Lyssa acordou, naquela manhã, com um peso incomum sobre os ombros. Sentia que seu encontro com Samarys deu a ela um peso maior e mais difícil de carregar. Como se sua vida inútil já não fosse o suficiente.

Desceu as escadas, ouvindo a voz de sua tia Mary na cozinha. Estava resmungando algo para a televisão, em outro cômodo da casa. Lyssa adorava observá-la criticar as pessoas do outro lado da TV, mesmo sabendo que ninguém a ouviria. Ela não podia deixar de expressar seu ponto.

– Tia Mary, o que fizeram agora, para deixá-la tão irritada? - disse Lyssa, indo até o armário da cozinha e roubando uma bolacha da caixa.

– Esses jovens, hoje em dia, me deixam extremamente irritada. Tinham tudo para viver plenamente, ai enchem a cara e batem com o carro, arriscando a vida deles e das pessoas no carro. Como podem? - resmungou novamente.

Lyssa deu uma longa gargalhada e mordeu a bolacha. Mas quando ela se virou para a televisão, seu rosto embranqueceu e a bolacha mordida foi parar no chão.

– Querida, está bem? - tia Mary perguntou, enquanto Lyssa procurava uma parede ou qualquer coisa sólida para se encostar. Tarde demais, ela deixou a escuridão tomar conta de seu corpo com apenas uma palavra na ponta de sua lingua...

– Igor... - e desmaiou.

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Ela acordou exatamente no dia seguinte, sentou-se na cama e passou a mão por todo o seu longo cabelo castanho, deixando alguns fios caírem em cima da cama. Não parecendo abalada pelo desmaio, ela se levantou, caçou o uniforme no guarda roupa e começou a tirar o pijama que ela não se lembrava de ter colocado na noite passada.

– Você poderia fazer isso em outro quarto ou, ao menos, ter a decência de esperar eu sair? - disse uma voz masculina rouca de sua cama. Apesar de seu tom irônico, ele parecia estar divertido com aquela situação.

– Ah, desculpe. Eu não sabia que você ainda estava... - Lyssa esfregou os olhos, espantando o sono, e olhando em direção a cama. Quando ela viu o vulto deitado em sua cama tomar a forma de um rapaz que ela conhecia bem, Lyssa deu um pulo para trás, quase caindo dentro do guarda roupa - Ah, meu... Igor, o que você está fazendo aqui?

Aquele era mesmo Igor Viddal? O rapaz que ela tanto amava e que nunca havia a notado? Ela tinha uma vaga lembrança de que era impossível essa pessoa estar em seu quarto. Mas então, porque ele estava?

– Isso aqui - Igor apontou para Lyssa e para tudo em volta, levantando-se da cama com uma camisa xadrez e uma calça jeans, observando cada detalhe do cômodo aonde se encontrava - É alguma brincadeira do idiota do Lucas? Quanto ele te pagou? Dou o dobro. Qual é a pegadinha? - quando finalmente reparou nas paredes do quarto, arregalou os olhos - Rosa? Esse quarto não é meu. Não existe parede rosa na minha casa.

– Bem, esse quarto é meu - respondeu Lyssa, um tanto emburrada - E você o invadiu para tentar me comprar. Não sei o que você e seu irmão ganharam com isso, mas fingir que sofreram um acidente foi idiota demais - ela finalmente se lembrou do que havia esquecido.

– Ponto um: esse sutiã é lindo - Igor arqueou as sobrancelhas, mas nunca tirou os olhos do busto dela, que tentava desesperadamente cobrir com o lençol da cama - Ponto dois... - seus olhos se entristeceram - Eu realmente sofri um acidente, Lyssa. Então... - tratou de sorrir novamente - O que estou fazendo aqui?