pegar no sono, Igor desapareceu. Assim, ela se vestiu e correu para a casa de Samarys. Ela disse que as duas se veriam de novo. Talvez os espíritos estivessem mesmo ao lado dela, afinal.

– Senti que você precisava de mim, Lyssa - Samarys disse, assim que abriu a porta e a abraçou.

– Foi você que o fez aparecer no meu quarto, não foi? Reverta isso, Samarys - Lyssa pediu, meio indignada, meio desesperada.

– Eu apenas direcionei a alma dele para você, com esse colar - Samarys tocou com o dedo indicador na pedraria do colar, acima do esterno de Lyssa - O acidente e o coma foram inevitáveis.

– E tem como fazê-lo acordar, não tem? Fale ai com os seus... - só de pensar na palavra espíritos, ela se arrepiava - Amigos.

– Lyssa, os espíritos não podem ressussitá-lo. Apenas ele pode. Apenas o espirito dele pode e, mesmo que isso aconteça, você o perderá. Você o perderá de qualquer jeito - Samarys tocou em seus ombros, mas Lyssa se afastou, se sentindo nauseada.

– Como assim? Não entendo - mesmo que ela não entendesse, o simples fato de poder perdê-lo a fez chorar - Como irei perdê-lo, se ele estiver vivo?

– Ele se esquecerá de tudo o que viveu quando não estava. Se esquecerá de você para sempre.

Lyssa precisou sentar e chorar por um longo tempo. Ela havia esperado a vida inteira para ser notada por ele, mas precisou que ele estivesse a beira da morte para acontecer. Ela sabia que perdê-lo para sempre seria a sua ruína e que, talvez, não quisesse viver em um mundo desse jeito, mas uma certeza ela tinha: não podia deixá-lo morrer, mesmo que, para isso, ela perdesse a própria vida.

– Então faça - ela levantou-se do sofá decidida, secando as lágrimas e encarando Samarys com uma determinação que nem ela sabia que tinha - Traga-o de volta. Eu não me importo se ele esquecer de mim. Eu quero que ele viva.