Maryse mantém seus olhos em mim o tempo inteiro. Sei disso porque meu subconsciente ainda consegue enxergar seu rosto contorcido em uma expressão tensa.

Meu coração se aperta no peito ao ver sua preocupação de mãe, provavelmente essa é a única coisa que consigo realmente sentir nesse momento devido aos remédios que me deram desde que cheguei aqui.

–Onde ela está? Quero vê-la agora! AGORA... - Posso ouvi-lo gritar em algum lugar, mas minha mente está cansada demais para acompanhar.

A porta do quarto é aberta e um Stefan totalmente despenteado e sem fôlego encontra meus olhos.

Ele está horrível. E lindo.

Suor escorre de sua blusa e há seguranças atrás de si.

Maryse levanta da cadeira ao meu lado rapidamente.

–Ele é o marido dela, deixem-no ficar. - diz aos seguranças.

Eles soltam Stefan e saem batendo a porta.

Stefan solta uma respiração entrecortada antes de rapidamente caminhar até ao meu lado.

–Você está bem?- pergunto.

Ele sorri.

–Olha só quem diz, a garota deitada em uma cama de hospital.

Dou de ombros.

–Você sabe que eu adoro uma aventura. Aquela casa estava definidamente me entediando. - digo.

Mas Stefan não ri de meu comentário.

Vejo enquanto seus batimentos cardíacos diminuem até se tornarem leves subir e descer do peito.

–Por Deus, fiquei tão preocupado... Quando Damon ligou...

–O médico disse que o desmaio foi por conta da baixa pressão. Ela precisa se alimentar melhor e se manter forte pelos próximos meses. Além disso, precisa descansar. - Maryse diz.

Ele encolhe os ombros.

–Isso foi por...

–Se está me perguntando se nosso sexo incrível ontem à noite me deixou desse jeito, então não, Stefan. Não foi. Não se preocupe, ok? Estou bem. Estamos bem. – murmuro.

Estamos bem. A frase é forte e tenho medo de sua próxima reação em relação a ela.

Mas Stefan faz algo que torna meu coração ainda menor no peito.

Ele se curva e beija minha testa.

Encostando-se nela logo em seguida, segundos antes de trazer seus lábios nos meus.

Ele me beija leve e simples.

–Você não pode dar um susto desses, ouviu?- ele diz.

Maryse suspira alto atrás dele.

–Nem me diga. Assim que ligamos para seu irmão ele apareceu em menos de 5 minutos. Eu nem sei como isso é humanamente possível.

Respiro fundo.

–Eu deveria agradecê-lo por isso. -digo.

Stefan balança a cabeça.

–Descanse agora, ok? Você pode agradecê-lo depois, e acredite, ele vai fazer questão disso.

Sorrio para ele e permito-me navegar nessa onda nebulosa que quer me levar para longe.

Acabo dormindo não muito depois disso.

Não sei que horas são quando acordo, mas é tarde.

Muito tarde.

Olho para a cadeira antes ocupada por Maryse e encontro um Stefan adormecido com uma revista entreaberta no colo.

Ele ainda está usando a mesma roupa com que chegou hoje mais cedo. Deus, ele nem foi em casa ainda.

Passo minutos apenas admirando-o.

Sua expressão calma e serena e sua respiração leve e angelical.

Imagino se nosso filho será como ele. Ou filha. Se terá seus olhos verdes ou os meus castanhos, talvez até os azuis de seu avô e tio. A cor do cabelo, a altura, o jeito e a personalidade. Eu poderia passar horas olhando-o e tentando encaixar essas peças.

–Você está me encarando dormir?- ouço sua voz sonolenta e rouca.

Ele sequer abre os olhos.

–Você estava babando. - digo.

Ele sorri.

Abre os olhos e me encara.

–Você está bem?

Balanço a cabeça.

Ele se levanta da cadeira aparentemente desconfortável e com meu pedaço cedido da cama, deita-se ao meu lado. Seus braços ao meu redor.

