– Talvez não tenha sido nada grave. Você me parece bem, apesar de não conseguir localizar um arranhado sequer - Lyssa conseguiu responder, finalmente, mas Igor parecia mais desesperado que antes com seu comentário.

– E meu irmão? Será que o machuquei? Se eu estou bem, porque estou aqui se mal lhe conheço. Desculpe, Lyssa, mas não a conheço - Igor sentou-se novamente na cama e colocou a cabeça entre as mãos. Queria acordar daquele pesadelo ou daquela brincadeira de mal gosto que aprontaram para ele.

– Seu irmão está bem, eu tenho certeza - ela pensou em tocá-lo e dar-lhe conforto, mas ele já tinha problemas demais para ter que se preocupar com uma garotinha que havia alimentado uma paixão boba por ele - Olha, vamos para a escola. Se alguém se feriu ou... você sabe... nós iremos descobri lá. Conheço alguém que, com certeza, deve saber de tudo. Depois posso levá-lo para casa, se não quiser ir sozinho.

Igor olhou para ela, com um sorriso mais relaxado nos lábios e Lyssa sentiu cada centímetro de seu corpo ansiar para que aquele sorriso jamais deixasse seus lábios.

Ela se vestiu, mesmo tremendo com o medo de que Lucas realmente estivesse morto. Igor morreria se tivesse feito algo ao irmão. Igor sofreria horrores se Lucas tivesse morrido. Ela sofreu por ele, naquele instante, desejando poder pegar a dor dele e entranhar na alma dela, mas infelizmente não podia.

Os dois se esgueiraram escadas a baixo, escondidos para que tia Mary não os visse, mas, quando chegaram a porta, pode ouvir tia Mary chamando.

– Escute, da escola direto para casa, entendeu? Eu ainda estou preocupada com você. Desmaiar daquele jeito não é normal, querida - disse tia Mary. O que os fez tremer, foi o fato de ela não dizer nada a respeito de Igor que ainda estava parado ao lado dela.

– Tia, estou bem. A senhora não vai dizer mais nada? Quer dizer, não estou castigada? Não que tenhamos feito alguma coisa, mas... - a frase ficou no ar.

Igor foi até tia Mary e estalou os dedos na direção dela, mas era como se ele não estivesse ali. Lyssa impediu um grito, tampando a boca com a mão, mas as lágrimas não foram paradas e acabaram escorrendo.

– Eu não disse. É melhor você ficar em casa hoje, Lyssa - tia Mary a agarrou pelos ombros e a levou até a cozinha, mas Lyssa se livrou do abraço e caminhou em direção a porta, enquanto dizia...

– Eu estou bem. Só preciso ir até a Alice. É sério - gritou, fechando a porta atrás de si - Igor?

– Eu estou morto - foi a ultima coisa que ele disse, antes de desaparecer como um fantasma no ar.

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Ao chegar na escola, tudo o que ela ouvia eram frases tipo 'ficou sabendo do acidente?' 'soube que foi feio' 'aquele canalha mereceu' e seu coração diminuía a cada comentário.

Alice a encontrou logo na entrada, a abraçando e acariciando seus cabelos, tentando confortá-la.

– Não me diga que... - um nó bem grande se formou em sua garganta. Só de pensar na possibilidade de Igor ter realmente morrido e seu fantasma ser a única coisa que lhe restou a fazia querer chorar. Ela queria se jogar no chão e chorar.

– Acredita que colocaram um psicologo a nossa disposição. Como se fossemos conversar com um estranho sobre uma tragédia que aconteceu com outro estranho. Desculpe falar isso, mas seu queridinho meio que pediu por isso - Alice despejou. Lyssa sentiu seu sangue ferver. Era a sua melhor amiga falando, mas ela não sabia de exatamente nada sobre Igor e não tinha o direito de falar assim dele. Mas, enquanto pensava em dizer algo, ele apareceu.

– Que gentil! Quem é ela? - perguntou ele, parecendo menos perturbado do que antes, em sua casa.

– Alice, você é minha melhor amiga - respondeu a pergunta dele da melhor maneira que encontrou - Então, me diga, Igor está vivo?

– Mas é claro que está. Eu não estaria falando mal dele se estivesse morto. Não se fala mal de quem está morto. Dá azar - Alice jogou os braços no ar. Lyssa respirou muito mais aliviada, mas, quando olhou para Igor, sabia exatamente o que dizer.

– E o irmão? O Lucas? Ele está bem?

– Sim, está. O que... - Alice a encarou por um instante - Porque fica olhando para o lado e depois para mim?

– Quando disse que Igor estava vivo, quis dizer vivo e saudável? - perguntou. Tinha que ter alguma explicação para o fato de estar vendo alguém que estava vivo.

– Infelizmente, não. Parece que ele está por um fio, em coma. Não se sabe se ele voltará a vida. Eu sinto muito - disse, fazendo-a se sentir constrangida.

– Eu preciso ir ver meu irmão no hospital. Já que, só você pode me ver, terá que me levar, Lyssa - começou a dizer Igor, deixando-a confusa sobre em quem ela prestava atenção.

– Você não me respondeu. Por que fica olhando para o lado? - Alice insistiu.

– É porque eu o vejo - Lyssa acabou contando, o que fez Igor pirar ao lado dela - Eu estou vendo o Igor desde esta manhã. Acho que a alma dele pode ter se desprendido do corpo e aparecido para mim.

– Como é? - Alice arregalou os olhos, depois olhou em volta, procurando alguém - Você não esta bem, Lyssa?

– Tem que acreditar em mim. Sou sua melhor amiga, não sou?

– Diga que pode provar - Igor se intrometeu.

– Eu posso provar.

– Então prove. Quantos dedos tem aqui? - Alice colocou as mãos nas costas e mostrou algum número que apenas Igor pode ver.

– Diga nenhum. Ela está com os punhos fechados fazendo sinal de 'beleza'

– Não está fazendo numero algum. Está fazendo aquele ridículo sinal de beleza, querida - respondeu, sorrindo, e Alice bateu na própria testa.

– Nossa! Isso quer dizer que...

– Se ele não está morto ainda, estará em breve - respondeu. Lyssa e Igor trocaram olhares. Ela queria poder dizê-lo que estava tudo bem, mas não queria começar tudo com uma mentira. Ela apenas disse a verdade.