–Eu quero conversar com você sobre uma coisa. - diz.

–O que é?

–Podemos falar quando estivermos em casa.

Estou cansada demais para protestar então apenas aceno.

Uns dois minutos se passar em um silencio confortável.

–Sobre o que aconteceu ontem... – Ele começa, então suspira. – Eu não sei, eu... Eu não sei como sinto em relação a você agora, Elena.

Sua voz é tão rouca e baixa e estou em pedaços antes mesmo que ele conclua o pensamento. É extraordinário que eu me sinta dessa forma agora, como se meu coração não pudesse estar dentro de mim agora, como se qualquer outro lugar fosse melhor pra ele do que aqui.

Acho que estou apaixonado pelo meu marido.

–Tudo bem. – murmuro com a voz fraca.

Ele suspira.

–Eu pensei que tudo fosse acabar tranquilamente em um prazo de um ano e tudo mais... Que eu veria nosso filho nas datas comemorativas, mas nunca teria um relacionamento real. Eu pensei que quisesse isso. – então ele se vira para que nossos olhos se encontrem. – Eu pensei que fosse tudo o que eu queria na vida. Dinheiro. Carro. Mulheres. A empresa. Mas quando eu penso sobre isso... Quando eu penso que poderia tê-la perdido hoje, perdido essa criança... É como se eu não pudesse suportar, Elena.

–

A volta pra casa no dia seguinte é tranquila. A mãe de Stefan está passa metade da manhã na cozinha, preparando algum banquete para o almoço. Damon está resolvendo negócios na cidade, Lexi com alguns amigos e Stefan provavelmente deveria estar na faculdade.

Mas está bem aqui ao meu lado. Dormindo tão profundamente que qualquer movimento meu não o acordará. Ele é tão ridiculamente lindo.

Fico olhando-o por minutos. Pergunto-me o que meus pais teriam achado dele se o conhecessem, o que minha mãe pensaria sobre esse casamento e como meu pai agiria.

Esforço-me para levantar da cama sem que ele me perceba e saio do quarto.

Vejo Maryse na sala esperando que a comida fique pronta e sento-me ao seu lado, com os pés na mesinha de centro.

–Você tem uma consulta amanhã. – ela lembra.

Balanço a cabeça.

–Minha melhor amiga está chegando à cidade, então com certeza vou pedir que me leve. Não quero que Stefan falte em outra aula.

Ela sorri.

–Ele faria qualquer coisa por você, menina.

Fecho os olhos.

É como se fosse uma mentira atrás da outra.

–É... Seu Giusepp ligou? – pergunto.

Ela acena.

–Ele estará de volta ainda essa semana, então estamos voltando pra casa em alguns dias...

–É uma pena. Estava me acostumando com sua comida divina. – digo.

Maryse sorri.

–Como eu disse, Stefan faria qualquer coisa por você, até cozinhar. E ele é ótimo nisso.

Não posso discordar.

Stefan é como um maldito de um chefe gostoso na cozinha.

–Elena, querida, tem algo que eu gostaria de falar com você sobre Stefan. – diz finalmente.

Respiro fundo.

Sinto que esse momento é importante.

–Sim?

–Eu sei que ele pode ser bem difícil às vezes, essa é uma mania que ele aprendeu com o pai. Como não facilitar a vida das mulheres que os amam... Mas independente da causa do casamento de vocês, espero que possa ver e sentir o quanto ele esta amando você agora. Stefan ama tudo tão profundamente, ele sente tudo... O tempo inteiro. Mesmo que diga o contrario.

Minha respiração não funciona. Encontro seu olhar e sei que ela sabe. De alguma forma, acho que sempre soube sobre o casamento.

Fecho os olhos.

–Eu sinto muito, Maryse... Mas acho que você está errada.

Ela sorri docemente, como se eu fosse uma filha pequena que não conseguisse enxergar uma verdade que ela enxerga.

–Você verá, menina. Você verá em breve.